quinta-feira, 31 de março de 2016

O HERÓI MÁXIMO DOS COXINHAS

É o ex-capitão Jair Bolsonaro. Veja o que Helena Stephanowitz apurou, publicado na Rede Brasil Atual. 

TELHADO DE VIDRO

Bolsonaro e o milagre da multiplicação do patrimônio

Deputado compra duas mansões de frente para o mar em área nobre do Rio com "descontos" graciosos sobre o valor de mercado. E declara patrimônio incompatível com sua renda
por Helena Sthephanowitz, para a RBA publicado 30/03/2016 13:26, última modificação 30/03/2016 15:08
GILMAR FELIX - CÂMARA DOS DEPUTADOS
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Jair Bolsonaro, deputado em sexto mandato consecutivo, mostra declaração de bens que levanta dúvidas
Você conseguiria comprar uma casa que custa, a preço de mercado, alguns milhões por "apenas" R$ 400 mil? O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) conseguiu esse, digamos, milagre. E recebeu a graça na compra não só de uma, mas de duas mansões. Em termos terrenos, com um abatimento de pelo menos 75% nos preços dos imóveis, foram verdadeiros negócios da China.
Para entender o caso: Jair Bolsonaro – que está em seu sexto mandato consecutivo como deputado federal – declarou à Justiça Eleitoral possuir, no ano de 2010, bens que totalizavam oo valor de R$ 826.670,46. Naquele ano, os dois imóveis não constavam da declaração de patrimônio.
Quatro anos depois, nas eleições de 2014, o patrimônio declarado pulou para R$ 2.074.692,43. Façamos as contas: a variação patrimonial é maior do que a soma dos salários líquidos que ele recebeu como deputado. Significa que, mesmo se Bolsonaro não tivesse gasto um único centavo de seus salários nos quatro anos de mandato entre 2010 e 2014, ainda assim o montante acumulado não lhe permitiria chegar ao patrimônio de mais de R$ 2 milhões. A conta não fecha.
E como ele não declara, entre seus bens, ser proprietário ou sócio de nenhuma empresa, é inevitável perguntar: qual é a fonte de renda de Bolsonaro para cobrir tamanha variação patrimonial?
Mas a estranheza sobre o patrimônio não para por aí. Jair Bolsonaro continua, segundo ele mesmo declara, com todos os imóveis que tinha em 2010 e aparece em 2014 com duas mansões na Avenida Lúcio Costa, de frente para o mar da Barra da Tijuca, reduto carioca da classe média alta e de parte de sua elite.
Os valores atribuído aos imóveis são piada e escárnio: o valor de compra declarado de uma das propriedades é de R$ 400 mil e a outra, de R$ 500 mil. Uma simples consulta a qualquer imobiliária da capital fluminense, ou às sessões de classificados dos jornais e sites do Rio, mostra que as mansões foram declaradas com valores muito abaixo dos praticados no mercado. Ninguém conseguiria comprar um imóvel como os de Bolsonaro, naquela localização, por esses preços entre 2010 e 2014 – período em o país chegou a viver uma "bolha imobiliária", com os preços dos imóveis dispararam.
Bolsonaro oculta o endereço completo na declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral, mas descobrimos que o deputado tem endereços em seu nome no Condomínio fechado Vivendas da Barra, na referida avenida. Em anúncios classificados, o menor vaor que encontramos para casas à venda naquele condomínio foi de R$ 1,65 milhões. Mais de 4 vezes o valor menor declarado por Bolsonaro.
Em época de alguns políticos terem de explicar até o que não têm e nunca compraram, o que o deputado Jair Bolsonaro, useiro e vezeiro em atirar pedras nos telhados alheios, tem a dizer a seus seguidores sobre seus telhados de vidro?
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O ARTIGO DE WAGNER MOURA CONTRA O GOLPE

Do Blog do Miro

Wagner Moura detona "teatro do absurdo"

Por Altamiro Borges

O ator Wagner Moura, protagonista dos filmes "Tropa de Elite" (2007) e "Tropa de Elite 2" (2010) e indicado ao prêmio Globo de Ouro deste ano pela série "Narcos", publicou um corajoso artigo na Folha tucana desta quarta-feira (30). O texto agitou as redes sociais, com os fascistas rosnando impropérios contra o artista. Ele foi até chamado de "petralha" pelos midiotas sem cérebro. Nas duas eleições presidenciais, Wagner Moura apoiou a Marina Silva e até contribuiu para a criação do seu partido, a Rede. Ele nunca deixou de criticar o governo Dilma. Mas, diante da ofensiva golpista em curso no país, o ator adotou uma posição firme em defesa da democracia. Vale conferir o artigo:

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Pela legalidade

Ser legalista não é o mesmo que ser governista, ser governista não é o mesmo que ser corrupto. É intelectualmente desonesto dizer que os governistas ou os simplesmente contrários ao impeachment são a favor da corrupção.

