domingo, 30 de junho de 2013

SOCIEDADE DIVIDIDA II, OU O RINOCERONTE

A ala conservadora ou direitista, atualmente majoritária, da classe média, informa-se com os empregados dos senhores Civita, Marinho, Frias, Mesquita, e adotam como suas as opiniões publicadas desses senhores. Estes por sua vez recebem dinheiro, um tanto menos de seus leitores e telespectadores e sempre mais de obscuros empresários e governos estrangeiros.

Os “jovens idealistas” patrulham as ruas junto a seus associados os vândalos pagos ou não, mais as duas alas de ladrões puros, os que saqueiam lojas depredadas e os que assaltam os próprios jovens idealistas, sob os aplausos deles mesmos. São saco vazio, massa de manobra.

“Desculpem o transtorno, estamos mudando o Brasil”. Mas o que estão fazendo, além de abraçar causas não debatidas na sociedade como no caso da derrubada da PEC 37, de que eles desconhecem o teor e os argumentos pró e contra, e só conhecem os slogans divulgados por seus mentores de facebook e twitter? O que têm dizer sobre a proposta de plebiscito para reforma do sistema político? É uma proposta concreta para diminuir drasticamente a corrupção, mas eles não se deixam levar pela realidade, preferem exercer o combate genérico à corrupção, a qual como eles sabem, foi introduzida no Brasil pelo PT.

Agora querem demitir todo o congresso nacional (já que ainda não dá para demitir apenas os deputados e senadores que não são de direita), que foi eleito em grande parte conscientemente por eles, outra grande parte com muito dinheiro recebido do capitalismo financeiro. Este, que é fonte de toda a corrupção, e que é composto de empresas dirigidas por pessoas concretas não existe nos cartazes dos “bem intencionados” da classe média de direita.

Esses grupos estão a convocar uma greve geral para segunda-feira 1º de julho, inédita no fato de não ter nem mesmo consultado os sindicatos de trabalhadores. Como se sabe, são os trabalhadores que fazem greve, e eles estão organizados em sindicatos e em centrais sindicais, que não foram consultados. Ó emissores de facebooks e twitters, vocês estão destituindo os sindicatos?

O que quer essa gente, os que estão atrás dessa massa de manobra, que evoluamos para uma nova Líbia, uma nova Síria, só porque o Brasil não se submete a todos os ditames do poder financeiro e do império estadunidense? Muito do que está acontecendo hoje é parecido com o que ocorreu em 1964. Quem lutou contra a ditadura, e quem não deseja uma nova hoje, tem que se posicionar e agir.


O que é O Rinoceronte? Trata-se de peça teatral do dramaturgo francês-romeno Eugène Ionesco, lançada em meados do século passado, e que foi levada aos palcos brasileiros pela primeira vez no começo da década de 60.  Fala de uma epidemia de rinocerite em uma aldeia. Recomendo.

sábado, 29 de junho de 2013

PARA LÁ DA CRISE ATUAL

Acabo de ler um livro fundamental para entender pelo menos em parte as forças políticas que hoje se enfrentam. Trata-se de Os Sentidos do Lulismo, de André Singer. Importante nas opiniões e nas discussões para quem deseja um Brasil suficientemente justo e devidamente grande, independente do que o "mercado" queira decidir e mesmo para conservadores políticos, desde que eles possam superar o ranço udenista que permeia seu discurso falso e hipócrita contra a "corrupção"..

Sobre a dinâmica atual, veja o post abaixo do blog Viomundo, com as críticas que, estas sim, têm sentido político real.


Gustavo Gindre: Dilma e o esgotamento do lulismo

publicado em 28 de junho de 2013 às 13:26
DILMA E O ESGOTAMENTO DO LULISMO
por Gustavo Gindre, via Facebook
O PT onde eu militei era um partido vivo, organizado através de núcleos locais ou temáticos, com diversas tendências internas expressando diferentes abordagens ao socialismo. Tinha uma revista pungente, uma editora combativa e até escola de formação política.
O PT que começou a nascer com a derrota de 1994 e se consolidou com a vitória de 2002 não tem mais nada disso. Suas tendências internas, por exemplo, viraram um amontoado de mandatos de parlamentares, disputando espaço interno com vistas às próximas eleições.
O PT foi colocado em segundo plano em detrimento do lulismo.
Segundo o professor Andre Singer, o lulismo é um grande pacto de classes, que combina a manutenção da política econômica do governo FHC com fortes políticas distributivistas. E só foi possível em parte pelo carisma de Lula, em parte pela extensa aliança política com setores da direita e, claro, pela garantia de que os problemas estruturais da sociedade brasileira não seriam tocados.
O lulismo (um tipo de bonapartismo que prescinde de partidos políticos fortes e movimentos sociais organizados) está baseado na crença de que seria possível estabelecer um ganha-ganha, onde a base da pirâmide ganha com o distributivismo e o topo se aquieta por saber que a pirâmide será mantida.
De outro lado, o lulismo só foi possível num cenário de expansão econômica, fortemente ajudado pela política industrial que nos tornou fornecedores de matéria-prima para a indústria chinesa.
Pois, parece que este modelo é justamente o que está falindo agora.
Primeiro, porque a política distributivista parece ter liberados forças no interior da sociedade que o pacto lulista não é mais capaz de conter. Quem ascendeu pelos méritos da política distributivista agora quer outros direitos que o pacto de classes não pode mais lhe oferecer.
Segundo, porque a expansão econômica baseada na reprimarização de nossa base produtiva vai chegando ao fim. Isso significa que os setores médios começam a demonstrar receio de perder renda. E por isso começam a bradar por serviços públicos de qualidade, pelos quais até agora estavam acostumadas a pagar, como educação, saúde e transporte.
Terceiro, porque a mídia (embora fortemente agraciada pelo lulismo) jamais lhe deu trégua e, ao contrário de outros governos, expôs as entranhas de sua aliança política com setores fisiológicos da direita. Embora a corrupção não tenha aumentado nos anos do lulismo, a percepção social dela ficou muito maior.
Por fim, embora a história não se resuma a indivíduos, é inevitável perceber que Dilma é a coveira do lulismo. A presidenta, isso já sabíamos, não tem nenhum carisma (um elemento central do lulismo). Descobrimos agora que ela também não tem nenhuma capacidade de negociar (outro elemento central do lulismo). Nem mesmo sua suposta capacidade gerencial é real.
Sem o velho PT para lhe dar sustentação ideológica e organizativa, Dilma se vê paralisada diante da crise. Seus cinco pontos são uma forma de protelar em um cenário com o qual ela não consegue lidar. Incapaz de manter o pacto lulista, incapaz de forjar um novo pacto à esquerda, incapaz de dialogar, seu autoritarismo se mostra inútil.
Em breve veremos que tipo de resposta o lulismo dará para a crise e se é capaz de sobreviver a ela.

