quarta-feira, 31 de maio de 2017

OLHA COMO ESTAMOS. VAMOS REAGIR?

Do Tijolaço


Réquiem por um sonho. Por Nílson Lage

requiem
Hoje (escrevo às 10h do dia 25 de maio, 69º aniversário da morte de Roberto Simonsen, 40ºda estreia de “Uma nova esperança”, da série Star Trek), quando o Brasil caminha para pendurar-se no cabide do Império do Ocidente como extenso e desfrutável espaço do domínio, acho por bem lembrar a história do sonho de um país soberano e independente, grande e próspero.
Começou com os Andrada – José Bonifácio, o naturalista, que sonhava com uma reforma agrária para dar terra a escravos libertados – e ganhou concretude com Irineu, nossa primeira ferrovia, nossa primeira aciaria, nosso primeiro estaleiro e nossa primeira presença financeira do mundo.
O Visconde de Mauá faliu em 1878, espremido por bancos ingleses, mas deixou de herança uma geração de engenheiros brilhantes e militares insubordinados que se formaram na escola militar com a ideologia do cálculo integral e a rigidez do pensamento positivista.
Dessa ninhada vieram Rebouças, que varou a Serra do Mar numa ferrovia incrível que ainda lá existe, e Euclides, que viajou como repórter aos sertões do Brasil e descobriu, com assombro, quão forte é, ainda assim, nosso mestiço pobre e inculto. Da mesma cepa descende o índio Cândido, soldado bravo que ordenava morrer, sendo preciso, mas jamais matar quem luta por sua terra.
Descendente mais remoto ainda é o promotor Getúlio, que governou na recessão com mão de ferro, criou a mística do trabalho e, depois, ungido pelo povo em votação direta, buscou a energia dos rios e escavou o óleo que diziam não haver por essas terras, pagando por isso com a vida.
Foi então que o projeto ganhou forma, no tumulto dos anos 50, tempo de Juscelino: ocupação do Oeste e da Amazônia, indústria mecânica, construção naval e aeronáutica, pesquisa nuclear – Álvaro Alberto – implantação da tecnologia no campo e reforma agrária, relações com todos os países. Este o norte do breve governo de Jânio, que condecorou Guevara e criou a Eletrobrás sonhada por Getúlio, e de Jango, em cerco permanente.
Houve um parêntesis, mas a bússola voltou a apontar esse caminho aos militares com a Embrapa fertilizando o cerrado, a indústria de defesa, o apoio ao MPLA de Angola e os demais eventos surpreendentes do governo Geisel.
Mais um parêntesis de quase vinte anos. O Brasil cedeu na informática, nos projetos nucleares, no domínio das telecomunicações e do espaço aéreo; quase entregou o petróleo e os bancos que alavancavam seu progresso. E mais cederia, não se alçasse ao poder um governo trabalhista conciliador que, no entanto, retomou o que pôde desses projetos, expandiu o ensino técnico, promoveu a mobilidade social e a formação universitária.
Foi demais a dose e a ressaca é amarga. Parece que o sonho acaba aqui, de morte prematura, jovem ainda no tempo das nações. Salvo eventos inesperados, será esquecido por novas realidades. Só tenho uma pena a mais, ao lembrar essa história: que, tendo sido tão rico de pensadores, poetas, canções, homens de ciência e sabedoria, possa terminar assim, sepultado por gente tão medíocre e cheia de ódios insensatos.

O QUE VAI SER POSSÍVEL...

Caso se consiga suplantar o golpe e limitar o poder de seus beneficiários, o conglomerado financeiro-empresarial-midiático-judiciário?

Hoje é possível um presidente da Câmara fazer a grande simplificação, em que a população fica de fora, conforme este recorte:



Esta agenda propõe que a política só deve persistir até entregar as decisões que afetam todos na integralidade aos comitês executivos das empresas cuja razão de ser é o lucro e a acumulação de riqueza (nas mãos de uma minoria cada vez mais estreita, dos 1 ou 0,01 %).

Se eles - os donos do mundo e seus operadores - continuarem levando a melhor no embate político, o poder do capital tende a se tornar mais e mais absoluto. Só que além de combater os operadores (gerentes, jornalistas, juízes, policiais, coxinhas pagos), é necessário ao mesmo construir uma nova estrutura social-cultural destinada a superar o estado capitalista. 

