terça-feira, 25 de novembro de 2014

MUITA CONSPIRAÇÃO É CONSPIRAÇÃO MESMO

Mesmo que não seja tramada em um único lugar escuro, à luz de velas. Do jornal GGN

Voltando ao mapa da conspiração desenhado pela CIA, por J. Carlos de Assis

O jornalista Sérgio Léo fez um longo comentário sobre meu artigo anterior a respeito de um eventual incentivo do governo norte-americano à promoção de um golpe jurídico-midiático no Brasil. Nele me contesta em basicamente dois pontos: primeiro, no que diz respeito à participação dos Estados Unidos no golpe que derrubou Allende há 41 anos; segundo, o que é mais importante, negando a relevância dos BRICS para a estratégia norte-americana, o que afastaria qualquer interesse da parte dos EUA em desestabilizar o Brasil.
Vamos por partes. A participação direta dos EUA na deposição e assassinato de Allende, assim como na carnificina posterior sob o comando de Pinochet, está demonstrada de forma inequívoca no artigo de Peter Kornbluh da edição de setembro/outubro da “Foreign Affairs”. Esse artigo desmonta ponto por ponto o publicado anteriormente por essa mesma revista, sob o título “What Really Happened in Chile”, pelo antigo espião da CIA Jack Devine que estava baseado em Santiago na época dos eventos, encarregado de pagar propina ao principal jornal do país, “El Mercurio”.
Sérgio Léo cita o artigo de Devine em apoio a sua tese de inocência americana no golpe final contra Allende, mas aparentemente desconhece o artigo retificador de Kornbluh, baseado todo ele em documentos desclassificados do Departamento de Estado e da Assessoria de Segurança Nacional dos EUA. Aliás, o que a CIA fez na preparação do golpe – por exemplo, no assassinato do comandante do Exército, General Schneider, a fim de remover um obstáculo no caminho dos golpistas – seria suficiente para inculpá-la totalmente no desfecho.
Relativamente ao eventual desinteresse norte-americano em relação aos BRICS, Léo talvez não preste muita atenção nos desdobramentos estratégicos das articulações desse grupo. Se ele concorda que o centro dos interesses estratégicos dos EUA é, em primeiro lugar, como eu próprio tentei demonstrar relativamente à crise da Ucrânia, conter a Rússia e, secundariamente, conter a China, qualquer coisa que fortaleça os BRICS coloca um aliado até há pouco incondicional do país, o Brasil, numa rota contrária aos interesses norte-americanos.
Algum tempo atrás, ainda antes da decisiva reunião que formalizou a criação do Banco dos BRICS, a embaixadora Maria Edileuza, então encarregada no Itamaraty da área dos BRICS, me relatou o incômodo que os países ocidentais manifestavam com relação à criação do banco. A União Europeia pediu uma reunião especial com o Brasil para conhecer o projeto; na reunião representantes dos grandes países não se manifestaram abertamente; mas as objeções vinham sintomaticamente dos pequenos. “Por que, em lugar de criar um banco, não fortalecer as instituições existentes, como o Banco Mundial?”, perguntavam.
A resposta poderia ser encontrada, agora, em recente artigo de Eric Toussaint, na série “Os setenta anos de Bretton Woods, do Banco Mundial e do FMI (parte 12)”, sob o título “As mentiras teóricas do Banco Mundial”. Trata-se de um libelo irrespondível sobre a atuação do Banco, que, ao longo do tempo, atendeu principalmente aos interesses dos Estados Unidos e dos países desenvolvidos em lugar de favorecer o desenvolvimento dos pobres. Se alguém tem dúvida, consulte o Relatório de 1914 do banco, sob o título “Risco e Oportunidade”: é puro charlatanismo ideológico em favor do livre-cambismo e do Consenso de Washington.
O Banco dos BRICS, ao contrário do que pensa ingenuamente Sérgio Léo, é a primeira grande tentativa em 70 anos de se romper com a estrutura financeira internacional criada no pós-guerra com foco nos interesses dos ricos. É evidente que o banco terá condicionalidades financeiras rígidas, pois afinal é um banco, não uma agência de fomento a fundo perdido; mas a simples ausência de condicionalidades políticas ou macroeconômicas será suficiente para dar-lhe um caráter desenvolvimentista real, ao contrário do Banco Mundial e do FMI.
Finalmente, Sérgio Léo alega que, se há risco de promoção de golpe no Brasil, deve ser procurado nas forças internas, e não na CIA. É outra ingenuidade. Não há diferença entre forças golpistas internas e externas. São as mesmas. A primeira coisa que algum golpista interno faz é buscar apoio externo. E a primeira coisa que uma força externa pró-golpe faz é buscar forças internas para que assumam um papel ostensivo e aparentemente hegemônico. O que a “Veja” faz é puro golpismo, eventualmente amparada financeiramente pela CIA, como foi o caso de “El Mercurio” no golpe contra Allende. Os que tem olhos para ver, vejam.
Quanto ao suposto desinteresse dos EUA de ver desestabilizada uma área tão tranquila, como o Brasil, volta-se de novo ao terreno da ingenuidade. São forças internas, no nosso caso da mídia, que preparam a intervenção externa. A Ucrânia estava tranquila antes que ONGs financiadas pelos EUA iniciassem o processo de sua desestabilização. Não há, nesse jogo, espaço para escrúpulos de qualquer natureza. O que importa para a política externa norte-americana são os seus interesses estratégicos de curto e longo prazos. Para isso são capazes de tudo. Inclusive de violar a democracia que pregam em seus discursos e fragmentar os países em lutas fratricidas, como ocorreu em quatro países na chamada “Primavera Árabe” e no golpe ucraniano.
J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor da Economia Internacional da UEPB.

LIÇÕES DA HISTÓRIA?

