sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

PORQUE ESTAMOS TÃO ATRÁS DOS PAÍSES DA ÁSIA?

Os países da América Latina avançaram. Mas muito menos do que países como Japão, China, Taiwan, Hong Kong,Tailândia, Singapura, Coreia. Uma das explicações está na diferença quanto ao investimento em educação. Houve avanços nos países latino-americanos, e também no resto do mundo subdesenvolvido.

Esses avanços são referentes às parcelas crescentes de escolarização nesses países. No Brasil, o ensino básico está se aproximando de ser universal para as crianças nessas idades. No entanto, o crescimento econômico tem sido uma fração do dos asiáticos. Porque?

Um artigo publicado na revista Science, no número de 22 de janeiro último, intitulado  Knowledge capital, growth, and the East Asian miracle,  traz uma interpretação bastante convincente das razões. Eles investigaram dados de testes de matemática e ciência aplicados nos países asiáticos, esses relacionados lá no alto, e em países da AL, como Brasil, Argentina, Honduras, El Salvador, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia, Venezuela. A inferioridade mostrada nesses testes é apontada como fator principal para a inferioridade latino-americana no desempenho econômico em relação aos dois grupos de países.

Sabemos que nossas escolas produzem muitos analfabetos funcionais ao fim de oito anos de frequência pelos alunos. Tem que ter a meta de conseguir fornecer aos jovens os instrumentos para ser úteis a si mesmos, a suas famílias, à sociedade. Escola não é uma instância burocrática, é um local de criação.

O que fazer? Dar um ensino de qualidade aos alunos da rede existente. Isso não se consegue de imediato - onde conseguir professores suficientemente qualificados para essa tarefa? Não vai ser a indústria privada do ensino que vai fazer isso. Precisa dinheiro de impostos. Impostos! Por cima da inevitável chiadeira da Casa Grande e de seus aparelhos políticos e midiáticos! Vamos nos concentrar no que é importante fazer por este país.




segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

BRASIL, ESTADO POLICIAL

Chefiado pelos setores fascistas da oposição, que incluem a maior parte da polícia federal. Do Viomundo

Deputado Paulo Pimenta denuncia: PF mantém presa em condições precárias para forçar a delação premiada do marido