É difícil imaginar a superação da ascensão de aberrações como Temer e Trump, e prevenir a vinda de calamidades ainda maiores (para ficarmos apenas em exemplos mais notórios), sem uma estratégia que contemple esses dois aspectos. Destruir e construir ao mesmo tempo.

Tempos interessantes.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

SE VOCÊ NÃO PUDER IR AO TUCA HOJE À NOITE

Sempre pode se debruçar sobre o Plano a ser lançado pela Frente Brasil Popular. Do Conversa Afiada

Frente Brasil lança Plano Popular de Emergência

Com diretas já!
publicado 29/05/2017
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No ato em defesa das Diretas Já, na próxima segunda (29), no Teatro Tuca em São Paulo, a Frente Brasil Popular, que reúne movimentos sociais, sindicais, partidos políticos e parlamentares, lançará sua proposta de ‘Plano Popular de Emergência’. No evento, a CUT, uma das maiores entidades da Frente, estará representada por seu presidente Vagner Freitas.
Além da defesa das Diretas, a Frente Brasil Popular propõe que as forças progressistas apresentem para sociedade um programa alternativo que aponte medidas concretas para sairmos desta crise.  O Plano contém uma agenda para enfrentar a crise gestada pela agenda antipatriótica, antipopular, antinacional e autoritária dos golpistas.
O “Plano Popular de Emergência” é resultado de um trabalho de elaboração dos movimentos populares e intelectuais orgânicos que sintetizaram propostas em 10 eixos para a reconstrução das bases sociais, econômicas e políticas do Brasil.
“As proposições aqui contidas têm como objetivo inverter, no mais curto espaço de tempo, os indicadores econômicos, sociais e políticos que resultaram do interregno golpista. E fazem conexão com as reformas estruturais necessárias para romper com o modelo de capitalismo dependente que tem produzido, entre outras chagas, o empobrecimento dos trabalhadores, especialmente das trabalhadoras e da população negra, injustiça social extrema, perda de in-dependência e recessão econômica, ao mesmo tempo em que concentra renda, riqueza e pro-priedade nas mãos de um punhado de barões do capital”, diz trecho da introdução do Plano.
Acesse o conteúdo do Plano aqui
Serviço
Ato em Defesa das Diretas Já e lançamento do Plano Popular de Emergência
Data: 29 de maio
Horário: 19 horas
Local: TUCA - Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Endereço Rua Monte Alegre,1024 - Perdizes, 05014-001 São Paulo 
O Plano de Emergência para o Brasil é organizado em dez eixos:
1) Democratização do Estado;
2)Política de Desenvolvimento, emprego e renda;
3)Reforma Agrária e agricultura familiar;
4)Reforma Tributária;
5) Direitos sociais e Trabalhistas;
6) Direito à saúde, à educação, à cultura, à moradia
7) Segurança pública;
8) Direitos humanos e cidadania;
9) Defesa do meio ambiente;
10) Política externa soberana. 

OS PRÓXIMOS DIAS

A conferir. Do O Cafezinho


Fernando Morais, no Nocaute: Novo golpe sendo armado para salvar a pele de Temer, colocar tucanos no poder e jogar por terra Diretas Já