De Paulo Moreira Leite, em seu blog

DILMA TENTA EVITAR ARMADILHA DE JANGO

dilma13
Ao trazer Joaquim Levy para governo, presidente procura alternativa à solidão política que ajudou no desastre final de João Goulart
Convidado para ocupar o ministério da Fazenda no segundo mandato de Dilma Rousseff, Joaquim Levy chega a Brasília com fama de economista de formação conservadora e opiniões firmes, que não se dobra a simples argumentos de autoridade. Recrutado por Antonio Palocci para a Secretaria do Tesouro, onde tinha a chave do cofre do governo, a postura irredutível de Levy levou o então presidente Lula a dizer a um ministro, num de seus comentários típicos, um pouco sérios, um pouco irônicos: “Às vezes eu acho que o verdadeiro presidente da República não sou eu, mas o Joaquim Levy.”
Levy retorna ao governo do PT oito anos depois que, em companhia de Antonio Palocci e do economista Marcos Lisboa, secretário de Política Econômica, foi embora do Ministério da Fazenda sob brindes de felicidade de adversários internos, para quem as denúncias do caseiro Francenildo serviram de clássico “mal necessário” que ajudou o governo Lula a se livrar de ideias que, em sua visão, apenas atrapalhavam o bom andamento da economia. Além da passagem pelo governo Lula, currículo de Levy inclui posições importantes em  instituições frequentemente criticadas pelo PT. Entre 1992 e 1999 ele foi integrante dos quadros do Fundo Monetário Internacional. No governo Fernando Henrique Cardoso, foi secretário-adjunto do Ministério da Fazenda e economista-chefe do Ministério do Planejamento.
O convite de Dilma na semana passada recebeu críticas em várias fileiras do PT, o que se justifica até pela memória do corredor polonês que Palocci e seus aliados atravessaram depois de 2006.
Mas críticos e adversários de Dilma já ensaiam o coro oposcionista de estelionato eleitoral, como se a indicação de um ministro representasse o rumo já traçado para quatro anos de governo, o que não é nem pode ser verdade. Não há o menor sinal de que o compromisso de Dilma, em torno da missão básica de defender empregos e salários, beneficiando a população mais pobre, vá ser abandonado ou mesmo negociado.
Foram Palocci e Levy que asseguraram, por exemplo, os recursos para o Bolsa Família, o maior sinal da prioridade social do governo Lula-Dilma.
Como a experiência que toda presidência ensina, em qualquer país do mundo, o exercicio de governar implica numa sucessão de atos e decisões tomadas todos os dias, 24 horas por dia, sete dias por semana, ao longo de todo o mandato. São armadilhas que aparecem, oportunidades que surgem, planos que se abandonam e projetos que se elaboram no calor da luta. Autor da Carta ao Povo Brasileiro, Palocci foi repudiado por economistas e dirigentes petistas desde o primeiro dia. Enfrentou uma conspiração que, soube-se mais tarde, incluia não apenas adversários públicos e declarados, mas também colegas de Ministério. Na passagem de Palocci pela Fazenda, a economia cresceu apenas 1,1% em 2003, contra 2,7% no último ano de FHC, mas embalou um ritmo acelerado depois disso: 5,7% em 2004, 3,2 em 2005 e 4% em 2006.
(Os números posteriores, quando os adversários de política economica estavam no governo, também foram exuberantes por um período: 6,1% em 2007, 5,2% em 2008, 0,3 negativos em 2009 e 7,5% em 2010).
A denúncia precoce de estelionato, em 2014, tem um fundo eleitoral óbvio. Tenta-se desqualificar Dilma, alimentando um discurso negativo para o futuro. Nem o governo nem seus adversários podem prever o que irá ocorrer com a economia nos próximos anos. As variáveis são incertas como poucas vezes se viu.
Caso a economia se recupere e exiba números melhores, até 2018, esse discurso permite dizer que a presidente rendeu-se a cartilha do PSDB — exatamente como se faz com Lula desde que ele se tornou o presidente mais popular da história. Caso a economia não saia do lugar, ou se torne ainda mais fraca, recupera-se a tese do boliviarianismo sem Bolivar. Novidade? Nenhuma.
Eu acho que a realidade é outra. Levy irá integrar-se a um triunvirato político, num governo onde a presidente tem opiniões fortes sobre temas econômicos — e não consta que tenha decidido guardá-las para as poucas horas de folga. Cabe a Dilma nomear os presidentes de bancos públicos, instituições essenciais para definir o ritmo da atividade economica.
Nelson Barbosa, convidado para o Planejamento, foi um aplicado construtor de políticas econômicas durante sua primeira passagem pelo governo, cabendo-lhe elaborar a arquitetura detalhada do programa Minha Casa, Minha Vida, principal alavanca de emprego e atividade econômica dos últimos anos. Ao convocar os dois para uma trabalho em comum com Alexandre Tombini, Dilma procura reconstruir uma linha de continuidade com o condomínio político que tomou posse no Planalto, em 2003. É uma cartilha que pode incluir um certo esfriamento na economia. Mas não se prevê arrocho nos salários nem  recessão.
A situação do segundo mandato possui muitas diferenças, contudo.
Dilma Rousseff saiu das eleições de 26 de outubro numa situação na qual, considerando todas as distâncias da história, da vida social e dos pensamentos do mundo, guarda uma certa semelhança a de João Goulart no comício de 13 de março de 64, duas semanas e meia antes do golpe.
O que mudou foi a postura presidencial.
O apoio popular a Jango era indiscutível. Não só vencera o plebiscito do presidencialismo, mas seu projeto de reformas de base tinham respaldo junto a maioria da população. Ao mesmo tempo, Jango era alvejado pelo ódio de uma fatia da classe média, mobilizada pela Igreja e também por lideranças que eram vinculadas a CIA. Enfrentou a conspiração em alta velocidade do empresariado, com sinal verde da Casa Branca e apoio logístico do Exército norte-americano.
No comício do dia 13, empurrado por uma imensa pressão à esquerda, que incluia sublevação nas camadas de baixo das Forças Armadas, num aliado que passara a jogar pelo fechamento do Congresso em função de sua maioria reacionária, Leonel Brizola, Goulart deu um salto a frente. Avançou no distanciamento com o PSD, maior partido do Congresso e presença em postos importantes no Ministério. Sem jamais romper a legalidade democrática, entre o 13 de março e o golpe, Jango pisou no acelerador de mudanças à esquerda, incluindo iniciativas de apoio a revoltas entre o baixo clero militar. Esperou um apoio que não veio, contou com uma resistência que não apareceu — e que no final ele próprio não convocou.
Quando convidou um economista com o currículo de Levy para a Fazenda, o governo Dilma se encontrava numa situação peculiar. Não era extrema nem difícil como a de Jango, mas possuía semelhanças.
Apesar da vitória na eleição presidencial, onde teve força inclusive para neutralizar um golpe eleitorial midiático nos últimos dias, o Planalto passou a dispor, quando muito, de uma maioria nominal no Congresso.
Sua relação com os mercados tornou-se uma de fratura exposta, visível depois que os grandes investidores da Bolsa de Valores se engajaram como nunca na campanha presidencial.
Apesar das várias iniciativas do Planalto, inclusive concessões materiais como as desonerações de tributos, não trouxeram o efeito desejado. Mesmo longe do caráter de apocalipse anunciado pela oposição, ninguém pode imaginar que uma economia que gira entre 0% e 1% se encontra na melhor saúde.
O país tem sido capaz de garantir a preservação da prioridade real do governo, que se encontra no emprego e no salário — e nisso reside a diferença essencial em relação aos é anteriores — mas coloca várias interrogações a respeito de seu futuro.
A pergunta envolve saber como aquecer investimentos produtivos e recuperar o chamado “espírito animal dos empresários,” de que falava John Mainnard Keynes, numa conjuntura em que vários dados se tornaram complicados, inclusive pelo escândalo da Petrobrás.
Em julho de 1963, num movimento que também possui uma semelhança num universo de imensas diferenças do Brasil de hoje, Goulart convocou Carvalho Pinto para ocupar o Ministério da Fazenda. Político ligado a UDN e ao grande empresariado paulista, ex-governador de São Paulo, Carvalho Pinto tornou-se uma alternativa de Jango depois que o Plano de Metas do Ministro Celso Furtado naufragou por falta de apoio entre deputados sindicatos.
A presença de Carvalho Pinto trouxe melhoras para a diplomacia brasileira, que viveu um fugaz momento de reaproximação com os EUA. Sua permanência no posto durou pouco mais de seis meses. Jango logo perdeu a paciência com frequentes pedidos de demissão de Carvalho Pinto, assombrado pela guerra permamente contra suas decisões e também campanha que Leonel Brizola fazia para tomar seu emprego — com apoio integral à esquerda.
Não se trata, é claro, de forçar uma comparação para reforçar um argumento político. Nem de imaginar que os homens são obrigados a repetir os passos da história para escapar de suas tragédias.
Mas, quatro meses depois da saída de Carvalho Pinto, a máquina do golpe de 64 depunha o presidente. Toda decisão política se faz no seu aqui e agora

