segunda-feira, 3 de agosto de 2020

JOAQUIM DE CARVALHO RESUME O QUE ACONTECEU COM A PRIVATIZAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO NO BRASIL

Obrigado, Joaquim!

A privatização da Eletrobras seria extremamente prejudicial ao país

Com lucro, é possível autofinanciar a expansão e a modernização


(ATÉ AGORA)

Joaquim Francisco de Carvalho
 
Mestre em engenharia nuclear e doutor em energia pela USP, foi engenheiro da Cesp, diretor industrial da Nuclen (atual Eletronuclear) e pesquisador associado ao IEE/USP (Instituto de Energia e Ambiente)

A quase completa privatização do sistema elétrico feita no governo FHC (1995-2002) foi um fiasco. 

O novos donos das antigas estatais pouco investiram para expandir o sistema, obrigando o governo a fazê-lo. E, em vez de mais baratas, as tarifas para o setor residencial subiram mais de 69%, e as do setor industrial aumentaram cerca de 158% acima da inflação, provocando a falência de inúmeros estabelecimentos industriais e desempregando centenas de engenheiros e milhares de operários qualificados.

Sobrou a Eletrobras, que agora o ministro Paulo Guedes (Economia) pretende privatizar, sem apresentar um motivo plausível para isso.


Cerca de 70% da eletricidade consumida no Brasil vêm de usinas hidrelétricas, quase todas da Eletrobras —e a geração de energia é apenas um dos usos dos reservatórios, ao lado de outros, como o abastecimento de água, a irrigação etc. O controle dos grandes reservatórios hidrelétricos é estratégico. Por essa razão, até nos EUA estes são públicos. 

Devido ao falhanço do modelo concebido com o objetivo (inatingível) de converter em mercadoria um monopólio natural como a energia elétrica, a Eletrobras vinha sofrendo grandes prejuízos por ter sido obrigada a arcar com os prejuízos modelo, para alimentar lucros astronômicos a intermediários não produtivos.


As hidrelétricas ainda pertencentes ao grupo Eletrobras têm idades em torno de 30 anos; portanto o capital nelas investido está amortizado. Assim, a energia gerada custa atualmente cerca de R$ 39/MWh. 

O grupo Eletrobras responde por uma oferta da ordem de 170 milhões de MWh por ano. Essa energia poderia ser repassada diretamente às distribuidoras por uma tarifa média de R$ 160/MWh. Portanto, considerando o custo de R$ 39/MWh, o grupo pode lucrar R$ 20,4 bilhões por ano, podendo autofinanciar a sua expansão e modernização.



Nenhum comentário: