terça-feira, 30 de outubro de 2018

PARA ENTENDER MELHOR O QUE ESTÁ ACONTECENDO


Da Intercept Brasil. O Leandro Demori levanta vários pontos muito importantes para entender melhor o processo que culminou na eleição do coiso.

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28 de Outubro de 2018, 21h38
O BRASILEIRO VOTOU em Jânio Quadros porque estava cansado da corrupção, votou em Fernando Collor porque estava cansado da corrupção, votou em Jair Bolsonaro porque estava cansado da corrupção. A corrupção que nos acompanha desde sempre é o maior cabo eleitoral de candidatos que se apresentam como antissistema e antipolítica, mesmo que sejam, eles mesmos, parte da mesma geléia moral que dizem combater. Jair Bolsonaro, apoiado por grandes meios de comunicação, por empresários milionários e por pastores poderosos é um candidato do sistema. Uma ponta diferente do sistema que costuma eleger políticos no Brasil. Mas, ainda assim, do sistema.
A campanha de Jânio, em 1960, talvez tenha sido a mais parecida com a de Bolsonaro: Jânio cobrava a moralização da administração pública e queria varrer os corruptos – sua música de campanha falava em uma “vassourinha” que faria o serviço. O “Brasil moralizado” que Jânio tentou implantar regulou o tamanho do maiô das candidatas à miss, a exibição em anúncios na TV de maiôs e peças íntimas de uso feminino e até o uso dos biquínis nas praias. Moralismo sobre a sexualidade. Alguma semelhança com Bolsonaro? Jânio admitia que o Brasil tinha crescido nos anos anteriores, mas falava – enfatizava – que a crise e a corrupção estavam destruindo a nação. Sim, muitas semelhanças com a campanha de Bolsonaro.
Bolsonaro passou anos viajando o país e ouvindo seus lamentos em meio à crise. Como nunca teve problemas em dizer barbaridades, foi inteligente em colher as barbaridades alheias e se tornar um megafone estridente de impropérios. Sim, há gente no Brasil que prefere um filho morto do que gay – e, para cada uma das frases que saem de sua boca, estejamos certos, há gente para aplaudir ou, no mínimo, relevar – entre os exatos 55% do eleitorado que o elegeu no dia de hoje. Bolsonaro é um de nós sem os freios do superego.

Mas a onda anticorrupção surfada pelo candidato não seria tão alta sem alguns fatores. O primeiro deles é óbvio: a corrupção existiu nos governos petistas e segue existindo no governo Temer. Desde 17 de março de 2014, primeira fase da operação Lava Jato, o país acompanha o desenrolar dos casos como uma novela com horário para começar, todas as noites, nos telejornais. E aqui não importa a avaliação interna que o Partido dos Trabalhadores tem sobre si – “são casos isolados, não somos o único partido corrupto” etc. O que importa é a percepção das pessoas sobre o PT. E a maioria delas queria Lula preso em janeiro e quer que ele siga preso hoje. As pessoas associam o PT à corrupção. O PT ignorou a voz do povo e imaginou que uma população amedrontada pela insegurança e que deseja redução da maioria penal, aumento de penas, endurecimento das condições do cárcere e fim de “privilégios”, como a progressão de pena, fosse votar em um… preso.
Gleisi Hoffman, atuou mais como advogada de Lula do que como cabo eleitoral de Haddad.
Fernando Haddad, em campanha, falou sobre os erros do PT, mas já era tarde. A pauta anticorrupção caiu no colo da direita enquanto o PT insistia em não sentar frente a frente com seus antigos eleitores, gente que confiou no partido e que queria apenas um sinal de que aquilo tudo não se repetiria. A maioria das pessoas que elegeu Bolsonaro não é fascista, e são as mesmas que votaram no PT nas últimas quatro eleições. Ninguém ganha nas urnas sem a classe média.
Mas o partido preferiu gastar mais energia na defesa de Lula do que na reconciliação possível com a população. A defesa judicial do ex-presidente – que é legítima e deve ser levada às últimas instâncias, como faria qualquer condenado que se julga inocente – foi misturada com a campanha de modo catastrófico. A presidente do partido, Gleisi Hoffman, atuou mais como advogada de Lula do que como cabo eleitoral de Haddad, muitas vezes atravessando o samba de quem pensava em votar no PT, mas não achava certo usar o mandato para dar um indulto ao ex-presidente. Em determinado momento, o partido pediu nas redes sociais que as pessoas votassem por Lula (#VotePorLulaVote13). Alguém sem emprego, alguém com subemprego, alguém que teve que deixar os estudos por falta de dinheiro… você consegue imaginar que essas pessoas votariam “por Lula”?
No meio do caminho, o PT queimou aliados porque não aceitava deixar o protagonismo. Zé Dirceu falou em “tomar o poder”. Lula soltou carta na última semana de campanha detonando a imprensa. Todas pareceram apenas energia desperdiçada que poderia ser usada na desconstrução de Bolsonaro e no fortalecimento de Fernando Haddad, um bom nome que pode apontar para o futuro do partido, mas que foi jogado na cova dos leões.
 O fim da internet
A mudança que sentimos na internet brasileira durante essa eleição pode ser comparada àquela vivida pelo blogueiro iraniano Hossein Derakhshan. Em 2015, depois de seis anos na prisão, ele tentou reativar seu blog de sucesso e notou que as redes sociais haviam destruído tudo. Escreveu ele:
“As pessoas costumavam ler meus posts cuidadosamente e deixar vários comentários relevantes, e até mesmo aqueles que discordavam de mim voltavam sempre para me ler. Não tinha Instagram, Snapchat, Viber ou WhatsApp. Em vez disso, existia só a web e, na web, havia blogs: o melhor lugar pra encontrar pensamentos alternativos, notícias e análises.”
Bolsonaro vai criar sua própria imprensa.