sábado, 22 de novembro de 2014

COMO OPERA O GOLPE NO BRASIL

De Miguel do Rosário, no O Cafezinho

Globo e advogado de Youssef combinam narrativa

O PIG - Neto Sampaio _ O homem bomba da velha mídia escândalo de boca de urnas


Dias atrás, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confirmou que houve golpe eleitoral contra Dilma Rousseff, perpetrado através do advogado de Alberto Youssef, o doutor Antonio Figueiredo Basto.
Janot lembrou que Basto era ligado intimamente aos tucanos.
Como era o golpe?
Não apenas Basto vazava trechos dos depoimentos de Youssef, como o advogado orientava o doleiro para fazer um recorte político de sua delação premiada.
Um recorte cuidadosamente elaborado para gerar impacto político contra o PT.
Entretanto, a mídia não conseguirá esconder que Alberto Youssef é uma cria essencialmente tucana, conforme eu já escrevi no post “A história do doleiro que a mídia não contou“.
Há documentos e reportagens mostrando que ele operou para as campanhas de FHC e Serra. Essa é uma informação importante para entender a teia de relações construída pelo doleiro, e explicar o que ele é hoje.
Ora, se ele quer delatar, então terá de contar também o que sabe sobre as falcatruas tucanas que ele operou.
Se olharmos a manchete do site do Globo de hoje, a coluna de Merval e a entrevista do advogado do doleiro, constata-se facilmente que a armação midiática já encontrou uma linha de ação bem definida.
O advogado do doleiro posa, na entrevista concedida ao Globo, de “analista político”.
Pior, de “indignado”!
Segundo ele, assim como para Merval, não se trata apenas de corrupção, mas de uma estratégia para se manter no poder.
Igualzinho fizeram com o mensalão.
Ao invés de tratarem o caso como ele era, um esquema de caixa 2, o que permitiria ao Brasil, desde aquela época, discutir a questão do financiamento de campanha, inventaram um monstro que desmoralizou o STF e criou dois palhaços: Ayres Brito, hoje com uma sinecura de luxo na Globo, e Joaquim Barbosa, cujo filho ganhou emprego também na Globo.
O PT achava que enfiando a cabeça bem fundo num buraco, no caso mensalão, poderia virar a página.
Não é assim.
A mídia tenta agora repetir a farsa.
Não é corrupção, diz Merval. Corrupção é normal, acontece todo dia, explica ele.
O que acontece é algo muito pior. É o PT do mal, o PT dos infernos, em ação novamente.
É o mensalão 2, insistirá a Globo, com ajuda de um novo Roberto Jefferson, encarnado agora na figura do doleiro e seu esperto advogado.
O juiz Sergio Moro, que escreveu a decisão de Rosa Weber na Ação Penal 470, que impressionou o mundo jurídico pela sua desfaçatez (“não tenho provas contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura assim me permite”), também não parece nada preocupado em evitar a politização do processo.
Os vazamentos saem de sua vara aos montes, sem que ele faça uma admoestação contra delegados, promotores ou advogados que possam estar por trás dos mesmos.
Uma reportagem investigativa da Agência Pública, publicada em junho deste ano, mostrava que as quatro principais empreiteiras do país, as “quatro irmãs”, operam juntas, em cartel, desde a ditadura militar. Assim como a Globo, elas se consolidaram durante o período autoritário, que favoreceu concentração do capital, num ritmo maior do que o mercado naturalmente faria, e na contramão de qualquer orientação anticartel ou anti-oligopólio que toda democracia deve assumir.
As empreiteiras dão financiamentos a campanhas eleitorais, favorecendo sempre os times vencedores, quaisquer que eles sejam, em busca de blindagem contra investigações que possam criar obstáculos à manutenção de seu cartel.
Que se entenda bem: acabar com o cartel não é acabar com as empresas, que são importantes para o país, e sim dar fim a um esquema de combinação de preços e pagamento de propina a servidores e partidos, que sangra os cofres e prejudica a democracia.
É evidente que a Globo fará de tudo para transformar o escândalo da Petrobrás num jogo político para ampliar seu próprio poder.
O cálculo é fácil. Se as instituições políticas estão desmoralizadas, em quem o brasileiro poderá confiar?
Na mídia, claro!
Só que a mídia fará isso não para melhorar o tratamento à coisa pública, mas para chantagear a democracia e ganhar mais dinheiro.
Ela quer um governo fraco e acuado, para que ele não tenha condições de aprovar as reformas necessárias, as quais são as seguintes:
1) Uma reforma política, que não precisa reinventar a roda, até porque isso representaria um perigo de retrocesso. Cumpre, sobretudo, propor mudanças no sistema de financiamento de campanha, chancelando politicamente e aprimorando a decisão que sairá em breve do STF, de proibir doação de empresas. Outros pontos interessantes que podem ser discutidos são a ampliação da participação social junto às decisões de Estado. Criação de ouvidorias, ombudsmans, referendos, orçamentos participativos, etc.
2) A reforma tributária, reduzindo impostos que incidem sobre os mais pobres e aumentando as alíquotas máximas sobre os mais ricos. Deve-se discutir também um imposto sobre a herança, nos moldes do modelo norte-americano, e o aumento dos tributos sobre o consumo de luxo.
3) A reforma agrária. Uma série de medidas para democratizar a terra no Brasil teria um profundo impacto psicológico e político em nosso país, ativando entusiasmos e forças que andam paradas.