Embora me espante o ódio cego por um governo que tirou milhões de brasileiros da miséria e deu oportunidades nunca antes vistas para os pobres do país, não nego, em nome dessas conquistas, as evidências de que o PT montou um projeto de poder amparado por um esquema de corrupção. Isso precisa ser investigado de maneira democrática e imparcial.

Tenho feito inúmeras críticas públicas ao governo nos últimos 5 anos. O Brasil vive uma recessão que ameaça todas as conquistas recentes. A economia parou e não há mais dinheiro para bancar, entre outras coisas, as políticas sociais que mudaram a cara do país. Ninguém é mais responsável por esse cenário do que o próprio governo.

O esfacelamento das ideias progressistas, que tradicionalmente gravitam ao redor de um partido de esquerda, é também reflexo da decadência moral do PT, assim como a popularidade crescente de políticos fascistas como Jair Bolsonaro.

É possível que a esquerda pague por isso nas urnas das próximas eleições. Caso aconteça, irei lamentar, mas será democrático. O que está em andamento no Brasil hoje, no entanto, é uma tentativa revanchista de antecipar 2018 e derrubar na marra, via Judiciário politizado, um governo eleito por 54 milhões de votos. Um golpe clássico.

O país vive um Estado policialesco movido por ódio político. Sergio Moro é um juiz que age como promotor. As investigações evidenciam atropelos aos direitos consagrados da privacidade e da presunção de inocência. São prisões midiáticas, condenações prévias, linchamentos públicos, interceptações telefônicas questionáveis e vazamentos de informações seletivas para uma imprensa
controlada por cinco famílias que nunca toleraram a ascensão de Lula.

Você que, como eu, gostaria que a corrupção fosse investigada e políticos corruptos fossem para a cadeia não pode se render a esse vale-tudo típico dos Estados totalitários. Isso é combater um erro com outro.

Em nome da moralidade, barbaridades foram cometidas por governos de direita e de esquerda. A luta contra a corrupção foi também o mote usado pelos que apoiaram o golpe em 1964.

Arrepio-me sempre que escuto alguém dizer que precisamos "limpar" o Brasil. A ideia estúpida de que, "limpando" o país de um partido político, a corrupção acabará remete-me a outras faxinas horrendas que aconteceram ao longo da história do mundo. Em comum, o fato de todos os higienizadores se considerarem acima da lei por fazerem parte de uma "nobre cruzada pela moralidade".

Você que, por ser contra a corrupção, quer um país governado por Michel Temer deve saber que o processo de impeachment foi aceito por conta das chamadas pedaladas fiscais, e não pelo escândalo da Petrobras. Um impeachment sem crime de responsabilidade provado contra a presidente é inconstitucional.

O nome de Dilma Rousseff não consta na lista, agora sigilosa, da Odebrecht, ao contrário dos de muitos que querem seu afastamento. Um pedido de impeachment aceito por um político como Eduardo Cunha, que o fez não por dever de consciência, mas por puro revide político, é teatro do absurdo.

O fato de o ministro do STF Gilmar Mendes promover em Lisboa um seminário com lideranças oposicionistas, como os senadores Aécio Neves e José Serra, é, no mínimo, estranho. A foto do juiz Moro com o tucano João Doria em evento empresarial é, no mínimo, inapropriada.

E se você também achar que há algo de tendencioso no reino das investigações, não significa que você necessariamente seja governista, muito menos apoiador de corruptos. Embora a TV não mostre, há muitos fazendo as mesmas perguntas que você.


