quinta-feira, 27 de junho de 2019

UM TSUNAMI FINANCEIROS NO HORIZONTE

Outro importante artigo publicado pelo Outras Palavras nesta semana:

Um tsunami financeiro no horizonte

O economista que previu a crise de 2008 alerta: já há indícios de uma nova tempestade global. Agora, os Estados terão menos força para enfrentá-la. Num cenário de instabilidade política, as consequências são imprevisíveis
Por Nouriel Roubini no Project Syndicate | Tradução: Simone Paz Hernández
Há cerca de um ano, meu colega Brunello Rosa e eu, identificamos dez riscos negativos que poderiam desencadear uma recessão norte americana e global, em 2020. Nove desses riscos ainda estão presentes. Vamos acompanhá-los:

Maiores riscos da economia norte-americana

Muitas das ameaças envolvem os Estados Unidos. Guerras comerciais com a China e outros países, somadas às restrições de migração, investimento estrangeiro direto e transferências tecnológicas, podem gerar profundas complicações nas cadeias globais de fornecimento, elevando o risco da estagflação (crescimento lento somado a inflação).
O risco de uma desaceleração no crescimento dos EUA vem se tornando mais agudo, agora que o estímulo da legislação fiscal de 2017 já deixou de produzir efeitos
Enquanto isso, os mercados norte americanos de ações têm se mantido efervescentes. E existem riscos extra, associados ao surgimento de novas formas de endividamento, que incluem muitos mercados emergentes, nos quais muitos dos empréstimos são denominados em moedas estrangeiras.
A capacidade dos bancos centrais de serem emprestadores de dinheiro de último recurso está cada vez mais restrita, de modo que os mercados financeiros não-líquidos ficam vulneráveis às “quebras-relâmpago” e a outras rupturas.
Uma delas pode vir do presidente dos EUA, Donald Trump, caso sinta-se tentado a criar uma crise de diplomacia externa com países como o Irã, para abafar outros assuntos. Isso pode lhe dar força nas enquetes internas, mas pode também ocasionar um novo choque do petróleo.

Empresas podem reduzir gastos e investimentos

Além dos EUA, a fragilidade do crescimento da endividada China e de outros mercados emergentes continua sendo uma preocupação, como são os riscos econômicos, diplomáticos, financeiros e políticos na Europa.
Pior: nas economias desenvolvidas, a caixa de ferramentas de políticas para enfrentar as crises continua limitada. As intervenções monetárias e fiscais e os batentes do setor privado usados após a crise financeira de 2008, simplesmente não podem mais ser implementados, com os mesmos efeitos, hoje em dia.
Um fator de risco considerado em nosso artigo anterior era a política de juros do banco central norte-americano (o “Federal Reserve”, ou FED). Após elevar as taxas, em resposta aos estímulos fiscais pró-cíclicos do governo Trump, o FED reverteu o curso em janeiro. Em relação ao futuro, o FED e outros grandes bancos centrais parecem mais propensos a cortar taxas para administrar os diversos choques da economia global.
Guerras comerciais e potenciais picos nos preços do petróleo significam um risco no lado da oferta. Mas também ameaçam a demanda agregada e, com isso, o crescimento do consumo, porque tarifas de importação e altos preços na gasolina, reduzem a renda disponível.
Com tanta incerteza, as companhias irão optar por reduzir os gastos com capital e investimento.

Novos resgates não serão tolerados

Sob tais condições, um choque suficientente grave poderá conduzir a uma recessão global, mesmo se os bancos centrais responderem rapidamente. Afinal de contas, de 2007 a 2009, o FED e outros bancos centrais reagiram energicamente aos choques que provocaram a crise financeira global, mas não evitaram a “Grande Recessão”.
Atualmente, o FED parte de uma taxa de juros de referência de 2,25% a 2,5% ao ano, que deve ser comparada aos 5,25% de setembro de 2017
Na Europa e no Japão, os bancos centrais já adentraram o território das taxas negativas, e enfrentarão limites, à medida em que forem testando o quanto pode-se avançar abaixo de 0%
Com os balanços patrimoniais inchados, após sucessivas rodadas de quantitative easing[políticas de “flexibilização quantitativa”, ou emissão farta de moeda, em favor da oligarquia financeira (Nota de Outras Palavras)], os bancos centrais enfrentariam restrições similares se tivessem que voltar a comprar ativos em grande escala
Do ponto de vista fiscal, a maior parte das economias desenvolvidas tem déficits maiores e dívidas públicas mais altas hoje do que antes da crise financeira global, o que as deixa com pouco fôlego para gastos com estímulo à economia
Auxílios ao setor financeiro serão inaceitáveis em países com movimentos “populistas” ressurgentes e governos quase insolventes