4) A reforma urbana. Os brasileiros nas cidades grandes estão acuados por grandes empresas, que tomaram o setor imobiliário e de transportes. É preciso discutir regras, como fazem todas as metrópoles modernas do mundo, mais democráticas para a questão dos aluguéis e dos financiamentos à casa própria nas áreas urbanas. A mobilidade urbana, outro tema essencial, entra nesse capítulo.
5) A reforma da mídia. O governo tem de entrar nisso de cabeça erguida e língua afiada. A mídia já começou, desde o final da eleição, ou mesmo antes dela, uma campanha de mentiras que não tem sido rebatida pelas forças políticas eleitas pelo povo justamente para fazer isso: para responder.
*
O governo não foi eleito apenas para administrar. Elege-se o governo também para ser um representante político. Por isso, a sociedade lhe dá tantos instrumentos e recursos. Para que ele possa participar do debate público como um de seus atores mais influentes.
Onde estão os ministros políticos do governo? Onde está seu porta-voz?
Onde está o blog do Planalto, ou da Petrobrás?
Mercadante, ao qual já fiz tantas críticas, mostrou, em entrevista recente, que tem a língua afiada, e pode fazer uma contraponto importante em matéria de debate econômico.
Por que não faz mais? Porque se limita a aparecer na TV fechada do programa da Miriam Leitão?
Um ministro pertence ao povo, não à Globo!
Falta encontrar quadros que possam fazer o mesmo, no campo da comunicação, da política propriamente dita, e, agora, do combate à corrupção.
Os setores progressistas dentro e fora do governo não poderão agora fugir à luta de construir uma contranarrativa à mídia corporativa.
No caso do Brasil, a questão tornou-se mais importante que a política.
É uma questão de honra!
A campanha golpista da mídia atinge a honra de milhões de eleitores que votam na esquerda com orgulho, e não querem, novamente, passar pela humilhação de serem associados à falta de ética.
A construção dessa contranarrativa passa também por continuar a rever os erros da Ação Penal 470.
De qualquer forma, não será possível, à mídia, repetir o que fez no mensalão: achacar ministros do STF, não importa se indicados pelo PT ou não, criar uma atmosfera de linchamento, bancar erros e crimes de procuradores, e forçar condenações sem provas.
Por outro lado, a direita é criativa. Já está desenhado como será conduzido o golpe do “petrolão”: forçar delações premiadas, sempre orientadas politicamente; e, sobretudo, produzir muita mentira.
Fernando Brito, do Tijolaço, já andou se perguntando, com propriedade: não é estranho que Alberto Yousseff tenha adquirido essa importância toda junto às empreiteiras e à Petrobrás? Ele não tinha sido preso poucos anos antes, não estava sob investigação da justiça desde o início dos anos 2000?
Quem seria maluco de entregar milhões em mãos de uma figura totalmente queimada como Alberto Youssef?
Essa história está mal contada.
Porventura estão tentando transformar Youssef em algo maior do que ele era? E por que? Seria porque o vêem como um “aliado”, como alguém disposto a mergulhar de cabeça no jogo da mídia e da direita?
Enfim, temos uma situação infernal, que nos exigirá a convocação de muitos Virgílios para nos conduzir à saída.
Uma investigação dessa magnitude teria de ser conduzida sem politização, com total objetividade, o que será impossível diante do processo político brasileiro, que é fundamentalmente midiático.
De um lado, temos um PT com suas lideranças sempre meio apalermadas pelo barulho, mas sustentadas politicamente por uma base social ainda traumatizada com lembranças ruins de governos anteriores.
De outro, uma mídia com forte penetração no Judiciário, no Ministério Público e, agora descobrimos, também na Polícia Federal. Uma mídia extremamente astuta, absolutamente inescrupulosa, e detentora de uma máquina demolidora e quase indestrutível de moer reputações e sustentar teorias mentirosas.
A primeira grande batalha, as eleições, impôs uma dura derrota à mídia e seus lacaios golpistas.
Não dá mais, porém, para governar em silêncio.
Agora mesmo, por exemplo, fala-se que o novo ministro da Fazenda será Luiz Carlos Trabuco, o presidente do Bradesco, ou alguém parecido.
Trata-se de algo que havíamos previsto: um movimento estratégico de recuo em relação ao mercado.
Ótimo, a gente compreende. Política é o campo onde nos sentimos mais à vontade, e gostamos quando o governo entra no jogo com astúcia.
Só que esse movimento, sem um outro, paralelo e simultâneo, de mais ousadia em política e comunicação, sem um gesto à esquerda, provocará dano ao governo, que, mais que nunca, precisa de apoio de suas bases sociais.
Para isso, bastaria haver um porta-voz, um blog, qualquer coisa, que pudesse ao menos emitir um sinal político!
“Olha gente, estou nomeando um ministro da Fazenda vindo do lado de lá, mas não esqueci o lado de cá, tanto que pensei nisso e naquilo que podemos fazer”.
Qualquer coisa que sugerisse que o governo não depende da mídia para se comunicar! E que não esquece a sua base de apoio!
Depois do que aconteceu com Sérgio Cabral e quase aconteceu com a própria Dilma, após junho de 2013, ficou bem claro que popularidade de instituto de pesquisa não adianta nada.
Quando não se tem apoio da grande mídia, é preciso ter base orgânica, popular, para poder ir adiante e não ser tragado pela primeira crise.
O jogo já começou, e as peças estão se movendo muito rápido.
Um dia de silêncio corresponde a um dia de derrota.
- See more at: http://www.ocafezinho.com/2014/11/20/globo-e-advogado-de-youssef-combinam-narrativa/#sthash.gYA7n2VF.dpuf