LUIS NASSIF, SOBRE A CONJUNTURA E O GOLPE

Do jornal GGN

O xadrez do #NãoVaiTerGolpe

O fator golpe

Não vai ter golpe por uma razão: a opinião pública entendeu que a tentativa de impeachment de Dilma Rousseff é golpe. Simples assim.
A partir do momento que se consolidou essa percepção, redes sociais e até jornais foram invadidos por manifestações do grande meio de campo que se mantinha afastado do jogo. Não se tratava mais de defender uma presidente impopular, mas a própria democracia.
Dos quatro cantos do país chegaram as manifestações, dos cantos de guerra das ruas, à volta dos cantores referenciais, dos poetas, juristas, intelectuais, artistas em defesa da democracia. A bandeira das diretas voltou a tremular, sendo oficialmente apresentada à rapaziada, que fará sua estreia política com a mais bela das bandeiras: a defesa das regras do jogo democrático.
Bem que a Globo tentou de todas as maneiras legitimar o golpe, recorrendo a um expediente indigno do exercício do jornalismo.
Primeiro, ouviu vários juristas, entre os quais alguns membros do Supremo Tribunal Federal, perguntando se impeachment é golpe. Evidente que não é: está previsto na Constituição. A questão central é: impeachment sem justificativa constitucional é golpe?
A resposta veio do Ministro Marco Aurélio de Mello: se não houver justificativa prevista na Constituição, é golpe. Aí o que faz a Globo? A repórter colhe a declaração, em uma coletiva, mas no meio do texto inclui o seguinte parágrafo:
O depoimento de Marco Aurélio diverge de outros cinco ministros do Supremo (Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski), que já disseram que o impeachment é um instrumento legítimo para viabilizar a responsabilização política de qualquer presidente da República.
É falso. Os cinco outros ministros falaram genericamente sobre a figura constitucional do impeachment. Mello analisou especificamente a circunstância de um impeachment sem justificativa constitucional. (http://migre.me/too58
É curioso esse padrão de jornalismo tendo as redes sociais como contraponto. Apenas reforça no conjunto de leitores/telespectadores as suspeitas de manipulação. E um desperdício inútil de credibilidade.
De repente, a opinião pública se viu frente a um coro cada vez mais amplo, de que o impeachment é golpe. Na ponta do golpe, um grupo de parlamentares ostensivamente suspeitos. E, pelas torneiras da mídia, os vazamentos sobre o pacto que está sendo amarrado, de conseguir o impeachment e, em seguida, o fim da Lava Jato.
Foi nesse quadro épico que o comandante Eduardo Cunha colocou no alazão o vulto de Michel El Cid Temer, abriu os portões da cidadela do PMDB e entoou um grito de guerra de três minutos antes que as tropas avançassem sobre os exércitos adversários.
E a tropa não avançou.

O fator PMDB

Até na vida pessoal há momentos de impasses que paralisam qualquer decisão. Fica-se em uma situação incômoda, mas paralisado pelo medo de decidir. Rompido o impasse, voluntariamente ou por algum evento externo, sobrevêm o alívio.
É este o clima no Palácio do Planalto, depois do (suposto) desembarque do PMDB do governo Dilma. Foi um desembarque fulminante, com três minutos de aclamação e palavras de ordem contra a presidente. Entusiasmado, Michel Temer, anunciou uma maratona vitoriosa por todo o país, preparando o PMDB para a nova fase de ouro. Saiu do encontro preparando-se para conquistar o Brasil. E, na porta, viu-se só.
Passado o porre, veio a ressaca. Os ministros do PMDB recusaram-se a sair do governo. Houve reunião à noite, na casa do presidente do Senado Renan Calheiros, onde o PMDB conseguiu chegar ao ponto máximo do fisiologismo: romperia com o governo, mas manteria seus Ministros. Se continuar assim, Temer conseguirá entrar para a história como o coveiro do mais longevo dos partidos brasileiros.
No Planalto, atribui-se a mosca azul de Temer a Eduardo Cunha. Enquanto em segundo plano frente a Sérgio Cabral, Cunha era um negociador hábil, atuando nos bastidores. Quando assumiu a presidência da Câmara, entrou em alfa e contaminou Temer com sua megalomania. Temer tornou-se quase uma criatura de Cunha.
Obrigado a sair da inércia, o Palácio passou a contabilizar os resultados do desembarque do PMDB. E, para sua surpresa, constatou que saiu no lucro.
O PMDB tinha 7 Ministros e garante, no máximo, 30 votos contra o impeachment, de sua bancada de 69 parlamentares.
A base ideológica do governo - PT, PCdoB, parte da Rede e do Psol - contabiliza 80 votos. A parte ideológica do PDT garante mais 10 votos. Ficam faltando 80 votos a serem conquistados nos 400 deputados restantes.
Se os partidos da base garantirem 10 votos, chega-se aos 170 necessários para barrar o impeachment. Os líderes falam em garantir de 15 a 20 votos por partido.
Sem o PMDB, o governo terá uma cota de 5 ministérios para repactuar com os demais partidos e recuperar os 20 votos que poderá perder do PMDB.
Hoje em dia, não existem partidos grandes, só partidos médios. Puxando três médios para a base - PP, PSB e PR -, dentro de uma pactuação efetiva, o governo conseguiria formar um novo bloco de maioria.

