sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE O MENTIRÃO DE BARBOSÃO

De Breno Altman, no Brasil 247


As palavras finais do presidente da corte suprema, depois da decisão que absolveu os réus da AP 470 do crime de quadrilha, soaram como a lástima venenosa de um homem derrotado, inerte diante do fracasso que começa a lhe bater à porta. A arrogância do ministro Barbosa, abatida provisoriamente pelo colegiado do STF, aninhou-se em ataque incomum à democracia e ao governo.
"Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é apenas o primeiro passo", discursou o relator da AP 470. "Esta maioria de circunstância foi formada sob medida para lançar por terra todo um trabalho primoroso, levado a cabo por esta corte no segundo semestre de 2012."
Sua narrativa traz uma verdade, um insulto e uma fantasia.
Tem razão quando vê risco de desmoronamento do processo construído sob sua batuta. A absolvição pelo crime de quadrilha enfraquece fortemente a acusação. Se não há bando organizado, perde muito de sua credibilidade o roteiro forjado pela Procuradoria Geral da República e avalizado por Barbosa. A peça acusatória, afinal, apresentava cada passo como parte minuciosa de um plano concebido e executado de forma coletiva, além de permanente, com o intuito de preservação do poder político. Se cai a tese de quadrilha, mais cedo ou mais tarde, as demais etapas terão que ser revistas. Essa é a porção verdadeira de sua intervenção matreira.
A raiva de Barbosa justifica-se porque, no coração desta verdade, está a neutralização da principal carta de seu baralho. O ex-ministro José Dirceu foi condenado sem provas materiais ou testemunhais, como bem salientou o jurista Ives Gandra Martins, homem de posições conservadoras e antipetistas. A base de sua criminalização foi uma teoria denominada "domínio do fato": mesmo sem provas, Dirceu era culpado por presunção, oriunda de sua função de líder da eventual quadrilha. Absolvido do crime fundante, a existência de bando, como pode o histórico dirigente petista estar condenado pelo delito derivado? Se não há quadrilha, inexiste liderança de tal organização. A própria tese condenatória se dissolve no ar. O que sobra é um inocente cumprindo pena de maneira injusta e arbitrária.
Derrotado, Barbosa recorreu a um insulto: acusa o governo da República de ter ardilosamente montado uma "maioria de circunstância", como se a fonte de sua indicação fosse distinta dos demais. Aponta o dedo ao Planalto sem provas e sem respeito pela Constituição. Atropela a independência dos poderes porque seu ponto de vista se tornou minoritário. Ao contrário da presidente Dilma Rousseff, que manteve regulamentar distância das decisões tomadas pelo STF, mesmo quando eram desfavoráveis a seus companheiros, incorre em crime de Estado ao denunciar, através de uma falácia, suposta conspiração da chefe do Executivo.
A conclusão chorosa de seu discurso é uma fantasia. Não se pode chamar de "trabalho primoroso" uma fieira de trapaças. O presidente do STF mandou para um inquérito secreto, inscrito sob o número 2474, as provas e laudos que atestavam a legalidade das operações entre Banco do Brasil, Visanet e as agências de publicidade do sr. Marcos Valério. Omitiu ou desconsiderou centenas de testemunhas favoráveis à defesa. Desrespeitou seus colegas e tratou de jogar a mídia contra opiniões que lhe contradiziam. Após obter sentenças que atendiam aos objetivos que traçara, lançou-se a executá-las de forma ilegal e imoral.
O ministro Joaquim Barbosa imaginou-se, e nisso há mesmo um primor, como condutor ideal para uma das maiores fraudes jurídicas desde a ditadura. Adulado pela imprensa conservadora e parte das elites, sentiu-se à vontade no papel do pobre menino que é glorificado pela casa grande por suas façanhas e truques para criminalizar o partido da senzala.
O presidente do STF lembra o protagonista da série House of Cards, que anda conquistando corações e mentes. Para sua tristeza, ele está se desempenhando como um Frank Underwood às avessas. O personagem original comete incríveis delitos e manobras para chegar à Presidência dos Estados Unidos, derrubando um a um seus adversários. O ministro Barbosa, porém, afunda-se em um pântano de mentiras e artimanhas antes de ter dado sequer o primeiro passo para atravessar a praça rumo ao Palácio do Planalto.
Acuado e sentindo o constrangimento de sua nudez político-jurídica, o ministro atira-se a vinganças, recorrendo aos asseclas que irregularmente nomeou, na Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, como feitores das sentenças dos petistas. Delúbio Soares teve o regime semiaberto suspenso na noite de ontem. José Dirceu tem contra si uma investigação fajuta sobre uso de aparelho celular, cujo único propósito é impedir o sistema penal que lhe é devido. O governo de Brasília está sendo falsamente acusado, com a cumplicidade das Organizações Globo, de conceder regalias aos réus.
O ódio cego de Barbosa contra o PT e seus dirigentes presos, que nenhuma força republicana ainda se apresentou para frear, também demonstra a fragilidade da situação pela qual atravessam o presidente do STF e seus aliados. Fosse sólido o julgamento que comandou, nenhuma dessas artimanhas inquisitoriais seria necessária.
O fato é que seu castelo de cartas começou a ruir. Ao final dessa jornada, o chefe atual da corte suprema sucumbirá ao ostracismo próprio dos anões da política e da justiça. Homem culto, Barbosa tem motivos de sobra para uivar contra seus pares. Provavelmente sabe o lugar que a história reserva para quem, com o sentimento dos tiranos, veste a toga dos magistrados.
Breno Altman é diretor editorial do site Opera Mundi

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

PAULO MOREIRA LEITE, SOBRE A INTERVENÇÃO DE LUIS ROBERTO BARROSO

A OPORTUNA LIÇÃO DE BARROSO

Ministro lembrou que Justiça trabalha com fatos e provas, em vez de "exemplos" e "símbolos"