29 de maio de 2017 às 13h24

  
Exclusivo: está sendo armado novo golpe dentro do golpe. É Fora Temer e tucanos no poder
Atenção movimentos sociais e lideranças populares: os golpistas estão rascunhando um golpe dentro do golpe para salvar a pele (não o cargo) de Michel Temer, formar um governo de maioria tucana e jogar por terra a campanha por eleições diretas já.
Um grande acordo da Casa Grande começou a ser costurado no último sábado em uma reunião “social” ocorrida no Palácio do Jaburu.
Participaram do encontro, além de Temer, o general Sérgio Etchegoyen (ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional), os ministros Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Bruno Araújo (Cidades), Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidencia) e o governador de São Paulo, Geraldo Alkmin.
Para disfarçar, Marcela Temer recebeu em outro ambiente do palácio as esposas presentes. Por meio de mídia eletrônica o encontro foi acompanhado à distância pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os principais termos do acordão são os seguintes:
• Temer deve sair logo, para evitar a cassação pelo TSE e a eventual convocação de eleições diretas já para presidente da República.
• Esvaziar a Operação Lava Jato.
• Formar um governo de maioria tucana, no qual Henrique Meirelles seria substituído no Ministério da Fazenda por Armínio Fraga.
• Garantir o silêncio de Eduardo Cunha com a preservação da liberdade de sua mulher e sua filha.
• Controlar a delação de Palocci, que se torna irrelevante com o acordão.
Como o plano não contempla todos os problemas dos golpistas, há dúvidas sobre como solucionar algumas questões-chave e sobre a mesa ainda há obstáculos a serem superados:
• Oferta de anistia aos crimes de Caixa 2, com o que livrariam a pele, entre outros, de Moreira Franco, Eliseu Padilha e demais congressistas que fazem parte da “lista de Fachin”. Com isso os golpistas imaginam neutralizar o ex-presidente Lula e seus familiares, que seriam beneficiados pela medida.
• Não há consenso a respeito do nome que seria eleito indiretamente com a saída de Temer. O mais cotado parece ser mesmo o ex-ministro Nelson Jobim. O lançamento informal pelos tucanos do nome do senador Tasso Jereissati teria sido apenas uma cortina de fumaça, um “boi de piranha” previamente acordado com o político cearense.
• Ainda não se conseguiu solucionar o “problema Rodrigo Maia” e a fórmula legal para oferecer garantias a Temer após sua saída – seja ela indulto, perdão ou salvo-conduto.
Aparentemente não há objeções maiores ao acordão por parte das Forças Armadas – aí incluídos os oficiais da reserva, que não mandam mas fazem barulho.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

É, TEM RAZÃO ODIAR LULA E O PT

Olhaí um texto para quem continua tendo que esbarrar em coxinhas. Seleção do Gato.


O meu ódio ao Lula – talvez você se identifique


Depoimento de uma jovem que odiava o PT, a esquerda e Lula. O que mudou?