A destruição da internet foi terminada este ano durante o período eleitoral. Candidatos usaram uma máquina organizada de distribuição de “notícias” em massa, a maior parte delas, enlatados com histórias pela metade, ou apenas mentiras em estado bruto. As fake news, que vinham mostrando força na web desde o impeachment, completaram o serviço em 2018. Pode-se dizer que ajudaram a eleger Jair Bolsonaro em alguma medida, mesmo que isso não explique a derrota do PT.
Estamos perdidos em bolhas de algoritmos cada vez mais decisivos. Ficamos dez horas por dia plugados na rede. A vida digital de muitos de nós já é maior do que a que vivemos lá fora, e nossos afetos estão quase todos no zap. Planos limitados de dados fazem com que a gente se informe sem clicar em links, sem ler nada além das manchetes. Viramos um arquipélago de ilhas surdas.
Em 2006, quando vivíamos o auge dos blogs e da utopia de que a internet seria o celeiro do jornalismo independente, eu não acreditaria que em 2018 a estética e o lema seriam usados por um dos maiores espalhadores de lixo digital do país, como o site Folha Política, que foi banido do Facebook. Hoje, esse e outros sites não são apenas uma realidade: eles influenciam milhões de pessoas e deverão ser premiados pelo presidente eleito com verbas estatais. Descontente com a imprensa que o investiga justamente, Bolsonaro vai criar sua própria imprensa.
Todo o caos fértil que a rede nos pareceu em meados dos anos 90 e depois, toda aquela libertação dos meios tradicionais nos anos 2000, se transformou em um engenho de algoritmos no qual nós somos os animais a empurrar a roda. Animais que votam com a cabeça entupida de desinformação.
 A direita venceu a guerra cultural
Você provavelmente desdenha do filósofo Olavo de Carvalho, mas ele venceu. A ideologia olavista de que a esquerda brasileira dominava a narrativa cultural para se impor politicamente encontrou eco em uma nova geração de jovens votantes que, por natureza, são antiestablishment. E quem foi o establishment brasileiro na última década e meia? O PT. Some isso à corrupção e à crise e temos uma geração de alunos dos cursos de Olavo de Carvalho que passam o dia repetindo suas platitudes pela internet, muitas delas em consonância total com as ideias de Bolsonaro.
A estratégia da direita para vencer a guerra cultural passou por algumas etapas. A principal delas foi forjar ou importar escândalos pré-fabricados e falsas polêmicas. Uma delas: “A esquerda defende a pedofilia”. Militantes de direita fizeram a mesma “acusação” absurda contra progressistas nos Estados Unidos. No Brasil, até mesmo a nadadora Joanna Maranhão, uma vítima de pedofilia, foi acusada de defender pedófilos.
A exclusão das pessoas “menos letradas” do debate público por parte da esquerda ilustrada afastou o eleitorado.

