sábado, 30 de agosto de 2014

MAIS COMENTÁRIOS SOBRE DONA MARINA

De Fabio Ribeiro, no Jornal GGN

Porque não votarei em Marina Silva, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Após a morte de Eduardo Campos, Marina Silva emergiu com reais possibilidades de disputar o segundo turno. Ela já ultrapassou Aécio Neves nas intenções de voto. E de acordo com alguns analistas políticos a candidata do PSB tem até mesmo chances de derrotar Dilma Rousseff no segundo turno. Em razão disto resolvi declarar aqui porque não votarei em Marina Silva.
A candidata do PSB promete legalizar o casamento gay num palco, no outro defende o deputado-pastor que quer criar o tratamento obrigatório de desgayzação custeado pelo SUS. Num dia ela prega a moralidade administrativo, no outro é fotografada ao lado de sonegadores contumazes de impostos federais.
Marina Silva tentou criar um partido (a Rede), é candidata por outro partido (PSB), mas em sua propaganda eleitoral afirma que os brasileiros devem se unir como se não tivessem partidos ou como se ela mesma quisesse proibir a existência de outros partidos. Num momento ela defende a melhor distribuição de renda, no momento seguinte diz que o Pré-sal (grande fonte de recursos que possibilitaria distribuição de renda) deve ser esquecido.
Na frente dos católicos Marina Silva é capaz de beijar a imagem da Padroeira do Brasil, junto aos evangélicos defende as candidaturas de pastores e bispos que pregam a destruição dos ícones religiosos. Ela se diz defensora do meio-ambiente e aceita contribuições de empresas poluidoras para sua campanha eleitoral.
Marina Silva agradeceu a Deus por que este supostamente lhe revelou a necessidade de parar de viajar no avião que caiu e não avisou seu colega de chapa deixando-o morrer num acidente aéreo. Ela chegou onde está fazendo política e diz que não fará politicagem se for eleita. Todos os presidentes que tentaram governar o Brasil diretamente com o povo, deixando de fazer acordos e sem maioria no Congresso do Brasil caíram ou foram depostos por golpes militares. 
Ninguém precisa ser muito perspicaz para perceber que Marina Silva não quer dizer a que realmente veio. Ela tem tantas caras quantos os grupos que diz querer representar. Procura criar uma relação direta e populista com os eleitores. Quem estuda História certamente conhece bem a trajetória de um outro político obscuro que usou este tipo de estratégia para chegar ao poder na Alemanha nos anos 1930.
Segundo os historiadores, Hindenburg - o presidente da República de Weimar que tentou barrar a chegada de Adolf Hitler ao poder - o ex-cabo do exército alemão teria qualificação para no máximo ser chefe de um posto de correios do Reich. O presidente do Brasil é chefe de governo, chefe de Estado e comandante das Forças Armadas. Não creio que Marina Silva reúna as qualidades necessárias para comandar um quartel do Corpo de Bombeiros de São Paulo. Portanto, não confiaria a ela a missão de comandar o país inteiro.

E AGORA, DILMA E PT ?

Recebi uma cópia do programa de governo de Marina Silva, do professor José Eli da Veiga. Você pode acessar aqui, se estiver interessado(a). Dei uma olhada, não tem novidades. Além de tudo, como me disse um prócer do PT, depois da carta aos brasileiros, programa é peça para as eleições.

Não tenho a mais mínima dúvida de que a eventual ascensão de Marina e seu grupo à presidência inauguraria um período de instabilidade política e de derrota para as teses e programas da esquerda. Seria a vitória da lógica do totalitarismo capitalista, como é claro pela presença de Gianetti da Fonseca, Lara Rezende e Neca Setúbal no núcleo central do grupo de Marina. Rodrigo Vianna como de costume coloca as coisas como desafio para o PT, no O Escrevinhador. Será que Dilma e a direção do PT vão ter coragem de agarrar o touro?

A propósito da menção final aos partidos socialistas alemão e francês (sem contar o Obama, que na origem parecia ter um viés de esquerda), para quem lê em inglês, recomendo a leitura deste artigo de um professor emérito de universidade dos EUA que saiu no Asia Times, sobre por onde andam os mecanismos de poder econômico.




Os dilemas do PT: esquerda, vou ver?

publicada quinta-feira, 28/08/2014 às 18:44 e atualizada quinta-feira, 28/08/2014 às 18:35
“Parte do PT torce para que a elite – apavorada com a inconsistência marineira – apóie Dilma. Isso significaria aceitar que Dilma vá mais para a direita para ganhar. Outra parte do PT imagina que a melhor forma de enfrentar Marina é aprofundar um programa trabalhista: Dilma teria que defender o fim fator previdenciário, redução da jornada de trabalho, mais direitos sociais, combate ao rentismo.”
por Rodrigo Vianna
Lula vai empunhar a mão esquerda de Dilma?
Nunca acreditei que essa eleição seria decidida num turno único. O grau de insatisfação e a onda anti-petista no Brasil deixavam claro que – mesmo com Aécio e Eduardo no páreo, dois candidatos que tinham dificuldade evidente para representar a “mudança” – Dilma teria que enfrentar um turno final para conseguir o segundo mandato.

Aécio (com apoios fortes em Minas, São Paulo, Bahia e Paraná) deveria bater em 25% até o começo de outubro. Eduardo talvez chegasse a 15%. Dilma, com cerca de 37% ou 40%, teria que enfrentar os tucanos no segundo turno.

O PT se preparou pra isso. Para esse cenário. Era a velha estratégia de fazer pouca política, acreditando que mais uma vez bastaria dizer: “o governo deles é o de FHC, com desemprego e quebradeira; o nosso é o governo do povão e da inclusão social”. Agora, a campanha de Dilma parece desorientada para lidar com a nova realidade pós 13 de agosto (dia do acidente que matou Eduardo Campos), que não é propriamente nova.