A guerra comercial EUA-China merece atenção especial

Entre os riscos que podem suscitar uma recessão em 2020, o comércio sino-americano e a guerra tecnológica requerem maior atenção. O conflito pode ampliar-se ainda mais de várias maneiras.
O governo Trump pode estender as tarifas às exportações chinesas ainda não afetadas, que valem US$300 bilhões. Além disso, proibir a Huawei e outras marcas chinesas de usarem componentes estadunidenses pode desencadear um processo em larga escala de desglobalização, à medida em que as empresas corram para garantir suas cadeias de fornecedores
Se isso acontecesse, a China teria muitas opções para retaliar contra os EUA. Uma delas, por exemplo, seria fechando seu mercado às multinacionais norte americanas, como a Apple
Com um cenário desses, o choque nos mercados mundiais seria suficiente para acarretar numa crise global, independentemente do que os principais bancos centrais façam.
Com as tensões atuais já atingindo os negócios, os consumidores e a confiança dos investidores, e desacelerando o crescimento global, uma nova escalada levaria o mundo a uma recessão. E, dado o tamanho das dívidas pública e privada, uma outra crise financeira se seguiria a partir disso
Tanto Trump como o presidente chinês Xi Jinping sabem que é do interesse de seus países evitar uma crise global. Por isso, eles têm um incentivo para chegar a um acordo nos próximos meses. Porém, os dois lados ainda elevam suas retóricas nacionalistas e buscam medidas retaliatórias.
Trump e Xi parecem pensar que a segurança econômica e nacional de longo prazo, em seus países, depende apenas de não piscarem, diante de uma nova guerra fria. E se eles genuinamente acreditarem que o outro piscará primeiro, o risco de um confronto desastroso será, de fato, alto.
É possível que Trump e Xi se encontrem para algumas conversas durante a cúpula do G-20 no final da semana, em Osaka. Mas, mesmo se concordarem em recomeçar as negociações, ainda haveria um longo caminho pela frente até chegar a um acordo tolerante que resolva todos os pontos de discórdia.
Como os dois lados vão em direções opostas, o espaço para um compromisso está diminuindo e o risco de uma recessão e crise global, numa economia mundial que já é frágil, só cresce.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

PARA ENTENDER O FASCISMO DOS IMPOTENTES

Algumas reflexões de um fenômeno que nos desgraça, junto com tantos outros países. Do site Outras Palavras

