terça-feira, 9 de outubro de 2018

O QUE EU QUERIA PARA AS ELEIÇÕES, ANTES DO GOLPE

Era encontrar canais para influir no que acredito seria bom para meu país, aqui em Sampa, no resto do Brasil e no Mundo.  Como evoluir para corrigir a enorme, indecente desigualdade em que vivemos. Encontro-me, em vez disso, em um atoleiro, tendo que lidar com antipetistas que querem instalar um idiota, secundado por setores do estado ávidos pelo poder e suas benesses, como o pessoal do judiciário e das forças armadas. O desalento em que me encontro evoca uma situação de mais de cinquenta anos atrás.


Em 1964, o golpe civil-militar que instalou uma ditadura de mais de vinte anos foi saudado com o bimbalhar de sinos na igreja próxima ao antigo prédio da Escola Politécnica, na praça Fernando Prestes, no bairro da Luz, região central de São Paulo.


Estávamos no terceiro ano do curso de engenharia metalúrgica. Um colega nosso, que era ligado à JUC-AP (Juventude Universitária Católica, uma organização da igreja, anticomunista, e Ação Popular, as mesmas do então líder estudantil José Serra), ficou indignado. Foi protestar contra a comemoração da derrubada de um governo legítimo ao pároco.

Dois anos mais tarde, estávamos nos preparando para a nossa formatura. Nessa ocasião, eu estava com a POLOP, um agrupamento marxista de razoável penetração no meio estudantil. Decidi me candidatar para orador da turma, e concorri com Gilberto Dupas, também da JUC-AP. Meu discurso tinha um tom, embora brando, de protesto contra a derrubada da democracia e do desenvolvimentismo de JK.

O de Dupas, ao que me lembre, foi politicamente anódino. Para assegurar a vitória de seu discurso, os companheiros de Dupas alteraram as regras da votação (se fosse por votação simples, como se havia combinado antes, o meu teria ganho. E a turma de 1966 de engenheiros da EPUSP pôde comemorar a formatura sem qualquer protesto.

O regime do golpe de 1964, por vezes chamado de militar, o que só em parte é verdade já que na realidade sempre funcionou com um componente civil básico, os patrões, sem contar os sempre presentes rapazes da embajada – foi um dos dos desdobramentos da crise econômica dos anos 60. E uma ação do capitalismo estadunidense para compensar o desgaste vindo do triunfo da revolução cubana e dos infortúnios da guerra do Vietnam que os EUA se mostraram incapazes de vencer.

Hoje o capitalismo dominante semeia em todo o mundo distopias ambientais e políticas, enquanto se mostra incapaz de manter mesmo para os cidadãos dos países mais ricos o desempenho de antes da Grande Recessão. Fora o lucro de bancos, especuladores e rentistas. Em que realidade estamos vivendo, em que realidade podemos atuar, em busca dos objetivos de esquerda no Brasil atual?


Eu, por exemplo, vejo assim: queria, desde a juventude, ser parte de um esforço coletivo de construção de uma sociedade melhor, imerso com os outros em um meio ambiente minimamente saudável. Estávamos num caminho, agora estamos reduzidos a combater reacionários em geral, inclusive os bandos crescentes de fascistas.

Quando finalmente, em 2002, conseguimos eleger Lula e o PT para a presidência da república, acreditávamos em muito mais transformações. Queríamos muito mais, acabamos aceitando e apoiando o governo de Lula, porque ele realizou muita coisa importante.

Engolimos a arrogância de José Dirceu e de tantos outros aparatchiks, aceitando nosso afastamento das instâncias do partido e do governo, em que bases e formas de consulta à população foram marginalizados. Aceitamos porque no fim tivemos políticas de redistribuição de rendas, políticas industriais, um enorme incremento (embora sem ter ainda chegado a um patamar aceitável), e tivemos uma política externa de gente grande, coisas a que os golpistas têm se dedicado a destruir. Agora não queremos só restauração democrática, queremos abrir novos caminhos, temos que abrir novos caminhos.

Algumas tarefas imediatas e não tão imediatas:


  • Definir nossos objetivos imediatos, e os objetivos permanentes, que devem ser independentes dos compromissos que tenhamos que engolir. Deixá-los claros para todo mundo.
  • Crítica de esquerda ao petismo e aos governos lulistas. Não tanto à forma de conduzir os compromissos com forças de direita e centro-direita, mas no rigor a uma ética e democracia interna do PT, assim como dos outros partidos de esquerda: PDT, PC do B, PCB, PSOL, PSTU.
  • Revisão crítica da descrição do sistema de geração e propagação de ideias: identificar as fontes de informações, notícias, ideias, propostas, visões e contrapor as nossas (da esquerda)
  • O que, quem é preciso combater, quebrar: reacionários escravocratas, banqueiros, especuladores, rentistas, o grande agronegócio desregulado.


Agora há uma possibilidade de infligir uma derrota aos golpistas, no segundo turno. Mas a tarefa de resistência à dominação do país pelos de sempre deveria ser determinada para uma luta permanente. No México sobe Lopez Obrador. No Reino Unido, o partido trabalhista de Jeremy Corbyn está em ascensão, assim como democratas de esquerda nos EUA, entre os quais se destaca Bernie Sanders, o que poderia ter derrotado o Trump de lá. Não é hora de desanimar, mesmo porque se Haddad ganhar, a tarefa de recuperar um ambiente civilizado na política será longa e árdua. 

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