Por uma questão operacional e jurídica, Marina não conseguiu legalizar a Rede ano passado. Por isso, e só por isso, o difuso mal-estar de junho de 2013 seguia ausente da campanha de 2014. Por isso, e só por isso, o número de brancos/nulos e de “não votos” era tão grande. A queda do avião mudou tudo. Marina virou a cara de junho na eleição -como escrevi aqui.
A força de Marina (com o perdão do péssimo trocadilho, nesse agosto fatídico) não caiu do céu. Ok, Marina é candidata da Neca Setúbal. Ok, esse papo de “nova política” é falso, além de perigoso e despolitizante. Mas acontece que o eleitorado que vai com a Marina não é a velha classe média anti-petista e tucana. É mais que isso. É a turma dos “celulares na mão”: Luiz Carlos Azenha foi quem melhor traduziu essa nova conjuntura aberta com junho de 2013.

Parte do PT (setor que parece ser majoritário) torce para que os tucanos desonstruam Marina – na base de escândalos e pauladas midiáticas. Mais uma vez, sem política de verdade. Ou então, para que a elite – apavorada com a inconsistência marineira – apóie Dilma num segundo turno. Isso significaria aceitar que Dilma poderia enfrentar Marina como opção pela direita. Seria desastroso para o PT, para os movimentos sociais e sindicatos.

Outra parte do PT e da militância de esquerda não se ilude com essa ideia, e imagina que a melhor (talvez a única) forma de enfrentar Marina é aprofundar um programa de esquerda. Dilma terá que caracterizar Marina como a candidata do grande capital, dos banqueiros. Ela, Dilma, terá que assumir as bandeiras da classe trabalhadora: fim do fator previdenciário, redução da jornada de trabalho, mais direitos sociais, combate ao rentismo.

A mim, parece que a primeira das escolhas é – além de tudo – uma ilusão. Acreditar que Dilma pode virar a opção “confiável” da direita seria desconhecer o ódio que leva empresários, banqueiros e donos da mídia a preferirem “qualquer coisa menos o PT” (como se ouve nas ruas dos bairros nobres de São Paulo, Rio e Brasília).

Mais que isso: quem acompanha os bastidores da eleição diz que jamais os candidatos petistas enfrentaram tamanha seca de recursos. Empresários decidiram que o PT já cumpriu seu papel, e gostariam de virar essa página.

A direção petista pode apostar na saída pela direita. E, numa conjuntura especialíssima, pode até colher uma vitória eleitoral com isso. Mas essa escolha, mesmo que traga vitória eleitoral (pouco provável), seria acompanhada de uma tripla e estrondosa derrota: política, ideológica e simbólica. Se o PT escolher esse caminho, selará seu destino ao lado do PS francês e do SPD alemão…

A outra alternativa é virar alguns graus à esquerda. Essa segunda alternativa pode levar a uma vitória apertada, num clima de grande confrontaçã política e ideológica no segundo turno. Ou pode levar a uma derrota eleitoral (com Marina ganhando apoiada pelos liberais e tucanos), mas que prepare o PT e o bloco de esquerda para uma reorganização: mais próximo dos movimentos sociais e dos sindicatos, esse bloco político pode ser decisivo no enfrentamento de uma agenda liberal que (com Marina ou com Aécio) será imposta ao Brasil.
Trata-se, portanto, de uma eleição decisiva para os rumos do Brasil, da América Latina e também para o futuro do PT como força (ainda) capaz de comandar um processo de reformas e democratização.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A FRANÇA SOB OS BANQUEIROS

François Hollande acaba de defenestrar o resto de esquerda de seu governo. Traiu promessas de campanha de trabalhar contra a desigualdade, e colocou um banqueiro não filiado a partido político no lugar do ministro de economia e indústria. 

Faz isso como parte de uma guinada de seu governo para a direita, lembrando Tony Blair dos anos 90. Até agora não entendo como esse mecanismo de poder se exerce sobre políticos que foram eleitos justamente para se sobrepor a esse poder. Veja por exemplo os artigos de Paul Krugman no New York Times, o mais recente em inglês e um anterior, sobre a Europa em geral, já traduzido na Carta Capital.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O VERDADEIRO TRIPÉ

Os tentáculos de poder no Brasil estão ligados ao governo dos EUA, corporações dos EUA e seus operadores, e seus aliados e clientes do resto do mundo e daqui.

Esses núcleos constituem o tripé que norteia as atuações dos meios de comunicação e dos partidos ligados aos dois candidatos de oposição ao governo Dilma. As três candidaturas principais ao governo da república são, uma amigável com o mercado em funcionamento, e as outras duas, subordinadas ao total atrelamento das funções do estado aos interesses do que eles chamam de "mercado".

Esse mercado é constituído pelos 1 por cento de grandes operadores do sistema capitalista atual e rentistas em geral, cujo objetivo político é o monopólio do poder em todas as esferas da sociedade humana: político (domínio do estado), cultural e militar. Não há verdadeira diferença entre Marina, Aécio, grandes jornais e redes de rádio e TV, a embajada, e seus ideólogos. 

Trata-se de determinar se o estado brasileiro deve servir antes de tudo os interesses de sua população ou os do tal de "mercado".