Para entender o fascismo dos impotentes

Filósofo italiano adverte: “nova” ultradireita lembra apenas na aparência os regimes totalitários do passado. Seus partidários trocaram o entusiasmo por desesperança e ressentimento. Um apocalipse se aproxima – e ele pode ser bom…
Franco Berardi entrevistado por Juan Íñigo Ibáñez | Tradução: Rôney Rodrigues | Imagem: Edward HopperFour Lane Road (1956)
O filósofo italiano Franco Berardi, referência na esquerda europeia, avalia as causas que levaram ao fortalecimento da ultradireita, as divergências no feminismo e como a conexão tecnológica ameaça acabar com a ironia na linguagem e a sedução.
No início de agosto de 2017, tudo estava pronto para que Franco “Bifo” Berardi apresentasse sua performance “Auschwitz na Praia” na feira de arte alemã documenta 14. No último minuto, os curadores da exposição decidiram cancelar a proposta do acadêmico bolonhês: várias organizações reclamaram que a situação dos imigrantes era incomparável com a enfrentada pelos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Ao fim, a performance foi substituída pela leitura pública do poema de “Bifo” que inspirou o trabalho original, além de um debate aberto sobre a crise dos migrantes na Europa.
Apesar disso, Berardi seguiu insistindo – ferreamente – no paralelismo entre as condições que enfrentam os refugiados que dia após dia chegam à costa europeia, com os seis milhões de judeus assassinados durante o nazismo. E foi ainda mais longe: equiparou o contexto político atual – marcado pelo crescimento da extrema-direita – com o que tornou possível a ascensão do nazismo na Alemanha.
Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, os resultados para a ultradireita passaram longe do triunfo significativo que alguns prenunciavam e, no fim das contas, os grandes vencedores foram os partidos ecologistas. No entanto, 21 coalizões ultraconservadoras ganharam assentos e aumentaram em 10% seus representantes no Parlamento Europeu. E, enquanto os tradicionais partidos socialistas e de centro-direita perderam a maioria absoluta – e, por isso, já não podem mais formar uma “grande coalizão” –, as propostas de Marine Le Pen, Matteo Salvini e Nigel Farage – líder do partido do Brexit – conseguiram impor-se na França, Itália e Reino Unido. Da mesma forma, na Hungria, Polônia e Suécia também se consolidaram forças de extrema-direita e antieuropeias.
Apesar de esse avanço eleitoral ser aparentemente modesto, para muitos analistas o discurso de populistas xenófobos goza hoje de excelente saúde, chegando, inclusive, a “infiltrar-se” por dentro das social-democracias nórdicas: na Dinamarca, a centro-esquerda liderada por Mette Frederiksen acaba de recuperar o poder com base na promessa de implantar uma forte política anti-imigração.  
Por que o senhor considera que a derrota de Hitler não foi o fim do nazismo na história da Europa nem do mundo?
Antes de tudo, a dinâmica social que tornou possível a onda neorreacionária contemporânea (do Brexit a Trump, de Duterte a Bolsonaro) é a mesma que levou à vitória de Hitler em 1933. Hitler ganhou porque convenceu os trabalhadores empobrecidos e humilhados na Alemanha de que não eram trabalhadores derrotados, mas guerreiros brancos e arianos.
O nazismo substitui o devir social pela identidade nacional. É o que está acontecendo nessa época de Trump; é o que acontece hoje na Europa: os trabalhadores, empobrecidos pela máquina financeira e humilhados pela esquerda neoliberal, rebelam-se em nome da identidade, da raça, da nação. Os humilhados, como classe social, se reafirmam como classe guerreira.
Em relação ao que está acontecendo na região do Mediterrâneo: é um verdadeiro holocausto que se desenvolve diante dos olhos da população europeia. Todos os dias, estamos matando homens e mulheres que vêm da Síria, do Afeganistão, da África. Todos os dias deportamos pessoas que estão fugindo das guerras que os europeus e norte-americanos provocaram aos torturadores da Líbia e da Turquia.
Alguém disse que não se pode comparar os seis milhões de judeus assassinados pelos nazistas. 30 mil não parece ser suficiente… Vamos esperar que cheguem a seis milhões?
O nazismo de hoje tem uma dimensão planetária: os “judeus de hoje” são milhões de pessoas que o colonialismo humilhou e que tentam escapar de seus campos de extermínio.
O senhor apontou que o auge da extrema-direita se dá em consonância com a obsessão pela “identidade”. Por que isso é problemático na política?
A política é fundada na escolha de alternativas, é baseada no pensamento, na estratégia racional. A identidade é o contrário da liberdade, é o contrário da escolha. Sou branco, sou negro, sou muçulmano, sou cristão… A política não tem nada a ver com o “ser”, mas com o devir.  
Quando a política é pensada em termos de “ser”, a guerra se torna inevitável. O fascismo sempre é baseado na confusão de que a política é a expressão de uma identidade.
Embora muitos rotulem os partidos e governos de extrema-direita de “fascistas”, o senhor diz que essa categoria não é suficiente. Por quê?
O fascismo histórico do século XX foi a expressão de jovens que lutavam pela supremacia nacional e racial, mas baseados em uma visão futurista, expansiva e eufórica. Não se pode entender o fascismo italiano, e tampouco o alemão e o japonês, sem a referência a esse futurismo, a afirmação agressiva de um futuro glorioso. Hoje nada disso existe. Não há exuberância juvenil futurista na onda neorreacionária atual.
A onda neorreacionária de hoje é um fenômeno de senescência (envelhecimento biológico). Não importa que muitos jovens tenham votado na direita: são jovens sem futuro, sem euforia, sem esperança e sem glória. O horizonte contemporâneo é de impotência; e a impotência é a origem da vingança.
Em 2018, intelectuais e artistas francesas assinaram uma carta que acusava o feminismo anglo-saxão, especificamente o movimento #MeToo, de provocar uma “caça às bruxas” que conduziria a um novo “puritanismo” sexual. Que opinião você tem sobre esse cisma dentro do feminismo?