Em partes, porque minha família inteira o detesta também. Cresci ouvindo comentários da piada que ele era. De como supostamente arrancou um dedo só para ganhar um processo contra a fábrica que trabalhava. E, o mais chocante: porque não tinha educação. Como assim? Quer ser Presidente do Brasil e só fez até a quarta-série? Até eu já tinha passado da quarta-série. Diziam também que era analfabeto e não sabia escrever ou ler – circulava sempre uma sátira dele lendo um livro de ponta cabeças. Pessoalmente eu tinha minhas dúvidas em relação ao fato, afinal aprende-se a ler antes da quarta-série.
Outra razão e objeto de canalização do meu ódio era o partido que ele representava. *Insira um palavrão*, o PT. Quem conseguia apoiar o Partido dos Trabalhadores? Eu ficava revoltada porque meu número na chamada na escola foi o 13 por três anos seguidos. Também não gostava de vermelho e evitava a cor. Nunca me esqueço do ano em que, para as Olimpíadas do Colégio, minha turma teve que ficar com a camisa vermelha – e o meu número era o treze, imaginem que vergonha eu passei.
Oras, o PT e o Lula já eram a escória da sociedade brasileira mesmo antes de estarem no poder. Mesmo antes do Lula ser Presidente eu já odiava o Lula e nós já sabíamos que ele era um ignorante. A voz dele irritava, e o fato do partido dele representar a esquerda. Ah, a esquerda! – ameaçava a paz global. Pra ser sincera eu também não sei desde quando comecei a ver a esquerda como a representação do mal na Terra, porém eu tinha as explicações que recebia: Che Guevara comunista matou milhares, comunismo é satanismo e o MST é uma barbaridade. Ok, no fundo eu não sentia nem vergonha por não saber explicar o meu ódio.
Quando entrei na faculdade de Relações Internacionais em 2010, era ano de eleições. E com informação, meu ódio cresceu. O curso estava dividido entre PSDB e PT, e eu obviamente, andava pelos corredores com meu “Serra” no peito. Para meu primeiro trabalho importante como universitária, na aula de Introdução à Política Externa, me propus a estudar e promover o debate “As Propostas de Política Externa dos Candidatos a Presidente do Brasil” – José Serra e Dilma Rousseff (Deus me livre, a Dilma).
Em resumo, depois de dois meses de pesquisa a minha conclusão me irritou: basicamente a política externa de Lula e do PT estavam trazendo o país para o seu momento mais privilegiado no cenário internacional, e a proposta de Serra levava para outro caminho. Por fim, tentei disfarçar mas apresentei o estudo e a conclusão. Ainda assim votei pelo PSDB naquele ano, e ainda assim tive muita raiva e “ameacei sair do país” quando Dilma foi eleita. Também culpei o Nordeste analfabeto por não saber votar e comprar os votos pra ganhar esmola do bolsa-família.
E saí do país, fui fazer o primeiro intercâmbio (trabalhar em uma fábrica nos Estados Unidos) e, aprendendo melhor o inglês, também fiz um curso online oferecido pela ONU na época: Os Desafios da Fome no Mundo. No primeiro texto eu já queria desistir. “Caso de estudo Brasil: a política social que tirou o país do mapa da fome”. É claro que enaltecia o programa Bolsa Família e o ex-Presidente Lula. Será que os doutores conheciam o Lula e o PT? Ah, que raiva. Que raiva por que mesmo?
Quem nunca se sentiu uma pessoa ruim por odiar um alguém sem saber explicar o porquê? -Principalmente nós, mulheres, que fomos educadas para ver a outra como inimiga e ameaça, e o fazemos assim até a maturidade chegar através de informação e experiências (quando ela chega) – enfim, comecei a perceber então que o que agora mais me dava raiva era que eu não sabia do que estava falando. Afinal, o problema do Brasil era a desigualdade e vilão nesse caso poderia ser o neoliberalismo,mas não era o Bolsa-Família ou o Lula.
A minha ficha caiu quando realmente olhei para uma charge na Veja (a revista que meus avos assinam e eu lia assiduamente): O ex-presidente Lula aparecia montado em um jegue cheio de malas e bolsas, e a legenda “mais um nordestino que veio pra São Paulo sem saber o que fazia” me deixou horrorizada. Esqueci o político naquela imagem e lembrei que essa era uma referência a um povo. Que horror. Era isso que eu pensava. Racista e preconceituosa. Sem a menor empatia. Achando que eu era melhor porque estava no Sul do país. Que bom que eu só tinha 22 anos e ainda dava tempo de me desconstruir.
Ainda faço esse exercício quando me surpreendo com sentimentos negativos a algo ou alguém. Pergunto-me o porquê e espero saber responder com lucidez. Hoje, admiro o Presidente que Lula foi e acompanho a perseguição que sofre, enquanto outros políticos estão envolvidos em escândalos maiores, mas não causam nem metade da indignação. Eu não tenho problemas se o Lula for preso – se fez errado, que pague. Porém como disse uma amiga “se contra fatos não há argumentos, contra a falta a de provas, qual é o argumento?”.
P.S: É claro que toda vez que um texto que não ataque o Lula seja publicado já se espera ser rotulado como “defender bandido”. Mas aí isso já é analfabetismo funcional, e tudo bem, eu tento entender. Também já fui assim.
 Cristina Diniz
Bacharel em RELAÇÕES INTERNACIONAIS – UNIVALI/Santa Catarina
Global Development Specialist na Youth for Understanding
Austin, Texas, 11 de maio de 2017

quinta-feira, 11 de maio de 2017

LULA E O JUIZ DE PRIMEIRA INSTÂNCIA SÉRGIO MORO

Do Tjolaço

Os melhores momentos de Lula, por Edson Lenine

laerteratoeira
Como a charge genial do Laerte dispensa qualquer palavra, vai a seguir o “compacto” dos melhores momentos do interrogatório de Lula por Sérgio Moro, compilado pelo professor e pesquisador de Filosofia Edson Lenine Prado, no Facebook:
MORO: Tem um documento aqui que fala do triplex….
LULA: Tá assinado por quem?”
MORO: Hmm… A assinatura tá em branco…
LULA: Então o senhor pode guardar por gentileza!

MORO: Esse documento em que a perícia da PF constatou ter sido feita uma rasura, o senhor sabe quem o rasurou?
LULA: A PF não descobriu quem foi?
MORO: Não!
LULA: Então, quando descobrir, o senhor me fala! Eu também quero saber!