E este, que saiu no Conversa Afiada:





O Conversa Afiada publica impecável artigo de Marcos Coimbra na Carta:

O SENTIDO DAS MANIFESTAÇÕES

Enquanto perdem fôlego e amainam as manifestações de protesto que afetaram o País nas últimas semanas, está na hora de procurar entender seu significado. 
Uma das maiores dificuldades para compreendê-las é que não tiveram sentido único. Salvo, talvez, nos primórdios, quando usuários de transportes públicos foram às ruas em São Paulo para reclamar do aumento no preço das passagens. Lá, ainda tínhamos o cenário que explica as mobilizações sociais mais características: causa concreta, pessoas afetadas concretamente, reivindicações concretas. 
Muito se diz que as manifestações seguintes foram novas. Diferentes, por exemplo, das que a direita fez pela deposição de João Goulart ou das que empurraram o governo Collor para a crise final.
Mas, será que a “horizontalidade” e a “difusão” das atuais as tornam mesmo originais? 
Não terá existido, nas manifestações deste mês de junho, um segmento que desempenhou papel definidor análogo ao dos anticomunistas e dos conservadores católicos nas marchas de 1964? Dentre os muitos tipos de gente que foi às ruas, não houve um que forneceu personalidade ao “movimento”?   
Para identificar o sentido das que aconteceram agora, temos o perfil mais típico dos participantes, suas bandeiras mais características e as reações mais comuns que suscitaram. 
Nada ilustra melhor a mudança do perfil socioeconômico dos manifestantes que a imagem veiculada pela TV Globo nos primeiros jogos do Brasil na Copa das Confederações: madames vestidas a caráter e cheias de balangandãs, brandindo cartazes sobre o “fim da corrupção” e fazendo propaganda de um endereço no Twitter. Os jovens que, no YouTube, se tornaram astros dos “insatisfeitos”, parecem seus filhos ou irmãos. 
No conteúdo, o elemento central da “ideologia das ruas” foi a crítica à representação política e às instituições, particularmente os partidos políticos. Os manifestantes gritaram País afora que não se sentiam representados por ninguém, que estavam na rua para denunciar os “políticos” e “fazer política com as próprias mãos”. As vagas perorações em favor de “mais verbas para a educação e a saúde” ou contra os “gastos exagerados na Copa do Mundo” nada mais foram que pretextos para externar sua aversão ao sistema político e ao governo.     
Quem monitorou as redes sociais durante esses dias percebeu que os defensores mais entusiastas das passeatas foram os antipetistas radicais. Esses é que se sentiram em íntima comunhão com os participantes e torceram para que as manifestações escalassem, enfraquecendo o governo e prejudicando as chances de reeleição da presidenta. 
Para dizer o óbvio, quem deu o sentido das manifestações foi a classe média antipetista, predominantemente de direita. Nem sempre, nem todos os participantes, mas em seu núcleo característico. 
Ou seja: embora tenham participado do movimento desde punks neonazistas a adolescentes apenas curiosos (e mesmo gente genuinamente progressista), seu rosto é nítido.   
A classe média antipetista tem motivos reais para estar insatisfeita com a representação que tem. Ao contrário do cidadão que simpatiza com o PT e outros partidos de esquerda, e que majoritariamente aprova o governo, ela se sente mal representada.   
Faz tempo que Fernando Henrique Cardoso lhe dá razão. Em texto de 2011, em que tentava explicar a vitória de Dilma e definia novos caminhos para a oposição, propunha ao PSDB que deixasse o “povão” para o PT e fosse procurar a classe média: “É a essa que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente”. Dizia que  o partido precisava “mergulhar na vida cotidiana” e encontrar “ligações orgânicas com grupos que expressem as dificuldades e anseios do homem comum” (leia-se, de classe média). 
Lembrava que havia “toda uma gama de classes médias”, empresários jovens, profissionais, “novas classes possuidoras”, que estariam “ausentes do jogo político-partidário, mas não desconectadas das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc.”. Considerando seu “pragmatismo”, o discurso para atraí-las não deveria ser “institucional”, mas centrado em temas como a corrupção, o trânsito, os problemas urbanos, os serviços públicos. 
FHC queria uma oposição que “suscitasse o interesse” da classe média e lhe “oferecesse alternativas”. Se não conseguisse ser “uma alternativa viável de poder, um caminho preparado por lideranças nas quais confie”, sequer adiantaria “se a fagulha da insatisfação produzisse um curto-circuito”. 
Falou, mas não fez. Nessa, como em outras oportunidades, as oposições brasileiras mostraram-se mais competentes na conversa que na ação. Perceberam os desafios, mas não lhes deram resposta.
Foram de Serra, quando precisavam renovar-se. Apresentam Aécio como prosseguidor da “herança de FHC”. Nada fizeram para “organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas”, como sugeria o ex-presidente.  
Presas de seus paradoxos, as oposições criaram a crise de representação dos setores da sociedade a quem pretendiam (e deveriam) expressar. Talvez principalmente, foi a impaciência das classes médias antipetistas com a oposição que as levou às ruas.
Depois, é claro, de um ano de ataque da mídia conservadora ao governo. Seus estrategistas acharam que conseguiriam, através de incursões cirúrgicas, eliminar somente as lideranças do PT. O que fizeram foi ferir valores fundamentais da democracia.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

ALGUNS IMEIUS DE MEU AMIGO GATO

1.Sobre a contratação de médicos estrangeiros pelo SUS, e a reação corporativa dos médicos

Agora um depoimento da Carminha Cabral Carpintero, também no grupo do CEBES Campinas, a partir do depoimento que diz que a Dilma teria cuspido na cara de 370000 médicos brasileiros. E em seguida, da Vera Salerno, a propósito do mesmo debate.
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Caríssimos (as) colegas