O dia seguinte

Ainda há um grande desafio pela frente, de segurar o impeachment. E um segundo grande desafio, de reinventar o governo de Dilma, caso o golpe se frustre.
Hoje, em Brasília, a sensação maior é que a sessão que votará o impeachment será similar à que votou as diretas-já. Não haverá quórum para o impeachment, mas o governo terá que apresentar uma saída para o dia seguinte.
É nessa saída que repousam as maiores esperanças em Lula.
Derrubado o impeachment, Dilma não poderá se repetir. Terá que admitir suas vulnerabilidades e acabar de vez com o estilo de "espancar ideias".
O estilo consiste no seguinte.
O Ministro aparece com uma sugestão de política pública. A presidente faz, então, um teste de stress, "espancando" a ideia para analisar sua consistência. E invariavelmente acaba liquidando com a iniciativa do Ministro, apontando - em geral com humilhação - pontos que ficaram em aberto. Esse estilo fez com que o Ministérios se encolhessem, evitando apresentar qualquer ideia para não cair  no pelourinho da presidente.
Há maneiras de montar ministérios de coalizão e definir planos de governo robustos. Basta ancorar cada Ministério em secretários executivos gestores e definir claramente as metas e foco de cada área. E abrir-se para a sociedade, para os empresários, os movimentos sociais.
Principalmente, pensar grande para enfrentar a crise econômica que se avizinha.
De qualquer modo, se o impeachment for derrotado será a prova definitiva de que o país se tornou maior que a Globo.
E a maior prova era o contraste bolivariano. Ontem, no Planalto, militantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores em Teto) no Palácio do Planalto gritando palavras de ordem em defesa da democracia. Eram rudes, barulhentos, fazendo algazarra como deveriam ter feito os índios no descobrimento. E, no entanto, cantando com gosto o Hino Nacional e vendo na democracia o caminho para ter oportunidades. Eram cidadãos.
E nas telas da Globo e nos portões de Paulo Skaf, de Temer, de Cunha, as ameaças maiores à grande conquista democrática.
É por isso que #NãoVaiTerGolpe.

GOLPE, NUNCA MAIS!

Veja o vídeo.

BRASIL, EUA, GOLPE

Por Pepe Escobar, em tradução publicada no O Cafezinho

Brasil e Rússia sob ataque de “Guerra Híbrida”

