segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

As cidades devastadas pela fúria bolsonarista

 Do Brasil 247


O poder de destruição da extrema direita implode as cidades, suas marcas e suas almas

www.brasil247.com - Cultivo de uva
Cultivo de uva (Foto: Agência Brasília)


O bolsonarismo raiz é um fenômeno paroquial, que se disseminou virtualmente pela ação de tios e tias do zap de pequenas e médias cidades e virou modo de vida.

A vidinha da província, mobilizada pelas milícias digitais de Bolsonaro, multiplica extremismos, mentiras e ódios disfarçados de posições e atitudes pretensamente moralistas e religiosas.

O efeito é devastador contra as próprias comunidades. Um exemplo recente. Bento Gonçalves, a cidade dos vinhos na Serra gaúcha, era até agora apenas um lugar ultraconservador com índole bolsonarista. É há uma semana uma cidade que tem bolsonaristas e escravistas.

Três empresas do centro da região da uva, Aurora, Salton e Garibaldi, foram flagradas como contratantes de trabalho escravo de mais de 200 nordestinos, num sistema que o eufemismo chama hoje de análogo à escravidão.

Não são bodegas. São grandes grupos com fama fora do país, são grifes internacionais. Desfrutavam de um serviço sujo terceirizado gerido por gatos de fora da região.

Não há surpresa. O escravismo é coerente com as discriminações e os ódios propagados pelo bolsonarismo. Também o escravizado do século 21 é visto como um ser inferior, e mais ainda se for baiano.

Mas o bolsonarismo não poupa nem os seres superiores com os quais discorda. Em maio do ano passado, líderes de Bento Gonçalves mandaram dizer ao ministro Luiz Fux que não aparecesse por lá para uma palestra.

Fux deveria ir a Bento em junho a convite da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC). A reação de grandes empresários bolsonaristas acionou ataques ao ministro nas redes sociais.

A CIC tornou público que não seria seguro manter a palestra em sua sede, considerada desprotegida, e transferiu o evento para o prédio da OAB.

A mais poderosa entidade empresarial da cidade avisava ao presidente do Supremo que sua segurança estava em risco. Fux desistiu da viagem. O tema da conferência era Risco Brasil e segurança jurídica.

Foi desfeito o roteiro de um faroeste com desfecho previsível. Fux seria cercado, se conseguisse passar pelo pórtico da cidade, representado por um gigantesco barril de vinho. E assim o caso foi encerrado.

Ninguém mais fala do episódio, como ninguém quer saber o que resultou na polícia, no Ministério Público ou na Justiça do cerco de manés ao ministro Luis Roberto Barroso na famosa praia de Porto Belo, em Santa Catarina.

Barroso jantava com a família e amigos num restaurante, no dia 3 de novembro, quando uma turba cercou o prédio.

O grupo do ministro teve de abandonar o restaurante. Barroso se refugiou na casa onde estavam hospedados.

O local também foi cercado. Os agressores gritavam e ameaçavam. Às 4h da madrugada do dia 4, sob escolta policial, a família abandonou a casa e a região da enseada de Porto Belo.

O fim de semana na praia havia sido interrompido por bandidos em fúria. Não se sabe até hoje das medidas legais e formais contra quem ameaçou Fux em Bento Gonçalves e Barroso em Porto Belo, até porque as pautas foram abandonadas pela grande imprensa.

E a vida segue. As paróquias têm regras e sistemas institucionais próprios de proteção aos seus delinquentes furiosos e poderosos.

É como funcionava a Chicago dos gângsteres e como funcionam as regiões dominadas por milicianos. Fux não entrou em Bento e Barroso foi corrido de Porto Belo.

Um era o presidente do Supremo e o outro será o próximo a ocupar o comando da mais alta Corte do país, hoje com a ministra Rosa Weber.

Os personagens que afrontaram os ministros são de apenas dois dos muitos redutos interioranos tomados pelo bolsonarismo.