Senti-me instigada a entrar nesse debate e acho que precisamos nos posicionar sem acharmos que existe apenas uma verdade ou um único lado da situação Inicialmente devo dizer que não me senti sendo cuspida pela presidenta Dilma e também que concordo totalmente com Heleno e Giovanni (com uma ressalva referente ao Revalida)
Inicialmente, se o fato dela chamar-se presidenta já a faz "não merecedora " de atenção e respeito já me causa estranheza e não consigo entender esse argumento Ela é a presidenta ou presidente como querem alguns, legitimamente eleita e o fato de não ter votado nela (eu votei!) não a desmerece ou tira sua legitimidade
Segundo, solidarizo-me com todos (as) colegas que trabalham em condições descritas por Juliana mas mesmo me indignando e fazendo minha parte para que isso mude, posso afirmar que essa não é a realidade de TODOS os serviços do SUS no Brasil
Quero contar algumas situações que eu como gestora, médica sanitarista, senti-me cuspida pelos meus colegas:
Algumas vezes ouvi, você é médica sanitarista? então não é médica (pequena cuspida)
Em uma cidade do estado de São Paulo, a apenas 60 km da capital, sem história de violência nas UBS, com condições decentes de trabalho, cheguei para ser secretária e chamei uma reunião para conversar com TODOS os trabalhadores da rede Eram cerca de 50 médicos trabalhando e nessa reunião sabe quantos compareceram? em horário de trabalho, para receber a secretária que estava abrindo o diálogo? UM único médico, a explicação: ela chamou os trabalhadores, não entendemos que era para os médicos também......Pouco depois, ao cobrar que atendessem durante o período que foram contratados, 20 desses colegas entraram na justiça contra mim e o prefeito alegando "direito adquirido" de não cumprir a carga horária O salário ainda era ruim mas nenhum deles me procurou para conversar e a conversa foi só após estarem na justiça contra essa "louca" que queria que eles trabalhassem as horas contratadas Se não fosse uma juíza de bom senso e que defende o serviço público que deu a seguinte sentença: "Se for verdade o que alegam, o prefeito anterior será julgado por improbidade administrativa e vocês terão que devolver o dinheiro pago indevidamente" o município continuaria pagando para que os colegas médicos chegassem, atendessem em meia hora e fossem para seu outro emprego ou consultório Com essa "cuspida" comecei a tentar conversar e melhorar o salário dos médicos e a construir um SUS nessa cidade
Ainda lá realizei 7 (sete) entre concursos e processos seletivos para contratar médicos para um Pronto Atendimento. Salário já de mercado, boas condições de trabalho mas o plantão era alguns reais a menos que as cidades vizinhas ( e essa cidade é a menor arrecadação da região)
Em outro município muito agradável, com boas condições de trabalho, equipes respeitadas e salário que havia se defasado ouvi, após vários concursos que realizamos e que não preenchiam as vagas: "Em determinada cidade vizinha não é preciso cumprir a carga horária, aqui sim e portanto você não vai conseguir preencher as vagas" Isso por que o salário estava defasado mas era pelo menos 2 vezes o das enfermeiras (os) por igual carga horária e quase 10 vezes o de um profissional de nível médio
Ao chamar os colegas para discutirmos alguma saída para a situação, ouvia: "Isso é problema seu, da gestão, não nosso..."
Nessa mesma cidade, tentamos que um cirurgião que atendia na Sta. Casa local, fizesse UMA cirurgia bariátrica a cada 15 ou 30 dias (antes de mim a outra secretária já havia tentado sem sucesso) Ele se recusava pois o SUS paga mal mas seus pacientes particulares ele operava nesse mesmo hospital Pouco tempo depois, esse colega atende em seu consultório, uma paciente obesa e a convence entrar na justiça par que pagássemos "particular" essa cirurgia E tivemos que fazê-lo, a cirurgia custou a cidade o referente a UM mês de medicamentos Outro convenceu a paciente a entrar na justiça para que comprássemos o medicamento que ele vendia no seu consultório "o tratamento do SUS está defasado"
Nessa mesma cidade, fui várias vezes criticada pois me posicionava fortemente contra subsídios dado pela prefeitura para que seus trabalhadores tivessem plano de saúde, esse foi motivo até de argumentos que diziam que eu não defendia os trabalhadores e só a população e aí me pergunto: é justo pagar plano de saúde com dinheiro da população para uma pequena parcela dela?
Quantos desses 370000 médicos tem planos de saúde? ( eu não tenho mas sei que esse é outro debate) mas também não seria uma pequena cuspida não acreditar nem na UBS que eu trabalho para mim e minha família? Por que questionamos tanto se a presidenta não se trata no SUS?
Quantas vezes convidei meus colegas para participarem do Conselho Municipal, Conselho Local, Conferencia de Saúde (espaços de participação, de construção coletiva, de ouvir o usuário) e o que me respondiam? "Quanto ganho para estar nesses lugares? ou Não ganho pra isso"
Ouvir de muitos que o problema do SUS é só falta de gestão, que os gestores da saúde são corruptos, também me sinto cuspida pois já fui secretária de saúde em 3 municípios, grande, médio e pequeno e nunca vivenciei qualquer tipo de corrupção, em todos trabalhava 10 a 12 horas por dia e posso afirmar com tranquilidade que em nenhum deles trabalhei com nenhum corrupto e posso apontar muitos gestores honestos em vários municípios do nosso Brasil
Bem, teria muitas histórias de cuspidas mas também e felizmente tenho várias histórias de médicos e médicas que escolheram a Saúde Pública por opção e sabem do que estou falando.
Quero apenas reafirmar: Buscar algum caminho para resolver a falta de médicos em vários lugares do Brasil não pode ser entendido como agressão Em nenhum momento eu ouvi por parte da presidenta, que essa seria a única solução ou que resolveria todos os problemas do SUS Sabemos que são várias as iniciativas necessárias, algumas já estão sendo tomadas, outras passam por muitos outros interesses. Abrir a possibilidade de trazermos médicos de outros países eu acredito que possa ajudar e se vierem, quero poder contribuir para que eles conheçam e nos ajudem a construir um sistema de saúde justo, universal e solidário
Grande abraço
 
Carminha

 E para Vera Salerno:

Caríssimo Heleno, escrevo para expressar toda a minha concordância com o seu ponto de vista, que explica, mais do que eu mesma conseguiria escrever, a forma (torta) como nossa categoria tem se comportado. Os médicos não têm defendido o SUS, têm defendido (somente) os médicos!

Vera



2. Sobre o que custa a corrupção

 
Eu vou postar isso aqui de novo para lembrar para muita gente que se você acha o PT corrupto, devia ter memória e ver que a corrupção está em todo canto. Até das coisas que você não vê na TV. Preste bem atenção nos valores dos escândalos e se pergunte quantos desses foram julgados até hoje.





3.  Sobre o combate genérico à corrupção dos "manifestantes"

E aí? Cadê a coragem da direita fascista em resolver as pendências abaixo? Vamos nessa? Sem medo e sem dó? Sem demagogia e oportunismos? Vamos apoiar e exigir?
 
 
Para acabar com a impunidade e passar o Brasil a limpo, como exige minha jovem aluna @[100000855885250:2048:Francine Oliveira Vieira]:

SOCIEDADE DIVIDIDA

Temos constatado, nós da ala minoritária da classe média que não apoia o capital (pelo menos não o seu domínio absoluto) e apoia a redução da pobreza (razoável) e a redução da desigualdade (pequena, mas notável) que vem ocorrendo no Brasil sob os governos Lula e Dilma, que nossa relação com a outra ala, a majoritária, está-se tornando um diálogo de surdos.

A coisa fica dolorosa quando essa divisão aflora nas relações dentro das famílias, de relações de amizade e até as de simples simpatia. Meu primo falou disso em e-mail, eu tenho sentido em diferentes graus com diferentes pessoas. 