MORO: O Sr. não sabia dos desvios da Petrobras
LULA: Ninguém sabia dos desvios da Petrobras. Nem eu, nem o Sr., nem a imprensa, nem o Ministério Público, nem a Polícia Federal. Só ficamos sabendo quando grampearam o Youssef.
MORO: Mas eu nao tinha que saber, não tenho nada com isso.
LULA: Tem sim, foi o Sr. que soltou o Youssef.

LULA: E como eu considero, doutor, como eu considero esse processo ilegítimo, e a denúncia, uma farsa, eu estou aqui em respeito à lei, em respeito a nossa Constituição. Mas com muitas ressalvas com respeito ao comportamento dos procuradores da Lava Jato.
MORO: Perfeito, mas é a oportunidade que o senhor tem de se defender, e esclarecer estas questões, então eu vou pedir um pouco de paciência para o senhor ex-presidente. Certo?
LULA: Eu tenho paciência, é que perguntar coisas pra mim de uma pessoa que já morreu, é muito difícil, sabe? É muito difícil.
MORO: Eu imagino, mas infelizmente a gente acaba tendo que ir pelo contexto, certo?”
LULA: É, eu sei…

MORO: Agora o senhor tem essas reclamações da imprensa, eu compreendo, mas esse realmente não é o foro próprio pro senhor reclamar contra o tratamento da imprensa. O juiz não tem nenhuma relação com o que a imprensa publica ou não publica e esses processos são públicos
LULA: Doutor, o senhor sem querer talvez entrou nesse processo. Sabe por quê?
MORO: Hum?
LULA: Porque o vazamento de conversas com a minha mulher e dela com meus filhos, foi o senhor que autorizou.

MORO: Saíram denúncias na folha de São Paulo, e no jornal O Globo de que…
LULA: Dr. não me julgue por notícias, mas por provas.

LULA: Doutor Moro, o senhor já deve ter ido com sua esposa numa loja de sapatos e ela fez o vendedor baixar 30 ou 40 caixas de sapatos, experimentou vários e no final, vocês foram embora e não compraram nenhum. Sua esposa é dona de algum sapato, só porque olhou e provou os sapatos? Cadê uma única prova de que eu sou dono de algum tríplex? Apresente provas doutor Moro?

MORO: O senhor solicitou à OAS que fosse instalado um elevador no tríplex?
LULA: O senhor está vendo essa escada caracol nessa foto? Essa escada tem dezesseis degraus e é do apartamento em que eu moro há 18 anos em São Bernardo. Dezoito anos a Dona Marisa, que tinha problema nas cartilagens do joelho passou subindo e descendo essa escada. O senhor acha que eu iria pedir um elevador no apartamento que eu não comprei, ao invés de pedir um elevador no apartamento em que eu moro, para que a Dona Marisa não precisasse mais subir essa escada?

MORO: Senhor ex-presidente, você não sabia que Renato Duque roubava a Petrobras?
LULA: Doutor, o filho quando tira nota vermelha, ele não chega em casa e fala: “Pai, tirei nota vermelha”.
MORO: Os meus filhos falam.
LULA: Doutor Moro, o Renato Duque não é seu filho.

MORO: Sr. ex-presidente preciso lhe advertir que talvez sejam feitas perguntas difíceis para você.
LULA: Não existe pergunta difícil pra quem fala a verdade.

LULA: O Dallagnol não tá aqui. Eu queria o Dallagnol aqui pra me explicar aquele PowerPoint.

SOBRE ENFRENTAR CERTAS FORMAS DE "JUSTIÇA"

A bela postura do Lula frente aos procuradores e juiz de Curitiba, sob fogo de barragem da mídia, lembraram-me uma situação histórica parecida, de 1933, se não me engano, quando do incêndio do Reichstag, no início do período nazista na Alemanha. 

Na época, um acusado falsamente de participar desse incêndio afrontou o juiz - nazista, como já quase todos os juízes, e a polícia e a imprensa e estações de rádio, e o próprio vice potentado do Reich, Goering. Seu nome, Georgi Dimitrov, um comunista búlgaro que havia sido preso com outros, no início do grande fechamento que marcou a fase mais violenta do regime.