 O ministro Luiz Roberto Barroso deu uma aula de justiça, ontem.
Desde o início da ação penal 470 nós ouvimos a tese de que o país precisava de um julgamento exemplar. O argumento é que estávamos diante de uma denúncia histórica, cujo resultado teria um grande efeito simbólico.
Barroso disse:
“Antes de ser exemplar e simbólica, a Justiça precisa ser justa, sob pena de não poder ser nem um bom exemplo nem um bom símbolo".
É isso mesmo. 
Sob a presidência de Carlos Ayres Britto, que deu início ao julgamento da AP 470, falava-se tanto no caráter “simbólico” e “exemplar” da decisão que até imaginei que o STF preparava uma mudança de função e endereço.
Em vez de permanecer na Praça dos Três Poderes, como um dos Poderes da República, com o dever constitucional de zelar pelo cumprimento das leis, pretendia  mudar-se para o divã do psicanalista Carl Jung, e passar a debater o efeito de suas sentenças sobre o inconsciente coletivo do país. Seria uma ótima diversão para todos -- menos para os réus e para quem compreende o papel da Justiça na vida de homens e mulheres. 
A prioridade dos exemplar e dos símbolos é assim. Substitui o fato pela versão.
Há um truque, aqui.
O papel de elaborar versões, nas sociedades contemporâneas, não é para qualquer um.  Nosso divã de psicanalista coletivo encontra-se nos meios de comunicação, que nos dizem quem são os heróis, os bandidos, o certo e o errado.  Vale o que escrevem, argumentam, explicam. Criam os mitos e, como dizia Jung, os arquétipos. 
É através dessa opinião publicada – que os ingênuos confundem com opinião publica – que se forma o exemplar e o simbólico. 
É por isso que nossos psicanalistas estão lá, noite e dia, nos jornais, na TV, para repetir suas histórias. 
Sem resposta de conteúdo para uma mudança que, se for confirmada no dia de hoje, como tudo indica, representará um avanço do julgamento da AP 470 na direção correta, alerta-se para o risco simbólico, para o exemplar.
Estranho que até agora ninguém tenha falado no “cultural.”
Evita-se perguntar por que ocorre uma mudança, quais seus motivos reais.
Todo esforço consiste em evitar  perguntas incômodas e questões de fundo.
Tenta-se fugir da  fraqueza notória nos argumentos da denúncia. Pretende-se ignorar a  insuficiência das provas para colocar um cidadão por dois ou três anos na prisão – como se uma existência humana, se o direito a liberdade e a presunção da inocência, fossem questões menores, que podem ser jogadas para lá ou para cá, ao sabor das convenientes do dia e, especialmente, da noite dos símbolos e exemplos.
Em vez de estimular a razão, nossos psicanalistas querem estimular o medo, a mais perigosa das emoções do mundo político.
O que o povo vai pensar? O "povo". Não o povo, aquele que não é bobo.  
O nome deste processo é marketing.
A base desse raciocínio é inconfessável. Tenta-se convencer um país inteiro que sua população não está preparada para assistir a demonstração de que o STF, o “exemplo,” o “símbolo”, também pode errar e, quando isso acontece, este erro deve ser corrigido.
Querem fazer a educação através do mito e não pela razão.
 Essa pedagogia implica em enxergar a população brasileira como uma aglomeração de homens e mulheres incapazes de compreender seus direitos e lutar por eles. Por isso nem sempre é preciso respeitar a vontade popular nem a soberania dos poderes que emanam do povo.
Diante de pessoas que não podem tomar decisões por conta própria e necessitam de tutores e mestres para apontar o caminho do certo e do justo, nossos psicanalistas podem mais.  
Vamos entender de uma vez por todas: quem fala no exemplar e no simbólico está dizendo que a mentira pode ser útil, o erro pode ser necessário, a Justiça pode ser apenas uma aparência – desde que sirva a seus propósitos.
É este o debate. E, após tantos momentos de treva, parece haver um pouco de luz. 

UCRÂNIA E VENEZUELA

Um ótimo resumo da situação, recolhi no Blog do Miro

Diferenças entre Venezuela e Ucrânia

viCman/Rebelión
Por FC Leite Filho, no blog Café na Política:

Não quero plagiar a Dilma, para quem “a Venezuela não é a Ucrânia”, mas tentar estabelecer as diferenças dos dois processos, ambos empurrados para a guerra civil, em função do jogo de interesses das potências ocidentais e suas gigantescas transnacionais petrolíferas e midiáticas.

Comecemos pela Venezuela. Rica em petróleo, esta nação, situada ao noroeste de nosso Brasil, é sacudida por intermitentes tumultos, desde 1999. Nesse ano, ela abandonou sua condição de quase protetorado dos Estados Unidos. Por isso, derrotou o analfabetismo, a miséria absoluta em que viviam mais de 50% da população, o desemprego e a subnutrição.

Hoje, o país é o segundo da América Latina em número de universitários por habitante, vencendo mesmo a culta Argentina, só perdendo para Cuba. Para chegar a esta situação confortável, o governo bolivariano gastou 150 bilhões de dólares da conta petróleo. Era o dinheiro que ia, por baixo do pano, para as transnacionais petrolíferas, os tubarões estadunidenses e europeus, com sobras gordas para a oligarquia local. Esses setores não se conformam com a perda da galinha dos ovos de ouro e, com a mídia como principal aríete arremetem, desde então toda sorte de ataque às estruturas do país.

À diferença da Ucrânia, país eslavo a 10 mil km de distância e que agora cai, pela segunda vez nas mãos da direita (a primeira foi com a revolução laranja, responsável pela introdução de um neoliberalismo selvagem que desmantelou a indústria e fez explodir o -desemprego), o país sul-americano repeliu todas as arremetidas forâneas.

Com férrea determinação exercida por uma liderança política de descortino só comparável a Fidel Castro, coisa que os ucranianos estão longe de demonstrar, na atualidade, o presidente Hugo Chávez conseguiu, nos seus quase 14 anos de poder, aprofundar os avanços sociais e de soberania, no que foi reforçado por uma política de integração com os demais presidentes progressistas da região, inclusive do Brasil e da Argentina, os dois maiores do subcontinente. Chávez morreu de câncer, logo depois de ganhar com folga sua terceira eleição, mas passou o poder a seu fiel escudeiro, Nicolás Maduro, também eleito democraticamente e que tem exibido igual domínio das rédeas do processo.

É importante que se recorde as investidas anteriores contra o regime bolivariano, muito mais graves do que a atual, para que não caiamos no simplismo de engolir as informações distorcidas de que o governo do vizinho esteja a pique. Em seguida, vamos fazer a mesma introspecção na situação ucraniana

11/04/2002 - Hugo Chávez, há três anos no governo, é deposto por uma passeata de meio milhão de pessoas no rumo do Palácio Miraflores. No meio do cortejo anti-governista, 11 manifestantes tombam mortos por tiros disparados por sicários a mando da cúpula oculta do próprio movimento, como se comprovou depois. As redes de TV e rádio privadas suspendem suas novelas e até publicidade para concentrar-se na cobertura da passeata de mais de 10 horas e no incitamento sistemático da população contra o presidente.
Supostamente indignados com o massacre, os militares dão o golpe e prendem Chávez, ele próprio um militar. Mas isto só durou 48 horas, tempo suficiente para os golpistas mostrarem seu rosto: fechando o Parlamento, depondo os governadores eleitos de 23 Estados e estabelecendo total censura de informação. Aqui, entra um elemento fundamental não disponível hoje na Ucrânia: o povo organizado, que, mesmo debaixo da maior auto-censura da mídia, ganha as ruas, desta vez com dois milhões de pessoas, arranca Chávez da prisão e o restitui ao Palácio de Miraflores.