Poderia haver discussões abertas, como as que ocorrem por vezes em círculos acadêmicos ou em contendas de futebol que não incluam fanáticos. Essas discussões enriqueceriam as duas partes, poderiam ser difíceis mas não trariam maiores consequências para o cimento social entre as pessoas. Não é o que vem ocorrendo quando discutimos através da brecha que parece cada vez aumentar separando os dois lados da divisão sobre as manifestações e o apoio das pessoas a elas.

 Para ilustrar o caráter dessa brecha, aqui vão dois links: do Conversa Afiada, e do blog Opera Mundi. Deixei claro em que ala da classe média me situo?

quinta-feira, 27 de junho de 2013

A JUVENTUDE PIIGUISTA

Agora que o pessoal do movimento passe livre, que tinha iniciado tudo, encerrou enquanto as passeatas continuam, com caráter diferente do visado pelos seus idealizadores iniciais, precisamos saber quem são as pessoas que procuram prolongar a ocupação das ruas das cidades brasileiras. Não pretendo ter informações exclusivas. Nem cheguei a ir às ruas, embora tenha simpatizado com a causa do passe livre e com a ideia de sacudir as instituições, demasiadamente presas a amarras colocadas por grupos de interesses para dar espaço uma agenda verdadeiramente progressista.

Mas não tinha só isso, tinha e tem outras coisas com os manifestantes que participaram desde o início, nas mesmas ruas às quais o MPL e pessoas ligadas aos partidos de esquerda e centro-esquerda acudiram. Uma pulga instalou-se atrás da orelha logo ao conversar com conhecidos meus conservadores, que mostravam uma empatia que eles nunca mostrariam em relação a manifestações de rua (salvo, talvez, na marcha da família com deus pela liberdade, mas isso foi há bastante tempo).

Depois começaram a aparecer cartazes falando de mensalão, contra Lula, contra Dilma, contra parlamentares em geral, contra “partidos”. Uma das mais cotadas foi a campanha contra a PEC 37, em que os manifestantes apenas dizem que favorece a corrupção, nem sabem do que se trata, veja, por exemplo, esta entrevista do Ives Gandra Martins.  A polícia de alguns estados, como São Paulo, entrou com brutalidade total, assim como o outro grupo entre os principais participantes das manifestações, a falange dos vândalos e assaltantes. Muita gente foi assaltada, eu soube diretamente de duas. Depois as polícias receberam ordens de agir dentro da lei, mas os vândalos e assaltantes, não. A grande mídia tratou de incensar as manifestações, com ressalva de uma “pequena minoria” de vândalos e baderneiros. Ficou faltando mencionar manifestantes que agrediram outros manifestantes. A ascensão dos fascismos europeus passou pelo estabelecimento do monopólio das ruas para eles.

Quando as autoridades finalmente decidiram agir e voltar atrás com os aumentos de ônibus e metrô, a coisa supreendentemente (para mim e para muita gente) recrudesceu. Surgiram demandas de todo tipo, a maioria delas com uma componente de direita muito importante. Interessante destacar que a reivindicação inicial – que tratava o transporte urbano como serviço público é tipicamente de esquerda, a direita pegou carona e tratou de expulsar os grupos de esquerda que portassem bandeiras. Ataques diretos ao PT (veja um post anterior, com vídeo), enquanto a polícia de Alckmin era poupada, essa que tem se mostrado incapaz de deter a deterioração da segurança pública. Assim como era poupada a máfia das empresas de ônibus. Como o poder financeiro que domina o estado e as instituições. A partir dessas omissões vê-se que esse pessoal tem sim “partido”.

Manifestantes continuam a atacar as instituições do estado. Parece que, não tendo tido muito progresso a proposta de impeachment de Dilma, o alvo orquestrado é o congresso, “vergonha nacional”, que deveria ser atacado com “bombas de efeito moral”. Por ora não explicitam o que têm em mente, provavelmente não sabem, mas seus inspiradores da imprensa e da internet certamente sabem o que querem. Nada menos que um novo golpe militar, e uma nova ditadura, de direita é claro.

Inspirado no nome dado à imprensa e à mídia que praticamente monopolizam o noticiário e a emissão de juízos sobre a realidade política (e sobre as diversas formas de dominação social pelo capital), distorcendo, omitindo e mentindo, PIG (obrigado, Paulo Henrique Amorim), proponho um incremento na sigla, um “upgrade”, para PIIG, partido da imprensa e internet golpista, para agregar um agente atualmente primordial, o conjunto dos condutores da guerra suja pela internet. Pela internet circulam os trols, que entopem as seções de comentários dos blogs e sites de notícias um pouco mais à esquerda com insultos e ameaças, os remetentes de e-mails não solicitados com invenções caluniosas sobre políticos, as páginas do facebook de inspiração direitista ou diretamente fascista. 

Esta juventude confiante, que livre dos partidos organiza suas ações de rua horizontalmente, mas segue palavras de ordem geradas e orquestradas “em algumas partes”, poderia passar a ostentar o nome de Juventude Piiguista, lembrando as gloriosas juventude hitlerista da Alemanha Nazista e juventude comunista da União Soviética estalinista.


Ainda sobre este assunto, para quem tiver disponibilidade para uma discussão mais estruturada de vários pontos aqui levantados e mais outros, recomendo enfaticamente este artigo de Aton Fon Filho, publicado no Viomundo. 