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

TEXTO DE RICARDO SEMLER SOBRE POLÍTICA E CORRUPÇÃO

Da Folha de São Paulo.  Comentário de Fernando Brito.


O empresário Ricardo Semler, que ficou nacionalmente conhecido com seu best-seller “Virando a própria mesa – uma história de sucesso empresarial Made in Brazil”, escreve hoje, na Folha, o melhor texto que já li sobre o escândalo da Operação Lava-Jato.
Semler esclarece logo que não é petista, mas tucano, filiado ao partido por nada mais que gente como Montoro, Covas, Serra e FHC. E que votou contra Dilma.
Tem suas convicções neoliberais, certamente, mas não é um cínico.
E diz com todas as letras que a corrupção nunca foi tão pequena no Brasil.
O que não é, claro, razão para tolerá-la ou para “deixar para lá” a roubalheira, mesmo que em escala melhor.
Semler dá uma bordoada em quem acha que tudo está acontecendo “contra” Dilma e é claro ao afirmar que é ela quem está criando as condições para que a lama venha à tona: “É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer outro presidente. Com roubalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo”
É algo para que se faça o que jamais recomendo aqui, por deixar que cada um chegue às suas conclusões. Mas que, neste caso, o faço: reproduzir e mandar para todos.
Leia, e você vai ler de um tirada só, sem parar, porque a honradez intelectual e moral  não tem partido.


Nunca se roubou tão pouco

Não sendo petista, e sim tucano, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país.

Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.

Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.

Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos "cochons des dix pour cent", os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.

Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão --cem vezes mais do que o caso Petrobras-- pelos empresários?

Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado daqui. Que fingimento é esse?

Vejo as pessoas vociferarem contra os nordestinos que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff. Garantir renda para quem sempre foi preterido no desenvolvimento deveria ser motivo de princípio e de orgulho para um bom brasileiro. Tanto faz o partido.

Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país.

É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo.

Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite do sistema corrupto e políticas econômicas.

Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.

A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas.

O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras.

É lógico que a defesa desses executivos presos vão entrar novamente com habeas corpus, vários deles serão soltos, mas o susto e o passo à frente está dado. Daqui não se volta atrás como país.

A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas. O roubo está caindo, mas como a represa da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento.

Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. E são os grandes partidos que os brasileiros reconduzem desde sempre.

Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor?

Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno sistêmico é homeopático. 

Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e não de um partido.

O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância cínicas. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada de nós sabe o que precisa fazer em vez de resmungar.

RICARDO SEMLER, 55, empresário, é sócio da Semco Partners. Foi professor visitante da Harvard Law School e professor de MBA no MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA)

QUE TAL FAZER JUSTIÇA? DE VERDADE?


CINCO CASOS DE CORRUPÇÃO DA TUCANADA CUJOS RESPONSÁVEIS CONTINUAM LIVRES, LEVES E SOLTOS

O jornalista Elio Gaspari que se saiba não é petista e nem faz parte do governo federal. Seu texto é apenas jornalístico... sem comentários, nem precisa, basta ler...