Dimitrov enfrentou juiz e Goering, mas teve que ser libertado, sendo acolhido pela União Soviética. No futuro, depois da Segunda Guerra, se tornaria o dirigente mais poderoso de seu país.

Abaixo, cópia do trecho do livro Ascensão e Queda do Terceiro Reich, de William Shirer, sobre esse episódio.






quinta-feira, 4 de maio de 2017

COREIA: EU TAMBÉM NÃO SABIA

Do massacre e da devastação que os EUA impuseram ao povo coreano entre 1950 e 1953. Do The Intercept. 



3 de Maio de 2017, 16h30
 “POR QUE eles nos odeiam tanto?”
A pergunta deu voltas e mais voltas na cabeça de cidadãos americanos logo após os atentados do 11 de Setembro. “Eles” eram os árabes e muçulmanos. Atualmente, cada vez mais gente se pergunta o mesmo em relação aos isolados norte-coreanos.
Sejamos claros: não há dúvidas de que os cidadãos da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) tanto temem quanto execram os Estados Unidos. Paranoia, ressentimento e um acentuado antiamericanismo são sentimentos cultivados há décadas dentro do Reino Eremita. Crianças aprendem na escola a odiar americanos, enquanto adultos celebram todos os anos o “Mês da Luta contra o Imperialismo Norte-Americano” (é em junho, por sinal).
Militares norte-coreanos estão ameaçando diretamente os Estados Unidos, enquanto o regime liderado pelo brutal e sádico Kim Jong-un produz notícias falsas em escala industrial para alimentar a autopropaganda. Na RPDC, o ódio aos americanos é uma commodity que nunca está em falta.
“Só que esse ódio não é totalmente fabricado”, explica no Washington Post Blaine Harden, que estuda a Coreia do Norte há anos. Parte desse ódio, diz ele, “está embasado em fatos reais – pelos quais a Coreia do Norte tem obsessão, enquanto esses mesmos fatos são tranquilamente esquecidos pelos Estados Unidos”.
“Esquecidos” porque se trata mesmo da “guerra esquecida”. Sim, estou falando da Guerra da Coreia. Lembra dela? Aquela espremida entre a Segunda Guerra Mundial e a do Vietnã? A primeira guerra “quente” da Guerra Fria, de 1950 a 1953, e que, desde então, vem sendo convenientemente deixada de lado por grande parte das discussões e debates sobre o regime “louco” e “insano” de Pyongyang? Uma guerra que foi esquecida sem sequer ter terminado, já que foi interrompida por um acordo de armistício, e não um tratado de paz. Esquecida apesar de os Estados Unidos terem cometido sucessivos crimes de guerra. Como era de se esperar, isso continua a moldar a maneira como norte-coreanos veem os Estados Unidos, ainda que boa parte dos cidadãos americanos ignore o passado beligerante do próprio país.
Só para constar, foram os norte-coreanos, e não os americanos ou seus aliados sul-coreanos, que começaram a guerra, em junho de 1950, ao cruzar o Paralelo 38 e invadir o Sul. “O que quase nenhum americano sabe ou lembra é que nós bombardeamos o Norte inteirinho por 3 anos, sem nenhum tipo de cuidado em relação aos civis”, explica Bruce Cumings, historiador da Universidade de Chicago, em seu livro “The Korean War: A History”.
Por exemplo, quantos americanos sabem que aviões dos Estados Unidos jogaram sobre a península coreana mais bombas (635 mil toneladas) e napalm (32.557 toneladas) do que em toda a Guerra do Pacífico contra os japoneses, durante a Segunda Guerra Mundial?
Quantos sabem que, “no espaço de mais ou menos três anos, matamos (…) 20% da população”, para citar o general Curtis LeMay, da Força Aérea americana, chefe do Comando Aéreo Estratégico na Guerra da Coreia?
Vinte. Porcento. Só para comparar, os nazistas exterminaram 20% da população da Polônia pré-Segunda Guerra Mundial. De acordo com LeMay, “fomos lá e lutamos, até destruirmos todas as cidades da Coreia do Norte”.
Todas. As. Cidades. Estima-se que mais de três milhões de civis foram mortos no conflito, a maioria na parte norte da península.