O movimento #MeToo foi um acontecimento importante de denúncia do poder (masculino) implícito dentro da sexualidade contemporânea. Concordo. Mas a dinâmica cultural que o #MeToo desencadeia coincide com uma visão puritana que tem um papel importante na história do movimento feminista mundial, mas sobretudo na base do feminismo norte-americano. A visão puritana se manifesta na rejeição do que é ambíguo e impuro na comunicação erótica e na comunicação em geral.
Naturalmente, frente às condições atuais de violência e de agressividade masculina, a onda de denúncias femininas é necessária e legítima, mas há um grande perigo cultural: a criminalização da ambiguidade, da sedução como jogo linguístico.
O #MeToo é a expressão de uma cultura na qual a sexualidade perdeu toda a relação com a ironia da linguagem, onde a linguagem tem que ser “sim-sim, não-não”, onde o medo reciproco é a única maneira de evitar a violência. É um mundo infernal que corresponde perfeitamente ao inferno de um país onde o que é humano foi suprimido, porque a linguagem foi submetida a um código binário. A binarização da sensibilidade implica na identificação do erotismo com a pornografia.
As denúncias contra o produtor Harvey Weinstein, que desencadearam a onda de crítica feminista nos Estados Unidos, têm que ser contextualizadas dentro da crise política da democracia norte americana, na crise da classe política democrática, no sistema de cumplicidade “clintoniana”. Quem era Weinstein, todos sabiam, mas o poder da democracia liberal e da mídia foram cúmplices de sua violência, que não era só sexual, mas também social, econômica e profissional.
Existe hoje algum coletivo feminista que transcenda a visão puritana?
O movimento “Ni una menos” da Argentina tem um caráter cultural profundamente diferente porque se baseia na ação coletiva das mulheres, não em uma abstrata afirmação de uma verdade e de uma pureza que não existe, mas na palavra da lei.
Nos últimos anos surgiram blogueiros e youtubers de extrema-direita. A que atribui sua proliferação e como isso se relaciona com a ascensão de governos de extrema-direita?
A impotência é o caráter fundamental de identificação das raças brancas. A cultura declinante dos dominadores é ameaçada pela globalização, pela migração e, ao mesmo tempo, pelo superpoder da técnica e das finanças.
Impotência é uma palavra que se refere à potência política perdida, mas também à potência sexual. A depressão massiva, a precariedade e a ansiedade contemporânea tem produzido um efeito de impotência psíquica e sexual massiva que se manifesta como agressividade antifeminina.
A guerra civil global contemporânea é, antes de mais nada, uma guerra contra as mulheres. Em seu livro Muerte a los normies [sem tradução no Brasil], Angela Nagle explica muito bem o papel que a cultura dos “homens beta” (machos pouco assertivos com as mulheres e que foram relegados, involuntariamente, do mercado sexual) está desenvolvendo uma onda neorreacionária.
Nos anos que antecederam o triunfo de Trump, muitas subculturas da web, vinculadas a alt right, utilizaram memes como “Pepe, o Sapo” que, de forma irônica e cínica, conseguiram atingir milhares de homens jovens, “trolls” da raça branca e com sensibilidade política indefinida. Que implicações éticas e cognitivas tem a estética dos memes?
Em condições de aceleração e intensificação da infosfera, o tempo de elaboração cognitiva se faz cada vez mais breve e restrito. Por isso, a faculdade crítica, como a capacidade de discriminar o que é verdadeiro e falso, fica confusa e obscurecida. Não temos tempo para analisar intelectualmente, nem para elaborar emocionalmente, os estímulos que chegam a nossa mente. Consequentemente, as formas de comunicação mais eficientes são as que substituem a razão crítica com a velocidade da síntese memética.
Em seu livro Os meios de comunicação como extensão do homem (1964), Marshall McLuhan escreveu que, quando a simultaneidade eletrônica substitui a sequencialidade alfabética, a faculdade mitológica substitui a cultura social e a razão crítica. O meme é a expressão midiática do pensamento mitológico que – como o inconsciente freudiano – não conhece o princípio de não contradição, não conhece a irreversibilidade temporal, não conhece a crítica nem a temporalidade histórica.
O senhor mostrou-se incrédulo diante das fake news e declarou que não constituem um fenômeno novo. A que atribui a crescente tendência a acreditar e difundir notícias e informações falsas?
As notícias falsas não são, naturalmente, um fenômeno novo; sempre houve informação mal-intencionada na história dos meios. O volume de notícias faltas aumentou hoje porque aumenta, em geral, a quantidade de informações que circulam na infosfera digital.
A aceleração e intensificação da infosfera é a causa de um pânico comunicacional que se manifesta como uma incapacidade de distinção consciente. E as estratégias do pensamento crítico são ineficazes no contexto desta “tempestade de merda”, nas palavras do filósofo sul-coreano Byung-Chil Han
Em La segunda venida [sem tradução no Brasil], seu mais recente livro, o senhor mergulha no vocabulário teológico para tentar desvendar os motivos por trás do descontentamento social atual. Que propostas o senhor oferece para superar o caos que nos rodeia? E a que potencial “vinda” o senhor se refere?
Acreditamos que ingressamos em uma época apocalíptica em seu sentido duplo; uma época de catástrofe e uma época de revelação. Não se pode evitar o apocalipse porque as tendências apocalípticas já estão se manifestando. Só podemos preparar a segunda vinda. E não me refiro a segunda vinda de Jesus Cristo porque não sou religioso. Refiro-me a segunda vinda do comunismo, mas não na forma totalitária em que se manifestou durante o século passado.