Elio Gaspari - Folha de São Paulo
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br//1534741-todos-soltos-todos-s…
Todos soltos, todos soltos, até hoje

Nos debates medíocres da TV Bandeirantes e do SBT, em que Dilma Rousseff parecia disputar a Presidência com Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves parecia lutar por um novo mandato em Minas Gerais, houve um momento estimulante. Foram as saraivadas de cinco "todos soltos" desferida pela doutora.

Discutia-se a corrupção do aparelho petista e ela arrolou cinco escândalos tucanos: "Caso Sivam", "Pasta Rosa", "Compra de votos para a reeleição de FHC", "Mensalão tucano mineiro" e "Compra de trens em São Paulo". A cada um, ela perguntava onde estavam os responsáveis e respondia: "Todos soltos". Faltou dizer: todos soltos, até hoje.

Não foi Dilma quem botou a bancada da Papuda na cadeia, foi a Justiça. Lula e o comissariado petista deram toda a solidariedade possível aos companheiros, inclusive aos que se declararam "presos políticos". Aécio também nada tem a ver com o fato de os tucanos dos cinco escândalos estarem soltos. Eles receberam essa graça porque o Ministério Público e o Judiciário não conseguiram colocar-lhes as algemas. O tucanato deu-lhes graus variáveis de solidariedade e silêncio.

Pela linha de argumentação dos dois candidatos, é falta de educação falar dos males petistas para Dilma ou dos tucanos para Aécio. Triste conclusão: quando mencionam casos específicos, os dois têm razão. A boa notícia é que ambos prometem mudar essa escrita.

A doutora Dilma listou os cinco escândalos tucanos, todos do século passado, impunes até hoje. Vale relembrá-los.

CASO SIVAM
Em 1993 (governo Itamar Franco), escolheu-se a empresa americana Raytheon para montar um sistema de vigilância no espaço aéreo da Amazônia. Coisa de US$ 1,7 bilhão, sem concorrência. Dois anos depois (governo FHC), o "New York Times" publicou que, segundo os serviços de informações americanos, rolaram propinas no negócio. Diretores da Thomson, que perdera a disputa, diziam que a gorjeta ficara em US$ 30 milhões. Tudo poderia ser briga de concorrentes, até que um tucano grampeou um assessor de FHC e flagrou-o dizendo que o projeto precisava de uma "prensa" para andar. Relatando uma conversa com um senador, afirmou que ele sabia "quem levou dinheiro, quanto levou".

O tucano grampeado voou para a Embaixada do Brasil no México, o grampeador migrou para o governo de São Paulo e o ministro da Aeronáutica perdeu o cargo. Só. FHC classificou o noticiário sobre o assunto como "espalhafatoso".

PASTA ROSA
Em agosto de 1995, FHC fechou o banco Econômico. Estava quebrado e pertencia a Ângelo Calmon de Sá, um príncipe da banca e ex-ministro da Indústria e Comércio. Numa salinha do gabinete do doutor, a equipe do Banco Central que assumiu o Econômico encontrou quatro pastas, uma da quais era rosa. Nelas estava a documentação do ervanário que a banca aspergira nas eleições de 1986, 1990 e 1994. Tudo direitinho: 59 nomes de deputados, 15 de senadores e 10 de governadores, com notas fiscais, cópias de cheques e quantias. Serviço de banqueiro meticuloso. Havia um ranking com as cotações dos beneficiados e alguns ganharam breves verbetes. No caso de um deputado, registravam 43 transações, 12 com cheques.

Nos três pleitos, esse pedaço da banca deve ter queimado mais de US$ 10 milhões. A papelada tornara-se uma batata quente nas mãos da cúpula do Banco Central. De novo, foi usada numa briga de tucanos e deu-se um vazamento seletivo. Quando se percebeu que o conjunto da obra escapara ao controle, o assunto começou a ser esquecido. FHC informou que os responsáveis pela exposição pagariam na forma da lei: "Se for cargo de confiança, perdeu o cargo na hora; se for cargo administrativo, será punido administrativamente". Para felicidade da banca, deu em nada.

COMPRA DE VOTOS PARA A REELEIÇÃO DE FHC
Em maio de 1997, os deputados Ronivon Santiago e João Maia revelaram que cada um deles recebera R$ 200 mil para votar a favor da emenda constitucional que criou o instituto da reeleição dos presidentes e governadores. Ronivon e Maia elegiam-se pelo Acre e pertenciam ao PFL, hoje DEM. Foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Ronivon voltou à Câmara em 2002. De onde vinha o dinheiro, até hoje não se sabe.

MENSALÃO TUCANO MINEIRO
Em 1998, Eduardo Azeredo perdeu para o ex-presidente Itamar Franco a disputa em que tentava se reeleger governador de Minas Gerais. Quatro anos depois, elegeu-se senador e tornou-se presidente do PSDB. Em 2005, quando já estourara o caso do mensalão petista, o nome de Azeredo caiu na roda das mágicas de Marcos Valério. Quatro anos antes de operar para o comissariado, ele dava contratos firmados com o governo de Azeredo como garantia para empréstimos junto ao banco Rural (o mesmo que seria usado pelos comissários.) O dinheiro ia para candidatos da coligação de Azeredo. O PSDB blindou o senador, abraçou a tese do "caixa dois" e manteve-o na presidência do partido durante três meses.

Quando perdeu a solidariedade de FHC, Azeredo disse que, durante a disputa de 1998, ele "teve comitês bancados pela minha campanha". Em fevereiro passado, o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia do procurador-geral contra Azeredo e ele renunciou ao mandato de deputado federal (sempre pelo PSDB). Com isso, conseguiu que o processo recomeçasse na primeira instância, em Minas Gerais. Está lá.