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“Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.”
As flores do mal [1857], Charles Baudelaire, sem indicação do tradutor*
por Pepe Escobar, no Russia Today
Revoluções Coloridas nunca bastariam. O Excepcionalistão vive à procura de grandes atualizações de estratégia capazes de garantir a hegemonia perpétua do Império do Caos.
A matriz ideológica e o modus operandi das revoluções coloridas já são, hoje, assunto de domínio público. Mas não, ainda, o conceito de Guerra Não Convencional (GNC) [orig.Unconventional War (UW).
Essa guerra não convencional apareceu explicada no manual das Forças Especiais para Guerra Não Convencional dos EUA, em 2010. O parágrafo chave é:
"1-1. A intenção dos esforços de GNC dos EUA é explorar vulnerabilidades políticas, militares, econômicos e psicológicos de um poder hostil, mediante o desenvolvimento e sustentação de forças de resistência, para alcançar os objetivos estratégicos dos EUA. (...) Para o futuro previsível, as forças dos EUA se engajarão predominantemente em operações de guerra irregular"
"Hostil" não se aplica apenas a potências militares; qualquer estado que se atreva a desafiar alguma trampa importante para a "ordem" mundial Washington-cêntrica - do Sudão à Argentina -, pode ser declarado"hostil".
Hoje, as ligações perigosas entre Revoluções Coloridas e Guerra Não Convencional já desabrocharam, como Guerra Híbrida: caso pervertido de Flores do Mal. Uma 'revolução colorida' é apenas o primeiro estágio do que, adiante, será convertido em Guerra Híbrida. E Guerra Híbrida pode ser interpretada, na essência, como a teoria-do-caos armada - paixão conceitual dos militares dos EUA ("política é a continuação da guerra por meios linguísticos"). No fundo, meu livro de 2014, Empire of Chaos rastreia as miríades de manifestações desse conceito.
Os detalhados e bem construídos argumentos [de Andrew Koribko, um dos capítulos já traduzidos, e outros em tradução (NTs)] dessa tese em três partes esclarece perfeitamente o objetivo central por trás de uma grande Guerra Híbrida:
"O grande objetivo por trás de toda e qualquer Guerra Híbrida é esfacelar projetos multipolares transnacionais conectivos, mediante conflitos de identidade provocados de fora para dentro (étnicos, religiosos, regionais, políticos, etc.), dentro de um estado de trânsito tomado como alvo."
Os BRICS - palavra/conceito de péssima reputação em Washington e no Eixo de Wall Street - teriam de ser os alvos preferenciais de Guerra Híbrida. Por incontáveis razões, dentre as quais: o movimento na direção de comerciar e negociar em suas próprias respectivas moedas, deixando de lado o dólar norte-americano; a criação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS; o confessado interesse na direção da integração da Eurásia, simbolizada pelos projetos: Novas Rotas da Seda - ou, na terminologia oficial, Um Cinturão, uma Estrada [ing. One Belt, One Road (OBOR)] liderados pela China; e União Econômica Eurasiana (UEE) liderada pela Rússia.
Implica que a Guerra Híbrida mais cedo ou mais tarde atingirá a Ásia Central: o Quirguistão é candidato ideal a laboratório primário para experimentos tipo revolução colorida, do Excepcionalistão.
No estado em que estamos hoje, a Guerra Híbrida está muito ativa nas fronteiras ocidentais da Rússia (Ucrânia) mas ainda é embrionária em Xinjiang, no extremo oeste da China, que Pequim microadministra como falcão. A Guerra Híbrida também já está sendo aplicada para impedir um gambito crucial do Oleogasodutostão: a construção do Ramo Turco. E também será acionada de pleno para interromper a Rota da Seda dos Bálcãs - essencial para os negócios/comércio da China com a Europa Ocidental.
Dado que os BRICS são o único real contrapoder ante o Excepcionalistão, foi preciso desenvolver uma estratégia para cada um dos principais atores. Jogaram tudo contra a Rússia - de sanções à mais total demonização; de ataque contra a moeda russa até uma guerra dos preços do petróleo, que incluiu até algumas (patéticas) tentativas de iniciar uma revolução colorida nas ruas de Moscou.
Para nodo mais fraco no grupo BRICS, teria de ser desenvolvida estratégia mais sutil. O que afinal nos leva até a complexíssima Guerra Híbrida que se vê hoje lançada com o objetivo de conseguir a mais massiva e real desestabilização política/econômica do Brasil.
No Manual dos EUA para Guerra Não Convencional lê-se que fazer balançar as percepções de uma vasta "população média não engajada" é essencial na rota do sucesso, até que esses "não engajados" acabem por voltar-se contra os líderes políticos.
O processo inclui de tudo, de "apoiar grupos insurgentes" (como foi feito na Síria) até implantar "o mais amplo descontentamento, mediante propaganda e esforços políticos e psicológicos para desacreditar o governo" (como no Brasil). E, à medida que uma insurreição vá crescendo, deve-se "intensificar a propaganda e a preparação psicológica da população para a rebelião". Assim, num parágrafo, está pintado o caso do Brasil.
Precisamos de um Saddam para chamar de nosso
O principal objetivo do Excepcionalistão é quase sempre conseguir um mix de revolução colorida e guerra não convencional. Mas a sociedade brasileira e sua vibrante democracia sempre seriam sofisticadas demais para uma abordagem de Guerra Não Convencional hardcore, como sanções ou o conto da "Responsabilidade de Proteger" (R2P).
Não surpreende que São Paulo tenha sido convertido em epicentro da Guerra Híbrida contra o Brasil. São Paulo, o estado mais rico do Brasil, onde está também a capital econômica e financeira da América Latina, é o nodo chave numa estrutura de poder interconectada nacional/internacional.
O sistema da finança global centrado em Wall Street - e que governa virtualmente todo o Ocidente - simplesmente não poderia de modo algum permitir qualquer ação de plena soberania nacional, num ator regional com a importância do Brasil.
A 'Primavera Brasileira", de início, foi virtualmente invisível, fenômeno exclusivamente das mídias sociais - como na Síria, no início de 2011.