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

MAIS CONSIDERAÇÕES SOBRE O SIGNIFICADO DA CANDIDATA MARINA SILVA

Você procura servir o interesse dos 99 por cento da população, ou privilegia os banqueiros. Nisto, não há meio termo. Não dou crédito a Marina, ela não fez por merecer. Um político deve ser avaliado por suas atitudes anteriores e por propostas factíveis apresentadas. Veja mais este artigo de Paulo Moreira Leite: 


MARINA FALA EM UNIDADE NACIONAL. SÓ PODE SER COMÉDIA

1

Depois de romper com Lula, com o PT, com o PV, e isolar-se no PSB, Marina Silva é uma salvadora da pátria que quer juntar Neca (Setubal) e Chico (Mendes). Pode?
Foi possível comprovar no debate da Bandeirantes que Marina Silva escolheu o caminho mais confortável para fazer campanha eleitoral.
Se você passar as ideias de Marina numa máquina de fazer suco, irá sobrar um ponto: a pregação da unidade. Marina diz que o Brasil está cansado da polarização. Diz que o tempo de conflito entre PT e PSDB acabou. Afirma que é preciso unir os bons, os capazes, os honestos, que estão em toda parte, em todos os partidos. Diz que o país está cansado de criticar uma “elite” onde se encontram Neca Setubal e Chico Mendes, e também lideranças indígenas e grandes empresários. Olha que bonito. Não há poder econômico, nem desigualdade, nem poder de classe. Não há, é claro, um sistema financeiro de um país que, tendo a sétima economia do mundo, possui bancos cujo rendimento encontra-se entre os primeiros do planeta.
É bom imaginar que o mundo é assim. Relaxa, conforta. Permite interromper o debate e tirar férias. Pena que seja uma utopia de conveniência.
Mais. É uma fantasia que não cabe na biografia de Marina Silva. Pelo contrário.
Poucas vezes se viu uma história de divisão e desagregação como método de ação política.
Veja só. Ela rompeu com o governo Lula, onde fora instalada no Ministério depois da campanha — de oposição — contra o governo Fernando Henrique Cardoso. Saiu do PT e foi para o PV. Saiu do PV e foi para a Rede. Incapaz de unificar os militantes e ativistas que queriam transformar a Rede num partido, bateu às portas do PSB depois de denunciar a decisão do TSE. Criou casos, brigas e divergências desde o primeiro dia. Brigada à esquerda e à direita do partido, era protegida por Eduardo Campos, a quem interessava contar com seu Ibope para evitar um desempenho pequeno demais no primeiro turno. Marina estava isolada dentro do PSB, afastada dos principais dirigentes, quando, por “força divina”, como ela diz, ocorreu a tragédia que permitiu que se tornasse candidata a presidente. Seguiu brigando: logo de cara o secretário-geral, homem de confiança de Miguel Arraes, patrono histórico do PSB, foi embora da campanha, dizendo que não iria submeter-se “àquela senhora.” Outras brigas ocorreram. Outras foram suspensas porque, pela legislação eleitoral, já venceu o prazo para candidatos a deputado, senador e governador trocarem de partido.
O discurso da unidade pode ser real. Depois da posse de Lula, o país buscou e construiu uma unidade política real, que nunca esteve isenta de conflitos, mas se destinava a atender a uma necessidade histórica reconhecida: ampliar os direitos da maioria, diminuir a desigualdade, desenvolver o mercado interno e definir um papel altivo do país no mundo. Melhorias que estão aí, à vista de todos.
Mas a “unidade” pode ser um recurso retórico para apagar as diferenças — reais e importantes — entre os candidatos a presidente. Permite fugir do debate real, desfavorável quando travado com lucidez e racionalidade. Ajuda a fingir que todos são equivalentes em virtudes e defeitos, e podem ser colocados no mesmo nível. Elimina-se a história, num esforço para apagar a memória.
Marina precisa minimizar os bons dados do emprego, do consumo, do salário mínimo, preparando o terreno para revogar essas mudanças.
Este comportamento ajuda a criar a ilusão de que todos — banqueiros e seringueiros para começar — têm as mesmas ambições e mesmos projetos. A mágica fica aqui: basta que surja uma liderança providencial — olha a força divina, de novo — para convencer todos a dar-se as mãos em nome do bem, sob liderança de Marina Silva. Não há projeto, não há o que fazer. Tudo pode ser o seu avesso.
A sugestão é que só faltava aparecer alguém com tanta capacidade permitir que isso ocorra em 2014. Felizmente, essa personagem apareceu. Sou totalmente favorável a liberdade de religião mas temo que, em breve, alguém possa sugerir que oremos olhando para cima para agradecer.
Essa linha de argumentos é uma tentativa de eliminar as conquistas e vitórias importantes dos últimos anos, passar uma borracha nos avanços obtidos e preparar a revanche dos derrotados de 2002.
Por isso Marina fala de uma unidade que esconde dados reais. Os economistas de seu círculo são tão conservadores que já reclamaram dessa “extravagância” brasileira que é comer um bife por dia, como já fez Eduardo Gianetti da Fonseca. Dizem que a humanidade andou consumindo demais e que o regime de contemplação típico da religião budista pode ser uma condição para o progresso, como já disse André Lara Rezende, que, coerentemente, já escreveu que a posição do país na divisão de riqueza mundial não lhe permite ambicionar um crescimento econômico em taxas mais do que medíocres.
Todos ali celebram o governo de FHC como patrono da moeda sem lembrar que em seus dois mandatos a inflação subiu mais do que nos anos Lula e também nos anos Dilma. Todos lamentam o Brasil de 2009 — justamente o momento em que Lula reagiu a crise mundial e impediu que o país afundasse como a Grécia, a Espanha, a Irlanda, quem sabe a França. Balanço para 2014: defender a independência do Banco Central em cima desses selvagens, entendeu? Como se atrevem a tentar — mesmo parcialmente — encarar o mercado?
O esclarecimento das opiniões e o conflito de ideias são elementos indispensáveis da democracia, como ensinou Hanna Arendt, autora essencial para se entender que as ditaduras e governos autoritários nascem pela negação da existência de classes sociais e interesses divergentes.
Foi este o aprendizado que, numa longa caminhada iniciada no ABC de Luiz Inácio Lula da Silva, nos estudantes que enfrentaram a ditadura, nos trabalhadores rurais do Acre de Wilson Pinheiro e Chico Mendes, foi possível construir uma aliança política nacional capaz de abrir brechas num sistema de poder eternizado pela força bruta dos cassetetes e por vários salvadores da pátria.
Este é o debate.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

VOCÊ QUER SE INFORMAR? ENTÃO PORQUE SÓ ASSISTE, OUVE E LÊ ÓRGÃOS DA MÍDIA DE DIREITA?