COMPRA DE TRENS EM SP
Assim como o caso Sivam, o fio da meada da corrupção para a venda de equipamentos ao governo paulista foi puxado no exterior. O "Wall Street Journal" noticiou em 2008 que a empresa Alstom, francesa, molhara mãos de brasileiros em contratos fechados entre 1995 e 2003. Coisa de US$ 32 milhões, para começar. O Judiciário suíço investigava a Alstom e tinha listas com nomes e endereços de pessoas beneficiadas. Um diretor da filial brasileira foi preso e solto. Outro, na Suíça, também foi preso e colaborou com as autoridades.

Um aspecto interessante desse caso está no fato de que a investigação corria na Suíça, mas andava devagar em São Paulo. Outras maracutaias, envolvendo hierarcas da Indonésia e de Zâmbia, resultaram em punições. Há um ano a empresa alemã Siemens, que participava de consórcios com a Alstom, começou a colaborar com as autoridades brasileiras e expôs o cartel de fornecedores que azeitava contratos com propinas que chegavam a 8,5%.

Em 2008, surgiu o nome de Robson Marinho, chefe da Casa Civil do governo de São Paulo entre 1995 e 2001, nomeado ministro do Tribunal de Contas do Estado. Em março passado, os suíços bloquearam uma conta do doutor num banco local, com saldo de US$ 1,1 milhão. Ele nega ser o dono da arca, pela qual passaram US$ 2,7 milhões. (Marinho tem uma ilha em Paraty.) O Ministério Público de São Paulo já denunciou 30 pessoas e 12 empresas. Como diz a doutora, "todos soltos".

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

CIGARRAS

As cigarras desde cedo falam sem parar em Itap'tan. Como em um verão em Brasília há quarenta anos atrás.
O que elas falam, isso é mais intrigante do que os discursos dos biólogos podem sugerir. 
Vou continuar a prestar atenção. Engano seu, se você pensa que é um som monótono.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O USO POLÍTICO DA CORRUPÇÃO

Eduardo Guimarães


Tentam intimidar Dilma para que ela pare investigações de corrupção

Buzz This
Post to Google Buzz
Bookmark this on Delicious
Bookmark this on Digg
Share on FriendFeed
Share on Facebook
Share on LinkedIn

cara de pau
A direita midiática vem desferindo seguidas bofetadas no rosto de cada um dos 200 milhões de brasileiros de todas as classes sociais e regiões do país que têm consciência de um fato inegável: os governos do PT instauraram uma política republicana de combate total à corrupção que não poupa nem o partido do governo e seus aliados.
Só sendo muito canalha para manter esse discurso revoltante que tenta convencer os brasileiros de que, até 2012, nenhum político foi condenado à prisão pelo STF porque todos sempre foram santos, ou de que não havia corrupção na Petrobrás ou em qualquer outra parte antes de o PT chegar ao poder.
Como é possível que uma empresa como a Petrobrás valha quase dez vezes mais hoje do que valia antes de o PT chegar ao poder a despeito de esse partido ter corrompido a até então virginal empresa de economia mista? Se isso fosse verdade, a receita para uma empresa crescer seria estimular a corrupção em seu quadro de funcionários.
Os fatos diferem muito do que diz uma grande mídia e uma oposição que, até 2002, governavam o país a quatro mãos acobertando a roubalheira, aparelhando o Ministério Público, a Polícia Federal, o Tribunal de Contas da União e todos os demais órgãos de controle, de modo que nenhuma investigação prosperava.
A alternativa a essa premissa seria acreditar, por exemplo, que, antes de o PT chegar ao poder, o STF nunca havia condenado nenhum político minimamente importante, sobretudo os que integraram governos, porque todos os políticos sempre andaram na linha.
Este Blog desafia qualquer um a mostrar qualquer período na história da República em que tenha ocorrido o impensável, ou seja, donos de empreiteiras sendo presos por corrupção.
Quem concorda que isso nunca aconteceu no Brasil e, assim mesmo, papagaia a mídia, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso quando se referem às investigações na Petrobrás afirmando que não havia corrupção na empresa antes de o PT chegar ao poder, acha que o Brasil é povoado por 200 milhões de idiotas.
O polêmico ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deu uma dentro quando, em discurso recente, qualificou os pedidos de impeachment de Dilma, de volta da ditadura militar etc. como tentativa de “intimidação” do governo federal, pois é isso mesmo o que está acontecendo.
Alas do PMDB e a totalidade do PSDB, entre outros, sabem muito bem que não há só governistas ou petistas sendo acusados pelas delações premiadas em curso, e que empreiteiras que prestam serviços ao governo federal e estão sendo acusadas também prestam serviços aos governos estaduais e municipais controlados pela oposição a Dilma.
Os vazamentos seletivos de acusações dos delatores que estão colaborando com a PF e a pressa da oposição e da mídia ao darem tudo como esclarecido ao afirmarem que o PT e aliados são os únicos envolvidos, tudo isso pretende intimidar o governo para que segure as investigações.
A ideia da direita midiática, pois, é a de que conseguirá desencadear um processo de impeachment de Dilma antes que tudo venha à tona.
Fontes deste Blog, porém, garantem que, quando o conteúdo das delações premiadas for divulgado, quando o procurador-geral da República e o STF liberarem os nomes dos agentes públicos envolvidos, por certo aparecerão nomes de governistas do PT e de outros partidos, sim, mas também aparecerão nomes do PSDB e do resto da oposição.
Ah, quem está no poder é o PT? Conversa. A oposição ao governo federal também é governo nos Estados e municípios.
As investigações sobre as empreiteiras dificilmente deixarão de, por exemplo, abrir a caixa-preta do Rodoanel paulista, que não termina nunca de ser construído, ou do metrô de São Paulo, que, em média, avança um quilômetro por ano apesar dos bilhões que o governo paulista gasta com as empreiteiras.
Isso sem falar que, em Minas Gerais, haverá uma devassa nos 12 anos que o PSDB governou aquele Estado.
Por tudo isso, as fontes deste Blog dizem que mídia e oposição podem tirar o cavalinho da chuva. Não vão conseguir derrubar Dilma antes de serem divulgados os nomes dos agentes públicos (DE TODOS OS PARTIDOS) que estão sendo acusados pelos delatores premiados pelo Estado brasileiro.
Não existe brasileiro que não saiba que as empreiteiras sempre foram as maiores patrocinadoras de corrupção no país. A menos que essas mega empresas brasileiras sejam um fenômeno de competência tipicamente tupiniquim, o tamanho delas, em relação às de países até mais avançados, mostra que encontraram uma “fórmula” de crescer que suas congêneres de outros países nunca descobriram.
A fórmula das empreiteiras brasileiras para terem se tornado um fenômeno mundial em termos de faturamento e crescimento, a ponto de hoje atuarem até em países desenvolvidos, foi sempre a de corromper governos, financiando campanhas eleitorais etc. Só que governo nenhum jamais investigou isso.
Lula e depois Dilma mudaram o Brasil não só no combate à pobreza, à miséria e distribuindo renda como nunca se fez. Sempre digo que a maior obra dos governos do PT foi a institucionalização do combate à corrupção, que tem sido tão completo que, após décadas e décadas, finalmente empreiteiras estão sendo desmascaradas.

