quinta-feira, 10 de julho de 2014

A SELEÇÃO DO BRASIL E A COPA

Aqui, um artigo do Paulo Nogueira

As lições do abismo: o que o Brasil tem que fazer para salvar seu futebol


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Palavras de consolação, numa hora dessas, lembram o clássico “ele está num lugar melhor do que esse” num funeral.
Passemos, portanto, desta etapa.
Isto posto, duas coisas merecem consideração. A primeira são as palavras do brasilianista americano Peter Hakim, entrevistado pela BBC Brasil.
Hakim fez o ponto essencial: uma coisa é a derrota no campo, para a qual nos próximos cem anos os experts procurarão, inutilmente, explicações.
Outra coisa, muito mais importante, é fora do campo. Os brasileiros, contra obsessivos prognósticos da imprensa, provaram ser capazes de organizar um evento da magnitude de uma Copa.
Todas as coisas pesadas, o saldo da Copa é imensamente positivo. Ter ou não o melhor futebol do mundo num determinado momento é irrelevante perto da constatação de que somos um país competente – e apaixonante, como mostraram turistas e jogadores de múltiplas nacionalidades que fizeram a Copa de 2014 ser a festa que foi.
A segunda coisa que merece reflexão é o exemplo alemão: o trabalho que eles fizeram, a partir da eliminação da primeira fase da Europa de 2000 e da derrota na Copa do Mundo de 2002, para reinventar seu futebol.
Os alemães puseram foco na base. Há hoje cerca de 50 centros de formação de garotos nas três principais divisões de futebol da Alemanha.
Os centros são fiscalizados pela Federação Alemã. De acordo com seu desempenho em itens como organização, treinamento e infraestrutura, recém estrelas da Federação.
Todos os jogadores da atual seleção, excetuado o veterano Klose, passaram por tais centros, hoje uma referência mundial.
O Brasil tem que, como a Alemanha, se reinventar no futebol.
Estádios vazios, gramados precários, clubes quebrados, jogadores talentosos logo levados ao exterior – está claro que as coisas não estão funcionando.
Há uma parceria sinistra que tem que ser desbaratada, se há alguma intenção de efetivamente mudar as coisas no futebol: CBF e Globo.
É uma questão de bom senso elementar: se a situação financeira dos clubes é tão precária, como a Globo pode ganhar tanto dinheiro com o futebol?
Há, aí, uma distribuição perniciosa de recursos – agravada pela inépcia e ética frouxa dos cartolas da CBF.
Havelange, Ricardo Teixeira, Marin – como esperar desse tipo de dirigente qualquer coisa parecida com o que a Federação alemã fez?
Some-se a isso a Globo, focada, como em tudo, apenas em ganhar dinheiro, e com influência desmedida na CBF e nos clubes brasileiros – e se tem a receita oposta à alemã.
Ou se enfrenta esse formidável desafio – tirar do caminho aqueles que fizeram do futebol brasileiro ruínas daquilo que foi —  ou novos desastres estarão em nosso caminho futuro.

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