12/2002 e 02/2003 - Um lockout, greve patronal, conhecido como o paro petrolero, tenta paralisar, durante 63 dias, rigorosamente, todas as atividades do país, a começar da PDVSA, a empresa de petróleo e responsável por 90% da renda do país. Fecham lojas, supermercados, shoping centers, escolas, estádios de futebol, cinemas. Os venezuelanos não puderam sequer comemorar o Natal e o Ano Novo. Faltou gasolina e o desabastecimento ameaçava causar a fome.

Chávez utilizou o Exército para abrir e operar os supermercados, invadiu os navios petroleiros em greve no alto mar , fazendo-os funcionar, e assumiu o controle de câmbio, para deter a evasão de divisas. Ao mesmo tempo, a população permaneceu mobilizada nas ruas e em casa, para respaldar as medidas governamentais. 80 generais da ativa e da reserva sublevaram-se, tomando a Praça Altamira, a mesma em Chacal, que hoje serve de cenário para os atos violentos das atuais manifestações, atribuídas a estudantes. No início de fevereiro de 2003, Chávez, já no domínio da situação, demite mais de 20 mil engenheiros e dirigentes da PDVSA, por alta traição. Também, reforma mais de 300 altos ofiiciais, e segue com sua revolução bolivariana. Mas o país tinha sofrido um encolhimento no PIB de cerca de 60%.

15/08/2004 - Data do referendo revogatório, exigido pela oposição para cassar o mandato de Chávez, em meio a uma campanha de desmoralização, conduzida pelos meios de comunicação de praticamente todo o planeta, dominando mais de 90 da audiência. Hugo Chávez ganha o referendo por 58% e aproveita a oportunidade para aprofundar suas reformas sociais e econômicas. Os extremistas da oposição tentam mergulhar o país em nova crise, mas vêem-se desmoralizados em suas alegações de fraude eleitoral: a lisura do pleito havia sido atestada por observadores internacionais, inclusive o Center Jimmy Carter, do ex-presidente dos Estados Unidos.

27/05/2007 - Por não ter renovado a licença da RCTV (Rede Caracas de Televisión), a maior rede de TV do país, em funcionamento desde 1953, Chávez sofre virulenta campanha internacional, seguida de atos vandálicos nos principais centros do país. O presidente, que acusou a TV de insistir no golpismo contra as instituições, manteve sua decisão de ocupar militarmente o canal e fazer dele uma nova rede do governo, a TVS, que se juntou à Telesur e à VTV. Mas ele ainda ainda teve de aguentar alguns dias de tumulto e atentados a bens públicos, para dominar anarquia que se instalou nos bairros ricos de Caracas e outras cidades, tendo, para isso, de utilizar um dispositivo de 120 mil soldados.

25/08/2012 - O presidente Hugo Chávez já estava gravemente enfermo, quando uma explosão criminosa na refinaria Amuay, a maior do mundo, causa a morte de 48 pessoas e ferimentos em uma centena. Uma investigação concluiu que o vazamento responsável pelo incêndio foi propositado, como frisou o ministro das Minas e Energia e presidente da PDVSA, Rafael Ramírez.

14/04/2013 - Nicolás Maduro se elege presidente, sucedendo a Hugo Chávez, falecido em cinco de março, com apenas 1,5%, ou 300 mil votos, de vantagem sobre Henrique Capriles Radonski, candidato único das oposições. Capriles não aceita o resultado, faz novas acusações de fraude e convoca seus aliados a manifestar-se nas ruas. Atos vandálicos contra escolas e postos de saúde, onde atuam médicos e professores cubanos, redundam na morte de 11 pessoas e cerca de 80 feridos, em 20 dias de distúrbios que assaltaram várias capitais venezuelanas. Maduro manda recontar os votos e assume oficialmente no dia 19 do mesmo mês, iniciando um mandato de seis anos.

11/2013 – Uma explosão de preços, com remarcações, que chegaram a atingir, em alguns casos, até 12 mil por cento, aliada à escassez de produtos de primeira necessidade, levou o presidente Nicolás Maduro a decretar uma série de medidas. Elas obrigaram os comerciantes, desta vez pressionados pelo Eército e o povo na rua, a restabelecer os preços antigos e avender os produtos que haviam escondido em seus depósitos.

“Esta guerra econômica foi decidida na Casa Branca. Faz parte dos fatores de poder nos Estados Unidos, acreditando que tinha chegado o momento de destruir a revolução bolivariana”, disse o presidente. A manobra, entretanto, não foi capaz de evitar nova vitória do governo na eleição municipal de dezembro, quando os chavistas ganharam por 11,5%, dez pontos a mais que a estreita margem da eleição presidencial, em que concorreram Maduro e Henrique Capriles, este candidato único da oposição.

03/12/2013 – A cinco dias da eleição municipal, quase toda a Venezuela, incluindo a capital, Caracas, ficou sem luz devido a um colapso no fornecimento de energia elétrica. O apagão ocorreu durante um discurso televisivo do presidente Nicolás Maduro e uma partida de basquete. Maduro entendeu tratar-se de uma ação subversiva planejada de fora, e ordenou colocar as forças armadas e de segurança em estado de alerta máximo.

23/01/2014 – Renunciando à via eleitoral e institucional, a oposição se bifurca, tendo a vertente mais extremista , liderada por Leopoldo López, ex-agente da CIA, novamente assaltado as ruas, incendiando escolas, postos de saúde, estações do metrô e atentado contra as redes elétricas. Os distúrbios já causaram 15 mortos e tendem a continuar, mas o governo bolivariano, parece novamente no domínio do processo, inclusive porque os atos são de puro terrorismo e são rechaçados por 85% da população. Esta sofre com o trancamento de ruas, depredações, sujeira e detritos infestando as principais vias do país.

Agora analisemos a Ucrânia. Um presidente tíbio e enredado em profundas contradições foi incapaz de domar uma turba violenta de leões de chácara, lutadores de boxe e grupos assumidamente nazistas que havia três meses ocupava, incendiava e assassinava soldados e adversários, na praça do Parlamento, onde também se situam os principais prédios públicos.

Viktor Ianukovitch viu-se finalmente deposto por um golpe parlamentar e fugiu da capital, deixando o poder com os insurretos, financiados e treinados pela Europa e os Estados Unidos, interessados nesta área altamente estratégica e tradicionalmente aliada da Rússia.

Tomaram o poder? Longe disso. No máximo, podem ter precipitado a partição daquele imenso país, o maior em território e celeiro da Europa. Talvez nem isso consiga, porque, como ocorreu com a revolução laranja, de 2004, quando assumiram o poder formal em Kiev, tiveram de sair correndo três anos depois, porque os ucranianos não aceitaram a dilapidação de seu patrimônio e a receita do FMI.