Então, em junho de 2013, Edward Snowden vazou aquelas sempre as mesmas práticas de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos EUA. No Brasil, a ASN-EUA espionava a Petrobrás por todos os lados. E então, de repente, sem mais nem menos, um juiz regional, Sergio Moro, baseado numa única fonte - depoimento de um corretor clandestino de câmbio no mercado negro ("doleiro") - teve acesso a uma grande lixeira de documentos da Petrobrás. Até agora, a investigação de corrupção que já dura dois anos, "Operação Car Wash", ainda não revelou como conseguiram saber tanto sobre o que os próprios investigadores chamam de "célula criminosa" que agiria dentro da Petrobrás.
O que realmente interessa é que o modus operandi da revolução colorida - a "luta contra a corrupção" e"em defesa da democracia" - já estava posta em andamento. Foi o primeiro passo da Guerra Híbrida.
Assim como o Excepcionalistão inventou terroristas "bons" e terroristas "maus" cujos confrontos criaram a mais terrível confusão e agitações por todo o "Siriaque", no Brasil surgiu a figura do corrupto "bom" e do corrupto "mau".
Wikileaks também revelou como o Excepcionalistão classificava o Brasil como "ameaça à segurança nacional dos EUA", porque poderia projetar um submarino nuclear [esse Wicki-telegrama é de 2009, o mesmo ano do 'curso' que o juiz Moro fez no Rio de Janeiro. Só pode ter sido por acaso (NTs)]; como a empresa construtora Odebrecht estava-se tornando global; como a Petrobrás desenvolvera, a própria empresa, a tecnologia para explorar os depósitos de petróleo do pré-sal (a maior descoberta de petróleo confirmada desse início do século 21, da qual o Big Oil foi excluído por, ninguém mais, ninguém menos, que o presidente Lula.[2]
Adiante, por efeito das revelações de Snowden, o governo Rousseff passou a exigir que todas as agências governamentais usassem empresas de tecnologia estatais, para atender todas as necessidades do governo. Significaria que as empresas norte-americanas do setor perderiam, em dois anos, ganhos já previstos de $35 bilhões, se fossem alijadas dos negócios de tecnologia da 7ª maior economia do mundo - como o grupo Information Technology & Innovation Foundation rapidamente descobriu.
O futuro acontece agora
A marcha na direção de Guerra Híbrida no Brasil pouco tem a ver com direita ou esquerda política. Consiste, basicamente, de mobilizar algumas famílias ricas que realmente governam o país; subornar fatias imensas do Congresso; pôr sob estrito controle as principais empresas de mídia; pôr-se a agir como senhores de engenho de escravos do século 19 (as relações sociais da escravidão ainda permeiam todas as relações na sociedade brasileira); e legitimar a coisa toda com discursos de uma tradição intelectual robusta, mas oca.
Todos esses dariam o sinal para mobilizar as classes médias altas.
O sociólogo Jesse de Souza identificou um fenômeno freudiano de "gratificação de substituição", pelo qual as classes médias altas brasileiras - que, em grandes números vivem agora a exigir mudança de regime - imitam os poucos muito ricos, ao mesmo tempo em que são cruelmente exploradas por eles, mediante montanhas de impostos e taxas de juros estratosféricas.
Os 0,0001% mais ricos e as classes médias altas precisavam de um Outro para demonizar - à moda do Excepcionalistão. E ninguém seria mais perfeito para o complexo judicial-policial-midiático-velhas-elites-comprador, que a figura que tratariam de converter num Saddam Hussein tropical: o ex-presidente Lula.
"Movimentos" de ultradireita financiados pelos nefandos Koch Brothers repentinamente começaram a surgir nas redes sociais e em movimentos de rua. O advogado-geral do Brasil visitou o Império do Caos chefiando uma equipe da "Operação Lava Jato para entregar informações da Petrobrás que talvez levassem a uma acusação formal pelo Departamento de Estado.
A "Operação Lava Jato" e o - imensamente corrupto - Congresso brasileiro, o mesmo que, agora, vai decidir sobre um possível impeachment da presidenta Rousseff, já se mostram absolutamente indistinguíveis, uma e outro.
Àquela altura, os autores do roteiro estavam certos de que já havia uma infraestrutura implantada para mudança de regime no Brasil na numa massa-crítica antigoverno, o que pode levar ao pleno desabrochar da revolução colorida. E assim se pavimentou a trilha para um golpe soft no Brasil - sem nem ser preciso recorrer ao letal terrorismo urbano (como na Ucrânia).
Problema hoje é que, se o tal golpe soft falhar - como agora já parece pelo menos possível que falhe -, será muito difícil desencadear golpe hard, de estilo Pinochet, com recursos de Guerra Não Convencional, contra o governo sitiado de Rousseff; vale dizer, completar o ciclo de uma Guerra Híbrida Total.
Num plano socioeconômico, a "Operação Lava Jato" só seria plenamente "bem-sucedida" se levasse a um afrouxamento das leis brasileiras sobre exploração de petróleo, abertura do país ao Big Oil dos EUA. Paralelamente, todos os gastos em programas sociais teriam de ser esmagados.
Mas, diferente disso, o que se vê agora é a mobilização progressiva da sociedade civil no Brasil contra esse cenário de golpe branco/soft em cenário de golpe/mudança de regime.
Atores crucialmente importantes na sociedade brasileira estão agora firmemente posicionados contra o impeachment da presidenta Rousseff, da Igreja Católica a grandes igrejas evangélicas; professores universitários respeitados; pelo menos 15 governadores de estados; artistas, massas de trabalhadores da 'economia informal', sindicalistas; intelectuais públicos; a grande maioria dos principais advogados do país; e afinal, mas não menos importante, o "Brasil profundo" que votou e elegeu Rousseff legalmente, com 54,5 milhões de votos.
Ainda não acabou e só acabará quando algum homem gordo na Suprema Corte do Brasil cantar. O que é certo é que já há pensadores brasileiros independentes que começam a construir as bases teóricas para estudar a "Operação Lava Jato" não como mera 'investigação' ou 'movimento' massivo "contra a corrupção"; mas, isso sim, como legítimo caso exemplar, a ser estudado, de estratégia geopolítica do Excepcionalistão aplicada a ambiente globalizado sofisticado, com ativas redes sociais e dominado pelas TIs.
Todo o mundo em desenvolvimento muito tem a ganhar, se se mantiver com os olhos bem abertos - e aprender as lições que dali brotem, porque é bem possível que o Brasil venha a entrar para a história como caso exemplar de Guerra Híbrida (só) Soft. *****