Outra polêmica fabricada que conquistou parte do eleitorado é a crítica à lei Rouanet. Eu fiz um cálculo pra mostrar o quão pequena é essa pauta em termos de orçamento público: o custo anual da Rouanet equivale a uns 5 anos de cafezinho nos órgãos federais. Bolsonaro conseguiu usar um espantalho como cavalo de batalha, e todo mundo caiu.
Há uma coisa que deve ser aprendida com o olavismo: a exclusão das pessoas “menos letradas” do debate público por parte da esquerda ilustrada afastou o eleitorado. A marcha bolsonarista que venceu as eleições começou no oeste do Brasil, nos rincões povoados de gente que não tinha “nível” para saber o que era uma pessoa transgênero ou que não entendia por que ciclovias deveriam ser priorizadas em vez de políticas de emprego. Elas encontraram abrigo no YouTube da direita.
A imprensa perdeu
É preciso também falar sobre a insistência da imprensa em conversar só com a elite intelectual. Sobre o linguajar complicado, a profusão de jargões, as matérias escritas para serem elogiadas pelos colegas jornalistas, para terem lugar cativo nas newsletter de iniciados, e para serem ignoradas pela população em geral. Esse sistema perdeu, foi humilhado por memes e notícias falsas. A separação antiga entre “jornalismo e opinião” – como se não pudesse haver “jornalismo” mentiroso e “opinião” informativa e embasada – perdeu o sentido. Porque não importa o que nós, jornalistas, achamos sobre esses velhos cânones, o que importa é a percepção das pessoas.
Estabelecer uma ligação com elas, daqui para frente, requer outro tipo de abordagem. De que adianta tentar se mostrar isento praticando jornalismo declaratório que, no fim, é totalmente parcial? O jornalismo que só faz repetir o que alguém disse será ainda mais usado como instrumento de propaganda daqui para frente. Não é mais possível construir uma manchete em que Bolsonaro acusa o PT de fraude nas urnas sem dizer que ele não tem provas.
Só 10% dos jovens confiam na imprensa. As pessoas não diferenciam artigo de reportagem e isso passou a ser irrelevante em um mundo de guerra cultural onde a regra é a mentira. Isenção e honestidade não são sinônimos, é perfeitamente possível se mostrar isento sendo desonesto, assim como é possível assumir a defesa de um princípio com a espinha ereta. O que o jornalismo precisa é de posicionamento claro, de transparência com o público e de um discurso honesto capaz de ser simples e convincente. O jornalismo precisa parar de fingir que não é parte do jogo e que existe só para “reportar os fatos”. Isso pode até parecer isento, mas é desonesto. A julgar pelas declarações de Bolsonaro – se ele não mentiu para seus eleitores – teremos anos pesados pela frente. É preciso tomar pé disso.

BEMVINDO SEQUEIRA: BRASIL MOSTRA SUA CARA

 Para ver o vídeo, clique aqui.
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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

FIRMEZA E SERENIDADE PARA RESISTIR

Do Tijolaço. A ascensão de demagogos populistas de direita é fenômeno mundial, face à incapacidade das burocracias de estado e dos políticos de oferecer alternativas à crise econômica do capitalismo financeiro em sua fase ultraneoliberal. 

As políticas desses centradas na repressão e perseguição aos mais pobres e àqueles que os representarem, não vão acabar com a crise, não vão solucionar nada nem a curto prazo, e os coxinhas ricos vão continuar a procurar migrar para a Flórida, Canadá, Portugal, o que vai ter que ser antes que os governos desses países fechem a porteira de entrada. Os coxinhas pobres, eles vão ter que bater de frente com a realidade.

Firmeza e serenidade para resistir

As urnas falaram e por mais que doam a angústia e o receio com o que está por vir, não é hora de lamúrias e recriminações.
É hora de firmeza e serenidade, porque são elas que nos podem manter lúcidos e fortes para enfrentar o que virá e não se iludam com as declarações moderadas de Jair Bolsonaro nesta noite, na entrevista às televisões, entremeadas de clamores a Deus.
É mais próximo da realidade o Bolsonaro da live do Facebook: raivoso, ressentido, ameaçador.
Ainda que tivesse um programa econômico que fosse além do “liberou geral” para o mercado, não é provável que algum efeito se possa fazer sentir para a população, embora a turma do dinheiro vá fazer a festa amanhã.
A bandeira que pode desfraldar e, até, encaminhar antecipadamente ao Congresso é a do afrouxamento do controle da posse de armas.
Vai ter o auxílio “luxuoso” de Sérgio Moro e do Judiciário que se prevalecerão do resultado eleitoral para tornar maior e mais fundo o processo de perseguição a Lula.
Estes tempos terão, ainda, no ódio o combustível desta gente.
Vai ser preciso que passem os dias. Curemos nossas feridas com coragem para que possamos resistir.
Não é possível governar o Brasil com “lives” e “whatsapp”.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