Os principais líderes laranjas, o corrupto Viktor Yushchenko e a bilionária Yulia Timoshenko, até há pouco amargavam na prisão, condenados por desvio de verbas, isso depois de terem sido escorraçados nas urnas pelo mesmo tipo de eleitorado iludido que hoje aclama os “heróis da Praça Maidan”, outro nome dado à Praça da Independência..

Menos de uma semana depois da queda de Yanukovicht lá já estavam os técnicos do FMI para aplicar uma política fiscal, com o mesmo receituário que nos aplicavam por aqui, com arrocho e congelamento salarial, cortes nos programas sociais, recessão econômica e privatização do Estado. O país tem de pagar só este ano 35 bilhões de dólares e a Europa e Estados Unidos já avisaram que o dinheiro tem de ficar a cargo dos ucranianos.

A Rússia, que se habilitara a pagar a conta em contrapartidas bem mais suaves, certamente vai retirar a proposta, além de suspender as parcelas mais gordas do empréstimo de 15 bilhões prometidos ao antigo governo. Isolada na Praça Maidan, a turba que controla a Praça da Independência, sempre falando em nome da sociedade civil e indicando os nomes do novo governo, terá também pela sua frente a ameaça concreta de separação das regiões leste e sul, fronteiriças ao antigo território soviético, e onde estão concentradas as indústrias. Os nacionalistas já saíram às ruas para pedir a autonomia da Crimeia, outro território rico à beira do Mar Negro, onde uma base naval, reforçada pelo governo do presidente Vladimir Putin, deverá garantir as aspirações dos 60% da população de origem russa daquele território.

A Ucrânia é um país geográfica, étnica, econômica, cultural e militarmente dividido. Quase um quarto da população, vivendo nas regiões sul e leste do país, é de origem russa e fala a língua de seus antepassados, de quem se consideram aliados incondicionais, inclusive por uma questão de sobrevivência.

Finalmente, há a questão estratégica. O governo Putin já avisou que não vai aceitar a aberta ingerência da Europa e dos Estados Unidos, na sua fronteira, sobretudo agora, que já recuperou boa parte de seu poderio militar, destroçado depois da aventura da Perestroika e do consequente colapso do então Bloco Soviético.

Como se sabe, o trunfo russo não reside apenas na força militar e atômica que, segundo o politólogo Moniz Bandeira, autor do livro A Segunda Guerra Fria, recentemente lançado pela Editora Civilização Brasileira, permaneceu quase intacto depois da dissolução do bloco soviético. Ele está também em mais de 50% da energia (petróleo e gás natural) com que a Rússia abastece a Europa, através o gasoduto, que inclusive passa pela Ucrânia, país altamente dependente neste setor e que agora terá que se virar para pagar o preço real pelo seu uso e não mais o preço camarada de que desfrutava até a “revolução” de Maidan.

Como o fez com a Geórgia, que depois de tomada pelo Ocidente, em 2003, Putin dividiu em três, propiciando a independência da Ossétia e da Abecásia, estas ficando sob influência russa. O presidente da antiga segunda potência também anunciou seu propósito de instalar bases militares na Venezuela, Cuba e Nicarágua, da mesma maneira que os Estados Unidos fizeram com seus vizinho na região do Cáucaso.

Está reinstalada a guerra fria, dirão alguns, mas pelo menos estes países, sob ameaça permanente de invasão pelo Exército norte-americano, terão uma proteção contra aventuras intervencionistas, como Cuba teve no passado com a velha União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Ou alguém tem dúvida de que a URSS teria impedido a invasão do Iraque, Afeganistão e a guerra civil na Síria?

NOS EUA COMO NO BRASIL, OS PODEROSOS PODEM DELINQUIR

Saiu no Viomundo

A guerra suja da Syngenta contra o cientista Tyrone Hayes

publicado em 25 de fevereiro de 2014 às 18:51

por Heloisa Villela, de Nova York
O trabalho de pesquisa do cientista Tyrone Hayes mais parece um roteiro pronto para um diretor como Martin Scorsese.

A jornalista Rachel Aviv, da revista New Yorker, contou a saga de Hayes em nome da Ciência.

Uma pesquisa que bateu de frente com a Syngenta, a gigante suíça que fabrica pesticidas e vende sementes.

Em 1998 Tyrone Hayes já trabalhava no laboratório de biologia da Universidade da Califórnia em Berkeley quando foi convidado, pela Syngenta, para fazer uma pesquisa a respeito do herbicida atrazina, fabricado pela Syngenta. Hayes topou. Ele tinha trinta e um anos e já havia publicado vários trabalhos sobre o sistema endocrinológico dos anfíbios.

Os dois lados, com certeza, se arrependeram da parceria. Hayes descobriu que o atrazina atrapalhava, ou até impedia o desenvolvimento sexual dos sapos. A empresa não gostou do resultado, tentou impedir a publicação do estudo, tentou comprar os dados para mantê-los em segredo e as relações da empresa com o cientista foram rompidas, definitivamente, no ano 2000.

Mas Hayes não é do tipo que trabalha apenas pelo dinheiro. O que ele percebeu na pesquisa atiçou a curiosidade do cientista e ele continuou estudando os efeitos do atrazina sobre os anfíbios por conta própria.

O artigo de dez páginas da revista New Yorker conta como a empresa estruturou e levou a cabo uma ampla campanha de difamação de Hayes com o objetivo de destruir a reputação do cientista.

Estudou todos os aspectos profissionais e pessoais da vida dele para melhor explorar qualquer ponto fraco. Lembra demais a descrição de táticas descritas em detalhes pelo jornalista Rubens Valente no livro Operação Banqueiro.

Como já se desconfiava por aqui, as grandes empresas farmacêuticas e do agronegócio contratam cientistas e pesquisadores para que repitam informações que interessam às empresas. E muitos se prestam, sem pudor, a esse papel.

Pior: o artigo da New Yorker relata as manobras adotadas pela empresa para comprar, também, o apoio dos responsáveis pela aprovação de drogas no mercado norte-americano.

Os riscos que o herbicida atrazina oferece à saúde foram considerados sérios o suficiente para que o produto fosse banido na Europa. Nos Estados Unidos, continua sendo usado em cerca de metade da produção de milho do país.

No Brasil, também é aplicado à vontade nas plantações.

A perseguição a Tyrone Hayes foi tão intensa que ele passou a ser visto, pelos colegas, como um paranoico. Achava que tinha a conta de e-mail monitorada, que era perseguido, que não podia fazer palestras sem a presença de agentes da Syngenta que tentavam intimidá-lo e criar dúvidas a respeito das conclusões que ele apresentava.