TEM QUE CHAMAR AS COISAS PELO NOME

Para que haja alguma racionalidade. Os reacionários de hoje repetem o que fizeram os de 1964, usando outros métodos, outros tipos de violência. Artigo de Paulo Nogueira, no DCM


O ESFORÇO INÚTIL DA GLOBO EM DIZER QUE O GOLPE NÃO É GOLPE. POR PAULO NOGUEIRA


por Paulo Nogueira30 de março de 2016



Tamos juntos: João Roberto Marinho e Eduardo Cunha

O Globo disse, num editorial, que o golpe não é golpe.

Há muito tempo ninguém mais tem o direito de se surpreender com nada de abjeto quando se trata do Globo.

Cassar 54 milhões de votos deixa portanto de ser golpe porque a Globo não quer. A  Globo pode muito, mas não tudo. Não pode, por exemplo, transformar um golpe em qualquer coisa que não seja exatamente isso: um golpe.
Um golpe paraguaio, especificamente.

Nós do DCM lutamos por um Brasil escandinavo, justo e igualitário. A Globo quer transformar o Brasil num imenso Paraguai.

Dar nome às coisas é mais importante do que se imagina.

Os chineses chamaram de Guerras do Ópio as batalhas que travaram com os ingleses em meados do século 19. Os chineses queriam varrer o ópio britânico de sua terra. Os britânicos queriam poder vender livremente seu ópio, produzido na Índia.

A Inglaterra, muito mais armada militarmente, venceu. Só que os chineses conseguiram que a história registrasse os conflitos como Guerras do Ópio, para vergonha eterna dos britânicos.

Um historiador chinês da época notou que aquela fora a maior vitória da China – e a realmente definitiva.

Ainda hoje, as Guerras do Ópio são lembradas com embaraço pelos ingleses, num dos capítulos mais baixos de sua história.

No Brasil, o golpe de 1964 foi tratado pelos vitoriosos de então como Revolução. O Globo de Roberto Marinho não se cansou de saudar, entusiasmadamente, a Revolução.

A mesma imprensa que hoje se empenha no golpe fez a mesma coisa: era a Revolução.

Mas não há mentira que sobreviva indefinidamente na história de um país.
Sumiu do ar a palavra Revolução. Até a Globo, em algum momento, teve que reformular seu vocabulário. Nem os Marinhos chamam hoje o golpe de 1964 de Revolução.