publicado em 24 de janeiro de 2016 às 22:20
paulo pimenta e pf
por Conceição Lemes 
Desde terça-feira passada, 18, a empresária Cristina Mautoni Marcondes Machado, 53 anos, está presa na Polícia Federal (PF), em Brasília.
Tudo indica que é o “o troco” dado ao seu marido, o lobista Mauro Marcondes Machado, 79, por ele não ter aceito fazer delação premiada.
Cristina e Mauro são sócios na empresa Mautoni&Machado.
Em 26 de outubro de 2015, os dois foram presos preventivamente em nova fase da Operação Zelotes – a que investiga a suposta venda de medidas provisórias (MPs) do governo federal.
Parênteses: a Zelotes original, que apurava sonegação de impostos de R$ 21 bilhões por grandes empresas, como Bradesco, Santander, Grupo Gerdau, Mitsubishi, e Grupo RBS, afiliado à TV Globo no Sul, foi abandonada pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF), sem maiores explicações até agora. Fechado parênteses.
Mauro Marcondes é acusado de ter pago valores acima do mercado em contrato de consultoria à LFT Marketing Esportivo, do empresário Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula.
Para os acusadores, os repasses teriam ligação com a venda de MPs. Luís Cláudio sustenta que os valores se referem a serviços de consultoria prestados em sua área de atuação, o esporte.
Cristina foi presa por “ameaça à ordem pública”. Na empresa, ela figurava como sócia do marido e cuidava da rotina administrativa.
“Não é segredo que, com sua prisão, o comando da Zelotes quer forçar seu marido a fechar um acordo de delação premiada”, observou em dezembro do ano passado, a jornalista Teresa Cruvinel
De fato, desde o início, as pressões sobre o casal para a delação premiada são constantes e só fazem aumentar.
Marcondes está preso em regime fechado na Penitenciária da Papuda, em Brasília. Cristina foi autorizada, no final do ano passado, a cumprir prisão domiciliar, em São Paulo, para recuperar-se de cirurgia nas pernas.
Em abril, Marcondes completa 80 anos. E, de acordo com o artigo 318 Código de Processo Penal, a partir dessa idade ele pode requerer a prisão domiciliar. O grifo em negrito é desta repórter.
 “Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: (redação dada pela Lei 12.403, de 2011); I — maior de 80 (oitenta) anos; (incluído pela Lei 12.403, de 2011); II — extremamente debilitado por motivo de doença grave; (incluído pela Lei 12.403, de 2011); III — imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; (incluído pela Lei 12.403, de 2011); IV — gestante a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco. (incluído pela Lei 12.403, de 2011). Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo. (Incluído pela Lei 12.403, de 2011)”.
Daí, acreditam alguns, a obsessão do delegado Marlon Oliveira Cajado, um dos responsáveis pelas investigações da Zelotes, e do procurador José Alfredo de Paula Silva pela delação premiada de Marcondes antes do seu aniversário de 80 anos.
Na segunda-feira retrasada, 11 de janeiro, o “incentivo” pela delação atingiu o seu ápice.
Nessa data, sem a presença dos advogados, o lobista foi visitado de surpresa na prisão pelo delegado Cajado para uma “conversa”.
O advogado do casal, Roberto Podval, disse ao Estado que, no encontro, o policial “chantageou” seu cliente para que fizesse acordo de delação premiada. Conforme o defensor, a colaboração foi proposta como uma forma de Mauro Marcondes evitar a transferência de Cristina para uma unidade prisional.
Procurada, a assessoria de imprensa da PF informou que o delegado não comentaria as declarações do advogado.
Mauro Marcondes não aceitou a proposta.
O “troco” veio na terça-feira 18.
Cristina, mesmo de cadeira de rodas e com mobilidade reduzida devido à cirurgia nas pernas, foi tirada da prisão domiciliar, em São Paulo, e levada novamente para o regime fechado.
Ela foi transferida para Brasília, mais precisamente a superintendência da PF.
No final da tarde dessa sexta-feira 22, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, recebeu várias denúncias sobre a situação de Cristina Mautoni, custodiada na Polícia Federal:
* Ela foi colocada num quarto sem janelas e banheiro, onde esteve preso o senador Delcídio do Amaral. Um local limpo e “decente”, que antes era utilizado como alojamento para os agentes de plantão.
* Devido aos medicamentos que utiliza, ela urina muito mais vezes que o normal.
* Ainda no dia em que chegou, pediu ajuda para ir ao banheiro, o que só veio acontecer cerca de duas depois. Cristina não aguentou e urinou na roupa, sujando-se, bem como o chão. Teve quem lhe dissesse que ela teria feito isso “por gosto”.
* Cristina foi transferida imediatamente para uma cela, onde não existe vaso sanitário. Tem um buraco no chão – o chamado “boi” – e um cano por onde sai água para que tome banho.
* Por estar ainda com mobilidade reduzida devido à cirurgia, Cristina não consegue se agachar para usar o “boi” ou tomar banho sozinha. Na superintendência da PF, muitas vezes, os agentes de plantão são todos homens, não havendo uma agente mulher que possa auxiliar para que faça as necessidades fisiológicas ou tome banho.
“Imediatamente, fui à PF para inspecionar o local da detenção e saber se era verdade ou não tudo o que acabara de ser denunciado a mim”, revela com exclusividade ao Viomundo o deputado Paulo Pimenta. “Só que não me foi permitido nada.”
Eram aproximadamente 18hs da sexta-feira.
Paulo Pimenta pediu para falar com o delegado de plantão.
Solicitaram-lhe que aguardasse um pouco. Depois, que se dirigisse a outra sala e lhe passaram um telefone. Era a delegada plantonista, que já estava de sobreaviso.
Mesmo não estando presente na superintendência da PF, foi atenciosa e cordial, mas não autorizou que ele vistoriasse a cela ou conversasse com Cristina Mautoni: “Deputado,  não posso!”.
Pimenta retrucou:  “Estou dentro da minha prerrogativa, sou presidente da Comissão de Direitos Humanos.  Nem na época da ditadura, a Comissão era impedida de visitar um preso federal. Eu não quero ouvir a pessoa, quero ver a cela”.
Não adiantou.
O deputado ligou então para o Ministério da Justiça explicando o que pretendia e que a fiscalização dos locais de detenção por órgãos e entidades de defesa dos Direitos Humanos era uma prerrogativa que não foi afastada sequer durante a ditadura militar.
Vários telefonemas foram trocados entre Pimenta e assessores do Ministério da Justiça:
— Expliquei-lhes que havia recebido a denúncia de que eram inadequadas as condições em que a presa Cristina Mautoni  se encontrava devido às particularidades da sua situação de pós-operatório.
— Em cadeira de rodas, com mobilidade reduzida, ela não estava conseguindo fazer as necessidades no “boi”. Que ela ainda não podia pode ficar em pé para tomar banho e que teria feito necessidades fisiológicas na roupa.
— Expliquei que gostaria de ver as condições da cela, que teria o final de semana pela frente e que não me foi autorizado o contato.
— Questionei o que fariam, se ela precisasse ir ao banheiro? Disseram-me que havia colegas de sobreaviso e, quando necessário, seriam chamados.  Só que os três agentes que estavam na carceragem no final da sexta-feira eram homens!
Até que veio a resposta definitiva, repassada a Pimenta: “A direção geral da PF está irredutível, não autoriza a inspeção, a menos que tenha ordem judicial, pois a presa está incomunicável”.
Resultado: Após quase duas horas na superintendência da PF – sendo que durante uma o local ficou sem energia elétrica – a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados não teve acesso à cela ou a Cristina.
Nesta segunda-feira 25, na primeira hora, Paulo Pimenta relatará formalmente ao Ministério da Justiça o corrido e solicitará ao juiz da operação Zelotes que autorize a inspeção do local de custódia de Cristina.
“Se a Polícia Federal não tem nada esconder, qual o problema de me deixar ter acesso à cela? Por que eu não poderia vê-ela?”, questiona Pimenta.  “Eu não iria tomar depoimento. Fui lá para ver as condições dela e não me deixaram vê-la.”
“Na ditadura militar, quando as entidades de defesa dos Direitos Humanos recebiam uma denúncia, era possível ver como o preso estava. Por que, agora, não me deixaram vê-la?”, insiste.
“Não é verdade que ela está incomunicável”, rebate a versão da PF.
“Disseram para fazer petição e marcar hora  para Comissão de Direitos Humanos visitá-la”, exalta-se. “Não tem sentido hora marcada! O elemento surpresa é para ver o que, de fato, está acontecendo e não a cena montada para inglês ver.”
“Os investigadores da Zelotes querem por toda a força que o marido de Cristina faça a delação premiada, para isso estão jogando pesadíssimo, submetendo a presa a uma situação de crueldade, humilhação e tortura, como diz o seu advogado no pedido de habeas corpus”, atenta Pimenta.
“Surpreendentemente, cada vez mais a prática é prender  os  parentes, especialmente as mulheres, para constranger os maridos e ameaçá-las de ficar longe dos filhos, para arrancar confissões e delações premiadas”, denuncia Paulo Pimenta. “Isso é o modus operandi da época da ditadura.”