O Sul tem centenas dessas trincheiras, muitas transformadas em fortalezas impenetráveis durante a ocupação de quartéis por manés e patriotas.

Cidades gaúchas que agridem ‘esquerdopatas’ (e fazem listas de boicote a empresas e profissionais) têm as suas Gangues do Relho.

Pequenas e médias cidades foram dominadas por forças que não existiram nem na ditadura. Os agressores mais destemidos subiram na hierarquia do fascismo e se transformaram em terroristas, no 8 de janeiro em Brasília.

O bolsonarismo exacerba a índole de suas lideranças e das bases de manés e patriotas e acaba expondo Bento, Porto Belo, Itajaí, Sorocaba como bolsões incontroláveis.

Ao extremismo, soma-se agora, no caso de Bento, a chaga do escravismo. O bolsonarismo que avançou em todas as áreas, em quatro anos, deixa sequelas destruidoras.

No segundo turno do ano passado, Bolsonaro teve 75,8% dos votos em Bento e 74,29% em Porto Belo.

Em Itajaí, Santa Catarina, onde se formou um dos maiores acampamentos pelo golpe, Bolsonaro venceu com 72,96%.

Mais do que hegemonia, a extrema direita pretende ou pretendia ter controles absolutos. Grupos organizados, com forte base popular, se apropriaram das comunidades.

A escravidão é parte desse contexto. A elite branca, tomada pelo sentimento de superioridade política, econômica e moral, impõe as leis locais do bolsonarismo.

Vinha dando certo, mas não dá mais. A Bento Gonçalves dos vinhos e espumantes não sai das manchetes. Quantos escravistas estavam nos grupos de tios do zap que enxotaram Luiz Fux?

O poder de destruição da extrema direita implode as cidades, suas marcas e suas almas.

 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

GEOENGENHARIA NOS EUA

Da revista Science. Coisas como elevação dos níveis dos mares, aumento em número e intensidade de calamidades climáticas extremas como secas, inundações e furacões, e temperaturas super elevadas, vão ocorrendo e confirmando ou superando as previsões mais pessimistas dos cientistas do clima, 

Uma linha de propostas que sempre foi deixada de lado por trazer riscos que são muito difíceis de prever, a geoengenharia inclui também o "povoamento" de oceanos com algas produtoras de oxigênio.

Geoengenharia solar poderia esfriar o planeta? Os EUA decidem levar a sério a descoberta

14 Fev 20234:45 

Por Paul Voosen

 

Campanha busca entender partículas reflexivas na estratosfera, que poderiam reforçar  esquemas de resfriamento 

  jet plane in clouds

Instrumentos a bordo de um bombardeiro modificado contarão e analisarão partículas naturais em altitudes de 20 quilômetros. ROBERT MARKOWITZ/NASA-JSC

 

Qualquer trabalho sobre geoengenharia solar – a noção de tornar artificialmente a atmosfera mais reflexiva para resfriar um planeta superaquecido – é repleto de controvérsias. No ano passado, por exemplo, um empresário de tecnologia afirmou que lançou dois balões meteorológicos da Baixa Califórnia para a estratosfera, onde eles podem ter liberado um sopro de dióxido de enxofre que deu origem a uma pequena faixa de partículas reflexiva de sulfato. A façanha atraiu condenação generalizada. Mas, para os pesquisadores, isso levou a uma pergunta: se um ator fora das regras tivesse conduzido uma liberação maior, eles seriam capazes de detectá-la – ou saber com alguma certeza o que ela faria?

 

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) está se aventurando na luta para responder a essas perguntas, com uma tentativa de entender os tipos, quantidades e comportamento das partículas naturalmente presentes na estratosfera. Ao contrário da brincadeira no México, os balões e as aeronaves de alta altitude do programa não estão liberando partículas ou gases. Mas a campanha de campo em larga escala é a primeira que o governo dos EUA já realizou relacionada à geoengenharia solar. É uma pesquisa muito básica, diz Karen Rosenlof, cientista atmosférica do Laboratório de Ciências Químicas da NOAA. "Você tem que saber o que está lá primeiro antes de começar a mexer com isso."

