quarta-feira, 1 de abril de 2020

SERÁ QUE NO BRASIL O CRESCIMENTO DA COVID-19 ESTÁ SENDO MENOR?

Do jornal GGN

“O isolamento está sendo efetivo”, diz Marcus Suassuna [TV GGN]

Brasil derrubou taxa de crescimento médio diário de 38% para 18%. Sem a mudança de hábitos, chegaríamos a 160.000 casos de COVID-19 no começo de abril


Jornal GGN – Marcus Suassuna, o entrevistado da TV GGN, é autor de um levantamento interessante. Ele aponta que as medidas de mitigação decretadas por governos e prefeituras para achatar a curva da epidemia de coronavírus no Brasil estão sendo efetivas.
Para afirmar isso, ele passou a investigar se o Brasil estava obedecendo ao crescimento exponencial da epidemia de coronavírus expressa em outras partes do mundo, ou se aqui existia um ritmo diferente.
Na pesquisa, ele utilizou os dados consolidados a partir de fevereiro pelas secretarias estaduais de saúde, divulgados no site Worldometer.
Marcus percebeu que nos primeiros 25 dias de propagação do vírus, a taxa média de crescimento diário era de 38%, maior do que nos Estados Unidos – que hoje amargam 190 mil casos positivos e 1,4 mil mortes por COVID-19. Quando os norte-americanos estavam com cerca de 6 mil casos, a taxa de crescimento diária naquele País era de 33%.
A partir de março, com os brasileiros começando a desacelerar em função das recomendações sanitárias da Organização Mundial da Saúde, do Ministério e das secretarias estaduais e municipais de Saúde, o cenário começou a mudar.
“Tem dois momentos bem claros. Nesses primeiros 24 dias foi o momento de expansão livre da epidemia. A partir do 24º dia, mais precisamente no dia 1º de março, houve uma mudança nessa série. A taxa média de mais ou menos 38% ao dia – que é uma taxa muito alta, porque o pessoal usa a taxa de 33% ao dia para falar em crescimento exponencial – essa taxa caiu bruscamente para 18%. Depois desse período, a média foi para 14%. Quando acontece algo assim é porque houve uma interferência externa. E o que mudou basicamente foi a entrada do isolamento proposto por governadores e prefeitos”, avaliou.
Considerando os novos casos de coronavírus divulgados em 31 de março, a média diária no Brasil voltou ao patamar dos 18%. Pelas projeções de Marcus, se o País tivesse mantido a taxa anterior de crescimento, de 38% ao dia, até o final da primeira semana de abril, haveria algo em torno de 160.000 casos de COVID-19 confirmados. No cenário atual, de 18% de crescimento ao dia, a projeção é de que cheguemos aos 12.000 ou 13.000 casos na primeira semana de abril.
“Os cenários que estamos projetando não estão fora da realidade. Comparando com os EUA: por volta dos dia 20 as curvas dos dois países eram praticamente iguais. Quando chega no dia 28, 29, você vê que a curva do Brasil se descola dos EUA [veja no gráfico abaixo]. A gente teve uns 10 dias antecipação em relação aos EUA. Esses 10 dias de antecedência podem fazer uma diferença enorme para a gente. São 10 dias em que os governadores foram enfáticos em tentar controlar a epidemia.”
“Essa é a notícia boa. O isolamento está sendo efetivo”, afirmou.


Nesta quarta (1/4/2020), dia em que Marcus Suassuna conversa com a jornalista Cintia Alves para a TV GGN, o Brasil acordou com 5,8 mil casos de coronavírus, de acordo com a base de dados do site Worldometer. “Não foge muito da projeção”, diz o engenheiro. Pela estimativa dele, se estivéssemos sob a taxa de 38%, o Brasil deveria ter chegado aos 17.600 casos em 30 de março.
Abaixo, o gráfico mostra um paralelo entre a taxa de crescimento médio do coronavírus nos Estados Unidos e no Brasil, evidenciando a mudança no desempenho dos dois países nos últimos 9 dias do mês de março.


BOOM EM SÃO PAULO 

Durante a entrevista, Marcus chama atenção para um boom de casos que houve no dia 31 de março em São Paulo.
Para o entrevistado, 3 hipóteses explicam a situação de São Paulo, que dobrou o número de casos confirmados em um único dia: (1) houve um aumento na divulgação dos resultados dos exames de COVID-19 que estavam prontos e ficaram represados por alguns dias, por causa da demora nos laboratórios; (2) com o aumento dos exames, reduziu-se a subnotificação ou (3) houve um crescimento no ritmo da epidemia.
“É preciso acompanhar o que acontece nos próximos dias para ver se São Paulo mantém esse ritmo de crescimento acelerado ou se volta ao padrão de antes.” O Estado hoje representa 40% dos casos de COVID-19 no País. “Ele tem um impacto significativa para os indicadores da epidemia no Brasil.”
Marcus Suassuna Santos é engenheiro civil, mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e doutor em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela UnB.

Assista à entrevista.

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