Quantos americanos já ouviram ou leram as declarações do secretário de Estado Dean Rusk ou do juiz da Suprema Corte William O. Douglas? Rusk era o responsável, dentro do Departamento de Estado americano, pelas relações com o Extremo Oriente durante a Guerra da Coreia. Anos depois, ele admitiria que os Estados Unidos haviam bombardeado “cada tijolo que ainda estivesse de pé, qualquer coisa que se movesse”. Segundo ele, os pilotos americanos “bombardearam a Coreia do Norte inteira para valer”.
Já Douglas visitou a Coreia no verão de 1952. Ficou chocado com “a miséria, as doenças, a dor, o sofrimento, a fome” que haviam sido “agravadas” pelos ataques aéreos. Depois de acabados os alvos militares, os aviões de guerra norte-americanos passaram a bombardear fazendas, barragens, fábricas e hospitais. “Eu já tinha visto as cidades europeias destruídas pela guerra, mas eu nunca tinha visto uma devastação parecida com a da Coreia”, reconheceu o juiz da Suprema Corte.
Quantos americanos ficaram sabendo do desajustado plano do general Douglas MacArthur de ganhar a guerra contra a Coreia do Norte em apenas 10 dias? MacArthur, que liderou o Comando das Nações Unidas durante o conflito, queria jogar “entre 30 e 50 bombas atômicas (…) ao longo da fronteira com a Manchúria”, o que teria “deixado para trás (…) um cinturão de cobalto radioativo”.
Quantos americanos ouviram falar do massacre de No Gun Ri, em julho de 1950, quando centenas de coreanos, agrupados embaixo de uma ponte, foram mortos por aviões bombardeiros e pelo 7º Regimento de Cavalaria? Detalhes do massacre vieram à tona em 1999, quando a Associated Press entrevistou dúzias de oficiais aposentados. Um veterano lembra de ouvir o capitão dizer: “Pro inferno com essa gente. Vamos nos livrar deles todos”.
Quantos americanos aprendem na escola sobre o massacre das Ligas Bodo, quando dezenas de milhares de suspeitos de comunismo foram mortos, no verão de 1950, por ordem do presidente Syngman Rhee, o homem forte da Coreia do Sul e aliado dos Estados Unidos? Relatos de testemunhas dão conta de que “jipes lotados” de oficiais do exército americano estavam presentes e “supervisionaram a carnificina”.
Milhões de cidadãos americanos comuns devem sofrer da tóxica combinação de ignorância e amnésia, mas as vítimas dos golpes de Estado, invasões e bombardeios americanos ao redor do globo tendem a não padecer do mesmo mal. Pergunte aos iraquianos e aos iranianos, aos cubanos e aos chilenos. E, claro, aos norte-coreanos.
Como escreve o historiador Charles Armstrong, da Universidade de Columbia, em seu livro “Tyranny of the Weak: North Korea and the World, 1950-1952”, “os ataques aéreos norte-americanos deixaram uma marca profunda e duradoura” nos habitantes da RPDC. “Mais do que qualquer outro fator, foi isso que os levou os norte-coreanos a desenvolver um senso coletivo de ansiedade e medo de ameaças externas, que permaneceu após o fim da guerra”.
Não me entenda mal. Não estou insinuando que o regime violento e totalitário de Kim seria menos violento e totalitário do que é hoje se os Estados Unidos não tivessem bombardeado o país inteiro há 70 anos. Tampouco tenho esperanças de que Donald Trump, logo ele, apresente desculpas formais a Pyongyang em nome do governo dos Estados Unidos pelos crimes de guerra cometidos entre 1950 e 1953.
Mas o fato é que, dentro das fronteiras da Coreia do Norte, “ainda se vive nos anos 1950, (…) e o conflito com a Coreia do Sul e os Estados Unidos ainda está acontecendo. O povo do Norte se sente acuado e ameaçado”, segundo Kathryn Weathersby, autoridade acadêmica no assunto.

Se uma nova guerra da Coreia, potencialmente nuclear, deve ser evitada e se, como escreveu Milan Kundera, “a luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”, cidadãos americanos comuns não podem mais se permitir esquecer a morte, a destruição e o legado devastador da primeira Guerra da Coreia.