terça-feira, 18 de junho de 2019

NO DER SPIEGEL: UMA CRÍTICA DA POLÍTICA ENERGÉTICA ALEMÃ

Você pode acessar o artigo também no site da revista. Aqui. Não podemos esperar que o Brasil volte à vigência de uma democracia para lutar por uma política energética que minore os efeitos da catástrofe climática. Nós e o resto do mundo. Como o Canadá, onde algumas décadas depois de um esforço de democratizar as decisões no desenvolvimento do potencial hidroelétrico da província do Quebec, a exploração das areias asfálticas na província de Alberta ameaçam ser uma catástrofe ecológica e climática adicional, de primeira grandeza, e sempre em benefício do império, neste novo linque.

Climate StasisGerman Failure on the Road to a Renewable Future

In 2011, German Chancellor Angela Merkel announced the country was turning away from nuclear energy in favor of a renewable future. Since then, however, progress has been limited. Berlin has wasted billions of euros and resistance is mounting.
Paul Langrock/ Zenit/ Laif

It's a fantastic idea. The energy landscape of tomorrow. There are 675 people in Germany working every day to make it a reality -- in federal ministries and their agencies, on boards and panels, in committees and subcommittees. They are working on creating a world that on one single day in April became glorious reality. Here in Germany. It was April 22. Easter Monday.
That day, it was sunny from morning to evening and there was plenty of wind to drive the turbines across the entire country. By the time the sun went down -- without the need of even a single puff of greenhouse gases -- 56 gigawatts of renewable energy had been produced, almost enough to cover the energy needs of the world's fourth-largest industrialized nation.
Unfortunately, it was only for that day.
The other days are dirty and gray: Most of the electricity that Germany needs is still produced by burning coal. Then there are the millions of oil and natural gas furnaces in German basements and the streets packed with the cars with diesel- and gasoline-powered motors.
The vision of the fantastic new world of the future was born eight years ago, on March 11, 2011, the day an earthquake-triggered tsunami damaged the nuclear power plant in Fukushima, Japan. The disaster led Chancellor Angela Merkel and her cabinet to resolve to phase out nuclear power in Germany. It was an historic event and an historic decision.
But the sweeping idea has become bogged down in the details of German reality. The so-called Energiewende, the shift away from nuclear in favor of renewables, the greatest political project undertaken here since Germany's reunification, is facing failure. In the eight years since Fukushima, none of Germany's leaders in Berlin have fully thrown themselves into the project, not least the chancellor. Lawmakers have introduced laws, decrees and guidelines, but there is nobody to coordinate the Energiewende, much less speed it up. And all of them are terrified of resistance from the voters, whenever a wind turbine needs to be erected or a new high-voltage transmission line needs to be laid out.
Analysts from McKinsey have been following the Energiewende since 2012, and their latest report is damning. Germany, it says, "is far from meeting the targets it set for itself."
Germany's Federal Court of Auditors is even more forthright about the failures. The shift to renewables, the federal auditors say, has cost at least 160 billion euros in the last five years. Meanwhile, the expenditures "are in extreme disproportion to the results," Federal Court of Auditors President Kay Scheller said last fall, although his assessment went largely unheard in the political arena. Scheller is even concerned that voters could soon lose all faith in the government because of this massive failure.
Surveys document the transformation of this grand idea into an even grander frustration. Despite being hugely accepting initially, Germans now see it as being too expensive, too chaotic and too unfair.
How Germans Will Live and Work
And yet, the future of the entire country depends on it: ecologically, economically and technologically. But also societally. In contrast to the new Berlin airport, whose opening has been delayed for years, the Energiewende cannot just be shrugged off as a regional blunder. It is a project that will determine how Germans will live and work in the future, how German industry will remain competitive and what societal cooperation will look like.
International Newsletter: Sign up for our newsletter -- and get the very best of SPIEGEL in English sent to your email inbox twice weekly.

Politicians are quick to label projects as being in the national interest, but this one truly is -- especially given that environmental leadership has become a key element of German identity. A majority of Germans were once proud of the turn away from nuclear and toward renewables, a pride political leaders could have capitalized on.
But the grand transformation has lost its way. The expansion of wind parks and solar facilities isn't moving forward. There is a lack of grids and electricity storage -- but for the most part there is a lack of political will and effective management. The German government has dropped the ball.
In the Economics Ministry alone, 287 officials are working on the issue, divided into four divisions and 34 departments. There are at least 45 additional bodies at the federal and state levels, full of people who also want to move the project forward. They collect vast quantities of data and come up with complicated incentives -- a huge effort that has produced only modest results.
One example is STEP up!, an incentive program meant to help companies deal more efficiently with electricity. Its initial goal was to approve 1,000 applications in 2017, but only seven were authorized in the first three quarters of that year. Then there is the law providing tax incentives for electric vehicles. Six months elapsed between the drafting of the law and its publication, despite the legislation's status being "particularly urgent."
Experts are getting bogged down in details -- producing papers, but no strategies. For months, the vital position of state secretary for energy remained vacant. Nobody feels a sense of responsibility and there is nobody to decide what tasks have priority. Because Germany doesn't even have an Energy Ministry, the issue ends up falling through the cracks. And the chancellor has not stepped in to point the way.
In December 2015, Merkel signed the Paris Agreement on climate change, in which Germany pledged to do its part to slow global warming. More than three years have passed and almost nothing has been done. The migration debate and the rise of the right-wing populist Alternative for Germany have largely shunted the issue of climate change.
At the 2007 G-8 Summit in Heiligendamm, in northern Germany, Merkel indicated she was sympathetic to the idea that every person on earth should be allowed to emit the same amount of CO2. It was a revolutionary idea. But nothing came of it.
'Biggest Hurdle'
Even earlier, in 1997, back when she was the German environment minister, Merkel told DER SPIEGEL: "When it comes to reducing CO2 emissions, vehicle traffic is the biggest hurdle." She could say the same thing today.
With Merkel's tenure as German chancellor now coming to an end, her greatest failure would seem to be that she has done so little to advance climate policy, despite it having been a key issue for her early in her political career. Even though Germany introduced the term Energiewende to the global vocabulary, much like kindergarten or wanderlust, its successful implementation has been left to others.
Like the Netherlands, for example, which has long been the largest supplier of natural gas to the European Union. The country has decided to completely abandon the production of the fossil fuel within a decade and to use the pipeline infrastructure for gas produced from wind power with the help of power-to-gas, or P2G, technology. In six years, no more cars with internal combustion engines will be licensed.
In Sweden -- the Energiewende world champion, according to the International Energy Agency -- a high CO2 tax, of almost 120 euros per ton, is driving people and companies to pay more attention to how they heat, drive and do business. The tax was first introduced there in 1991. In Germany, the debate has only just begun.