 

A pesquisa em geoengenharia solar – também chamada de gerenciamento de radiação solar – tem sido um anátema para alguns cientistas e ativistas climáticos. Eles temem que isso possa distrair dos cortes de emissões, possa ter riscos imprevistos e que deixe de lidar com alguns impactos do aumento do dióxido de carbono, incluindo a acidificação dos oceanos. As agências federais em geral tem evitado o trabalho, mesmo depois que um relatório das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina (NASEM) em 2021 recomendou um programa de pesquisa de US $ 200 milhões.

 

Mas, em um movimento incomum, o Congresso ordenou diretamente que a NOAA desenvolvesse um programa em um projeto de lei de gastos de 2020. O apoio ao programa, inócuamente apelidado de Orçamento de Radiação da Terra, cresceu para quase US $ 10 milhões por ano. A SilverLining, uma organização que apoia a pesquisa de geoengenharia solar, fez lobby por isso e ganhou o apoio de legisladores-chave, diz Kelly Wanser, diretora executiva da SilverLining, que veio de uma carreira em tecnologia para a advocacia do clima. Ela diz que disse aos legisladores que os cortes de emissões não estavam acontecendo rápido o suficiente e que a geoengenharia solar poderia – ou não – ser necessária para reduzir os impactos nos próximos 40 anos. "O que é que precisamos saber para avaliar essas coisas de uma maneira muito rigorosa e honesta com nós mesmos?" Wanser pergunta. "Eu quero saber."

 

Um foco do programa NOAA são os sulfatos, as partículas reflexivas que seriam elevadas à estratosfera em muitas propostas de geoengenharia solar. As principais fontes naturais de dióxido de enxofre, um precursor dos sulfatos são os vulcões e as emissões industriais; sulfeto de carbonila, um gás emitido por micróbios nos oceanos, é outro. Acredita-se que as correntes ascendentes em tempestades severas nos trópicos bombeiem os gases para a estratosfera, mas incêndios florestais maciços estão emergindo como outro mecanismo importante para elevá-los.

 

Devido a uma inversão de temperatura na base da estratosfera, as partículas de sulfato permanecem lá por anos, o que incentiva os defensores da geoengenharia. Mas os pesquisadores precisam de uma imagem mais clara das partículas estratosféricas naturais antes que possam contemplar a suplementação artificial, diz Gregory Frost, químico atmosférico da NOAA que supervisiona o programa.

 

Em 2020, a NOAA começou a lançar regularmente balões meteorológicos equipados com sensores para coletar dados básicos sobre o tamanho e a concentração das partículas. O registro deve permitir que a NOAA detecte mudanças nas distribuições de partículas, o que poderia indicar uma nova fonte, como uma erupção – ou uma intervenção clandestina de geoengenharia, diz Frost.

 

As medições também podem ajudar os modeladores do clima a representar partículas estratosféricas de forma mais realista. "A única maneira de saber se nossos modelos estão fazendo a coisa certa é ter dados para avaliá-los", diz Simone Tilmes, modeladora do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR). No momento, a maioria dos modelos lida com partículas de maneira grosseira, categorizando-as em algumas faixas arbitrárias de tamanho. Com o financiamento da NOAA, a equipe da Tilmes agora atualizou o principal modelo climático do NCAR com 40 possíveis caixas para o tamanho do sulfato e, até agora, parece capturar de forma mais confiável eventos como a erupção rica em enxofre do Monte Pinatubo em 1991.