Para se prevenir, ele passou a copiar os dados da pesquisa e enviar para a casa dos pais. Usou o e-mail como forma de confundir o adversário, com a ajuda dos alunos que trabalhavam no laboratório com ele. Recentemente, ficou provado que Hayes não era nada paranoico e que a conspiração existia de fato.

Um dos únicos biólogos afro-americanos de destaque do país, Tyrone Hayes era considerado um dos melhores professores de Berkeley e uma das grandes promessas do meio acadêmico e científico.

Ao longo dos últimos 14 anos de guerra aberta contra a Syngenta, ele acabou perdendo o laboratório em Berkeley. Mas de certa forma, foi vingado.
A Syngenta foi processada em uma ação coletiva por 23 municípios do meio-oeste dos Estados Unidos. Eles acusaram a empresa de esconder o perigos reais do atrazina para a saúde.
Por conta do processo, jornalistas norte-americanos tiveram acesso a documentos internos, memorandos e e-mails da empresa. O trabalho de Tyrone Hayes foi a base científica usada pelos advogados dos municípios.

Desde que passou a se dedicar ao estudo dos efeitos do atrazina sobre animais e até sobre humanos, Hayes angariou seguidores.

Outros cientistas seguiram a mesma linha e ampliaram as descobertas do pioneiro na área. E hoje já existem resultados que falam em defeitos de nascimento em humanos. Enquanto os pesquisadores acumularam dados contra o herbicida, a empresa se ocupou em colher informações sobre Hayes.

Em entrevista ao programa DemocracyNow! da jornalista Amy Goodman, Tyrone Hayes contou que as ameaças não paravam na esfera científica.

Ele disse que um representante da empresa o abordou antes de uma palestra e sussurrou que ele podia ser linchado, que ía mandar uns rapazes para mostrar a Hayes como é ser gay e chegaram até a ameaçar a segurança da mulher e da filha dele.

Enquanto isso, vários trabalhos foram apresentados à EPA (Agência de Proteção Ambiental) a respeito dos perigos do atrazina para a saúde e da contaminação do solo e da água nos locais onde ele é usado.

Dados científicos que as autoridades norte-americanas refutaram duas vezes: mantiveram a licença do produto, sem restrições.

Depois também veio à tona que alguns membros do comitê da EPA, que tomou a decisão favorável ao atrazina, tinham relações com a Syngenta.

Este ano, o herbicida, o segundo mais usado nos Estados Unidos, será avaliado novamente. Quem sabe qual será o resultado da análise desta vez…

PS do Viomundo: A pesquisa do cientista demonstrou que o herbicida provoca a mudança de sexo em sapos; na excelente entrevista que deu ao DemocracyNow!, ele estranha que os conglomerados produzam tanto substâncias cancerígenas quanto contra o câncer. Por que $erá?

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

QUOUSQUE TANDEM, GLOBO E BARBOSA?

Do Blog do Miro

Barbosa e Globo perseguem Dirceu

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:        


O juiz imposto por Barbosa (ele derrubou o outro) adiou por tempo indeterminado a análise que iria determinar se Dirceu falou ou não ao celular na Papuda. Com isso, ele mantém ilegalmente Dirceu preso em regime fechado.

Todos inquéritos realizados já foram concluídos, e concluíram que não houve a maldita conversa ao celular. Lewandowski já tinha autorizado a permissão para Dirceu trabalhar, liberando o ex-ministro para cumprir a pena de semiaberto, conforme consta em sua sentença, mas o ódio de Barbosa é ilimitado e ele cancelou a decisão de Lewandowski.

Para cúmulo das arbitrariedades, a Globo iniciou nova campanha contra os condenados petistas na Papuda, alegando que eles tem “privilégios”. Sendo que o único privilégio apontado pelo jornal são fofocas sobre deputados que visitam alguns réus, usando de suas prerrogativas como parlamentar. Outra fofoca é sobre a demissão de um diretor da Papuda porque teria implicado com a barba de Delúbio.

Como assim privilégio, se Dirceu é mantido preso ilegalmente, e ainda é perseguido covardemente pela Globo, já que não pode responder?

Na página 3, a mais importante do jornal, há um editorial intitulado Desrespeito, em que o Globo desfia a ladainha dos privilégios e ataca o “Poder Executivo”. Ora, e o Poder Judiciário que desrespeita a própria sentença judicial ao manter Dirceu preso em regime fechado? Não está desrespeitando? O Globo não vai falar nada sobre isso?



Será que o jornalismo da Globo não tem nada mais importante a fazer do que perseguir José Dirceu e Delúbio? Que mesquinharia! Os caras já não estão presos?

Abaixo o texto do Fernando, no Tijolaço, que me inspirou esse post:

*****

Ódio de Joaquim Barbosa mantém Dirceu em regime fechado e ilegal
Por Fernando Brito, no 
Tijolaço.

Todos se recordam que Joaquim Barbosa tanto fez que 
derrubou o juiz da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, que é o responsável pela administração das penas impostas a José Dirceu.

Assim como foi Joaquim Barbosa que
 revogou a ordem do presidente interino do STF Ricardo Lewandowski para que o pedido de trabalho externo, a que José Dirceu tem direito como condenado em regime semi-aberto, tramitasse.

Agora, todos temos direito de imaginar que o “espírito barbosiano” tenha influído na decisão do novo titular a Vara de Execuções Penais de suspender e adiar sine die a audiência para apurar uma suposta conversa de Dirceu ao celular, cuja única “prova” é uma declaração – já desmentida – publicada na Folha.

A escandalosa manipulação dos procedimentos judiciários “de acordo com o freguês” é uma situação que, se ainda houvesse consciência jurídica no Brasil, estaria provocando um escândalo nos meios jurídicos.

Mas a justiça brasileira é, hoje, um poder avassalado pela mídia.

Não é nada mais odioso do que o ódio togado.

E nada mais perigoso para as instituições democráticas.

A NATUREZA DA POLÍCIA DO GOVERNO ALCKMIN

Este post é de meu amigo Gato

Coisas que a grande imprensa não divulga sobre os movimentos sociais, mas que você precisa saber...