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A ESQUERDA QUE TEMOS, POR ORA

Análise de Luis Carlos Azenha, no Viomundo

Lula faz o pêndulo do PT se mover à esquerda; é a campanha eleitoral de 2016

publicado em 20 de janeiro de 2016 às 23:05
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por Luiz Carlos Azenha
O ex-presidente Lula viajou o Brasil várias vezes.

Ele conhece o país física e intuitivamente.

Tem o Nordeste no DNA. Cresceu com os deserdados de São Paulo.

Lutou com a elite operária do ABC industrial. Não há outro líder com a sensibilidade social de Lula.

Fernando Henrique Cardoso, o líder intelectual da oposição, é um sociólogo de elite. Que só montou num jegue e se declarou com “um pé na cozinha” durante campanhas eleitorais. A relação entre FHC e o povo brasileiro é de água e óleo. O povo sabe que FHC não é “dos seus”.

Lula, não. Ele usa muitas metáforas no discurso. Algumas não fazem o menor sentido, mas garantem que seu discurso chegue ao povão. Ele adora falar como o pai e a mãe que administram o Brasil como se fosse uma imensa família, quando não é. Pelo contrário: a História do Brasil é a história da insurreição e da supressão dos que lutam por direitos. Mas Lula, o conciliador, parece realmente acreditar que o empresário Gerdau e o sindicalista Vicentinho podem conviver harmoniosamente. Em outras palavras, Lula incorpora a ideia de que o pobre brasileiro “sabe o seu lugar”.

O ex-presidente diz que Dilma está à sua esquerda. Confere. Diz-se que Golbery, o fiador da abertura lenta, gradual e restrita da ditadura militar, preferia Lula aos comunistas. O irmão de Lula era comunista. Ele, nunca foi. Lula é um social democrata, cujo horizonte é dar casa própria e automóvel a todos. Num país de deserdados e de imensa desigualdade social, como o Brasil, isso é revolucionário. Lula fala sempre nos bagres e nos sapos como um estorvo ao desenvolvimento. Ele ainda não chegou ao ponto de reconhecer que sem os bagres e os sapos nós, seres humanos, não sobreviveremos nesta Terra.

Como diz Paulo Henrique Amorim, sempre um observador arguto de nossa realidade, os tucanos vivem na e da mídia. Tiram o oxigênio dos colunistas de jornais, emissoras de rádio e TV. Não têm qualquer afinidade com o povo brasileiro. Eleitoralmente, sobrevivem na negação do outro. São, assim, cópia fiel da UDN. Criam uma realidade paralela, a do eterno “mar de lama”, para se apresentarem como “alternativa” à corrupção — da qual, aliás, fazem parte intimamente. PHA diria: qual é a ideia política original dos tucanos, além de entregar o patrimônio público para financiar seus governos? Eles sobrevivem vendendo a soberania brasileira.

Lula, na entrevista aos blogueiros, admitiu hoje que o PT se tornou um partido igualzinho a todos os outros. Fato. Quando ele fala que alguns companheiros “erraram”, provavelmente está se referindo aos crimes cometidos por gente como o ex-líder do governo Dilma no Senado, Delcídio do Amaral, que armava para tirar uma testemunha-chave do Brasil.

Todos os escândalos tucanos sobreviveram ao PT no poder: sanguessugas, vampiros, mensalão, petrolão. Em torno deles, o famoso pacto das elites.
O ex-presidente tem razão quando diz que o PT é perseguido pela mídia desde que ele assumiu o poder, em 2002. Vi isso de dentro da redação da TV Globo. Eu estava presente — e abominei — quando colegas jornalistas aplaudiram Lula antes da entrevista que ele deu ao Jornal Nacional, depois que se elegeu. E abominei quando, na onda das primeiras denúncias do mensalão, a Globo entrou na onda de criminalizar o PT, o que já dura mais de 12 anos.

Testemunhei pessoalmente: a Globo colocou todos os seus recursos materiais e profissionais para investigar o PT, quando não fez o mesmo com nenhum outro partido.