terça-feira, 25 de junho de 2013

A CATARSE DA CLASSE MÉDIA,


 da Revista Forum
Curiosamente os consumidores do Facebook encontraram um novo lugar para manter a mesma contradição de ser nada e ser alguém: a velha rua
Por Guilherme Leite Cunha
O povo foi para as ruas? Ele acordou? Isso irá mudar o cenário político atual? Para detalhar e mesmo contrapor alguns argumentos de textos de professores como Henrique Carneiro e Vladimir Safatle e outros teóricos, creio ser necessário nos valermos do instrumental marxista de análise da realidade, para compreender a onda relâmpago de protestos de junho de 2013.
Com os poucos dados científicos que temos e pela observação empírica, já está claro que o “povo” que protagonizou as manifestações pelo país foi o que se costuma chamar de “classe média”, pontuados por participações de outras mais elitistas e outras mais subalternas. Ao que parece, nem mesmo a “nova classe média” ou “classe  C”  – que possui renda familiar per capita entre R$ 300 a R$ 1000, e tem baixa escolaridade – engrossou as marchas ruidosas.
Podemos depreender isso da única análise parcial de perfil feita pelo Datafolha (FSP, dia 21/6/13) no protesto do dia 20/6/13 em São Paulo. Lá verificou-se que “78% dos manifestantes da Av. Paulista têm Ensino Superior, 20% Médio e 2% Fundamental”. Se considerarmos que no último censo do IBGE de 2010 a fatia da população com nível superior era de 7,9% podemos concluir que o protesto de São Paulo era elitizado e não representou a “massa” pobre e trabalhadora do país.
Embora com menos rigor científico, podemos concluir também que esse perfil foi o padrão em outros cantos do país, a partir da observação empírica. Todas as manifestações possuíam as mesmas características: eram movidas por espontaneísmo, tinham ausência de líderes, multiplicidade de pautas, pautas genéricas, cartazes individuais, e de maioria branca.
Tudo leva a crer que o “gigante que acordou” foi então uma fatia da classe média. Apenas uma fatia, pois como mostra a pesquisa Ibope publicada pela Revista Época (de 21/6/13): 6% da população afirmou ter ido a manifestações. Nesse sentido, podemos concluir que foi uma parte da classe média brasileira que se levantou. Apesar disso, foi o suficiente (principalmente para mídia conservadora e de oposição) para “impressionar”, ter aparência de totalidade, de “unanimidade”, frente a ausência de protestos dessa ordem em nossa história recente. (Contudo em nossos dias, com o tamanho da população do país, os protestos de massa precisam ser redimensionados para representarem uma totalidade. Se chegamos a 1,2 milhões de pessoas na última quinta, seriam necessários pelo menos 10 vezes mais para ser constituído por outras classes sociais proporcionalmente, pois estamos falando de um país continental.)
O despertar, entretanto, se justifica, para essa fatia social, pois de fato não há registros de tamanha manifestação pública desde a passeata por deus, pela família e pela propriedade da década de 60.
Mas por que uma parte da classe média foi para as ruas? Se considerarmos em termos materiais, nos últimos 10 anos, sua qualidade de vida e renda aumentaram, como mostra o PNAD do IBGE de 2010. Ou mesmo em pesquisas da FGV. E como também fica claro na pesquisa Ibope publicada pela Revista Época (de 21/6/13) que mostra que, mesmo entre as pessoas que apoiam os protestos, 69% está satisfeita com sua vida atual e 39% tem expectativas positivas de futuro. Por que, então, protestar?
A interpretação conservadora e de oposição justifica como sendo uma resposta (e tenta pautar as manifestações) à corrupção disseminada no país e aos desmandos da era petista. Seria o “basta”, a “chegada a um limite”, o fim da paciência com governo corrupto e incompetente. A corrente mais progressista, em geral, encontra problemas na crise da democracia representativa.
Ousamos propor uma nova análise.
É preciso levar em conta que não foi o “povo”, como uma totalidade em seus mais variados espectros sociais, que foi para as ruas. Mas uma fatia da classe média.
E quem é esse sujeito jovem de classe média que estreou nas ruas? Aparenta ser um sujeito forjado pelas novas estratégias de consumo do capitalismo contemporâneo.
Nesse sentido, ele vem há cerca de 20 anos sendo levado e formado no ambiente veloz, fluído e mutável do capitalismo financeiro. Ele vem se constituindo pela individualização extrema do consumo e no rompimento total com laços sociais mais perenes. Ele é hiperindividualista. Já há análises exaustivas (como as de Lipovetsky) sobre o novo ser do capitalismo contemporâneo. Podemos dizer, contudo, que este foi o primeiro protesto, a primeira aparição pública dos filhos do atual capitalismo, iniciado pelo neoliberalismo.
Este ser foi criado sob os produtos da indústria contemporânea: a internet e as redes sociais. O Capitalismo que ao mesmo tempo em que o anulava completamente em sua subjetividade, lhe prometeu um retorno através do Facebook. Ao mesmo tempo em que esmagou-lhe no anonimato e na nulidade do mundo do trabalho, lhe acenou, pela esperança midiática, de um reconhecimento público.
(Mídia Ninja)
São milhões de pessoas que vivem a total insignificância diária, mas almejam o reconhecimento através de frases de efeito, “memes” criativos e posts de impacto. Através da ilusão de importância e notoriedade que os produtos “redes-sociais” vendem a seus consumidores, estes mesmos produtos vão construindo uma realidade hiper-fragmentada, individualista e egocêntrica, facilitada, por sua vez, por toda uma gama de “gadgetes” também hiperindividualizados. Criam a ilusão, por sua vez, da possibilidade de construção de um novo e contraditório tecido social hiperindividualizado. Contudo, as pessoas tendem a não acreditar em mais ninguém que não sejam elas próprias.
Portanto não é este ou aquele governo que não dá voz ou responde aos anseios da população, mas o próprio Capital. Que trabalha na contradição entre massificar e individualizar o consumo ao paroxismo e obriga o sujeito a se resolver entre a insignificância absoluta e os desejos de notoriedade, ou seja, de ser alguém, em última instância de dar sentido a sua vida.
Somente a partir da compreensão sobre a mutação e o surgimento desse novo ser social é que podemos começar a entender a frustração e o descrédito com a política e a democracia.
Não se sustentam os discursos de que a “nossa” corrupção, os “nossos” governantes e a “nossa”classe política desmoralizou nossa democracia. Em verdade, e estatisticamente, não há diferença significativa entre o descrédito dos brasileiros e de populações de outros países europeus ou norte-americanos para com suas democracias.
Em nosso caso, entretanto, podemos considerar duas outras circunstâncias determinantes:
1) Há uma década, praticamente todos os tradicionais representantes e líderes da classe média brasileira foram duramente derrotados ou “mudaram de lado”. É o que se observa na diminuição em termos de voto e prestígio de partidos como PFL/DEM, PSDB, PPB/PP, e no apoio de outros líderes tradicionais, do PMDB, PL, etc., ao projeto petista.
Para quem é de esquerda isso pode não fazer sentido, pois afinal o governo Lula não apresentou rompimento significante com a ordem anterior, mas para essa fatia da classe média foi duro ver seus líderes serem derrotados ou traindo sua origem para continuar no poder. Isso, apesar da falta de dados mais concretos, pode sem dúvida ter contribuído com o descrédito, por parte dessa classe, na política e democracia tradicional.
2) Há também uma década existe uma emissão diuturna, por parte da mídia tradicional (Globo, Folha e Estadão, Veja, etc), de discursos sobre o alastramento da corrupção, que são repercutidos nas redes a exaustão. Dados comprovam contudo que não existiu esse alastramento, mas sim uma continuação dessa prática desde governos muito anteriores. Apesar de ser evidente a ligação desse tipo de corrupção com a história de nosso capitalismo (os corruptores), a mídia conservadora tenta todos os dias identificar essa característica em uma suposta fraqueza moral de seus inimigos políticos.
Essas duas características criaram, no seio da fatia da população que protagonizou as manifestações, um ódio irracional e de classe, acumulado por tudo o que se origina no projeto petista. Ódio que é personalizado em figuras como Arnaldo Jabor, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi.
Pois bem, apesar da falta de mais dados, podemos considerar que foi a partir da autorização velada (ou mesmo desvelada, como fez Jabor) por parte da mídia tradicional à participação nas manifestações, que os protestos foram tomados por essa classe. Como já é sabido, contudo, foi a esquerda organizada que os iniciou, por uma causa justa, mas pontual: o transporte público.
A partir disso a frase que resumiu esse momento foi dita por alguém: “o Facebook foi para as ruas”. Todo o ódio destilado, já há tempos, em comentários anônimos nas redes sociais e em comentários de sites de notícias, foi para as ruas. Pôde-se ver a cara dessas criaturas.
Ódio multifacetado, disperso, múltiplo e hiperindividualista. Caracterizado pela multidão de cartolinas individuais, contraditórias, genéricas, egocêntricas, tal qual uma timeline da rede. Todos buscando uma foto, um segundo que fosse, de fuga do anonimato. Curiosamente os consumidores do Facebook encontraram um novo lugar para manter a mesma contradição de ser nada e ser alguém: a velha rua.
Numa catarse coletiva, proporcionada, por um lado, por anos acumulando um ódio de classe alimentado pela mídia opositora, e por outro lado pela inquietação advinda da angústia gerada pela insignificância (e promessas de significância) produzida pela Capital, toda essa fatia foi rebelar-se contra tudo e contra todos nas ruas. E foram protestar fundamentalmente contra a política, entendida como espaço público de discussão sobre o poder, nesse sentido, entidade anacrônica com o tipo de consumo engendrado pelo capital. E tudo sustentado materialmente pela estabilidade e segurança econômica e na manutenção da qualidade de vida que o Lulismo proporcionou. Esses fatores, além de outros mais pontuais, fomentaram essa catarse individual/coletiva de final de expediente ou happy-hour.
O cartaz erguido por uma manifestante anônima no protesto de segunda-feira, dia 17/7 (e exibido por um álbum da Folha Online), resume: “meu partido sou eu”. A nova lógica a ser compreendida pela democracia é essa, a de que ela possui cidadãos formados pelo Capital que não toleram mais nem um resquício de coletividade, representatividade ou qualquer forma de vida social que pressuponha a alteridade. Caminho iniciado pelo próprio Capital, objetivando uma nova etapa de acumulação, desde os fins de 1970: caminho esse que pretendia colonizar toda a vida pública. E, a política, compreendida nesses termos, não poderia estar fora deste projeto de dominação.