Na última passeata que aconteceu em São Paulo, sábado, dia 22 de fevereiro, contra os gastos exorbitantes da copa do mundo, a polícia militar (PM) de São Paulo resolveu inovar na repressão ao movimento. A criação de um contingente novo na corporação, apelidado de Ninja em função dos conhecimentos de arte marcial que seus integrantes teriam, visava reprimir manifestações sem o uso de armas, mesmo as de menor letalidade. 
Homens altos e fortes, com capacetes, escudos, tonfas e "spray" de pimenta acompanhariam a passeata com o suposto dever de garantir a paz e a própria manifestação de acordo com a lei. Só que não é, e nem foi bem assim, o que de fato aconteceu neste dia. Todo esse "glamour" que a grande imprensa noticiou era só marketing e propaganda governamental...
Nas ruas da cidade, nas rotas próximas ao ponto de onde a manifestação começaria, policiais ameaçavam as pessoas, xingavam, procurando criar medo em quem queria participar. O cenário de terror que aconteceria pouco mais tarde estava começando. Segundo a própria PM, o movimento tinha pouco mais de 1.200 pessoas quando começou. A ideia era afugentar as pessoas, impedindo-as de se manifestarem livremente nas ruas da cidade.
No trajeto, sempre ladeado por colunas de PMs, os participantes gritavam suas falas contra a copa do mundo, por melhorias na saúde pública, educação etc. Não havia nenhum tipo de violência por parte de ninguém, até porque havia famílias, tipo pai, mãe, filhos adolescentes e alguns idosos participando... algo até novo em passeatas assim. 
Num determinado ponto, perto da estação do metrô 9 de Julho, no centro da cidade, os policiais começaram a cercar e a fechar as pessoas, formando uma espécie de chiqueirinho, numa ação conhecida por "chaleira". De forma extremamente violenta, xingando com palavrões, batendo com a tonfa, cassetetes, o escudo, chutando e empurrando, foram encurralando e apertando os participantes nas ruas. Rapidamente, num espaço cada vez menor, todos foram obrigados a sentar. Quem desobedecia, por qualquer razão, apanhava ou era retirado do chiqueirinho rapidamente.
Haviam participantes, jornalistas, pessoas que não estavam na passeata, nada disso era levado em conta. Ficaram presas dentro desta área restrita por um bom tempo, sob chuva, todos sendo ameaçados, assediados, mulheres foram alvos de sexismo, negros de preconceito. Quem se atrevia a reclamar, apanhava e recebia spray de pimenta na cara. Depois de um bom tempo, chegaram alguns micro-ônibus da polícia para levar pessoas que eram escolhidas aleatoriamente.
Nos ônibus, com capacidade para algo em torno de 30 pessoas, havia o dobro. Foram levados para várias delegacias da cidade em função do grande número de detidos, foram mais de 220 participantes. Em algumas delegacias, os advogados foram impedidos de atuar na defesa das pessoas. Houve, numa delas, um advogado que se apresentou como conselheiro da OAB paulista, que ameaçava os advogados impedindo-os de ajudarem os presos.
Um detido teve uma convulsão e os policiais militares resolveram algemá-lo. Uma detida, estudante de medicina, avisou que algemá-lo poderia ser perigoso e agravaria a situação da pessoa. Os PMs mesmo assim resolveram algemá-lo num canto entre dois ônibus, isolando-o para que ficasse longe da qualquer jornalista ou de quem quer que pudesse fazer alguma coisa. Muito tempo depois chegou uma ambulância para atender o rapaz. Aliás, mesmo com muita gente ferida, as ambulâncias demoraram a chegar e quando chegaram atenderam primeiro dois policiais... não se sabe bem porque, visto que não houve violência contra os PMs.
Nos ônibus, apinhados de gente, as pessoas ficaram horas dentro deles, algumas fizeram suas necessidades fisiológicas dentro porque os policiais não permitiram que ninguém saísse. Muitos foram maltratados, humilhados, foram alvos de preconceito e sexismo por parte da polícia militar. Até a meia noite de sábado, pessoas ainda estavam nas delegacias detidas...
E nenhum black bloc foi detido! Só gente que estava na passeata participando pacificamente do movimento contra os gastos da copa do mundo! A PM paulista, mais uma vez, mostrou sua violência gratuita e covarde contra a população desarmada e pacífica. Usando uma tática condenada na maior parte do mundo, por ser considerada um desrespeito aos direitos humanos, da livre manifestação das pessoas, a polícia paulista só reforça a tese de que precisa ser extinta. Sua marca maior é a violência, o constante desrespeito aos mais elementares direitos humanos e dos cidadãos.
Criada pela ditadura civil e militar de 64 como força auxiliar do exército para combater qualquer oposição aos regime ditatorial, as PMs não tiveram e nem tem qualquer orientação de policiar centros urbanos. Seu protocolo é o uso constante da violência, armada de preferência, contra quem for considerado uma ameaça, um bandido ou qualquer pessoa com características preconcebidas de serem meliantes perigosos.
As PMs em todos estados brasileiros, em especial a paulista, além da repressão brutal, tem o hábito de humilhar, maltratar, assediar, usar de preconceito e torturar presos e detidos. Há, também, uma clara disputa entre a PM paulista e a carioca, onde cada uma mostra a outra sua eficiência na repressão. Para os policiais paulistas, o que aconteceu é encarado como sucesso visto ninguém ter morrido ou ficado seriamente ferido. Enquanto que no Rio, aconteceu a infeliz morte do cinegrafista da Band. Há uma sinistra e absurda competição entre as duas PMs... quantos terão de morrer nesta macabra situação?

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

QUE QUADRILHA???

Por Paulo Moreira Leite. O fato de uma maioria simples do STF ter votado por essa condenação mostra mais uma vez a qualidade desses juízes.

O STF E A PARÁBOLA SOBRE A QUADRILHA

Você pode ter a opinião que quiser sobre os condenados da AP 470. Mas não pode dizer que se uniram para "o fim de cometer crimes"


O Supremo encara na quarta-feira o debate sobre os embargos infringentes contra a condenação de crime de quadrilha contra os réus da Ação Penal 470.
Conforme o artigo 288 do Código Penal, quadrilha é uma associação de “três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes". 