A postura da mídia como linha auxiliar da oposição, no entanto, não deve ser usada como desculpa para o “reformismo fraco” do PT. Desde que José Dirceu, com suas alianças a qualquer custo, levou Lula ao poder, o PT se tornou ferramenta da “modernização conservadora” do Brasil. Um partido da ordem, que proporcionou migalhas aos mais pobres enquanto os mais ricos enchiam as burras de dinheiro.

O governo de coalizão do PT só pode se dar ao luxo de ser social democrata na bonança.

Na crise, banca a lei antiterrorismo contra os movimentos sociais, a reforma da Previdência, os leilões do pré-sal, o desmanche da Petrobras e da Eletrobras.
Na entrevista aos blogueiros, Lula mais uma vez mexeu com o pêndulo. Como líder mais importante do PT, se disse contra a lei antiterrorismo, a venda da Gaspetro e da Transpetro e propôs uma política econômica distinta do austericídio de Dilma.

É como se fosse aquele jogo do bad cop (Dilma) e do good cop (Lula).
Lula prega o apoio a Dilma, mas se distingue dela com propostas à esquerda, para não perder o campo político essencial, onde se encontra a militância do partido.

É sempre assim, desde a campanha de 2002: à esquerda durante a campanha, à direita no governo, à esquerda às vésperas do próximo período eleitoral, à direita depois da composição do governo.

Um pêndulo que, apesar de hipnotizar alguns blogueiros, se move de forma oportunista.

Mantém, como cenoura no horizonte, as reformas que realmente importam: democratização da mídia, reforma tributária que obrigue os ricos a assumirem carga tributária hoje carregada pela classe média e os mais pobres, soberania nacional sobre setores estratégicos (energia, comunicações e recursos naturais), um banco central que não esteja a serviço eminentemente do sistema financeiro.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

STIGLITZ E A ECONOMIA BRASILEIRA




Não é porque ele ganhou o prêmio Nobel de economia e foi presidente do Banco Mundial, mas o que ele diz faz sentido e ele fala -para ser entendido. Que tal pisar no pescoço da tal de austeridade? Do jornal GGN