DER SPIEGEL
Even the U.S. is making improvements. Americans are increasingly turning from coal to natural gas to generate electricity. It's only slightly less dirty, but the country's CO2 emissions are trending in the right direction.
Progress, in other words, is being made everywhere -- just not in the birthplace of the Energiewende. German CO2 emissions have only slightly decreased this decade. Eberhard Umbach is on the board of directors at a scientific initiative called Energy Systems of the Future (ESYS). He says that the view of the Energiewende has shifted. Just a few years ago, he says his foreign counterparts were skeptical but also full of admiration for the élan with which Germany had jumped into the project. And now? "It has completely reversed," the scientist said at a February conference. "Others are faster than we are."
The transformation that has already taken place -- the shift in electricity production, fueled by billions in expenditures -- was the easiest step in the process. Politicians have ignored other elements, like industrial production, building efficiency and, especially, vehicle traffic. Involving those areas and coming up with an overarching concept, that's the hard part that must now be addressed. And it will determine whether Germany will once again become a model of sustainable economic production or whether the entire experiment will end in failure.
So, how did this marvelous idea turn into such a monumental failure?
Why Germany's Energiewende Might Fail
The German government made a key mistake when it announced the end of the nuclear era in Germany eight years ago: It announced it was turning away from nuclear power, without simultaneously initiating the end of coal.
Wind turbines and solar panels were installed across the country -- but the coal-fired power plants kept operating. The government set up a clean energy system alongside the dirty one. But why? Because Berlin was afraid of do anything that might harm a single company or voter.
Germany has never come up with a clear strategy for the shift to renewables, fully thought out from the beginning to end. There have always been two competing concepts of the Energiewende, even before Merkel.
Politicians like former Environment Minister Jürgen Trittin, a Green Party politician who was part of the cabinet of the center-left Social Democratic (SPD) Chancellor Gerhard Schröder, were in favor of a radical shift, no matter what the cost. Others, like the SPD Economics Minister Sigmar Gabriel and his successor Peter Altmaier, from Merkel's center-right Christian Democrats (CDU), were more concerned about German industry and job numbers. Neither side trusted the other and a stalemate ensued. Progress halted.
This helps explain why the government never dared set up an Energy Ministry that might have had the ability to move things forward, and instead divided up the project among the Chancellery, the Environment Ministry and the Economics Ministry. It is an unholy trinity that has continually followed the same pattern: The Environment Ministry surges ahead, the Economics Ministry warns of dramatic job losses and the Chancellery avoids making a decision.
The expansion of Germany's electrical grid has suffered the most from this lack of political impetus. More than a decade ago, the German government passed a resolution to quickly build the necessary high-voltage transmission lines, with experts today saying there is a need for 7,700 kilometers (4,800 miles) of such lines. But only 950 have been built. And in 2017, only 30 kilometers of lines were built across the whole country.
In Berlin, one can hear the wry observation that 30 kilometers is roughly the distance that a snail can travel in a year.

DER SPIEGEL
Instead of explaining to voters why it is necessary to conduct such a grid to bring energy from the windy north to the industrially strong south, politicians have wilted in the face of NIMBY protests. Indeed, almost everywhere such a power line tower or wind turbine is to be erected, officials are met with protest. Politicians have thus decided to put most of it underground, which is vastly more expensive and will take years longer to build.
Nine years ago, Rainer Spies, the mayor of the municipality of Reinsfeld in southwestern Germany, began planning the construction of a wind park. Together with the power company EnBW, he wanted to erect 15 turbines in a small forest not far from the highway between Trier and Saarbrücken. "Everything seemed to be ready," Spies says. But then the permit process began.
A Red Kite
The mayor and EnBW submitted the requisite documentation -- several hundred pages and a number of environmental studies. But the authorities continually demanded more: species protection analyses, bird flight patterns, noise emissions, shadow patterns and, not least, potential dangers posed to the barbastelle bat, along with detailed information pertaining to its local population. Finally, after the fourth application, officials approved the wind park's construction last year.
The local municipality should have issued a construction permit soon thereafter. But then, someone discovered the nest of a red kite in a fir tree just a few hundred meters away from the planned wind park. It was the worst thing that could possibly happen.
The bird of prey, with its elegantly forked tail, enjoys strict protection in Germany. It eats mice and moles and its enemies include owls and pine martens -- and wind turbines. The birds like to hunt in the cleared areas beneath the turbines because it is easy to spot their prey.
Red kites are migratory, returning from the south in the spring, but they don't return reliably every year. The mayor would have been happy if the bird had shown up quickly so its flight patterns could be analyzed and plans for the wind park adjusted accordingly. It would have been expensive, but at least construction of the project could finally get underway.
But if the bird doesn't return, the project must be suspended. Spies has to wait a minimum of five years to see if the creature has plans for the nest after all. Which means the wind park could finally be build in 2024, fully 12 years after the project got underway.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

PEPE ESCOBAR, SOBRE O MUNDO AO REDOR DO MOROGATE

Veja neste vídeo longo, mas instigante, postado no Brasil 247, sobre o que e quem está por trás dos cordões de controle do mundo, e dos lances atuais da política no Brasil. Pode ser que o ataque ao Moro seja ao menos em parte de dentro do sistema mundial de dominação do império. O The Intercept vai liberar os 99 % restantes do que obteve?

terça-feira, 4 de junho de 2019

O FESTIVAL LULA LIVRE, NA PRAÇA DA REPÚBLICA, SÃO PAULO

Do Blog do Miro, 2 de junho

Mídia tenta esconder Festival Lula Livre

Praça da República, São Paulo/SP. Foto: Ricardo Stuckert
Por Altamiro Borges

Nem a chuva chata e incessante reduziu a energia e a alegria dos milhares de participantes no domingo (2) do Festival Lula Livre. Segundo os organizadores, cerca de 80 mil pessoas passaram pela Praça da República, no centro de São Paulo, para manifestar seu repúdio à prisão arbitrária do ex-presidente e contra os abusos de poder da midiática operação Lava-Jato.