O GOLPE, HOJE E SEMPRE

Matéria de Miguel do Rosário, no O Cafezinho


A direita tenta dar golpe de Estado

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

Uma tentativa concreta de golpe de Estado, finalmente! O primeiro contra o segundo mandato de Dilma.

A política brasileira já estava ficando enfadonha!

As pessoas devem entender que golpes de Estado são sempre assim: vem de dentro.

Explora-se as contradições de um governo, fomenta-se a insatisfação entre grupos que possuem autonomia funcional (como exército, judiciário, MP e PF), sem ligação com o povo, sem voto, mas detêm poder de fogo, dá-se-lhes uma cobertura midiática favorável, um verniz de legalidade, e pronto!

Temos uma embalagem perfeita para derrubar um governo legitimamente eleito.

Por uma linda coincidência, tudo acontece no dia seguinte em que se descobre que os policiais federais que cuidavam da operação Lava-Jato faziam estardalhaço, em suas redes sociais, com informações sigilosas, espalhando ofensas contra o governo e dando loas a Aécio Neves, o candidato da oposição.

Claro, tiveram que adiantar o ataque! Ou então, o que também é plausível, fazia parte do plano levar adiante essas ações na véspera do dia 15 de novembro, quando a direita quer botar mais golpistas na rua.

O mesmo setor da PF, sob orientação dos mesmos promotores do Ministério Público e da mesma Justiça, desencadeiam uma operação espetáculo, com uma cobertura intensa da mídia, para prender figuras graúdas de empreiteiras que fizeram negócios com a Petrobrás, além de um ex-diretor da estatal, Renato Duque.

Não se fala mais de nenhum outro partido, deixando claro que a operação de hoje, midiática, sensacionalista, pode ser o primeiro grande ataque ao governo desencadeado a partir da “República do Galeão” do Paraná.

O núcleo de procuradores, agentes da PF, o juiz Sério Moro, o senador Alvaro Dias, além, é claro, do cartel midiático, não parece interessado numa investigação isenta e eficiente sobre os desvios na Petrobrás.

O objetivo é derrubar o governo.

A prisão espetaculosa de diretores de empreiteiras vai nesse sentido.

Os mesmos procuradores e agentes da PF que se posicionam com tanta agressividade contra o PT irão interrogá-los.

O juiz Sergio Moro irá oferecer-lhes delação premiada.

A mídia nem precisa falar nada. Todos sabem que a única maneira de escapar das malhas da fúria midiática é acusando o PT.

Resultado: todo mundo vai acusar o PT.

Não haverá necessidade de provas, além de declarações. Isso a imprensa já deixou claro. Ela se encarregará de fazer investigações, julgar, condenar e ainda vigiar as condições carcerárias.

A mídia brasileira aceita o papel com a volúpia de sempre: ser policial, juiz e carcereiro.

Esta é a razão pela qual a oposição quer tanto Eduardo Cunha na presidência da Câmara.

O plano é pedir o impeachment.

Conseguindo ou não, ao menos paralisam a máquina pública, e atrasam as grandes obras, para que não possam ser inauguradas por Dilma.

Ou a derrubam antes disso.

Enquanto isso, a imprensa cita a oposição para dizer que a etapa seguinte da Lava-Jato será a prisão de políticos.

Ora, como eles sabem?

Não há mais sequer o cuidado de esconder a relação orgânica estabelecida entre políticos de oposição do Paraná, como o senador tucano Alvaro Dias, e o deputado federal Rubens Bueno, do PPS, e a “República do Galeão”, ou “República do Paraná”.

Na CBN, os internautas avisam que Merval Pereira age como um sargentão sublevado em êxtase ao ver as tropas rebeldes nas ruas. Fala em “fim do governo” e outras expressões bem democráticas.

Na imprensa, os agentes da PF aparecem falando em “juízo final”.

O grande jogo já começou. A direita lançou a sua primeira cartada importante.

Claro que é preciso investigar os esquemas de corrupção na Petrobrás.

Transformar tudo, porém, num espetáculo político, comprometerá a isenção das investigações.

Pretender transformar um espetáculo num golpe de Estado, por sua vez, é um crime.

A direita não conseguiu vencer nas urnas, então agora vai apelar para o que sempre fez: golpe.