Stiglitz diz que BC brasileiro estrangula a economia

Jornal GGN - Para Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, a política monetária aplicada pelo Banco Central no Brasil estrangula a economia, e ela deveria se contrapor aos efeitos da queda do preço das commodities. Ele também acha que o BC deveria considerar os efeitos da Operação Lava Jato, reconhecendo que este é um período em que haverá restrição de gastos com contração da construção civil.
Stiglitz também diz que a ideia de aumentar os juros para conter a inflação é uma teoria desacreditada, e que é preciso saber qual é a fonte da inflação. "Não é bom ter inflação em disparada, mas também não é bom matar a economia. E eu acho que eles (o BC brasileiro) perderam esse equilíbrio", afirma. Leia mais abaixo:
Do Estadão
Às vésperas da reunião do Copom, em que se acredita que o Banco Central pode subir mais uma vez os juros, Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, disse em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial, que o BC brasileiro estrangula a economia. Para ele, a política monetária do Brasil deveria se contrapor aos efeitos depressivos da queda do preço das exportações e da Operação Lava Jato. Sobre o quadro mundial, o economista avalia que a economia terá desempenho em 2016 igual ou pior ao de 2015. O Nobel também considera o aumento da desigualdade como outro fator que reduz a demanda global. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Como o sr. vê os atuais problemas do Brasil?
A característica distintiva do Brasil é que a política monetária estrangula a economia. Vocês têm uma das mais altas taxas de juros no mundo. Se o Brasil reagisse à queda no preço das exportações com medidas contracíclicas, o País talvez pudesse ter evitado a intensidade da atual crise. Outra questão é que, sempre que ocorrem escândalos de corrupção da magnitude do que acontece agora no Brasil, a economia é jogada para baixo. Isso cria uma espécie de paralisia. O sistema legal no Brasil está colocando muita gente na prisão. Não estou dizendo que não deveriam fazer isso, mas a política monetária deveria reconhecer que este é um período em que haverá restrição de gastos, particularmente no setor público, em que as pessoas serão mais cautelosas em tomar decisões, em que a construção civil vai se contrair.
Mas a inflação está muito mais elevada que o teto de tolerância do sistema de metas.
e modelo que diz que, se a inflação está alta, você sobe os juros é uma teoria que foi desacreditada. É preciso saber qual é a fonte da inflação. Se for excesso de demanda, aí você sobe juros, porque tem de moderar a demanda. Mas se for um impulso dos custos, você tem de ser cuidadoso. Nesse caso, a forma pela qual a alta dos juros reduz a inflação é matando a economia. Se você conseguir desemprego o suficiente, os salários são deprimidos, e você segura a inflação. Mas isso é matar a economia. Não é bom ter inflação em disparada, mas também não é bom matar a economia. E eu acho que eles (o BC brasileiro) perderam esse equilíbrio.
No Brasil, muita gente acha que a culpa é da política fiscal, e não do Banco Central.
Quando a economia se desacelera, as receitas tributárias caem e ocorrem déficits. Se a economia for estimulada, a receita sobe. Dessa forma, a política monetária pode ajudar a política fiscal.
Então o problema no Brasil é a política monetária?
Na verdade, vocês têm dois problemas: o colapso do preço das exportações e o escândalo de corrupção. O que eu disse é que a política monetária deveria se contrapor a esses fatores, mas, em vez disso, ela está agravando o problema.
Como o sr. vê a economia global hoje?
Meu diagnóstico não é nada complicado: há falta de demanda agregada global. Mesmo antes da crise, o que sustentava a economia americana era uma bolha artificial. Se não fosse por ela, a economia teria sido fraca.
Por que a demanda global está fraca?
Olhando em volta do mundo, há quatro razões básicas. A primeira é a desigualdade. As pessoas no topo não gastam tanto (como parte da sua renda) quanto as pessoas na base. Então, à medida que a desigualdade cresce, a demanda se enfraquece. Em segundo lugar, há transformações estruturais acontecendo em quase todos os países. Nos EUA, a transição da indústria manufatureira para os serviços. Na China, das exportações para a demanda interna. Mas os mercados são duros em conduzir essas transições. Tem sempre gente que fica para trás, o que contribui para a desigualdade. Os setores que ficam para trás não podem demandar bens. Em terceiro lugar, a zona do euro está uma bagunça, com políticas econômicas que contribuíram para reduzir o crescimento.
O sr. se refere à austeridade?
Sim, até nos EUA temos uma forma moderada de austeridade, pela pressão política dos Republicanos. Nós temos meio milhão de empregos menos no setor público do que tínhamos em 2008, antes da crise, e, se houvesse uma expansão normal da economia, seriam dois milhões mais. Então temos austeridade nos EUA.
E qual seria o quarto fator para a demanda global enfraquecida?
Sempre que há uma perturbação como a queda do preço do petróleo. Todo mundo esperava que o preço mais baixo estimularia a demanda, mas se esqueceram de que se trata de redistribuição. Os vendedores perdem e os compradores ganham. Se os vendedores diminuem seus gastos em exatamente o mesmo volume que os compradores aumentam, não há nenhuma mudança. Mas há assimetrias. Muitas vezes os que perdem têm de contrair o seu gasto, dólar por dólar, e aqueles que ganham economizam, pois não sabem se o ganho é temporário ou de longo prazo. E os desdobramentos podem ser ainda piores em termos de investimento – uma das fontes de crescimento nos EUA e outros países vinha sendo o investimento em hidrocarbonetos (petróleo e gás). E isso foi cortado. Os efeitos são enormes. Da mesma forma, a desaceleração na China provoca a queda do preço do minério de ferro, e os ganhadores não gastam mais tanto quanto os vendedores gastam menos.
Qual a sua previsão para 2016?
É provável que essas tendências que eu descrevi continuem este ano. Se eu fosse otimista, eu chamaria atenção para o fato de que o orçamento americano acabou sendo melhor do que o esperado, mas há muitos fatores negativos. Não vejo nada positivo na Europa. Acho que muita gente esperava a desaceleração na China, mas não o tamanho da turbulência financeira. Tudo isso me diz que 2016 será tão ruim ou pior do que 2015.
O problema da economia global é demanda, para o senhor. Qual seria a terapia?
A terapia econômica é fácil. O problema é a política. Em termos econômicos, precisamos de um aumento dos gastos do governo nos EUA e na Europa. Nos dois casos, os setores públicos podem tomar emprestado a juros muito baixos. E, por outro lado, é preciso investimento em tecnologia, educação, infraestrutura. Isso estimularia a economia. Compraríamos mais do Brasil, o que ajudaria vocês. Na Europa e nos EUA, temos espaço fiscal, vocês têm menos. Mesmo que os EUA estivessem preocupados com o déficit público, podemos elevar impostos. Nossos impostos são muito baixos. Podemos aumentar impostos, conseguir mais igualdade.
E qual o obstáculo para isso?
O problema maior está nos EUA e na Europa, e se resume à política. Na verdade, é um pouco mais complicado. Nos EUA, é apenas a política. Acredito que há um amplo sentimento no Partido Democrata em favor das políticas que acabei de descrever. Na Europa, é complicado por causa da ideologia alemã. Tenho dúvida de que, caso a oposição vencesse, haveria uma mudança. Os alemães reescreveram a história para acreditar que a inflação foi o problema principal (na ascensão do nazismo), mas o que causou Hitler foi o desemprego. E eles se esqueceram disso. Eles esqueceram que o desemprego é a verdadeira causa da instabilidade social. E eles promovem políticas que causam o desemprego. Então a zona do euro tem de ser reformada, e isso é mais difícil, é um problema estrutural.

UM POUCO DE ELTON MEDEIROS

Aqui na voz de Roberta Sá, uma linda interpretação.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