Enquanto Geraldo Alckmin faz campanha para se reeleger governador apostando em aumentar as penas para menores infratores, e no endurecimento de sua polícia recordista em assassinatos de suspeitos, dê uma olhada neste post de Fernando Brito, no Tijolaço. Gostei da palavra criminosa, no fim, porque é isso mesmo.

E o Estadão descobriu que o Cantareira secou…

26 de agosto de 2014 | 08:35 Autor: Fernando Brito
corgo
Há mais de um mês, no dia 24  de julho, este blog publicou, com fotos, a informação de que o maior dos reservatórios do Sistema Cantareira tinha virado um lodaçal.
E dizia que a imprensa paulista não achava importante mostrar aos seus leitores que a fonte da água que os abastece tinha virado, como se diz na roça, “um corgo“.
Quero me penitenciar publicamente diante dos meus leitores.
Porque não é verdade.
Estadão diz hoje que os reservatórios do Jaguari-Jacareí “viraram um córrego“.
Um dos maiores jornais de São Paulo e do país levou mais de um mês para perceber o que um blogueiro carioca já tinha publicado.
Um mês!
E publica na página 15, sem sequer uma chamada na capa, muito menos as fotos dramáticas que seu fotógrafo tirou do valão.
Como não é um problema de competência – porque o Estadão , como aFolha, tem inúmeros repórteres capazes de cobrir, com grande competência, qualquer assunto – chega-se à conclusão que o problema é o servilismo moral a que se entregam, aceitando passivamente a versão de Geraldo Alckmin.
E o pior é que continuam fazendo isso hoje, quando aceitam a informação de que Alckmin vai tirar do “corgo” mais 100 bilhões de litros de água!
Será que não tem um cristo que veja que não existem ali os 29 bilhões de litros que restam da “primeira parcela” do volume morto e mais os 100 bilhões que dizem que não tirar?
Será que teriam u’a varetinha  pro mode de medir a fundura do corgo?
A imprensa brasileira, tão rápida em publicar as versões que lhe interessam, quando publica a verdade o faz tão tardiamente que fica assim, ridícula.
Pior, criminosa.

SOBRE O SIGNIFICADO DA CANDIDATURA MARINA

Se você considera conveniente imaginar o que representaria Marina como presidente da república, pode ser bom ler este artigo de Paulo Moreira Leite, no Brasil 24/7.


ADIVINHE QUEM TROUXE JÂNIO QUADROS PARA VOTAR

janio 13
Marina Silva é candidata típica de uma campanha na qual o conservadorismo não ousa mostrar a própria face
Não vamos nos enganar: a mesma elite econômica que fez o possível para sustentar Aécio Neves até aqui prepara seu embarque na campanha de Marina Silva. É uma questão que se resolve na próxima pesquisa.
É constrangedor mas é verdade.
Os editoriais de jornal, o tom de crítica leve, as advertências e conselhos dirigidos a Marina traduzem um movimento de quem prepara o terreno para fazer uma virada mudança em suas opções políticas e negocia cada passo.
O esvaziamento notório de Aécio, quinze dias depois da morte de Eduardo Campos, ajuda a revelar o caráter superficial dos compromissos políticos de seus aliados de véspera. Sua campanha nunca se apoiou num pacto político em profundidade mas numa aliança puramente instrumental, de quem contrata um serviço e define uma tarefa.
A razão de fundo para esse esvaziamento é conhecida. Depois de 1994, quando o Plano Real derrubou a inflação, o PSDB tem sido incapaz de dar respostas aos problemas da grande maioria dos brasileiros. Apesar da oposição a Lula em 2002, do massacre da AP 470 em 2006, do apoio aberto e assumido dos grandes meios de comunicação em 2010 e em 2014, seus candidatos não conseguem falar para as grandes parcelas do povo.
O que se assiste, agora, é uma repetição do que se viu em outras campanhas. A diferença é que a aparição de Marina Silva abriu uma nova chance para se tentar dar conta da prioridade absoluta em 2014. Vamos deixar claro, é vencer Dilma. Sem isso, o candidato do PSDB não tem serventia. Não estamos falando de ideias, de um projeto de país, de luta ideológica e tantas palavras nobres que se costuma citar para maldizer a política brasileira. É poder e poder.
Depois de passar os últimos anos tratando Marina Silva como uma concorrente despreparada, dogmática, candidata a transformar o exercício da presidência num desastre permanente, aquilo que nossos sociólogos chamam de elite porque o termo “burguesia” ou “ classe dominante” fica pesado demais num discurso liberal, é obrigada a engolir o que disse. A pergunta que interessa é saber quem está melhor preparado para interromper 12 anos de governos Lula-Dilma.
A vantagem comparativa de Marina sobre Aécio é a falta absoluta de compromissos reais. Cabe tudo em sua caravana.
Através dela, a política brasileira regride em direção a Jânio Quadros. É a candidata que condena a “velha política” mas não consegue explicar-se sobre um simples avião de campanha. Mantém com o PSB relações típicas de um partido de aluguel – que usará enquanto lhe for conveniente — mas agora mostra-se como o “novo.”
Existe coisa mais antiga do que “socialista” que não acredita em “socialismo” e não sai de perto de banqueiro?
Lembram-se de Fernando Collor, o caçador de marajás que promoveu um furacão sem partido, apoiado pela turma dos negócios & do poder porque era o melhor para vencer o Brizula, apelido do condomínio Brizola-Lula?
Para empregar uma linguagem típica de seus aliados, o universo de Marina é o populismo que não tem referências claras, cresce nas emoções e na confusão política. Por isso se fala em governar com FHC e Lula.
Isso sempre acontece quando o conservadorismo disputa uma eleição na qual não pode mostrar a própria face.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

UMA TEORIA DE CONSPIRAÇÃO SOBRE O DESASTRE COM O AVIÃO DE EDUARDO CAMPOS

Não dá, não dá mesmo para excluir. É claro que se assim for, a verdade não virá à tona em menos de 20 anos. Mas se quisermos enxergar direito, é preciso considerar que as hipóteses se encaixam. Veja esta matéria de Miguel do Rosário, no O Cafezinho.