A AVAAZ, O IMPEDIMENTO DE DILMA E A LÍBIA

A AVAAZ, sigla cujo significado desconheço, entrou em meu circuito de cliques da internet através de um amigo de quem recebo muitos e-mails, que aprecio.
Tem uma fachada simpática, e dedica-se em geral a causas ambientais e humanitárias. Uma vez que você se inscreva junto a eles, receberá sempre uma nova causa, com petições para que você assine dando apoio, tudo através da internet. É estadunidense, no começo assinavam nomes de lá, mas depois de um tempo passaram a assinar nomes brasileiros.

Algumas causas diziam respeito ao Brasil, com ênfase para causas ambientais e os direitos dos povos indígenas que são afetados pelas obras de hidroelétricas na Amazônia. Assinei várias delas, porque o governo, embora sem a truculência dos militares, tem mostrado uma tendência de ignorar ou subestimar os efeitos desagregadores das obras sobre a vida desses povos. Que órgãos de imprensa e parlamentares estadunidenses também se interessem pelo meio ambiente no Brasil, tendo chegado a propor que a Amazônia é um patrimônio de toda a humanidade (incluindo, é claro, as corporações de lá), não me chamou a atenção na época.

Até que veio a Líbia. O ditador de lá Muhamar Khadafi, era um ditador: reprimia a oposição com violência, roubava dinheiro do estado, vivia uma vida extravagante. Mas até aí tudo bem. O “mundo livre” sempre conviveu muito bem com as monarquias do Golfo Pérsico, com o antigo Xá da Pérsia, com os ditadores latino-americanos militares ou não, com os militares da Indonésia. Mas Kadhafi não se limitou a isso. Desviou criminosamente parte das rendas do petróleo para educação e saúde, o que acabou dando aos líbios o melhor IDH da África. Não contente, passou a meter sua colherzinha torta nas relações internacionais. Sanguíneo, quando o presidente dos EUA mandou derrubar um avião civil na Líbia naturalmente matando todos a bordo, vingou-se fazendo o mesmo com um avião na Escócia, em Lockerbie. Khadafi virou pária por certo tempo (Reagan, nunca), mas comprou boas relações com alguns países da Europa.

Quando veio a primavera árabe, parte da população da Líbia começou a demonstrar contra o governo, pedindo mais liberdade. Foi reprimida com violência, o que de repente despertou nos Estados Unidos e seus aliados o mesmo interesse humanitário anteriormente voltado para o Iran e o Iraque. Um interesse negro e viscoso. Foi aí que a AVAAZ mandou uma petição solicitando uma zona de proibição aérea, “no-fly zone” na versão original. O idiota aqui assinou, ajudando os representantes europeus dos EUA a destruir o país e entregá-lo à guerra civil permanente, com direito à liberação dos grupos extremistas islâmicos que agora infernizam a vida dos líbios e dos países africanos próximos.

Estou certo que minha contribuição à destruição da sociedade líbia foi marginal. Mas não me perdoei pela ingenuidade. Coloquei uma etiqueta na AVAAZ como spam, e não tive mais contato, até dois dias atrás, quando soube que estava correndo uma petição pelo impeachment da presidenta do Brasil, Dilma Roussef. Lembram os impeachments de Zelaya em Honduras, e Lugo, no Paraguai? . Parece que eles tentaram consertar, com uma petição de apoio. Mas a AVAAZ não é um site de petições, neutro. Todos os e-mails que eles mandaram para mim eram assinados por eles.  Mas quem são, realmente, eles? Creio que eles não mandariam uma petição para canonizar Pablo Escobar. Porque mandaram uma para derrubar um governo legal, que não cometeu nenhuma ilegalidade e tem defendido a Constituição? Talvez seja o caso de perguntar aos nossos grandes irmãos do norte.


Por falar no brothers, é curiosa uma observação de matéria do New York Times, devidamente repercutida pelo jornal nacional da Globo, sobre as manifestações no Brasil, que fala da aparição de uma “maioria silenciosa”. Essa maioria deve ter sido descoberta pela mesma fonte que informou o jornalão estadunidense sobre as armas de destruição em massa de Saddam Hussein.

UM INTERVALO DE HUMOR SOBRE AS "MANIFESTAÇÕES"

Dê uma olhada neste site.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A DIREITA NAS RUAS COM OS HOOLIGANS

Sem partidos é uma enganação. Os boladores dos múltiplos slogans novos, lançados sem intenção de chegar a lugar algum, vêm de centrais de decisão de caráter fascista, ou neofascista, com a exceção apenas do nacionalismo ausente (lembrar o grito foda-se o Brasil e o ataque ao Itamarati em Brasília), e da falta de uniformes como os de seus congêneres italianos e alemães dos anjos entre as duas guerras mundiais. Eles são partido,sim. E tem ajuda de poderosos que os manipulam, sim. Sua pauta é criar o caos para seus mentores se apresentarem como salvadores da ordem pública.