SOBRE A LAVA JATO

Por Paulo Nogueira, no DCM

Por que a Lava Jato é um fracasso. Por Paulo Nogueira

Postado em 17 jan 2016
Lava Jato: atua contra um lado só
Lava Jato: atua contra um lado só
A Lava Jato fracassou. Ponto. Exclamação.
Para que isso não ocorresse, ela teria que ser percebida, consensualmente, como uma operação apartidária, isenta politicamente e, numa palavra, justa.
Não é o que aconteceu.
A atuação da Lava Jato fez, não por acaso, o juiz Sérgio Moro se tornar ídolo de radicais que vão às ruas pedir o impeachment ou mesmo a intervenção militar.
É comum ver faixas pró-Moro nos protestos.
Também não por acaso, Moro ganhou instantaneamente o apoio empolgado da mídia. A direita protege os seus. Podemos dizer assim: Moro é tão isento e apartidário quanto à imprensa.
No campo oposto, os progressistas detestam Moro. Mais uma vez, como sempre, não por acaso – mas pelo conjunto de atitudes.
Num país dramaticamente polarizado, Moro é mais um fator de divisão e discórdia.
Entre os progressistas não estão apenas os petistas, é importante dizer. Boa parte dos advogados que nesta semana deram marretadas na Lava Jato – “neoinquisição” foi apenas uma delas – não tem vínculo com o PT.
Muitas coisas contribuíram para que Moro fosse visto como um juiz com lado. Jamais se soube de um só ato seu para investigar e punir vazamentos sempre enviesados, alguns dos quais simplesmente criminosos.
O pior vazamento veio na véspera das eleições, e contribuiu fortemente para a causa de Aécio. Segundo o vazamento, desmentido mais tarde pela realidade crua dos fatos, um delator disse que Lula e Dilma sabiam de tudo do Petrolão.
Isso foi para a capa da Veja, e serviu em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, como peça de propaganda para Aécio e, mais ainda, como um instrumento para tirar votos de Dilma.
O depoimento de Youssef, quando conhecido, mostrou que ele jamais dissera aquilo. Mas a eleição já passara, e esse crime, no qual se associaram vazadores da Lava Jato e a Veja, ficou impune.
Com o correr dos dias, Moro deixou de guardar até as aparências. Aceitou o inaceitável: um prêmio da mídia, especificamente da Globo.
Justiça e imprensa devem manter rigorosa distância para se autofiscalizar, mas Moro simplesmente ignorou isso.
Mais recentemente, aceitou outro convite inaceitável, este da Abril, para ser a estrela de um encontro das editoras de revistas.
Deu um passo além: compareceu a um evento organizado por João Dória, um dos líderes do PSDB em São Paulo. Posou sorridente, sem cerimônia, ao lado de Dória.
Do ponto de vista da simbologia, tudo isso não poderia ser pior. Moro se caracterizou como um soldado não apenas do PSDB mas, mais que isso, da plutocracia.
Em nenhuma sociedade avançada você vê cenas como estas, em que um juiz com tamanho poder confraterniza com a mídia e com um partido em situação tão dramática.
Moro, e com ele a Lava Jato, deixou também a sensação de que fala alto com aqueles que a mídia quer ver triturados e baixo com quem tem poder.
Eduardo Cunha é um caso. Nada aconteceu com ele e a mulher depois que a Suíça forneceu, já há meses, provas espetaculares contra o casal. (Cunha tem privilégios legais indecentes por ser deputado, mas ela não.)
A Lava Jato acabou se caracterizando não como uma operação universalmente contra a corrupção. Mas como uma ação específica contra determinado grupo.
Por isso fracassou. Agisse de forma imparcial, poderia ser respeitada e até admirada.
Mas não foi isso que aconteceu.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

AS DELAÇÕES PREMIADAS

Pegue um ladrão com culpa formada, tudo provado. Ameace com penas altíssimas. Então, faça ele falar o que você quer, ou seja, acusar os políticos que você quer derrubar (provas não são necessárias) e vaze ilegalmente as delações para a mídia amiga. Maravilha! Mais um grande negócio realizado pelos donos do poder de sempre neste pobre país. Do Tijolaço.

Aproveite a oferta: roube e delate. ‘Lojas Moro’ dão 97,5% de desconto na cadeia


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A contabilidade apresentada hoje pela Folha é de cair o queixo.
Os ladrões do dinheiro público incriminados na Lava Jato receberam um “descontão” nas penas graças ao apetite dos procuradores da República e o juiz Sérgio Moro de obter delações premiadas cada vez mais suculentas e que construam o caminho para chegar aonde desejam chegar.
As condenações de 13 delatores, que somavam 283 anos e 9 meses baixaram a meros 6 anos e 11 meses.
E, assim mesmo, para alguns “privilegiados”: Alberto Youssef, com 3 anos, Fernando Baiano Soares, um e Nestor Cerveró – que ainda está negociando melhores condições, um ano e meio. Os três ficaram com 80% das penas de reclusão em regime fechado que sobraram depois da “grande liquidação” das “Lojas Moro”.
recorteÉ tão chocante que reproduzo aí ao lado o recorte do jornal, para que não se ache que o louco é este blogueiro aqui.
Inaugurou-se um precedente terrível.
O advogado –  e jurista respeitadíssimo – Antonio Carlos Mariz de Oliveira resume a indignação de pessoas de bem com o que está acontecendo:
“Dá-se uma credibilidade absoluta à palavra do delator, que na verdade está delatando pura e simplesmente para se ver livre de prisões”. “[O delator] Delata e fala o que as autoridades queiram que ele delate e fale”, afirma Mariz.
Pior é que, a prevalecer este absurdo, estará inaugurada uma nova forma de roubar o Estado e sair, praticamente impune: delate seu cúmplice ou algum outro dirigente público ou político que desagrade e sobre quem você possa colocar suspeitas ao gosto da mídia.
E sair livre, só com uma pulserinha no tornozelo, para gozar as mansões, lanchas e outros apetrechos que lhe sobraram, depois que você devolveu parte do roubo.
Aproveite, é por pouco tempo, porque alguém vai acabar acordando para isso e os tribunais, amedrontados pela ditadura pró-Moro que impera na mídia e vai por fim a esta festa imoral.