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

MÍDIA: O VERDADEIRO PARTIDO DE OPOSIÇÃO

Do Blog do Miro

A guerra titânica da mídia oposicionista

Por Jeferson Miola, no site da Fundação Perseu Abramo:

“A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo”.
Maria Judith Brito, Presidente da Associação Nacional de Jornais, no jornal O Globo de 18/3/2010. É funcionária daFolha de São Paulo.

O acidente com o candidato do PSB criou uma nova circunstância eleitoral. Mas não significa – como tentam sugerir analistas, oposição e mídia –, que tenha se iniciado uma “nova eleição”.

Marina Silva não é novidade; sempre figurou no radar eleitoral. Ao fracassar na criação da Rede, se juntou ao PSB para ser vice de Campos. Se tivesse conseguido criar seu partido, não seria sua vice, inclusive disputaria contra ele a ida para o segundo turno.

A candidatura de Marina aponta para a probabilidade estatística, ainda incerta, de ocorrência de dois turnos na disputa presidencial. As sondagens indicavam a vitória direta da Dilma já no primeiro turno; e esta ainda segue sendo uma hipótese plausível.

Marina não é, em razão disso, o fator de maior transcendência na conjuntura. O aspecto mais transcendente nessa nova circunstância eleitoral é o realinhamento estratégico da mídia operado a partir da trágica morte de Eduardo Campos.

Mídia e política são dois âmbitos interdependentes, imbricados, e se retroalimentam. A política enuncia, no espaço da mídia, o debate público que estrutura a disputa de poder, de hegemonia, de rumos e interesses societários.

A mídia, por outro lado, agenda a política e “inocula” na arena da política as tensões e disputas que intenciona ver processadas no debate público, segundo os interesses conjunturais ou estratégicos.

A mídia exerce um ativismo político exacerbado, característico de organizações partidárias. Por isso se diz da existência do PIG [Partido da Imprensa Golpista]. O PIG do Brasil tem longínqua participação em táticas desestabilizadoras: foi decisivo no suicídio de Getúlio Vargas e na ambientação da derrubada do Jango para a instalação da ditadura cívico-militar.

A simbiose mídia-oposição é irrefutável. No período dos governos Lula e Dilma, os principais debates ou escândalos políticos não foram gerados pela oposição partidária ou congressual, porque foram antes agendados pela mídia oposicionista.

Esse papel fica bem ilustrado nas palavras da Executiva da Folha de São Paulo e presidente da ANJ: “esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”.

A direita está sem discurso, sem base social e sem capacidade de oferecer perspectivas de futuro para o país. Em vista disso, a mídia se assume como vanguarda na oposição odiosa ao PT.

Depois de ver fracassarem todas suas profecias apocalípticas – crise energética, fiasco na Copa, descontrole inflacionário, recessão, desemprego, ... –, a mídia então fabricou a onda de pessimismo; é a moda do momento.

O acidente aéreo apareceu como uma chance de ouro numa eleição que tinha tudo para ser perdida no primeiro turno. Foi fundamental, então, super-explorar emocionalmente o acidente, para provocar profunda consternação na sociedade – foi o que se assistiu com a espetacularização da morte e a glorificação do morto.

Não teve luto no sentido literal da palavra. Desde a confirmação do acidente até o sepultamento dos corpos, a política reinou absoluta no palco da tragédia, num espetáculo contracenado pela família, correligionários, oposição e mídia. No script, até vaias para Dilma e Lula em pleno velório!

A cobertura midiática reforçou os dispositivos simbólicos identificados com o ideário oposicionista. O slogan “não vamos desistir do Brasil”, pinçado pelo William Bonner da entrevista de Campos ao Jornal Nacional, foi dotado de conotação mudancista e traduzido como “legado” a ser continuado por Marina, que passou a encarnar a aposta supersticiosa e messiânica.

Essa carga propagandística, entretanto, tem prazo de validade. Passada a ressaca emocional, a racionalidade tomará o lugar do emocionalismo lúgubre. A lógica vai desmistificar a fantasia da terceira via; Marina é um ramal ideológico do mesmo conservadorismo do Aécio: programa e equipe econômica neoliberal e alianças com o PSDB e PPS.

Além disso, o programa gratuito servirá para Dilma fazer contraposição à brutal oposição que sofre dos meios de comunicação. Dilma conseguirá finalmente mostrar ao povo brasileiro o novo e generoso Brasil que é protegido da crise mundial, que se desenvolve com pleno emprego, igualdade e justiça social; mas que incrivelmente não é retratado pela Rede Globo, Folha de São Paulo, Estadão, RBS e grupos midiáticos conservadores.

Seria ingenuidade pueril não imaginar o clima de guerra e terrorismo que poderá ser armado pela mídia contra Dilma, Lula e o PT. A cada artilharia fracassada da mídia e da direita no seu propósito de “arrancar o PT do poder”, outro arsenal ainda mais destrutivo será inventado.

Existem sinal de tensões graves no ar. A postura desiquilibrada e truculenta – para não dizer delinquente – do William Bonner na entrevista da Dilma no Jornal Nacional mostra que a Rede Globo afia as armas, multiplica o arsenal bélico e organiza o exército conservador.

Alerta total: no ar, a Rede Globo de 1989, numa guerra titânica contra o PT.

* Jeferson Miola é integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial

MARINA DE ESQUERDA? LULA DE SAIAS?

Se você tem algum laivo de acreditar nisso, dê uma olhada no post do Paulo Henrique Amorim:


Sugestão do amigo navegante Carlos Curioso no Facebook do C Af


Na primeira entrada no jn depois de coroada candidata do PSB – será ? Leia o que disse o dirigente do PSB que se mandou – a primeira intervenção da candidata foi dançar a valsa que os bancos queriam ouvir.