A condenação por este crime é inaceitável.
Você pode ter a opinião que quiser sobre os réus da AP 470. Pode dizer que eles cometeram delitos e mesmo crimes.
Mas não pode dizer que se articularam “para o fim de cometer crimes.”
 A menos, claro, que  pretenda criminalizar a atividade política.
 A atividade dos condenados não era cometer  crimes – mas fortalecer e consolidar um projeto político.
 É uma diferença que a maioria da população distingue com clareza. Essa distinção  explica as três vitórias eleitorais consecutivas obtidas pelo condomínio Lula-Dilma e, a julgar pelas pesquisas eleitorais mais recentes, pode lhe dar a quarta eleição em outubro, feito inédito desde a proclamação da República, em 1889.
 A menos que você tenha uma visão preconceituosa sobre os valores do brasileiro, como sugerem tantos antropólogos de botequim e até alguns de nossa academia, irá reconhecer que isso acontece porque a população reconhece os beneficios produzidos pelas mudanças de natureza social e econômica que foram feitas no país. Aprova a distribuição de renda, a queda da desigualdade, o menor desemprego em muitos anos de história.
É disso que estamos falando.
É errado dizer que erros e ilegalidades que podem ser apontados no processo eram o “fim” do projeto.
Embora seja possível concordar com a noção de que mais vantajoso do que assaltar um banco é fundar um, uma instituição financeira que cobra taxas indevidas de seus clientes deve ser punida pelos desvios cometidos mas não vamos dizer que é uma “quadrilha”, certo?  
Uma empresa que não paga direitos trabalhistas aos empregados deve ser acionada na Justiça mas não vamos dizer que seus executivos formam uma “quadrilha”, não é mesmo? 
Falar em quadrilha, na AP 470, não é correto, quando a melhor prova do “fim” é um Land Roover de um acusado de periculosidade afinal tão relativa  que sequer foi incluído entre os 40 réus da AP 470.
 Ou quando José Genoíno, um dos principais chefes, conforme a denuncia, reside numa casa modesta na Previdência, em São Paulo, comprada a prestações na Caixa Econômica.
 Imagine que até hoje não se falou num único projeto do governo Lula que tenha sido aprovado pela “compra de votos.” Nenhum. Com toda sua retórica, o delator Roberto Jefferson não citou um único caso.
 Quem fala da Previdência apenas demonstra que caiu num conto do vigário e desconhece um fato político elementar. Com as mudanças na Previdência o governo Lula aderiu às  propostas de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
O  problema de seu governo, então, não era conquistar votos adversários, que eram fartos, mas resolver o que fazer com os descontentes do próprio PT. A maioria foi enquadrada e disciplinada. Uma pequena parte fundou o PSOL.
 Com tudo o que se disse e se escreveu sobre a AP 470 não  se produziu nada  que se compare, por exemplo, aos R$ 200 000 embolsados pelos parlamentares que venderam seus votos para aprovar a emenda da reeleição em 1997.
 “Aquilo sim era compra de votos,” me disse o então deputado Pedro Correa (PP-PE), que testemunhou a presença de banqueiros que, à saída do plenário, entregavam a senha que os deputados convertidos deveriam apresentar a um doleiro.
Olha a verdadeira parábola do mensalão e sua quadrilha.  
Dez anos depois da compra de votos da emenda da reeleição, uma parte dos vendidos de 1994 foi atrás das verbas do esquema do PT em 2004. Estavam quebrados. Aquela denúncia da emenda da reeleição virou processo na Justiça e aqueles que foram apanhados  precisavam de dinheiro para pagar advogado.
Boa parte  era do PP, o partido de Pedro Correa, que era contra a emenda da reeleição. Queria impedir a reeleição porque ela iria atrapalhar uma possível candidatura de Paulo Maluf. Quase dez anos depois, quando Fernando Henrique já havia deixado o Planalto, onde foi reeleito com ajuda daquela turma,  o PP precisava de dinheiro para pagar a defesa dos deputados.
Hoje, condenado na AP 470, de onde seu partido tirou recursos para livrar seus colegas da cadeia, Pedro Correa cumpre pena em Pernambuco. 
Cadê a quadrilha? Quem faz parte dela?
Isso só acontece porque nossa democracia  mantem regras que estimulam o que é clandestino, irregular e pouco transparente. Apesar de falhas, defeitos e imperfeições, a democracia deve ser defendida de modo incondicional.
Não precisa de tutelas nem de salvadores de nenhum tipo.
 As principais tentativas sérias de reformar o sistema eleitoral, impedindo relações promíscuas entre o financiamento dos partidos e o setor privado, foram bloqueadas pelos que, agora, emitem suspiros horrorizadas com as falhas e desvios com as quais conviveram alegremente por anos e anos.    
 Então chegamos a uma segunda parábola. Impedimos toda e qualquer mudança nas regras do jogo mas, quando o adversário está ganhando, fazemos uma seleção sob medida para que sejam julgados e condenados sem que o direito a ampla defesa tenha sido assegurado, como observou o insuspeito jurista Ives Gandra Martins. Não damos dar sequer o direito ao desmembramento, assegurado aos réus  do PSDB-MG que não tinham direito ao foro privilegiado -- situação de 34 dos 37 réus, entre os quais Dirceu e Delúbio Soares
 Repare em quem se opôs com todas as forças ao debate no local adequado – o Congresso -- sobre a reforma eleitoral encaminhada depois dos protestos de junho.  
Repare em quem dizia que o governo  (mas também a OAB, o movimento Ficha Limpa e outros) queriam queria financiamento público exclusivo, com base no desempenho eleitoral de cada legenda, porque o PT iria beneficiar-se com isso. (Não pergunte, é claro, que outro critério, além do apoio popular, deveria ser empregado neste caso). 
Repare em quem disse que uma reforma iria fortalecer as burocracias partidárias, fingindo desconhecer que elas são a única forma de resistência aos mercadores que adquirem parlamentares como quem compra automóvel numa concessionária.
Repare em quem se disse indignado com a possibilidade da atividade política ser financiada pelo dinheiro do contribuinte – como se não fosse claro que o dinheiro que financia campanhas é devolvido, com lucros, pelos contratos favorecidos.
Cadê a quadrilha? Quem faz parte dela? 

UM PERSONAGEM ODIOSO

Do Tijolaço

Ódio de Joaquim Barbosa mantém Dirceu em regime fechado e ilegal

25 de fevereiro de 2014 | 13:28 Autor: Fernando Brito
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Todos se recordam que Joaquim Barbosa tanto fez que derrubou o juiz da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, que é o responsável pela administração das penas impostas a José Dirceu.
Assim como foi Joaquim Barbosa que revogou a ordem do presidente interino do STF Ricardo Lewandowski para que o pedido de trabalho externo, a que José Dirceu tem direito como condenado em regime semi-aberto, tramitasse.
Agora, todos temos direito de imaginar que o “espírito barbosiano”  tenha influído na decisão do novo titular a Vara de Execuções Penais tenha decidido suspender e adiar sine die a audiência para apurar uma suposta conversa de Dirceu ao celular, cuja única “prova” é  uma declaração – já desmentida – publicada na Folha.
A escandalosa manipulação dos procedimentos judiciários “de acordo com o freguês” é uma situação que, se ainda houvesse consciência jurídica no Brasil, estaria provocando um escândalo nos meios jurídicos.
Mas a justiça brasileira é, hoje, um poder avassalado pela mídia.
Não é nada mais odioso do que o ódio togado.
E nada mais perigoso para as instituições democráticas.

CORRUPÇÃO AQUI, NOS EUA E NO REINO UNIDO

Do Carta Maior


Sonegação dos ricos é 25 vezes maior que corrupção nos países em desenvolvimento

No ano passado, cerca de um trilhão de dólares fugiram dos países em desenvolvimento e terminaram em paraísos fiscais. Conheça as capitais da corrupção.