QUEM GANHA DE VERDADE COM AS AÇÕES DA DIREITA SOBRE O ESTADO BRASILEIRO

Do juiz Moro, da PF, do ministério público... Do Tijolaço

Paulo Pimenta: Travaram a investigação da Zelotes e do HSBC para não atrapalhar aliança entre a PF, o MPF e a mídia; grandes anunciantes são poupados

publicado em 17 de janeiro de 2016 às 21:09
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por Conceição Lemes
Em 29 de dezembro de 2015, portanto há 19 dias, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), relator da subcomissão da Câmara que acompanha a Operação Zelotes, reuniu-se com o delegado Rogério Galloro, diretor-geral substituto da Polícia Federal, e fez vários questionamentos, entre os quais:
* Por que estão paradas as investigações que apuravam desvios de R$ 20 bilhões no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) da Receita Federal?  As investigações apontaram que os conselheiros do Carf recebiam propina para anular multas de grandes empresas com a Receita Federal.
* Por que denúncias contra grandes sonegadores envolvidos no escândalo do Carf, como Bradesco, Santander, Mitsubishi, Gerdau, Grupo RBS, que eram o objetivo inicial da Operação Zelotes, nunca apareceram?
* Por que a Polícia Federal mudou o foco da Lava Jato e abriu uma investigação paralela para apurar a compra de medidas provisórias no governo federal?
Agora, Paulo Pimenta pretende fazer esses mesmos questionamentos ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em encontro que deve acontecer nos próximos dias.
“Eu quero falar com o ministro sobre vários assuntos”, antecipa o deputado. Um deles, claro, é a Operação Zelotes. Outro, a lista dos brasileiros que tinham contas secretas  no HSBC da Suíça. Quero saber como evoluiu a investigação.”
A partir daí seguiu a entrevista exclusiva do deputado Paulo Pimenta ao Viomundo.
Viomundo – As investigações da  Operação Zelotes estão paradas mesmo?
Paulo Pimenta – Eu não tenho a menor dúvida que sim. Até junho do ano passado, ela vinha avançando de uma maneira. A partir de lá, tenho a nítida impressão de que houve desaceleração de diligências, de encaminhamentos…
Considero a Zelotes o maior escândalo de corrupção que se tem notícia na história recente do País. Foram identificados indícios de venda de sentenças em 74 decisões do Carf. Envolve quase R$ 21 bilhões.
Viomundo — Esses R$ 21 bilhões são de casos julgados. E não julgados?
Paulo Pimenta – Hoje nós temos no Carf mais de R$ 500 bilhões em julgamentos a serem realizados. Portanto, um tema de enorme relevância. Eu acho que deva ser dada prioridade a essa investigação dos grandes sonegadores, do esquema criminoso que se montou e envolveu setores da burocracia do Estado, especialmente ex-auditores da Receita Federal, com empresas de consultoria e escritórios de advocacia.
Viomundo – Mas a Zelotes pegou outro caminho, a da venda de medidas provisórias, que visa atingir o filho do ex-presidente Lula e o próprio Lula. Por que essa mudança de direção?
Paulo Pimenta – Há uma visão teórica que capturou setores da burocracia de Estado, que envolve Polícia Federal, Receita Federal, setores do Ministério Público Federal e do próprio Judiciário, que definiram a estratégia  de que,  nesse período do nosso país, você precisa ter apoio da opinião pública, especialmente da grande mídia, para que as ações desenvolvidas por esses setores tenham êxito.
Não tenho nenhuma dúvida de que esse é o elemento central  da Zelotes. Havia uma investigação principal da Zelotes que era sobre os esquemas de venda de sentença dentro do Carf.
A partir de um determinado, foi aberta uma segunda linha de investigação que era a possibilidade de venda de medidas provisórias.
E partir dessa segunda linha de  foi aberta uma terceira: empresas que têm contratos com empresas envolvidas na investigação sobre venda de medidas provisórias.  Ela é uma derivação da segunda linha de investigação, sendo que a principal simplesmente foi colocada num segundo plano.
Viomundo — Por quê?
Paulo Pimenta — Porque as empresas envolvidas na Zelotes são os principais anunciantes mídia brasileira hoje em dia. Você tem os principais bancos , as principais indústrias de cerveja, companhias telefônicas e a imprensa propriamente dita.
Então, dentro dessa lógica, que foi absorvida por setores da burocracia do Estado, é um tema que não interessa, pois não terá respaldo da mídia, consequentemente não terá o respaldo da opinião pública.
Viomundo – O que vai ao reivindicar ao ministro?
Paulo Pimenta  — Estou fazendo esforço para que seja retomado o foco da investigação. Querem investigar outras coisas? Ok. Não sou contra. Investiguem.
Mas existe uma organização criminosa que está instalada dentro do Carf, que é um dos principais órgãos da Receita Federal. O esquema conta também com a participação de ex-auditores da Receita, escritórios de advocacia,  que juntos permitiram a sonegação de R$ 21 bilhões.