Com muita dificuldade, como num tati-bi-tati mal decorado, ela recitou o sonho de consumo do “mercado”:

- é a favor do tripé;

- e da autonomia do Banco Central (ou seja, o Itaúúú vai mandar no pedaço).

O tripé, como se sabe, é a Santíssima Trindade do Consenso de Washington: juros escorchantes, mega-superavit fiscal, total liberdade cambial – portanto, pau no trabalhador e nos programas sociais.

É tudo o que está quebrando a Europa …

Só faltou anunciar o que está por revelar: a privatização da Petrobrax.

Mas, a Bláblá cumpre o papel que lhe cabe nessa eleição.

Assumir o lugar o Aecioporto, que já demonstrou não ter competência para a tarefa que os bancos lhe impuseram.

Como diz o Fernando Henrique, qualquer um serve.

Desde que a mentira se sobreponha à verdade – como diz o Lula – e o PiG consiga esconder o que a Dilma vai mostrar à exaustão.

Mas, não adianta: a Dilma ganha no primeiro turno, como demonstra o tracking de ontem (22/08) do próprio PSDB – ver na sacolejante seção “Pitacos”.

“Mercado” e Globo não ganham eleição.

Dão Golpe.

Clique aqui para ler “Quem é o dono do jatinho do Eduardo ?”.


Paulo Henrique Amorim

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

ENTREVISTA AO JORNAL NACIONAL

Dilma Rousseff enfrentou a dupla William Bonemer e Patrícia Poeta, no estilo defensivo, mas sem deixar os dois sem resposta. Aqui vai um artigo de Eduardo Guimarães sobre a entrevista. 


Dilma já enfrentou torturadores piores que os do Jornal Nacional

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A presidente da República bem que poderia ter incorporado o espírito de Leonel Brizola e, após ter dito tudo que tantos brasileiros têm a dizer sobre a Globo, deixado William Bonner e Patrícia Poeta fazendo suas caras e bocas (de nojo) sozinhos. Se não fosse uma dama, poderia ter dito que recebeu o Jornal Nacional para ser entrevistada, não para ser agredida.
O que se viu na noite de terça-feira, 18 de agosto de 2014, na TV Globo, não foi uma entrevista dura como foram – em alguma medida – aquelas a que foram submetidos Aécio Neves e Eduardo Campos. Foi uma agressão, um desrespeito.
E não só pelo tom dos entrevistadores, mas pelo tempo que gastaram com suas perguntas. Bonner e Poeta gastaram um terço dos 15 minutos que durou a entrevista. Mais especificamente, 4 minutos e 48 segundos. Isso sem contar o tempo das interrupções. Não houve nada igual nas entrevistas com Aécio Neves e Eduardo Campos.
Aqui se poderia questionar o teor das perguntas. No caso da pergunta sobre saúde, por exemplo, com Poeta fazendo caras e bocas (de nojo), opinou que 12 anos seria “tempo demais” para Dilma não consertar problemas que a saúde pública no Brasil ostenta há 500 anos.
Dilma poderia ter respondido isso, que os problemas da saúde do país não têm 12 anos e que não serão solucionados completamente por governante nenhum em um, dois ou três mandatos, mas preferiu se restringir às suas responsabilidades em respeito ao público.
Sobre corrupção, Dilma também poderia ter respondido à pergunta de Bonner com outra. Poderia ter perguntado que governante brasileiro, entre prefeitos e governadores, não tem problemas de corrupção entre seus comandados.
Dilma poderia, por exemplo, ter dito que o escândalo dos trens em São Paulo envolve “módicos” 11 bilhões de reais e que não houve nada sequer parecido em seu governo.
Mas Dilma é uma dama e uma mulher ciente de suas responsabilidades. Não seria uma sessão de tortura psicológica levada a cabo por aprendizes de torturadores que iria fazê-la perder a linha ou esmorecer. Faltou competência ao casal de energúmenos até para exercer o poder dos torturadores.
Mas se Dilma não cedeu nem à tortura física da ditadura, não seriam um mauricinho e uma patricinha de quinta que iriam dobrá-la.
Em 18 de agosto de 2014, com seu casalzinho de torturadores perfumados, a Globo fez lembrar ao país que continua sendo aquela mesma Globo que rastejou aos pés da ditadura para que esta lhe enchesse os bolsos com dólares que os americanos aqui despejaram para destruir a nossa democracia, para seviciar nosso povo durante mais de vinte anos.
A data dessa sessão de tortura midiática entra agora para a história do jornalismo brasileiro como exemplo de falta de compostura profissional. Bonner e Poeta teriam feito papel menos odioso se emulassem os energúmenos que, na abertura da Copa, vociferaram o infame “Dilma, VTNC”. Só faltou berrarem isso diante da presidente da República.

PARCERIAS PÚBLICO PRIVADAS

Este é apenas um exemplo. As tais PPP têm pouca transparência, permitem favorecer grupos de "preferidos", que podem agradecer regiamente partidos no governo e funcionários encarregados de obter a tal eficiência que os neoliberais usam como gazua para transferir novos nacos dos recursos públicos para grupos financeiros.