Usam o condição de anônimos na multidão para quebrar, queimar, agredir quem se manifestar fora de suas palavras de ordem. E tem tido ajuda de setores da polícia, que fez corpo mole com o cerco à prefeitura de São Paulo, que durou quase três horas e passou pela destruição da fachada antes de atender ao chamado dos sitiados. 

Se os governos de centro-esquerda deste país ainda têm alguma vontade, não digo para cumprir a agenda para a qual eles tem sido eleitos, mas para exercerem o dever de manter a ordem pública, eles têm que ajudar a imprensa independente a apontar os responsáveis atrás da organização do caos por essa amálgama de delinquentes comuns e hooligans políticos. Veja as matérias de Luis Carlos Azenha, aqui e aqui, e do Conversa Afiada aqui  O movimento passe livre, afinal, acabou servindo à direita. Veja aqui

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Uma breve história da luta da grande mídia contra os interesses nacionais

A DIREITA NAS RUAS COM BEPPE GRILLO


(Agradecendo o blog do Miro)

Alckmin recuou da truculência, e a revogação do aumento do preço das passagens de metrô e de ônibus por Alckmin e Haddad, uma importante vitória foi alcançada, produto de uma grande mobilização, que surpreendeu a todos. Um paradigma foi desafiado e muitos jovens perceberam que podem influir sobre a política. E agora?  

É tentador para alguns pensar que essa forma de fazer política é melhor do que as outras.  Já uma participante das manifestações de rua movimenta-se para empolgar todo o movimento e impor sua agenda própria, continuando as marchas pelas cidades. A direita, golpista como sempre.

Agora se trata de levar palavras de ordem no meio de uma massa despolitizada, falando contra os “políticos” (na realidade contra os políticos de centro ou centro-esquerda). Talvez não esteja nos cartazes de agora em diante, mas inclui o linchamento dos réus do chamado “mensalão”, o ataque contra as políticas que têm possibilitado a melhoria da condição econômica dos mais pobres, como a bolsa-família e a elevação do salário mínimo, e contra uma política externa brasileira que prioriza relações com a América do Sul, África, BRICS, e que não se alinha automaticamente com o grande irmão do norte.

No discurso, esses não inocentes de classe média são contra tudo, e atribuem todo o mal aos outros, visa políticas mais à esquerda, mas atira contra todos os que agem na política o que inclui todos os partidos. Seu discurso evoca o exemplo do cômico Beppe Grillo, muito popular na Itália, que falava contra todos os políticos e acabou tendo uma grande votação nas recentes eleições nacionais daquele país.  Quando se tratou de transformar essa grande votação, que elegeu uma parcela importante dos parlamentares do partido de Grillo, em ação responsável no mundo real, ele regateou, permaneceu de fora e acabou murchando como balão de ar quente em uma eleição regional meses depois. Voltou a ser um cômico, agora um tanto menos popular, enquanto os italianos agora vão percebendo que apenas perderam tempo.

No Brasil, essa pregação de uma oposição generalista e niilista está tratando de tomar para si as manifestações de rua que começaram com o aumento das passagens de ônibus e metrô e que a direita parece pretender prolongar indefinidamente, agora reclamando de “todo o resto”.  O problema é que grande parte dos jovens que participam dessas manifestações não sabem o que reivindicar fora o que lhes vem dos interesses imediatos de sua classe de origem, a partir de uma visão de negação que é fruto da inexistência de canais eficazes de participação política. Eles sabem que ninguém controla o poder das grandes corporações, dos bancos, e de inúmeros interesses privados com poder de lobby junto aos diversos governos, parlamentares e juízes. Essa impotência, facilitada pela falta de interesse dos grandes partidos em afrontar esses grupos, tende a inspirar comportamentos violentos, com a participação de provocadores e de desordeiros oportunistas, que a direita favorece porque é a deixa para que ela passe à violência política, através da ação policial, e de pequenos e grandes golpes de estado, para justificar a volta à paz, a sua (deles) paz.


O PT tem grande responsabilidade nessa situação, por ter na ação política relegado sua visão de transformação profunda da sociedade e desprezado suas ligações com os movimentos populares e sindicatos à condição de meros apoiadores passivos. A esquerda em geral também é responsável  por sua falta de criatividade e iniciativa em uma realidade que muda a olhos vistos. É necessário agir, viver é perigoso.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

ALGUMAS MATÉRIAS SOBRE AS MANIFESTAÇÕES

Não que eu concorde em tudo com todos os que seguem, mas eles trazem elementos para refletir e discutir. A partir de hoje, certamente o movimento vai refluir.

Paulo Henrique Amorim







Rodrigo Vianna  (já coloquei este texto em post anterior)

Maria da Conceição Oliveira

Lincoln Secco e Antonio David, especial para o Viomundo



UM ALERTA DE MEU PRIMO DARIO


Dario E. Chiaverini



A fumaça de 1964 começa a arder em meus olhos!!!

A classe média acreditou nos dois anos de campanha furiosa contra Jango e saiu nas ruas na gigantesca passeata da família com Deus pela Liberdade.

E agora??

O pessoal do PSTU, do PSOL, e do PCdo B, tem razão ao pedir que o transporte público seja público..

E aí entrou a juventude classe média e a oposição e os aproveitadores e os bandidos e loucos de tudo forçando a barra.

E agora????
Mas agora querem derrubar o governo?

Vão colocar quem?

Vamos voltar ao arrocho salarial, ao salário mínimo a 50 dólares, aos juros de 20%, à um economia paralisada  ao êxodo de jovens procurando um país melhor, a uma dívida externa colossal  à subserviência aos EUA na política internacional, à subserviência ao FMI.
Esqueceram o desânimo em todas as áreas que rolava no Brasil?
Aquela fossa total???
As pessoas dizendo que tinham vergonha de ser brasileiras...

Os governos do PT deixaram de cumprir um monte de promessas, muitos de seus membros foram seduzidos pelo poder e fizeram  porcaria.

Mas o País melhorou muito!!!

Temos que tomar muito cuidado com o conservadorismo exacerbado da extrema direita autoritária que está confundindo a cabeça da população que é extremamente despolitizada e dirigida pela grande mídia.
Um Brasil, independente, economicamente ativo, e democrático não interessa aos grandes grupos financeiros e especuladores que dão notas para o país que não dá grandes lucros às grandes corporações...

O perigo é resolverem colocar o exército nas ruas.

E se de repente a Dilma vai embora??

O Michel Temer e o PMDB  vão governar????

SOCORRO!!!! 

 PMDB, PSB, PSDB e todos os que vão correr para o novo governo restaurador da moralidade!!!!!

SITUAÇÃO MUITO PERIGOSA!!!!!

