quarta-feira, 2 de julho de 2014

E ESSE ISIS, AGORA?

O tal do ISIS, que quer dizer estado islâmico do Iraque e Levante, renomeou-se Estado Islâmico. Já tem pedaços da Síria e do Iraque, e é chefiado por um fanático sanguinário que já se nomeou o próprio califa. Pepe Escobar dá um resumo dos eventos e do mencionado, em inglês aqui. A ilustração abaixo é do Asia Times, onde saiu o artigo. Pra ter uma ideia do projeto do grupo - restauração do império islâmico em todo o seu esplendor. 

É claro que o império do caos vai querer justificar mais uma guerra, depois do Afeganistão, do Iraque, da Líbia, da Síria, diretamente ou através de representantes., com ajuda dos estados extremistas aliados - Israel e Arábia Saudita, esta responsável pelos "rebeldes maus" na guerra civil da Síria. Se os estadunidenses forem à guerra novamente, essa loucura de califado é capaz de aumentar bastante. 

Os aiatolás só se viabilizaram no Irã para instalar sua república islâmica porque o ditador que representava os interesses dos estadunidenses e dos ingleses, e que foi por eles instalados por um golpe contra um governo constitucional em 1953, destruiu por massacre toda a possível oposição não religiosa.




Cada ataque de drones, a grande novidade bélica dos EUA, sempre causa efeitos "colaterais" de destruição de casas e de vidas de civis, que por sua vez inspira mais jovens a juntar-se, no desespero, aos jihadistas fanáticos. É a forma de gestão do império do caos. Abaixo, uma matéria da BBC que saiu no Jornal Correio do Brasil:

Califado de grupo militante islâmico é avanço perigoso, afirma analista

2/7/2014 10:07
Por Redação, com BBC - de Bagdá



A declaração feita pelo grupo militante Estado Islâmico no Iraque e no Levante (Isis, na sigla em inglês) de que havia formado um califado, ou Estado Islâmico, poder ter dado início a uma nova era de jihadismo internacional. Na segunda-feira, o grupo havia anunciado que o esse Estado Islâmico se estenderia de Aleppo, no Norte sírio, até a província de Diyala, no Leste iraquiano, e que ele seria governado por um único líder político e religioso.
O anúncio tem grandes implicações teológicas, ideológicas e políticas para a comunidade internacional e grupos jihadistas opositores.
Na história islâmica, o califado é visto como uma simples liderança que facilitava a prática da religião. O califa também era um líder político que comandava um império e era visto como sucessor do profeta Maomé.
Historicamente, o califa era visto como um líder de muçulmanos pelo mundo, de quem fidelidade e lealdade eram esperados. Este modelo político foi abandonado no início do século 20 e substituído pela noção moderna de Estado-nação.
O califado com o líder do Isis, Abu Bakr al-Baghdadi, no comando, no entanto, é bem diferente dos outros. Seu anúncio será rejeitado por quase todos os muçulmanos, que não querem, a nenhum custo, um grupo jihadista para representá-los.
A declaração será repudiada por muçulmanos de todas as classes, mesmo entre os que acreditam no conceito de “khilafa” (califado).
No entanto, isto não muda a situação para aqueles vivendo sob o mando de Baghdadi.
Tolerância zero
Na nova sede do califado, a cidade síria de Raqqa, como no resto do território controlado pelo Isis, a terra deve ser administrada por uma interpretação medieval e literal da Sharia (lei muçulmana), segundo a qual o tabagismo é punido com chibatadas, ladrões podem ser condenados a amputações e opositores são sumariamente executados.
À luz disto, é um pouco surpreendente que, na esteira do anúncio, a popularidade do Isis num nível local parece ter sido fortalecida.
O Isis é conhecido como um grupo intolerante, com punições rígidas para dissidência ou roubos
O Isis é conhecido como um grupo intolerante, com punições rígidas para dissidência ou roubos
Como as celebrações em Falluja mostram, por exemplo, há muitas pessoas que receberam esta notícia com alegria.
Se, no entanto, você não for um muçulmano sunita predisposto à visão de mundo binário de Baghdadi, esta é uma notícia extremamente preocupante.
O Isis não tem tolerância para o que considera ser dissidência, como visto no massacre de soldados iraquianos em junho e supostas crucificações de rebeldes sírios moderados.
Indo além do território do Isis, no entanto, países vizinhos como Jordânia e Arábia Saudita certamente estão extremamente preocupados com estes avanços.
O restabelecimento do califado provavelmente só abastecerá o apoio à marca de jihadismo do Isis já presente nestes países.
Durante meses, houve evidência crescente de que o culto à personalidade de Baghdadi se espalhou para países vizinhos; agora, vai avançar ainda mais.
‘Porta-bandeira do jihadismo’
Embora as preocupações de Baghdadi possam parecer localizadas, seus objetivos de longo prazo certamente não são.
Após ter reivindicado o califado, o líder colocou-se efetivamente como o porta-bandeira do jihadismo em todo o mundo.
Isto significa que a possibilidade de um ataque do Isis contra qualquer alvo ocidental – numa tentativa de empurrar a Al-Qaeda a uma posição de irrelevância mundial – não seria exagero.
O fator Al-Qaeda é de interesse particular.
A rivalidade entre Baghdadi e o chefe da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, tem profundas implicações, levando consigo o risco de que um ou outro grupo poderá tentar se sobrepor ao outro com um ataque ao Ocidente.
Assim, entre as muitas questões que a declaração levanta, a reação da Al-Qaeda é certamente uma das mais reveladoras.
Apesar de ser improvável que veremos milhares de soldados jihadistas se alistando para a causa de Baghdadi, é certeza que um número pequeno irá fazê-lo, sem mencionar os extremistas indecisos sobre qual grupo apoiar.
Afinal, lutar por um califado é muito mais emocionante na perspectiva para futuros jihadistas do que lutar por alguém com uma força cada vez menor, como a de Zawahiri, da Al-Qaeda.
Aposta do Isis
No entanto, anunciar que o califado foi restabelecido é uma grande aposta e, daqui em diante, os resultado para o Isis são totalmente incertos.
Simpatizantes da Al-Qaeda e outros extremistas podem aprofundar ódio que têm por Baghdadi por causa de sua exigência de fidelidade. Da mesma forma, porém, o anúncio poderá inspirar deserções de grupos jihadistas, atraídos pela visão de mundo milenar de Baghdadi.
Como um analista notou, há evidências deste último efeito na atividade recente da Al-Qaeda na Península Arábica.
Então, a situação no Iraque continua volátil, em meio a tentativas do Exército iraquiano de um contra-ataque para retomar o controle da cidade de Tikrit.
Muita coisa norteia a ofensiva do Exército: se continuar desse jeito e conseguir expulsar o Isis de Tikrit, a legitimidade de Baghdadi sofrerá um grande golpe.
Se, no entanto, o grupo se mantiver firme, apesar da colaboração internacional aos militares iraquianos, sairá fortalecido e virá crescer seu apoio global.

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