RAÍZES DA POLÍTICA DO ÓDIO


"Dallagnol é o pai ideológico do Bolsonaro", avalia Flávio Dino

Quando a sociedade é colocada para lidar com um inimigo, tido como irrecuperável, surge o discurso de ódio 
 
Obs: A fala de Dino sobre Dallagnol começa a partir dos 17m42s
 
Jornal GGN - O procurador da República, Deltan Dallagnol, um dos rostos mais famosos da força-tarefa da Operação Lava Jato, é considerado pelo ex-juiz e atual governador do estado do Maranhão, Flávio Dino, "o pai ideológico" do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). 
 
"Por representar esse discurso espetaculoso de fim do Brasil, de fim da institucionalidade, de suposta limpeza, de uma proposta higienista fanática, [Dallagnol] fez com que houvesse essa exacerbação que levasse à violência", avaliou durante entrevista ao GGN, com Luis Nassif.
 
Os chamados "excessos da Lava Jato", somados a crise econômica, ajudaram a gerar, em larga parcela da população, "uma desilusão profunda" com o sistema de poderes do país, jogando também para escanteio, no imaginário popular, toda a estrutura de pesos e contrapesos, fundamental para a manutenção da democracia. 
 
Dino frisou, também, não acreditar que os condutores da Lava Jato tivessem como objetivo a ascensão do extremismo político influenciando, assim, na chegada do deputado no segundo turno desta eleição. Bolsonaro é conhecido por defender publicamente a tortura como forma de combater inimigos políticos, já declarou que, se eleito, pretende tirar o Brasil da Organização das Nações Unidas (ONU) e, no último domingo (21), fez declarações de eliminar opositores num possível governo: "Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria", disse para milhões de eleitores. 
 
Dino ponderou que o discurso que coloca a força bruta no lugar das leis, como argumento para resolver os problemas do país, tem influenciando na formação de modos de comportamento coletivo. 
 
"Se trata de um problema de ethos. É um problema de imaginário, que vai se criando, e a sociedade foi formando uma visão realmente de perseguição aos supostos inimigos da nação, e a consequência, quando você lida com o inimigo tido como irrecuperável, é exatamente esse discurso do ódio [que surge]. O medo gera ódio. E, o medo levando ao ódio, fez com que tivéssemos uma eleição presidencial totalmente contaminada nas redes [sociais] e nas ruas por um ethos anti-cristão, inconstitucional e ilegal, que é o que nós estamos vendo", pontuou.
 
Reeleito em 1º turno
 
O ex-juiz federal, advogado e professor, Flávio Dino (PCdoB), foi reeleito governador do Maranhão no primeiro turno com 59,29% dos votos válidos, contra 30,07% da adversária, Rosena Sarney (MDB). 
 
Seu mandato foi marcado pela melhoria de indicadores na saúde, educação, segurança e crescimento do PIB. São Luís, por exemplo, saiu do ranking das 50 áreas urbanas mais violentas do mundo, produzido todos os anos pela ONG mexicana Segurança, Justiça e Paz, se tornando a única capital do Nordeste que não integra mais a lista. Outras 17 cidades brasileiras permanecem no levantamento. 
 
Quando Dino iniciou o mandato, em 2014, a região metropolitana de São Luís registrava 68 homicídios por mês. Em fevereiro, a redução desse tipo de crime chegou a 60%, chegado a 27 casos. Já, segundo dados oficiais da Segurança Pública do Estado, a proporção de assalto a bancos no Maranhão passou da média de um por semana, para cerca de 9 ao ano.
 
Na educação, o estado passou da 22ª para a 13ª colocação no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Na saúde, a gestão do PCdoB ampliou em 40% os leitos hospitalares, e criou o primeiro leito de UTI na região Sul do estado. 
 
Por fim, o Produto Interno Bruto maranhense, que apresentou queda acumulada de 11,5% em 2015 e 2016, reverteu o ciclo nacional de recessão em 2017, fechando o último ano com aumento de 10%. 
 
Estado mais pobre do país
 
Segundo dados do IBGE, o Maranhão é considerado o estado mais pobre do país, condição fruto da sua trajetória histórica envolvendo o chamado Coronelismo. Em 2014, Flávio Dino foi eleito em primeiro turno com 63,52% dos votos válidos, contra 33,69% de Lobão Filho, então do PMDB (hoje MDB), este último representando a "dinastia" da família Sarney.
 
Nas eleições municipais de 2016, o grupo político de Dino conquistou 153 prefeituras dos 217 municípios do Maranhão, 46 dessas para seu partido, o PCdoB. Quatro anos antes, os partidos que se uniam em oposição ao MDB, da família Sarney, tinham conquistado apenas 17 prefeituras, sendo 4 do PCdoB. 
 
Governador Flávio Dino. Foto: Gilson Teixeira/Secap

terça-feira, 23 de outubro de 2018

REFLEXÕES SOBRE O MOMENTO ATUAL

O momento por que estamos passando no Brasil é gravíssimo. Estamos à beira ver caírem os traços de civilização que permitiam um mínimo convívio. No domingo dia 28, há uma grande chance de alguma maioria de eleitores ignorantes manipulados, com raciocínio deficiente, portadores de mau caráter ou uma combinação qualquer dessas três condições, elegerem Jair Bolsonaro como presidente, reforçando o estrago já feito em 5 de outubro, quando as bancadas da bala, do boi e da bíblia, e um monte de picaretas oportunistas conseguiram a maior votação de sua história. 


O momento é de tentar colocar as ideias em ordem. Evidentemente, o que vai abaixo não é destinado a eleitores do palhaço violento, profeta do ódio e da divisão, que só chegou até onde está hoje graças a quem o apoiou até agora. Os que nos opomos a essa nova noite com que ameaçam o país somos bastantes para resistir e mais adiante fazer voltar a razão e a busca da justiça.


Estamos envolvidos em uma guerra mundial


É fundamental conhecermos o fato de estar em uma guerra, mesmo os que não são participantes ativos dela.  Quando existe um mínimo de confiança dentro da sociedade nas atitudes dos outros e das instituições de estado, é muito diferente do que estamos vivendo. A primeira grande perda com o estabelecimento de uma situação de guerra é a destruição da sensação de segurança. Segurança sobre o que é verdade compartilhável com outros seres humanos, segurança sobre as regras de convívio social, segurança contra ameaças físicas vindas de grupos e indivíduos estranhos.

Para o Brasil, com a ascensão do fascismo, a política passa novamente, depois de 54 anos, para uma dimensão da tragédia. As questões em jogo e os atores estão se aclarando, e as ações de todos passam a ter caráter imperioso e inevitável.

O que já vem ocorrendo e que independente dos resultados de 28 de outubro continuará, pode ser resumido aqui.

·       A atuação violenta da direita é histórica no Brasil (e no mundo), mas interessa olhar para as formas que essa atuação vem tomando desde a promulgação de agora finada Constituição de 1988:

  • ·         A lei da anistia, promulgada por João Batista Figueiredo em 1979 deu o tom de tudo o que veio depois, inclusive a Constituição. A transição para a democracia formal acabou não incluindo a desativação do aparelho de repressão da ditadura, ou com o enquadramento efetivo das forças armadas como um corpo sujeito ao controle civil.

  • ·         Ações violentas de direitistas nunca deixaram de existir. Na realidade, foram sempre crescendo desde a redemocratização, inclusive pela falta de força e de vontade dos órgãos de Estado que deveriam coibi-la. Como resultado o espaço para um compromisso em torno da democracia praticamente desapareceu.

  • ·         Há muito tempo somos espionados. O centro da espionagem está nos EUA. Eles espionaram a Petrobras, a presidenta do Brasil, e a população em geral, esta através dos e-mails, telefones, internet, Microsoft, Facebook, Google, Whatsapp e outros, a partir de palavras-chave, nomes, o escambau, para informar suas ações. Uma delas o início da Lava-Jato, através de seu agente Sergio Moro, que recebeu resultados da espionagem do governo dos EUA sobre a Petrobras.

  • ·         Os EUA precisam trazer o Brasil para a submissão anterior: venda das reservas de petróleo baratinho, a austeridade que seus bancos exigem dos outros países, livre acesso à terra e aos recursos naturais para estrangeiros, alinhamento automático da política externa, participação em alguma aventura contra a Venezuela, quem sabe com uma participação imposta à Colômbia.


Não é uma guerra convencional, entre países. Trata-se do que atualmente se chama guerra híbrida, originalmente formulada como conceito pelo império estadunidense e praticada em todas as partes do mundo, fora os países com recursos militares e coragem para coibi-la em seus territórios. Utiliza em grande escala as mais modernas armas de combate ideológico e militar. Começa com a fabricação de mentiras – grandes e pequenas, que são transformadas em verdades para serem entregues e adotadas, pelos grupos que se identificam com os donos do poder, e também voltados para os extratos cultural e economicamente mais vulneráveis da população.

Fazem parte dessa guerra a incitação a ações violentas contra políticos e ativistas de esquerda, ou de qualquer setor da sociedade que se oponha ou esteja de algum modo obstaculizando a expansão do discurso ou da tomada de território pelo capital em suas diversas formas. Nesse processo, são cooptados setores do estado preexistente, supostamente democrático, como polícias e forças militares. O objetivo por trás disso tudo é terrível, tratar de extinguir a luz do pensamento que possa se opor ao domínio total do Capital. Não vão conseguir, naturalmente, mas sabe-se lá quantos estragos vão fazer enquanto isso.

 O império atua fornecendo armas ideológicas e físicas aos agrupamentos da direita, tradicionalmente, e agora aos grupos de ultradireita. Mas as ações da guerra são planejadas e executadas em múltiplos centros, e de maneira autônoma inclusive por operadores individuais. É uma guerra de classes, como comentou o megainvestidor e membro dos 0,1 % Warren Buffett, em uma tirada em que ele chegou a proclamara vitória (final) da classe dele sobre o resto. Ele não incluiu expressões de júbilo ao expor essa afirmação. E temos o direito de supor ser um tanto exagerado considerar as destruições e tomadas pelo capital financeiro nas últimas décadas como finais e definitivas. Existem dentro dos partidos de centro esquerda nos países ricos grupos, cuja influência vem crescendo, que propugnam uma virada contra a agenda neoliberal no front doméstico, e o abandono das políticas de dominação do mundo. Falaremos mais disso mais adiante.

Destruições de setores do Estado e tomadas de patrimônios públicos, em proveito dos interesses do capital financeiro. Esses processos vão sendo executados concomitantemente. Já vinham de antes. Na realidade, eventos semelhantes ocorrem desde sempre na sociedade brasileira. A atual ofensiva golpista teve início em 2013. Manifestações principalmente de estudantes contra o aumento de tarifas de ônibus urbanos repentinamente começaram a ser tomadas por grupos organizados via WhatsApp. Esses grupos rapidamente se apoderaram das manifestações, imprimindo a elas um caráter violento e contra o governo federal e o PT. Mais adiante no ano, quando Dilma Rousseff conseguiu ser eleita apesar da campanha midiática-judiciária, e das primeiras manifestações massivas contra o governo, coordenadas pela rede Globo e pelos grupos de Whatsapp, o PSDB contestou a vitória apertada mas nítida nas urnas e começou a seguinte etapa do golpe, ao começar as articulações com outros partidos, o Judiciário, a Polícia Federal e a Mídia para o impeachment de Dilma.

Não tínhamos ideia de como esses grupos atuavam. Porque todas as investidas, dos black blocs, dos mentirosos e caluniadores, pregadores racistas e homofóbicos começaram à margem, crescendo aos poucos, ocultando a identidade, culminando com a criação de exércitos de robôs. A esquerda ignorou por muito tempo que já estávamos em guerra, e tentou o combate democrático, o que se mostrou desastroso. No processo, a democracia foi sendo reduzida a cacos por gente de dentro do Estado brasileiro: mídia, justiça, polícias, chefes militares.

A maior fonte das tomadas pelo setor financeiro, na fase atual da guerra são as rendas do Estado, atingidos pelos mecanismos de dívida pública configurados exatamente pelo setor financeiro. Deste, os nacos tomados por corte de verbas para os serviços públicos, mais isenções de impostos para os ricos, além das privatizações de empresas públicas. Estas últimas passam a ser geridas não mais para assegurar à população e às empresas a serviços adequados, com tarifas módicas, mas exclusivamente para gerar lucros (com muita propaganda sobre as vantagens da gestão privada, e escondendo esse fato). No processo os serviços públicos passam a ter a oferta reduzida, com a qualidade deteriorada.

Águas e esgotos, energia elétrica, transportes urbanos, regionais, nacionais e internacionais tornam-se mais caros e mais precários, enquanto o estado se enfraquece ainda mais. Banqueiros e rentistas são os beneficiados.

Com a eventual subida do fascista chefe, as tomadas financeiras devem se acelerar ainda não se sabe quanto.  O setor financeiro vai se apropriando de mais e mais rendas da economia produtiva, que são desviadas para servir de lastro para as suas operações de especulação. 

O capital joga fora muitas das ferramentas de legitimação, ou respeito, que tinham junto às pessoas comuns, porque sente que não precisa mais. O lucro imediato, por necessidade ou convicção, passou a ser o único balizamento forte de suas ações.

Que esperar da ação nas ruas? Somos, nós da esquerda, como nacionais de uma terra invadida. Não temos massas, muito menos armas para rechaçar as patrulhas fascistas, que pretendem nos reduzir ao silêncio. Como nos fascismos europeus originais, polícia, juízes têm sido e permanecerão leais aliados dessas patrulhas. Os chefes militares, inclusive das polícias militares, voltam a abertamente fazer política no estilo gangster, baseados em ameaças e violências. É preciso encarar: não existe mais jogo democrático. Os grupos ativos, divididos entre esquerda e direita, são inimigos. Os ricos, que têm se tornado mais e mais convictos de que a prosperidade depende da piora da situação dos pobres, as corporações dos ricos e da mídia, justiça, polícias, militares, são todas inimigas e como tais devem ser encaradas.

O enfrentamento vai exigir que o nosso lado selecione formas de combate ao mesmo tempo efetivos e prudentes. Não há, em guerra, formas de combate leais, é preciso inclusive aprender com as táticas do inimigo. Excluída a mentira: Quem está por baixo deve conquistar e manter a confiança da maior parte da população, que só pode ser conquistada e mantida com a verdade dos fatos, mesmo que isso implique em expor nossas fraquezas e erros.

Buscar aliados em grupos menos distantes, e apoio mesmo em empresas como os gigantes Google, Whatsapp, Microsoft, Facebook deve ser uma prioridade. Essas corporações estão sujeitas a escrutínio nos países em que o domínio do capital é menos absoluto – como EUA e União Europeia, e podem ser obrigadas a limitar a ação dos grupos de ativistas da ultradireita na difusão de mentiras e nas suas táticas de intimidação mesmo aqui no Brasil.

Lá no centro do império, os EUA, em contraste com os gastos em obras de infraestrutura e serviços destinados à população, em franco declínio devido a políticas neoliberais que lá também vão atuando existe uma atividade do Estado, que continua em expansão muito forte: os gastos militares e de espionagem, no país e no exterior, inclusive com o desenvolvimento de novas armas e estabelecimento de novas bases militares.  O objetivo final foi formulado já vários anos atrás. Dominação de espectro total dos Estados Unidos, ou em inglês full spectrum dominance. Não vão conseguir porque existem potências capazes de opor limites, mas no que eles consideram seu quintal, vão sempre tratar de fazer.

No momento grandes partes do mundo vivem sob governos democráticos. Os brasileiros conscientes são muitos. 


segunda-feira, 22 de outubro de 2018

COMO A ARMA DA MENTIRA ESTÁ SENDO USADA POR BOLSONARO


O principal duto das Fake News é o WhatsApp.

Em sua coluna o professor Sérgio Amadeu da Silveira faz um passo a passo de como ocorre o disparo em massa de fake news nas redes. Amadeu demonstra como os apoiadores de Jair Bolsonaro articularam uma campanha eleitoral extremamente precisa em selecionar os mais vulneráveis a receberem conteúdo contrário ao candidato do PT, Fernando Haddad.  

NOVO LANCE DA "JUSTIÇA" ELEITORAL

Do Conversa Afiada

Justissa Eleitoral ataca liberdade de imprensa no Rio

“Brasil de Fato” é confiscado por matéria contra Bolsonaro
publicado 21/10/2018
Jornais.jpg
Jornais apreendidos neste sábado na sede do Sindipetro-NF (Reprodução: Brasil de Fato)
Do Brasil de Fato:

Fiscais do TRE invadem Sindicato para confiscar exemplares do Brasil de Fato no RJ


Neste sábado (20), policiais e fiscais do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) invadiram a sede do Sindipetro-NF (Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense), em Macaé (RJ), e aprenderam exemplares do tablóide especial sobre as eleições do Brasil de Fato, assim como exemplares do Boletim Nascente, o jornal semanal da entidade.