 

Agora, o projeto está lançando sua próxima fase, a maior campanha de aeronaves estratosféricas das últimas 2 décadas, "ou nunca", diz Frost. Um dos jatos de pesquisa WB-57 da NASA - um bombardeiro muito modificado da década de 1960 - foi equipado com 17 instrumentos, muitos dos quais nunca voaram para a estratosfera antes. Um pode medir os níveis de dióxido de enxofre até 2 partes por trilhão, e outro pode distinguir diferentes partículas por sua composição química.

 

Na próxima semana, começarão os voos saindo de Houston, Texas, para altitudes de até 20 quilômetros e, no final deste mês, a equipe planeja se mudar para Fairbanks, no Alasca, onde voarão até o final de março. Nessa época do ano, o ar que entrou na estratosfera meia década antes nos trópicos desce no Ártico. "Vamos entrar em ar estratosférico realmente antigo", diz Troy Thornberry, o químico atmosférico da NOAA que lidera os voos. Ao estudar o envelhecimento das partículas de sulfato, a equipe espera testemunhar as reações químicas que as separam e liberam enxofre no final de suas vidas. Eles querem estudar como esse enxofre interage com partículas orgânicas, como fuligem e poeira de meteoritos. Rosenlof diz que eles também estudarão como a fuligem absorve o calor do Sol, fazendo com que as parcelas de ar subam e prolongando a vida útil das partículas na estratosfera.

 

Voos adicionais estão planejados para a Costa Rica em 2024 e o Hemisfério Sul em 2025. Mas, enquanto isso, a equipe está aberta a missões de oportunidade. Se ocorrer uma erupção vulcânica maciça, eles montaram a carga útil perfeita para explorar seu impacto, diz Frost. "Esse seria um evento que gostaríamos de estudar, se possível." O mesmo vale para quaisquer incêndios florestais semelhantes em escala aos da Austrália em 2020.

 

Alguns pesquisadores querem que o governo dos EUA monte um programa maior de pesquisa em geoengenharia solar. Embora o programa da NOAA seja bem projetado, é uma pequena peça do quebra-cabeça, diz Chris Field, cientista climático da Universidade de Stanford e presidente do relatório NASEM. "É realmente importante encontrar uma maneira de fazer perguntas ousadas sobre onde algo inesperado poderia dar errado." Em março de 2022, o Congresso ordenou que o Escritório de Política Científica e Tecnológica da Casa Branca desenvolvesse tal plano, mas ele ainda não foi divulgado. "A pesquisa financiada pelo governo federal é uma ideia muito boa – e a única maneira pela qual esse trabalho idealmente deveria ser financiado", diz Sikina Jinnah, que estuda governança de geoengenharia na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.

 

Embora alguns cientistas do clima discordem que essa pesquisa deva avançar ou até mesmo tenham pedido a proibição, fechá-la seria um erro, diz James Hurrell, cientista climático da Universidade Estadual do Colorado que anteriormente liderou o NCAR. "Se pudéssemos ajudar a evitar os piores impactos [das mudanças climáticas] e ganhar mais tempo para o mundo reduzir as concentrações, não queremos saber disso?" E se for uma má ideia, acrescenta, "a melhor maneira de provar isso é através da pesquisa".

 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

ELEMENTOS DA VIOLÊNCIA DA COLÔMBIA

 

9 de fevereiro de 2023

Que hoje o governo de Petro busca consertar. Prestando bastante atenção, a Colômbia, com sua violência extrema, tem os mesmos elementos de destruição civilizacional que o Brasil, só com intensidade maior. “Elite” compradora subordinada, junto com as forças armadas, ao império dos EUA, milícias para todo lado...Não é só a Argentina que tem o efeito Orloff.com o Brasil.