Portanto, isso não pode ser considerado como algo de menor relevância simplesmente  porque a mídia não gosta do assunto, porque nos intervalos do Jornal Nacional aparecem propaganda desses denunciados, porque a RBS, parceira da Globo no Sul do Brasil, é uma das empresas acusadas da fraude.
Viomundo – Sabe como está a investigação do caso HSBC? A impressão que se tem é que está parada.
Paulo Pimenta — No caso da investigação do HSBC, em determinado momento, o Ministério da Justiça assumiu este tema junto com a Procuradoria Geral da República (PGR). Eu não sei como ela evoluiu. Eu pretendo pedir ao ministro informação sobre em que pé ela se encontra agora.
De qualquer forma, como o tema HSBC revelou que praticamente toda a grande mídia brasileira e o sistema financeiro estão envolvidos, o tema não “ interessa” para aqueles setores do Estado que deveriam fazer a investigação.
Viomundo – A atuação da CPI do HSBC até agora foi pífia. O que se percebeu é que várias pessoas que deveriam depor foram deixadas de lado, acobertadas…
Paulo Pimenta –  Com certeza.
Viomundo – Na semana passada, o governo francês decidiu enviar à CPI a lista dos brasileiros que tinham conta no HSBC na Suíça. Se isso se confirmar, pode provocar um terremoto?
Paulo Pimenta —  A revelação e a investigação sobre as contas do HSBC vão nos permitir saber não só quem são os donos mas entender qual origem deste dinheiro depositado no exterior. Qual o evento que proporcionou este capital escondido na Suíça. Ele será revelador de um  período nebuloso da nossa história. As grandes privatizações da FHC serão melhor compreendidas.
Viomundo – Pelo que o senhor disse um pouco atrás,  as investigações da  Zelotes original e do HSBC estão devagar porque os responsáveis pelo andamento delas — Polícia Federal, Ministério Público Federal,  Judiciário e  Receita Federal — acreditam que não terão apoio da grande. Será que essas investigações também não avançam porque setores desses órgãos compartilham das mesmas posições políticas dos denunciados, ao mesmo tempo que todos são contra o governo Dilma e o PT?
Paulo Pimenta – Com certeza. Setores da burocracia de Estado foram capturados por um projeto de poder que visa destruir o nosso projeto, o nosso legado. Esses setores capturaram a burocracia de Estado claramente com o objetivo de alcançar interesses políticos, partidários, corporativos, particulares. Eles se sobrepuseram ao interesse público obrigatório nas carreiras de Estado como essas que nós estamos mencionando. Estão violando o interesse público.
Nós temos hoje segmentos que trabalham de maneira articulada contra um projeto político-majoritário que foi vencedor da eleição. Nós temos de denunciar essa ideia na sociedade. Eu quero conversar com o ministro também sobre isso. São coisas muito graves que estão acontecendo.
Viomundo – E o vazamento seletivo de depoimentos confidenciais e investigações de maneira seletiva?
Paulo Pimenta —  É um atentado ao estado democrático de direito. O presidente Lula foi chamado para dar depoimento na condição de informante numa investigação na Polícia Federal. Isso aconteceu numa terça-feira. Na quinta-feira, o Jornal Nacional divulgou o depoimento na íntegra.
A cópia que o presidente Lula e os seus advogados receberam tinha marca d’ água. Ou seja, a reprodução seria identificável.  Existia só uma segunda cópia que estava de posse da Polícia Federal. Se não foi o presidente Lula que entregou o seu depoimento para o Jornal Nacional, quem entregou?
O vazamento criminoso de documentos sigilosos de posse da Polícia Federal,  Ministério Público Federal, Supremo Tribunal Federal, com o objetivo claro de direcionar de maneira seletiva uma investigação ou uma suspeição de uma pessoa não pode ser tratado como algo natural.
Isso tem que ser criticado. Nós não podemos imaginar aquela visão romântica que muitas vezes as pessoas têm da Receita Federal, PF, MPF, do próprio Judiciário, de que todos são isentos, imparciais… Só que essa não é a realidade.
Alguns delegados, auditores, juízes têm postado nas redes sociais algumas coisas que, do meu ponto de vista, estão completamente em desacordo com as suas prerrogativas funcionais.
Alguns exemplos. Delegado da Polícia Federal postar charge do ministro Cardozo na forma de cachorro. Ou na coleira como se fosse a presidência da República. Montagem do presidente Lula algemado. Da presidenta Dilma vestida da palhaça. Ou uma foto de treinamento de tiro ao alvo em que a foto da Dilma é o alvo.
Se agir assim está dentro das prerrogativas funcionais e essas pessoas conduzem as investigações, ok. Então , eu me reservo o direito de condenar. Mas  eu quero que o ministro Cardozo me diga que isso está dentro das prerrogativas  funcionais dos agentes públicos.
Viomundo – No caso da Zelotes, ao deixar de investigar a linha principal, os agentes públicos – no caso, aqui a Receita Federal – não estariam prevaricando?
Paulo Pimenta – Vamos ver o ministro tem a dizer. Uma coisa é certa: a gente não pode aceitar  que existam investigações que interessam e investigações que não interessam pelo fato de não ter cobertura da grande mídia.
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