Segundo relatos, os fiscais do TRE tentaram pular os portões e ameaçaram atirar no porteiro caso ele não os abrisse. Por ser sábado, não havia qualquer atividade no prédio do sindicato. Um diretor da entidade se dirigiu ao local e garantiu amplo e livre acesso às dependências.

(...) O recolhimento foi feito após mandato judicial emitido pelo juiz eleitoral de Macaé, Sandro de Araújo Lontra, que qualificou o jornal como portador de "matérias pejorativas contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL)".

(...) O advogado Patrick Mariano, do corpo jurídico do Brasil de Fato, ressaltou que a edição em questão fazia uma comparação de programas dos candidatos, sendo de "profundo interesse público". "Como cidadão, não conseguimos entender essa perseguição. A não ser pela seletividade. É uma ofensa e uma agressão à liberdade de imprensa, de expressão e de opinião. Essa arbitrariedade será combatida publicamente e juridicamente". (...) 

"A ação do TRE demonstra arbitrariedade. Ninguém foi citado, apenas aconteceu a busca e apreensão, fora da normalidade. Enquanto outros jornais denunciaram ações de Whatsapp de proporções inimigináveis e você não vê nada sendo feito contra, o TRE persegue a comunicação de caráter popular. A gente espera que esse material seja devolvido", conclui. (...)

O QUE ESPERAR DO BOLSONARO

Se algum eleitor de Bolsonaro se declarar respeitador da democracia, é completo ignorante ou está enganando quem o escuta. As serpentes do fascismo nem se escondem mais. Artigo do Tijolaço.


O tirano já não tem receio: é “Brasil, ame-o ou deixe-o”

Já não há nenhum receio, depois do espetáculo de frouxidão que deu hoje a Justiça Eleitoral.
Em teleconferência para seus adeptos, conforme registra a Folha, Jair Bolsonaro anunciou a ditadura que será o seu governo:
Em fala de cerca de dez minutos, prometeu “uma limpeza nunca vista na história desse Brasil” se eleito.
“Vamos varrer do mapa esses bandidos vermelhos do Brasil”, afirmou, sob gritos de “Fora PT”.
“Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou [então] vão para fora ou vão para a cadeia.”
“Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”,acrescentou.
“Senhor Lula da Silva, se você estava esperando o Haddad ser presidente para assinar o decreto de indulto, vou te dizer uma coisa: você vai apodrecer na cadeia”, disse Bolsonaro, aos gritos de “mito”.
“Brevemente você terá (o senador petista) Lindbergh Farias para jogar dominó no xadrez. Aguarde, o Haddad vai chegar aí também, mas não será para visitá-lo não, será para ficar alguns anos ao seu lado.”
Realmente, só quem fala em fechar o STF é que precisa de psiquiatra?
Ou será que, quando os fanáticos saírem pelas ruas a “varrer do mapa” os que julgam vermelhos, ou negros, ou gays, ou sindicalista, ou qualquer coisa que não se enquadre no padrão “coxinha” ou no de “pobre obediente”, o fascista dirá que “não tem controle sobre este pessoal”?
Se o “fuhrer” nem sequer espera as urnas, porque as suas tropas hão de esperar? Ainda mais com uma imprensa e uma justiça que saíram da covardia para a cumplicidade.
A Folha, aliás, apesar de diretamente ameaçada, chamada de “maior fake news do Brasil” e avisada que não terá mais publicidade estatal está tão acovardada que nem mesmo chama estes absurdos na capa do site, quatro horas depois de te-los registrado.
E dias depois de, num ato de cinismo que agora está evidente, ter dito que ambos os candidatos era iguais.
A “pistolinha” com as mãos está virando a nossa saudação nazista e o “mito” o nosso “heil”.
É evidente que se uma ditadura militar como as dos anos 70 não se sustenta no século 21, menos ainda uma ressurreição do nazismo prevalecerá.
E quem se aliou a isso, sejam os liberais covardes, seja a pseudoesquerda oportunista, seja os que enlameiam, outra vez, o Exército Brasileiro, vai para a lama junto com o esterco que estão levando ao poder.
O fantasma de Emílio Médici está diante de nós. Mas fantasmas podem aparecer, mas não podem existir.