Marcelo Justo
Arquivo

Londres - Uma visão muito difundida sobre o desenvolvimento econômico afirma que os problemas enfrentados pelas economias em desenvolvimento e os países pobres se devem à corrupção. Essa visão se choca com um dado contundente da realidade internacional: a China. Nem mesmo o Partido Comunista põe em dúvida que a corrupção é um dos grandes problemas nacionais, o que não impediu um crescimento médio de dois dígitos nas últimas três décadas.

No entanto, segundo Jason Hickel, professor da London School of Economics, esta perspectiva oculta um problema muito mais fundamental em termos sistêmicos para a economia mundial: a corrupção dos países desenvolvidos. Trata-se de uma corrupção do colarinho branco, invisível e refinada, que foi uma das causas do estouro financeiro de 2008.Carta Maior conversou com Hickel sobre o tema.

Segundo a Convenção da ONU sobre Corrupção, ela custa aos países em desenvolvimento entre 20 e 40 bilhões de dólares anuais. É uma soma considerável. Mas você diz que, comparativamente, a corrupção do mundo desenvolvido é muito maior e tem um impacto sistêmico muito maior. Como chegou a essa conclusão?

Jason Hickel: O presidente do Banco Mundial, Jim Kim, fez este cálculo sobre o custo da corrupção no mundo em desenvolvimento. Mas esta soma, sem dúvida importante, constitui apenas cerca de 3% do total de fluxos ilícios que abandonam os países em desenvolvimento a cada ano. A evasão fiscal é 25 vezes maior que essa soma. No ano passado, cerca de um trilhão de dólares fugiram dos países em desenvolvimento e terminaram em paraísos fiscais por meio de uma prática  conhecida como re-faturamento, através da qual as empresas falsificam documentos para que seus lucros apareçam em paraísos fiscais nos quais não pagam impostos, ao invés de aparecer nas jurisdições onde as empresas realizaram esses lucros. É claro que isso é só parte do problema. Há outras práticas como o chamado preço de transferência. As multinacionais comercializam seus produtos entre suas próprias subsidiárias para pagar na jurisdição onde o imposto é mais baixo, algo que envolve cerca de um trilhão de dólares anuais, mais ou menos a mesma coisa que o re-faturamento.

Por que a evasão fiscal é tão fácil?

Jason Hickel: Porque as regras da Organização Mundial do Comércio permitem aos exportadores declarar o que bem entendam em suas declarações alfandegárias. Isso lhes permite subavaliar seus produtos para que paguem menos impostos. Isso não deveria nos surpreender dada a ausência de democracia interna da OMC.
O poder de negociação na OMC está determinado pelo tamanho do mercado e as decisões mais importantes são tomadas em reuniões do chamado “quarto verde”, administrado pelos países mais poderosos, de maneira que o comércio mundial termina sendo manipulado em favor dos ricos.

Curiosamente, no índice mais difundido em nível global sobre corrupção, o da Transparência Internacional, se apresenta um panorama exatamente oposto, ou seja, o mundo desenvolvido sofrendo nas mãos do mundo em desenvolvimento por causa dos estragos da corrupção. Qual sua opinião sobre esse índice?

Jason Hickel: Ele tem uma série de problemas. Em primeiro lugar, se baseia na percepção da corrupção que há no próprio país. De maneira que os pesquisados não podem dizer nada sobre o que pensam acerca de outros modos de corrupção como, por exemplo, os paraísos fiscais ou a OMC. Em segundo lugar, como o índice mede mais percepções do que realidades, está exposto às narrativas dos departamentos de relações públicas.

A narrativa dominante é promovida por um complexo de organizações, desde o Banco Mundial até a USAID e passando por muitas ONGs, que centram o tema da pobreza na corrupção dos próprios países em desenvolvimento. De maneira que não surpreende que os entrevistados terminem refletindo essa visão. Além disso, os índices se baseiam em dados de instituições como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial. Estas instituições, que representam países ricos ocidentais, tem interesse direto em manter essa narrativa sobre a corrupção.

Dois países que costumam estar na vanguarda de todas estas denúncias sobre a corrupção no mundo em desenvolvimento são Estados Unidos e o Reino Unido. Qual é a situação real destes países a respeito da corrupção?

Jason Hickel: Segundo a Transparência Internacional, os Estados Unidos estão bastante livres da corrupção. Segundo a Rede Tax Justice, em troca, os Estados Unidos estão em sexto lugar no ranking da corrupção mundial, devido ao fato de que têm jurisdições secretas que permitem que funcionem como centros de evasão tributária. Além disso, sabemos que a corrupção atravessa o sistema político estadunidense. As corrupções podem gastar dinheiro sem limites nas campanhas políticas para assegurar que seus candidatos sejam eleitos. Assim, não surpreende que mais da metade dos congressistas sejam multimilionários. E há outras formas de lobby político muito mais diretas.

Segundo a Rádio Nacional Pública, para cada dólar gasto pelas corporações em tarefas de lobby, elas obtêm um retorno de 220 dólares. E os sistemas regulatórios costumam ser capturados por gente dessas corporações que devem ser reguladas. O exemplo mais óbvio é Henry Paulson, o CEO de Goldman Sachs, que foi Secretário de Tesouro dos EUA e artífice do resgate que canalizou trilhões de dólares dos contribuintes para a banca privada.

Em resumo, as corporações abusam do Estado para seu próprio proveito, o que é a definição de corrupção da Transparência Internacional. O Reino Unido é outro grande exemplo. A City de Londres é um dos centros de funcionamento dos paraísos fiscais, de maneira que surpreende que o Reino Unido seja classificado pela Transparência Internacional como um país sem corrupção. E não é a única instância de corrupção. A privatização da infraestrutura pública, tanto do sistema nacional de saúde como a dos trens, permitiu que pessoas como o multimilionário Richard Bransen ganhassem milhões em subsídios estatais para sua empresa Virgin Trains.

Isso não elimina o fato de que a corrupção no mundo desenvolvido é real e tem um forte impacto social, econômico e institucional. Como deveria ser um índice neutro e justo sobre o tema da corrupção?

Jason Hickel: Certamente que a corrupção no mundo em desenvolvimento é real e não deve ser subestimada como problema. Mas é importante concentrar o olhar em formas de corrupção ocultas. No momento, o mais próximo que temos de um índice objetivo é o elaborado pela Rede Tax Justice. Neste índice, o ranking é elaborado considerando países responsáveis por ocultar cerca de 30 trilhões de dólares de riqueza em países fiscais. Se você olhar a lista verá que os países que encabeçam o ranking são Reino Unido, Suíça, Luxemburgo, Hong Kong, Singapura, Estados Unidos, Líbano, Alemanha e Japão. Estes são os principais centros de corrupção que devemos enfrentar.
 
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer