sexta-feira, 14 de setembro de 2018

DE QUE CIMENTO SE FORMA



O que é que une pessoas dentro de grupos, dentro da sociedade?

Um adepto de correntes de pensamento que postulam a sociedade como basicamente um ajuntamento de indivíduos que competem o tempo todo entre si, teria dificuldade para colocar em seu modelo as relações familiares, e as formas de trabalho cooperativo – desde as caçadas e expedições de coleta de alimento das sociedades mais antigas, aos grupos de combate, times de construção de ocas e centrais nucleares, pajelança e medicina antiga e moderna, para dar apenas alguns exemplos soltos dentro das intrincadas teias que formam as sociedades modernas.

O que falta nesse modelo é que seria bom falar aqui. Quando dois indivíduos se encontram, não há apenas a reação agressiva ou de fuga, ou de domínio e submissão (muito presentes nas sociedades escravocratas). O que existe a mais – e está presente nas várias manifestações amorosas destinadas à reprodução como acasalamento e criação da prole, seria a aproximação em que as sensações de si entre os indivíduos se misturam e se fundem um pouco ou muito. Há uma troca. Troca de posições entre sujeito e objeto.

Em vez de conflito, há uma aproximação de reconhecimento e alguma forma de empate, mesmo que provisório - empatia. O empate pode ocorrer já num primeiro momento, ou ao fim de um processo de reconhecimento mais ou menos agressivo entre os indivíduos que dividem o espaço. Em um determinado momento, surge um desembarque da consciência para o outro. Se houver bastante empatia, forma-se um ambiente em que o conjunto é muito mais poderoso do que a soma entre as partes.

Pois o que vem ocorrendo no Brasil desde meses antes das eleições de 2012 – pregações de fatos adversos e mentiras puras, através das mídias e das redes digitais sociais, contra o PT (sobrando para a esquerda em geral, os tais “comunistas”, “petralhas”, “membros do foro de São Paulo”), mal disfarçando o ódio social contra os mais escuros e os mais pobres, vem destruindo muito da empatia que ainda prevalecia dentro do tecido da sociedade brasileira.

Para voltar a ter, e aumentar para o nível em que este desgraçado país venha finalmente a funcionar como nação, para superar a condição de feitoria para exportar recursos minerais e produtos oriundos das plantações industriais e pecuária amazônica, enquanto se mantém do lado de fora os que poderiam produzir alimentos para a população, enquanto a indústria vai sendo desmontada e os banqueiros continuam a aceleradamente encher cada vez mais as suas burras de riqueza, é urgente reparar a capacidade de empatia em toda a população.

Se um governo progressista for eleito, e mesmo que eles consigam impedir, há que enfrentar os discursos e as práticas do ódio e aplicar toda a energia disponível no enfrentamento aos fascistas, racistas, xenófobos, portadores de ódio em geral. É animador que os programas do Haddad deem ênfase a cenas que inspirem sentimentos de solidariedade. Mas se tudo der o mais certo possível, mesmo assim serão muitos anos e muito trabalho a ser feito para colocar o grau de empatia de que precisamos.  

E estar preparados para, a par de ações para começar de fato a reduzir a brutal desigualdade do Brasil de hoje, enfrentar a violência generalizada no campo e nas cidades, e possibilitar enfrentar os já inevitáveis efeitos de destruição ambiental que o capitalismo sem freios tem imposto a todos.

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