No meio daquela multidão encharcada era fácil verificar que a maioria era constituída de jovens – que cantarolaram inúmeras músicas e gritaram palavras de ordem em defesa da libertação de Lula e contra o “capetão” Jair Bolsonaro. Artistas de renome exibiram suas canções e sua arte de forma generosa e solidária. O festival foi belíssimo, emocionante.

Apesar do êxito, a mídia monopolista escondeu a atividade. A festa da solidariedade não teve os holofotes das emissoras de tevê e nem foi capa dos jornalões. As poucas notinhas publicadas ou postadas sobre o evento tentaram estimular a cizânia entre as forças que organizaram o festival, amplificando a falsa tese de que a luta por Lula Livre atrapalha outras batalhas – como a jornada em defesa da educação.

A mídia monopolista sempre nutriu um ódio de classe visceral ao ex-presidente. Ela nunca tolerou o ciclo político aberto com a vitória de Lula. Ela fez de tudo para desestabilizar os governos democráticos e populares. Com o falso e seletivo discurso ético, a mídia udenista foi protagonista da demonização da política – o que pavimentou o terreno para o golpe dos corruptos que derrubou Dilma Rousseff e alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer.

Essa mesma negação da política ajudou a chocar o ovo da serpente fascista no país, o que explica a vitória do truculento Jair Bolsonaro e a formação do seu governo de laranjas e de milicianos. Parte da mídia não morre de amores pelo “capetão”, temendo principalmente a regressão nos costumes e o autoritarismo na política. Mesmo assim, teme ainda mais o ex-presidente Lula, e faz de tudo para invisibilizar sua existência ou os atos em seu apoio.

Diante dessa censura, a nova mídia – constituída por milhares de ativistas digitais – tem sido decisiva para furar o bloqueio. As emissoras de rádio e televisão, os jornalões e os sites da mídia monopolista sabotaram e censuraram o festival Lula Livre desse domingo. Mas os site e blogs alternativos e as redes sociais divulgaram ao vivo o emocionante ato de solidariedade e generosidade.

*****

Carta do ex-presidente Lula aos participantes do Festival Lula Livre: 

“Agradeço de coração a cada uma e a cada um de vocês, artistas e público, que nesse 2 de junho fazem da praça da República a Praça da Democracia. Embora tenha o nome de “Festival Lula Livre”, sei que esse é muito mais que um ato de solidariedade a um preso político. O que vocês exigem é muito mais que a liberdade do Lula. É a liberdade de um povo que não aceita mais ser prisioneiro do ódio, da ganância e do obscurantismo.

Esse ato é na verdade um grito de liberdade que estava preso em nossas gargantas. Mais que um grito, um canto de liberdade. O canto dos trabalhadores que não aceitam mais o desemprego e a perda de seus direitos. O cantos dos estudantes, que não aceitam nenhum retrocesso na educação. O canto das mulheres, que não aceitam abrir mão de nenhuma conquista histórica. O canto da juventude, que não aceita que lhe roubem os sonhos, e da juventude negra em particular, que não aceita mais ser exterminada. O canto dos que ousam sonhar, e transformam sonhos em realidade.

Boa parte de vocês que aí estão, artistas e público, felizmente não viveram os horrores da ditadura civil e militar instalada em 1964, essa que alguns querem implantar de novo no Brasil. Foi um tempo em que a luta contra a censura podia ser traduzida em canções que diziam assim: “Você corta um verso, eu escrevo outro”.

Foi com muita luta que conseguimos acabar com a censura neste país. E não vamos aceitar essa outra forma de censura, que é a tentativa de acabar com as fontes de financiamento da arte e da cultura. Que não vamos aceitar a tentativa de censurar o pensamento crítico, estrangulando as universidades.

Se eles arrancam nossas faixas, nós escrevemos e botamos outras no lugar. E vamos continuar ocupando as ruas em defesa da educação, da saúde, públicas e de qualidade; das oportunidades para todas e todos; contra todas as formas de desigualdade e de retrocesso.

Nossos adversários querem mais armas e menos livros, menos música, menos dança, menos teatro e menos cinema. E nós insistimos em ler, escrever, cantar e dançar, insistimos em ir ao teatro e fazer cinema.

Nada mais perigoso para nossos adversários que um povo que canta e é feliz. Que faz da arte e da cultura instrumentos de resistência. Vamos então à luta, sem medo de sermos felizes, com a certeza que o amor sempre vence.

Um abraço, com muita saudade e a vontade imensa de estar aí,

Lula”

segunda-feira, 3 de junho de 2019

O QUE FAZER ?, SÉCULO 21

Artigo de Slavoj Zizek, publicado no Russia Today de 2 de junho. Para ler a versão original, acesse aqui. O artigo de Stephen Stiglitz que publicamos logo antes fala sobre uma configuração de política econômica para a esquerda. Zizek, por sua vez, discute as limitações e possibilidades de ação política para buscar superar a era do neoliberalismo. 