Hospital na Cracolândia: Governo Alckmin repassa R$ 2,2 mi após Justiça proibir novos pagamentos

publicado em 20 de agosto de 2014 às 22:57
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Hospital da Cracolândia: Dos 11 andares, apenas dois  estão prontos. Fotos da unidade: Caio Castor
por Conceição Lemes 
Rua Helvétia, 55. Coração da Cracolândia,  na região central da cidade de São Paulo.
Nesse endereço — prédio de 11 andares, em reforma –, funcionará o futuro hospital para usuários de drogas da Cracolândia. Integra o Recomeço, programa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) de combate à dependência química, principalmente o crack.
O hospital — chama-se Unidade Recomeço Helvétia — terá leitos para desintoxicação, centro de convivência, dois andares para tratamento de emergências psiquiátricas , entre outros serviços. A previsão é que só ficará pronto em 2015.
A SES-SP entregou a gestão dele à  Sociedade Paulista para o Progresso da Medicina (SPDM), que receberá R$ 114 milhões por um contrato de cinco anos.
A SPDM é uma organização social de saúde (OSs) privada, presidida pelo médico Ronaldo Laranjeira, o mesmo doutor que coordena o programa de combate ao crack do governo Geraldo Alckmin (PSDB). A Unidade Recomeço Helvétia está sob o comando dele.
“Um contrato eivado de ilegalidades, um processo todo viciado”, denuncia o promotor Arthur Pinto Silva, da Promotoria de Direitos Humanos – Saúde Pública do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP). “Nas duas pontas do contrato, está o doutor Laranjeira, que ainda teve informações privilegiadas sobre o projeto antes mesmo do chamamento público para a gestão do hospital. Conflito total de interesse.”
“Além disso, a SPDM está fazendo reforma do prédio, atividade que não está entre as suas funções”, atenta o promotor. “Todas as obras são sem licitação.”
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Promotor Pinto Filho (à esquerda): “Doutor Laranjeira (à direita) teve acesso a informações privilegiadas”
Essas irregularidades levaram o Ministério Público Estadual a entrar com ação civil pública, solicitando anulação do contrato.
O juiz Valentino Aparecido de Andrade, da 10ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), acatou o pedido.
Em 10 de julho, em decisão liminar (na íntegra, ao final), ele determinou a suspensão imediata da eficácia do contrato. Também que governo do Estado de São Paulo ou a SES-SP não faça mais nenhum repasse à SPDM.
O juiz faz menção direta à dupla condição de Laranjeira e ao fato de as obras da reforma terem sido contratadas pela SPDM sem licitação mas com dinheiro público.
A propósito 1. Até 29 de abril, segundo a ação civil pública, o governo estadual repassou R$ 7.060.473,77à  SPDM, que escolheu a OHM  Construtora, de Toshiaki Ochiai e Eduardo Toshihiko Ochiai, para fazer as obras.
Porém, pesquisa feita nesta semana no Sistema de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária (Sigeo) do Estado de São Paulo revela que a SPDM  já recebeu do governo Alckmin por conta do hospital da Cracolândia um total de R$ 9.262.592,69.
Detalhe: A Secretaria de Estado da Saúde repassou R$ 2,2 milhões no dia 5 de agosto. Ou seja, após a Justiça ter determinado a suspensão de novos pagamentos.
As imagens abaixo são de páginas do Sigeo. Os grifos em vermelho (são nossos) mostram datas e pagamentos feitos em agosto.
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Os R$ 9.262.592,69 pagos à SPDM foram assim distribuídos: R$ 6.413.424,34  referentes à reforma do prédio; e R$2.849.168,35 relacionados ao contrato de gestão para serviços e atividades de saúde. Confira na tabela abaixo.
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“Nós iremos apurar se o repasse dos R$ 2,2 milhões foi antes ou depois da intimação”, diz, surpreso com a nossa descoberta, o promotor Arthur Pinto Filho. “Agora, independentemente de a intimação ter sido feita após 5 de agosto,  a  Secretaria de Estado da Saúde tinha plena ciência da decisão liminar que suspendeu o contrato e os repasses, uma vez que saiu na mídia a situação. Há, no mínimo, um enorme desrespeito para com o Poder Judiciário.”
A propósito 2. O hospital da Cracolândia, relembramos, só estará concluído em 2015. Mesmo assim, dois andares foram inaugurados recentemente a toque de caixa.
Por enquanto, funcionam barbearia (no térreo, com quatro cadeiras), academia de ginástica (no primeiro andar), banho e acolhimento. A parte hospitalar propriamente dita só em 2015.
Na barbearia, chamou-nos a atenção uma placa logo acima dos espelhos:  Barber Shop. 
Não é piada, não. Esta foto comprova.
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Será que os dependentes químicos da Cracolândia frequentarão o barber shop?
Ou terão de, primeiro, aprender inglês para usar a barbearia?
Ou será apenas para a inglês ver?
E a academia de ginástica será gynn e o banheiro, bath?
Considerando que apenas barbearia, academia de ginástica, banho e acolhimento estão funcionando, como se explica a SPDM já ter recebido R$ 2,8 milhões por serviços e atividades de saúde?
Viomundo contatou a SPDM para entrevistar o doutor Ronaldo Laranjeira sobre o hospital da Cracolândia e a decisão da Justiça.
A assessoria de imprensa passou a bola para a SES-SP: “A Secretaria estadual da Saúde é que está respondendo sobre o assunto”.
Procuramos a SES-SP. Perguntamos sobre a decisão da Justiça que suspendeu o contrato com a SPDM, discriminação dos valores repassados à entidade, serviços funcionando. Foram vários e-mails e ligações para a sua assessoria de imprensa.  Nenhuma resposta.
A propósito 3.  Entre a semana passada e esta, estivemos três vezes no hospital, em horários diferentes. O movimento era reduzido. Havia mais atendentes do que pacientes. Coincidentemente, a barbearia estava vazia e a academia de ginástica, quase vazia.  Será que o térreo e primeiro andar foram inaugurados há poucos dias para serem usados como vitrines no programa eleitoral do PSDB?