Um governo legítimo, o de Jango Goulart, foi removido por dar foco aos desvalidos. Alguma semelhança com o que acontece hoje? Toda.
E no entanto o golpe se vestiu de Revolução, na linguagem dos militares da ditadura e seus amigos da imprensa.

Não pegou.

Agora é um quadro parecido. A Globo quer dar outro nome ao golpe, algo que mitigue o tom tenebroso do evento sinistro que é obliterar 54 milhões de votos por meio de políticos corruptos como Eduardo Cunha, juízes partidários como Moro e uma mídia desonesta como a casa dos Marinhos.

É ridículo, e é inútil.

Tentar dar ares constitucionais à quartelada por outros meios que o Brasil enfrenta hoje não vai funcionar. O golpe militar também teve a aquiescência constitucional dos juízes do STF de então.


O STF era tão comprometido politicamente em 1964 como é hoje. A diferença maior é que eles eram menos tagarelas do que Gilmar, Celso Mello etc.

quarta-feira, 30 de março de 2016

PLANOS DE TEMER E DO PMDB PARA O GOVERNO

Do jornal GGN

MPF e Polícia Federal não contavam com o cinismo do PMDB, por Romulus

Por Romulus
Coincidência ou não, volta-me à mente uma citação de Ortega y Gasset muito repetida pelo Min. (e ex-professor meu) Barroso:
"Entre querer ser e pensar que já se é, vai a distância entre o sublime e o ridículo".
MPF e PF - com Moro a reboque - foram com muita sede ao pote. Enfraqueceram tanto e tão rápido o governo e o PT, sem atacar os demais, que mudaram a correlação de forças de forma significativa e deixaram oposição e Congresso na frente do gol. Sem barreira. Só com uma goleira manca, depois de tantos pisões, como último obstáculo para matarem a partida.
E por que a citação de Ortega e Gasset? Ora, embriagados pelo megalomania e pelos holofotes, procuradores e delegados acharam que já estavam na nova era. Pensavam já ter sedimentado para todo o sempre o novo peso de suas corporações no desenho institucional brasileiro. Que nada! Não contavam eles com o cinismo-máster e a cara de pau do PMDB. Assim como não hesitará em votar impeachment sem crime de responsabilidade, terá o partido escrúpulos de votar no Senado afastamento de PGR? De colocar um interventor linha dura na PF sob um Nelson Jobin no Min. Justiça? De aprovar emenda à Constituição colocando mais 4 ministros alinhados no STF?
Talvez nem precise chegar a tanto. A simples ameaça pode já funcionar, como no caso do embate FD Roosevelt vs. Suprema Corte a respeito da constitucionalidade do New Deal.
Pensa quem está por trás da Lava Jato que, com facilidade, também conseguirá deixar Temer de joelhos? Ora, PMDB é a casa dos profissionais. Não haverá nenhum prurido em via alinhamento Congresso/Executivo enterrar a "caça às bruxas" (Serra) e permitir a "união nacional" (Temer). O que será da Lava Jato sem o palanque da imprensa familiar? Pensavam os procuradores que tinham casamento de papel passado com a grande imprensa? Que nada. Era apenas uma simples "ficada" na noite enquanto interessava aos dois. Com o golpe, Temer tem a $ECOM na mão. O que oferecem MPF e PF? Manchetes? "Já cansou"... "o país precisa de uma concertação nacional para sair da crise", não é mesmo? Inaugure-se uma nova página...
Quem mais já consegue ver a capa da Veja com Temer com semblante determinado e a legenda: "O Plano Temer - como em 6 meses o time de craques na Esplanada trará o Brasil de volta ao centro do jogo"?
Dilma, com seu "republicanismo" míope e seu pavor de sujar as mãos da sua pessoa física, casados com sua falta de habilidade política, é a presidente perfeita para o "partido dos concursados" (como denomina o amigo Ciro d'Araujo) sambarem em cima. Temer e PMDB? Não mesmo! Os concursados "espertos" não viram isso? Realmente como nota o Nassif não há nenhuma sagacidade política. Além, claro, da já revelada total ignorância sobre economia em nível elementar. Talvez todo esse enredo sirva pelo menos para atualizarmos o banco de perguntas utilizado nos concursos. Menos códigos decorados e mais lógica, raciocínio e sagacidade. Não foi isso que fizeram com o ENEM? Então...