Zizek: Apenas uma esquerda pan-europeia pode derrotar o "populismo"

Slavoj Zizek é um filósofo cultural. Ele é pesquisador sênior do Instituto de Sociologia e Filosofia da Universidade de Ljubljana e professor de alemão de renome na Universidade de Nova York.


Após as eleições do Parlamento Europeu da semana passada, mudou tudo ou não mudou absolutamente nada?

Houve alguns detalhes espetaculares, como a derrota esmagadora dos dois principais partidos do Reino Unido. No entanto, isso não deve nos cegar para o fato básico de que nada realmente grande e surpreendente aconteceu. Sim, a nova direita populista avançou, mas continua longe ser de uma tendência predominante.

Ouvimos a frase, repetida como um mantra, de que as pessoas exigiam mudanças. Mas talvez seja profundamente enganador - porque não especifica que tipo de mudança?

Em vez disso, foi basicamente uma variação do velho lema "algumas coisas têm que mudar para que tudo permaneça o mesmo".

A autopercepção dos europeus em geral é que eles têm muito a perder para arriscar uma revolução (uma reviravolta radical), e é por isso que a maioria tende a votar em partidos que prometem a eles paz e uma vida calma (contra as elites financeiras, contra a “ameaça imigrante”…).

Assim, um dos perdedores das eleições europeias de 2019 foi a esquerda populista, especialmente na França e na Alemanha. Porque a maioria não quer mobilização política. Os populistas de direita entendem muito melhor esta mensagem. Então, o que eles realmente oferecem não é a democracia ativa, mas um poder forte autoritário que trabalharia pelos (o que eles apresentam como) interesses das pessoas.

Nada é como parece ser

Aí reside também a limitação fatal do DIEM grego de Yanis Varoufakis: o núcleo de sua ideologia é a esperança de mobilizar a maior parte das pessoas comuns, para dar-lhes voz através da quebra da hegemonia das elites dominantes.

Mesmo o sucesso dos partidos verdes nas eleições europeias de 2019 se encaixa nesta fórmula: não deve ser tomado como o sinal de um autêntico despertar ecológico; era mais um voto falso, a franquia preferida de todos aqueles que percebem claramente a insuficiência da política hegemônica do establishment europeu e rejeitam a reação nacionalista-populista, mas não estão prontos para votar na esquerda mais radical.

A este respeito, foi um voto daqueles que querem manter a consciência limpa sem agir de verdade. Ou seja, o que se torna aparente imediatamente nos partidos verdes europeus de hoje é o tom predominante de moderação: eles permanecem enquadrados em grande parte na abordagem “política de sempre” e seu objetivo é simplesmente o capitalismo com uma cara verde. Ainda estamos longe da tão necessária radicalização que só pode emergir através de uma coalizão dos verdes com a esquerda radical.

A lição para a esquerda de tudo isso é: abandone o sonho da grande mobilização popular e foquem nas mudanças da vida cotidiana. O verdadeiro sucesso de uma “revolução” só pode ser medido no dia em que as coisas voltarem ao normal: como consequência de como a mudança é percebida na vida cotidiana das pessoas comuns.

Narrativa de precaução

Assim, o triste destino do Syriza é emblemático da nova situação da esquerda europeia. Preparado para perder poder nas próximas eleições gregas, paradoxalmente lhe será permitido desempenhar o papel normalmente reservado às ditaduras de direita.

Na medida em que tomou o poder em um momento de convulsão e crise econômica, e de fato destruiu a mobilização popular de base (a base original de seu poder) enquanto impunha medidas duras de austeridade.

Agora que o trabalho está feito, com toda a probabilidade perderá o poder e o partido conservador “normal” (Nova Democracia) assumirá. Este é o nosso mundo de hoje, um mundo em que populistas direitistas promulgam medidas de bem-estar e a esquerda radical faz o trabalho autoritário de impor austeridade.

Voltando ao Reino Unido, sua confusão com o Brexit não é uma exceção, mas apenas a explosão agravada de tensões que se espalham por toda a Europa. O que a situação no Reino Unido demonstra é como, diria Mao, as contradições secundárias são importantes.

O erro de Corbyn foi agir como se a escolha de “Brexit ou não” não fosse realmente importante, então (embora seu coração estivesse com o Brexit) ele navegou oportunisticamente entre os dois lados; tentando não perder votos de nenhum lado. Como resultado, ele os perdeu de ambos os lados.

Mas as contradições secundárias importam sim: era crucial ter uma postura clara. Esta é, em geral, a difícil questão que a esquerda europeia vai cuidadosamente evitando: como, em vez de sucumbir à tentação nacionalista-populista, elaborar uma nova visão esquerdista da Europa.

A ameaça não vem do populismo: o populismo é apenas uma reação ao fracasso do establishment liberal da Europa em permanecer fiel aos potenciais emancipatórios da Europa, ao oferecer uma falsa saída para os problemas das pessoas comuns.

Assim, a única maneira de realmente derrotar o populismo é submeter o próprio establishment liberal, sua política atual, a uma crítica implacável. O novo começo da esquerda radical é, portanto, a única maneira de salvar a Europa - mas que esquerda? Não a esquerda emergente populista de estados-nação fortes, mas sim uma esquerda verdadeiramente pan-europeia.