Hospital da Cracolândia - Unidade Recomeço Helvétia
Hospital da Cracolândia - Unidade Recomeço Helvétia
Segue a íntegra entrevista que fizemos com o promotor Arthur Pinto Filho.
Viomundo —  Em 10 de julho, a Justiça determinou a suspensão de novos pagamentos à SPDM por conta do hospital da Cracolândia. O que acha de a Secretaria de Estado da Saúde ter repassado R$ 2,2 milhões em 5 de agosto?
Arthur Pinto Filho – Não sabia desse pagamento. Iremos apurar se o repasse dos R$ 2,2 milhões foi antes ou depois da intimação. Se houve irregularidade no repasse, o dinheiro deverá ser devolvido.
Viomundo – E se a intimação da Secretaria da Saúde só foi feita após o pagamento dos R$ 2,2 milhões, em 5 de agosto? 
Arthur Pinto Filho – Independentemente disso, a  Secretaria de Estado da Saúde tinha plena ciência da decisão liminar que suspendeu o contrato e os repasses, uma vez que saiu na mídia a situação. Há, no mínimo, um enorme desrespeito para com o Poder Judiciário.
Viomundo – O que achou da decisão do juiz Valentino de Andrade?
Arthur Pinto Filho — Uma decisão sóbria, muito firme, bastante fundamentada. Demonstra que o juiz leu tudo, estudou profundamente a questão. Um contrato eivado de ilegalidades, um processo todo viciado. Conflito total de interesse.
Viomundo –  Que ilegalidades motivaram a ação civil pública?
Arthur Pinto Filho – Conflito de interesse, informação privilegiada e o fato de SPDM estar fazendo reforma do prédio, atividade que não está entre as suas funções.
 Viomundo – Em que medida configura conflito de interesse?
Arthur Pinto Filho – Quando se tem nas duas pontas do contrato basicamente a mesma pessoa. A Secretaria da Saúde é a contratante. Ela foi levada a efetivar esse contrato pelo doutor Laranjeira, que é o coordenador do programa estadual de combate ao crack. E na outra ponta, como contratado, está o próprio Laranjeira, que é presidente da SPDM.
Ele está nas duas pontas do contrato – na pública, a contratante, e na privada, a contratada –, com informações privilegiadas. Isso é complicado.
Viomundo – Matérias publicadas na mídia dizem que a Secretaria de Saúde e a SPDM  alegam que Laranjeira não recebe nada, ele seria voluntário nos dois.
Arthur Pinto Filho – Para mim, isso não tem a menor relevância. Eu não estou discutindo se ele recebe ou não. O fato é que houve uma situação em que a SPDM, que é presidida pelo Laranjeira, ganhou um chamamento público numa situação muito peculiar. Aliás, ele pode não receber nada, mas a OSs que ele preside recebe muito bem por isso.
Viomundo – O que o senhor quer quer dizer com “chamamento numa situação muito peculiar”?
Arthur Pinto Filho – Chamamento é uma convocação oficial para que alguém ou alguma entidade participe de determinado ato. É um procedimento obrigatório pela lei.
No caso da SPDM e a Unidade Recomeço Helvétia, foi feito esse chamamento para as OSs. Só que a Secretaria Estadual da Saúde deu cinco dias para elas apresentarem a proposta e sete para o projeto de efetivação de um hospital que tem 10 andares mais o térreo.  Era impossível apresentar um projeto de tamanha complexidade num tempo tão exíguo. Então a única que apresentou o projeto foi a SPDM, por coincidência presidida pelo Laranjeira.
Viomundo – A SPDM sabia com antecedência do projeto?
Arthur Pinto Filho – Claro! Soube antes exatamente o que seria o projeto. Na verdade, o projeto da unidade foi do próprio Laranjeira..
Viomundo – A SPDM, além de fazer a gestão de saúde do hospital, está realizando a reforma do prédio. Uma OS de saúde pode reformar prédio?
Arthur Pinto Filho – Essa é outra excrecência da Unidade Recomeço Helvétia. Na prática, passar um serviço público de saúde para a administração de uma OSs já significa a sua privatização. Normalmente, as OSs pegam a edificação pronta e começam a gerir.
No caso desse hospital, a Secretaria estadual da Saúde foi além. Passou para a OSs, no caso a SPDM, a tarefa também de reformar todo o prédio, que estava bastante destruído.  É um agravante.
A SPDM está recebendo dinheiro público para reformar a seu bel prazer, um prédio público, contratando sem licitação e comprando materiais também sem licitação. Essa é mais uma grave anomalia contratual desse caso. A  SPDM se tornou uma OS de reforma de prédio, enquanto seu estatuto social não permite tal prática. Ela é uma organização social da área da saúde.
Viomundo – O senhor teve acesso ao projeto do hospital?
Arthur Pinto Filho – Não. E olha que eu pedi duas vezes para a Secretaria de Estado da Saúde a cópia do projeto , com um intervalo de 20 dias entre as duas oportunidades. A Secretaria ignorou. Deixou o prazo passar. Portanto, é um projeto secreto.  Ninguém sabe ao certo o que é.
Viomundo – A partir de agora, qual a sua expectativa?
Arthur Pinto Filho – Provavelmente, a SPDM e a Secretaria de Estado da Saúde vão recorrer da decisão do Judiciário.  E nós vamos aguardar a decisão do tribunal.
Viomundo – Qual a melhor solução para o caso?
Arthur Pinto Filho — Eu acho que o mais útil seria a Secretaria de Estado da Saúde elaborar um novo chamamento com prazos adequados para que as organizações apresentassem os seus projetos e eles fossem públicos. E, claro, ganhasse efetivamente o melhor, não fosse uma ação entre amigos.
Eu lamento muito que o chamamento que redundou na escolha da SPDM tenha sido feito totalmente de afogadilho, sem qualquer transparência. Afinal, essa unidade hospitalar vai ter um papel muito importante na região da Cracolândia.
Viomundo – Entre a semana passada e esta, nós estivemos três vezes no prédio do futuro hospital. A barbearia, com as cadeiras vazias nas três ocasiões, nos chamou atenção. Mais ainda o que estava escrito  logo acima dos espelhos:o barber shop. O que acha disso?
Arthur Pinto Filho – Ridículo, sem limites.
[As fotos do Hospital da Cracolândia foram feitas por Caio Castor, especialmente para o Viomundo. A produção delas e do conteúdo exclusivo só é possível graças à generosa colaboração de nossos leitores-assinantes. Torne-se um deles!].