quinta-feira, 6 de agosto de 2020

O BRASIL NA REVISTA SCIENCE, E NO EL PAÍS

Olhaí, na mais importante revista de divulgação científica, da associação americana para o progresso da ciência, AAAS na sigla em inglês.



As ruínas de um local ilegal de mineração de ouro em uma reserva Yanomami no norte da Amazônia. O desmatamento no Brasil está aumentando mesmo em áreas protegidas legalmente e em terras indígenas, onde os criminosos raramente se aventuravam no passado.
Guardião / Eyevine / Redux

Desmatamento ilegal no Brasil cresce em clima de impunidade


Por Herton Escobar 5, 2020, 11:20

O desmatamento na Amazônia brasileira aumentou bastante no ano passado - novamente. As estimativas a serem divulgadas esta semana pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) do Brasil mostram que as clareiras aumentaram em pelo menos 28% durante o atual ano de monitoramento, que vai de agosto a julho, em comparação com o ano anterior.

É a segunda subida íngreme do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que cumpriu sua promessa de campanha de afrouxar a aplicação da lei ambiental e acelerar o desenvolvimento na Amazônia.

Os números vêm do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER) do Brasil, que usa imagens de satélite de baixa resolução para identificar rapidamente novas derrubadas de florestas e alertar as autoridades sobre possíveis desmatamentos ilegais. Mais de 8700 quilômetros quadrados (km2) de cobertura florestal primária já desapareceram das imagens desde agosto de 2019, de acordo com dados atualizados até 23 de julho, em comparação com 6800 km2 nos 12 meses anteriores. (Os dados da semana final serão divulgados em 7 de agosto; como julho é o horário nobre para o desmatamento na maior parte da Amazônia, é provável que o número suba um pouco mais.)

Embora o sistema não identifique as causas do desmatamento, outros estudos mostram que a grande maioria é ilegal, realizada por fazendeiros, madeireiros, mineiros e grileiros que buscam lucrar com a ocupação e exploração de áreas florestais públicas.

O desmatamento vem aumentando lentamente no Brasil desde 2013, mas as ações e palavras de Bolsonaro deram um grande impulso. “O desmatamento é uma empresa de alto risco, profundamente conectada às decisões políticas e à retórica que influenciam a percepção desse risco”, diz Raoni Rajão, pesquisador de políticas ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Os desenvolvedores agora sentem uma sensação de impunidade, diz Rajão. As clareiras estão aumentando em áreas protegidas legalmente e em terras indígenas, onde os criminosos raramente se aventuravam no passado. Enquanto isso, as operações policiais estão fora do ar e os agentes de campo que combatem os mineradores ilegais foram repreendidos publicamente e submetidos a investigações internas por suas próprias agências.

O DETER é um sistema de alerta e não é otimizado para medições precisas de área, mas os cientistas dizem que ainda é um bom termômetro de desmatamento. No ano passado, no entanto, Bolsonaro chamou as estimativas igualmente preocupantes do DETER de "uma mentira" e demitiu o diretor do INPE, Ricardo Galvão. Os números divulgados posteriormente pelo Projeto de Monitoramento de Satélites de Desmatamento na Amazônia, um sistema de resolução mais alta também operado pelo INPE que produz dados oficiais de desmatamento no Brasil, foram ainda piores. Eles mostraram que 10.100 km2 de floresta foram derrubados entre agosto de 2018 e julho de 2019 - um aumento de 34% em relação ao ano anterior.

O ressurgimento do desmatamento - de longe a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa do Brasil - é "um desastre para a reputação internacional do Brasil", diz Luiz Aragão, chefe da Divisão de Sensoriamento Remoto do INPE. O país está sob crescente pressão de governos e investidores estrangeiros para proteger a floresta, juntamente com seu carbono e biodiversidade, ou enfrentar consequências diplomáticas e econômicas. "Precisamos de mensagens claras e ações decisivas contra essas atividades ilegais", diz Aragão. "O Brasil precisa restabelecer sua ordem ambiental se tivermos ambições de crescer economicamente e participar como líder na discussão de questões globais".

Bolsonaro tomou algumas medidas para proteger a floresta. No início deste ano, ele recriou o Conselho da Amazônia - composto em grande parte por oficiais militares - para supervisionar o desenvolvimento sustentável da região e, em maio, ele autorizou o envio de forças armadas para combater crimes ambientais na região. Outro decreto de 15 de julho tornou ilegal o uso de fogo na Amazônia pelos próximos 4 meses.

A última medida pode de fato ajudar a reduzir o desmatamento, se for aplicada adequadamente. Depois que as árvores são derrubadas, os desenvolvedores precisam queimar a vegetação derrubada para limpar a terra para pastos ou terras agrícolas, diz Rajão. Ele também vê esperança no fato de que a quantidade de floresta derrubada nas primeiras 3 semanas de julho foi menor do que em julho de 2019, embora ainda seja muito maior do que no mesmo mês dos anos anteriores. "Isso pode ser um sinal positivo de que a taxa de desmatamento está diminuindo um pouco", diz ele. "Mas temos que esperar e ver."


doi: 10.1126 / science.abe1725
Herton Escobar

Herton Escobar é jornalista de ciência e meio ambiente em São Paulo, Brasil.


P.P. (post post): Dê uma olhada nesta reportagem do El País. Evidencia uma combinação letal entre indiferença e mau intento de Bolsonaro e seu "ministro" de "meio ambiente" e a incompetência autoconfiante dos militares brasileiros.

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