Tribunal diz que Estado colombiano é responsável pelo “Extermínio” da União Patriótica... Nenhuma menção ao papel dos EUA

por W. T. Whitney

 

Fonte da imagem: SamuelHitFest – CC BY-SA 4.0

 

Rubí Andrea Forero, de 52 anos, conversou com a Prensa Latina sobre a recente decisão judicial no caso da União Patriótica contra o governo da Colômbia. Ele se sentiu aliviada. Ela lidou com o assassinato de seu pai em 27 de fevereiro de 1989 e sua consciência de "impunidade e crimes contínuos". Ela lembra "anseios silenciosos e frustração de sonhos pela guerra" e os "medos, ausências e frustrações" de familiares e amigos.

 

Teófilo Forero, pai de Rubí, foi presidente do sindicato, deputado na legislatura de Cundinamarca e vereador da cidade de Bogotá. Nacionalmente, foi líder da Federação Trabalhista do CTC e secretário de organização do Partido Comunista da Colômbia. Esse partido, explica o entrevistador, era a "coluna vertebral da União Patriótica". A UP data de 1985.

 

Em 30 de janeiro, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) anunciou sua tão esperada decisão sobre o caso UP. A Corte nomeou o Estado colombiano como responsável "por violações dos direitos humanos cometidas contra mais de 6.000 membros do partido político União Patriótica durante um período que começou em 1984 e durou mais de 20 anos".

 

(A Jurisdição Especial para a Paz, estabelecida no âmbito do Acordo de Paz de 2016 entre as FARC e o governo colombiano, indicou em 2022 que "5.733 pessoas foram assassinadas ou desapareceram em ataques dirigidos contra a UP".)

 

A decisão da Corte cita um "plano de extermínio sistemático (...) contando com a participação de agentes do Estado e a aquiescência das autoridades". Ele cita "desaparecimentos forçados, massacres, execuções extrajudiciais, assassinatos (...) [e] impunidade".

 

O acordo de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o governo da Colômbia em 1984 permitiu que insurgentes desmobilizados das FARC, ativistas do Partido Comunista e outros criassem a UP. A organização se comprometeu a "promover as transformações sociais, econômicas e políticas necessárias para a construção de uma paz com justiça social", de acordo com a Corporação Reiniciar, defensora da UP desde 1992.

 

Ao fim de 1985, a UP havia estabelecido "2.229 organizações de base" em mais de 200 municípios e distritos rurais. No início de 1986, 15 candidatos da UP foram eleitos para o Congresso da Colômbia, 18 para legislaturas departamentais e 335 para conselhos municipais; havia 23 prefeitos da UP. Nas eleições algumas semanas depois, o candidato da UP, Jaime Pardo Leal, provou ser o terceiro candidato presidencial mais popular. A UP era uma força política poderosa.

 

Então veio a catástrofe. Assassinos mataram "nove congressistas, 70 vereadores e dezenas de deputados, prefeitos e líderes de base", e também "líderes trabalhistas, estudantes, artistas, ativistas e simpatizantes" de todos os setores. Dois candidatos presidenciais seriam assassinados.

 

A Corte IDH ordenou reparações. O Estado deve prosseguir com as investigações de "graves violações dos direitos humanos e [dessa forma] determinar as responsabilidades penais". Além disso, as vítimas desaparecidas devem ser localizadas, as vítimas atendidas e a decisão do Tribunal divulgada. O Tribunal pediu a proteção dos ativistas da UP agora, uma campanha educacional nacional, uma recompensa por "danos materiais e imateriais" e um dia nacional de comemoração das vítimas da UP.

 

Em 1993, a Corporação Reiniciar liderou a submissão do caso UP à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Essa agência coletou evidências e colaborou com o governo colombiano para chegar a um acordo, mas sem sucesso. O caso foi transferido para a Corte IDH em 2017.

 

Não mais capaz de apresentar candidatos eleitorais, a UP em 2002 perdeu sua "personalidade jurídica" e o reconhecimento estatal de seu status como partido político. Reagindo à verificação de perseguição da CIDH, as autoridades eleitorais em 2013 restauraram o antigo status da UP.

 

A participação da UP nas eleições foi evidente recentemente no partido que se juntou à coalizão vitoriosa do Pacto Histórico do presidente Gustavo Petro. O ex-ativista da UP Germán Umaña atua como ministro do Comércio no governo Petro. Ele havia abandonado a vida política após o assassinato, em 1998, de seu irmão Eduardo Umaña, professor de direito e defensor dos direitos humanos.

 

O renascimento da UP e seu distanciamento de um passado violento acompanham a tentativa de virada da Colômbia para a paz. A esse respeito, o governo anunciou em 1º de janeiro um cessar-fogo entre os grupos combatentes; entre eles o Exército da Colômbia, guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional, dois grupos de paramilitares narcotraficantes e duas insurgências dissidentes anteriormente parte das extintas FARC.

 

No entanto, a história da UP é sobre a intervenção militar dos EUA, tanto como a paz na Colômbia.

 

O jornalista Nelson Lombana Silva vê a decisão da Corte IDH como " se aplicando não apenas ao Estado colombiano, mas também à oligarquia liberal-conservadora e criminosa da Colômbia que decidiu remover esse movimento político", e o fez "com a participação dos EUA".

 

O historiador Ivan David Ortiz, investigando o fracasso do acordo de paz de 1984, observa a explicação das FARC na época, de que "setores políticos e econômicos hegemônicos continuaram as políticas bélicas dos Estados Unidos". Ele cita a afirmação das FARC de que "a ofensiva anti-paz na Colômbia veio do Pentágono". (1)

 

Um relatório da Anistia Internacional de 2005 cobre o mesmo fundamento:

 

Os esforços do governo do presidente Belisario Betancur (1982-1986) para iniciar negociações de paz com grupos guerrilheiros em meados da década de 1980 aumentaram a preocupação de que qualquer acordo de paz teria implicado reformas agrária e outras socioeconômicas. Essa dinâmica fortaleceu a aliança entre as elites econômicas tradicionais e as forças armadas e estimulou o desenvolvimento de estruturas paramilitares sob a coordenação das forças armadas.

 

Informações acessórias apontam para o envolvimento dos EUA dentro desse contexto. Os paramilitares têm a maior parte da responsabilidade direta por massacrar a União Patriótica. Os paramilitares coordenam suas operações com os militares da Colômbia, que têm um papel de supervisão, conforme documentado aqui e aqui. O ímpeto para o fenômeno paramilitar derivou de recomendações de uma equipe de consultoria de "Guerra Especial" dos EUA em 1962.

 

Em segundo lugar, os militares da Colômbia, o parceiro sênior dos paramilitares, prosperam em parte devido ao generoso apoio e financiamento do governo dos EUA. O fluxo de bilhões de dólares para as forças armadas da Colômbia é notável. Começou em 2000 sob o Plano Columbia dos EUA e continuou por mais de dez anos. A guerra às drogas, a justificativa usual para a parceria dos EUA com os militares da Colômbia, tem sido usada como uma cobertura para a guerra contra guerrilheiros de esquerda e contra grupos políticos e movimentos sociais de esquerda.

 

Em última análise, ao que parece, houve um grande elemento de guerra por procuração dos EUA na supressão mortal da UP. Os aspirantes a mestres dos assuntos globais dos EUA há muito manifestam prontidão instantânea para apagar os levantes populares vistos como ameaçadores para seus modos acostumados. Visto assim, os perpetradores da violência anti-UP foram parentes de agressores da Baía dos Porcos em Cuba, guerreiros Contra na Nicarágua e militares da Ucrânia lutando contra os russos agora.

 

Nota

 

(1) Iván David Ortiz Palacios, "El Genocidio Político contra la Unión Patriótica", (Universidad Nacional de Colombia, Bogotá, 2007), p. 17

 

W.T. Whitney Jr. é um pediatra aposentado e jornalista político que vive no Maine.