DEPOIS DA TRUCULÊNCIA POLICIAL, MAIS DO CALDO DE CULTURA DO FASCISMO

No centro de São Paulo, manifestante dizia: “Foda-se o Brasil, nacionalismo é coisa de imbecil”

publicado em 18 de junho de 2013 às 23:05

“Foda-se o Brasil”, gritava o rapaz em SP

por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador
A chegada ao viaduto do Chá foi surpreendentemente rápida. Trabalhadores e lojistas tinha ido embora mais cedo, deixando o centro de São Paulo estranhamente vazio às seis horas da tarde. Contornei o Teatro Municipal, e segui a pé, para cruzar o viaduto rumo à Prefeitura – onde os manifestantes se concentravam. Estava acompanhado da equipe de gravação da TV.
No sentido contrário, a massa marchava. Pareciam estudantes razoavelmente organizados: carregavam faixas de diretórios acadêmicos, bandeiras da UJS, mas também muitos cartazes desenhados a mão: “O Brasil acordou”, “Fora FIFA”, entre outros. Um rapaz me informou: ”estamos indo pra Paulista porque o Haddad nem está mais aí na Prefeitura”. Haddad tinha seguido ao encontro da presidenta Dilma, para uma reunião no Aeroporto de Congonhas. Pensei em tomar o rumo da Paulista, mas meu chefe de reportagem avisou pelo rádio: “acho melhor você ficar por aí, porque um grupo pequeno resolveu ficar pra atacar a Prefeitura”.
Pouco a pouco me aproximo do prédio. O grupo que ficou não era tão pequeno assim. E o que vejo e ouço é estranho – pra dizer o mínimo. Há homens mascarados, muita gente de coturno. E há também jovens que conversam com a gíria típica da periferia paulistana. Misturados a eles, moleques com jeito de playboys de classe média. Gritam palavras de ordem de forma desorganizada e aleatória.
Um menino, a meu lado, grita “Fora, petralhada”, e “Fora, Dilma”. Puxo papo, e ele conta: “Sou do grupo Mudança Já, que luta por menos impostos e uma gestão eficiente”. Esse não parece da periferia. Pelo papo e pelas roupas. De fato, mora no Jabaquara – bairro de classe média. O menino fala mal do MPL – Movimento Passe Livre, que puxou as manifestações desde o início. “Esses não me representam, são agitadores e falam com jeito de comunista”.
Êpa…
De repente, o grupo dos mascarados se exalta e avança sobre os portões da Prefeitura. Voam pedras, arrancadas do calçamento do centro antigo. Pedras portuguesas. Jovens mascarados arremetem contra os homens da Guarda Civil Metropolitana.


Um deles usa camiseta branca justa, bota em estilo militar e age com a volúpia típica dos provocadores que conhecíamos tão  bem nos anos 80 – quando a Democracia ainda engatinhava. É o rapaz que aparece nas fotos acima…
Alguns picham as paredes da Prefeitura. A turma mais moderada grita: “sem vandalismo”. Os mascarados devolvem: “sem moralismo”. Um rapaz passa a meu lado e grita: “vamos quebrar tudo”. E quebram mesmo.* Pedras voam perigosamente sobre nossas cabeças.
Mas a imagem mais chocante eu veria logo depois. Um grupo segura uma bandeira brasileira e queima. Um rapaz grita: “foda-se o Brasil, Nacionalismo é coisa de imbecil”. E aí tenho certeza que há um caldo de cultura perigoso por aqui.
Um Brasil fraco, um Estado nacional sob ataque, não será capaz de melhorar a vida do povo. Isso interessa para os conservadores e para seus aliados nos Estados Unidos.
De repente, chega um grupo novo, mais de cem pessoas. Trazem uma faixa amarela, com a frase “Chega de Impostos – Mooca”. O bairro da Mooca é um reduto da classe média – em geral, conservadora. A palavra de ordem é “Fora, Dilma”.
Um funcionário da Prefeitura meio gordinho aparece na janela. Ao meu lado, um grupo berra pra ele: “Gordo, filho da puta, você vai morrer. Você come nossos impostos, filho da puta”.
Penso com meus botões: essa turma  foi pra rua pra pedir serviços públicos de qualidade e, de repente, está pedindo também menos impostos, menos Estado. E queimando a bandeira do Brasil. O que é isso?
Ah, é o sintoma de uma sociedade que incluiu jovens pelo consumo, sem politização. Ok. Isso está claro. Desde 2010, dizíamos nos blogs que essa equação do lulismo poderia não fechar. Despolitização? Ou pior que isso: um pé no fascismo? O discurso que nega a Política é a melhor forma de deixar a avenida aberta para uma Política autoritária.
Claro que o povo na rua é muito mais que isso. O recorte que descrevo acima é bastante específico. Entre os milhares que foram para a Paulista, na segunda e na terça-feira em São Paulo, havia muita gente progressista, disposta a mudar o Brasil. Mas ali também imperava o “Fora, Políticos”. Ora, se todos foram eleitos, o que será que essa turma imagina? Sovietes no Grajaú e no Morro do Alemão? Nada disso. A idéia de muitos por hora é botar fogo em tudo. Qual será o fim disso?
A esquerda organizada, hoje tive certeza, precisa disputar as ruas. Lula precisa reaparecer e botar o bloco na rua.
Outro dia escrevi aqui: quando vemos esse clima de “Fora, todos os Políticos” podemos imaginar duas saídas possíveis
–  a Argentina que escolheu os Kirchner para se recuperar depois do caos;
– ou a Espanha, que levou jovens “indignados” para as praças (e lá também bandeiras de partidos eram “proibidas”) mas no fim das contas elegeu os franquistas do PP.
No Brasil, o jogo está sendo jogado. A massa lulista – aquela massa forte das periferias das capitais, e do Nordeste – essa massa não está nas ruas. Isso ficou claro pelo que vi e ouvi nas ruas de São Paulo.
Nas ruas há uma mistura: ultra-esquerda, nova esquerda, indignados em geral e, infelizmente, também há o velho lúmpen que pode virar – fácil, fácil – caldo de cultura para uma saída autoritária.
Quem conhece bem a história do Brasil não ficaria surpreendido se, desse processo todo, nascesse não “uma nova política”. Mas um governo (mais) conservador, que botasse o Brasil de novo “nos trilhos” da submissão aos EUA, jogando fora os tênues avanços da Era Lula.
Afinal, “foda-se o Brasil”, não é?  Essa cena não vou esquecer: a nossa bandeira queimada por jovens tresloucados que afirmam querer mudar o país. Foi estranho.
* Ao fim da manifestação, parte dos jovens mascarados avançou em direção ao carro da TV Record que estava diante da Prefeitura e tocou fogo no veículo. Tudo que parece – ou é –  símbolo de poder acaba virando alvo. Nenhum jornalista ficou ferido. O alvo era a empresa.

Nota do Claudio: sobre a Espanha, faltou comentar que a adesão da centro-esquerda de lá a um neoliberalismo "moderado" esvaziou o apoio dos jovens trabalhadores de lá, que não compareceram às eleições. Sobrou a direita, com os franquistas e tudo.