sábado, 31 de maio de 2014

PONTAS SOLTAS

Muitas pontas soltas formam o ambiente em que vive a sociedade moderna. Algumas pertencem ao dia a dia. Outras compõem o que vai moldando os acontecimentos políticos. Essas pontas soltas são normalmente desconsideradas. Poderiam ser comparadas com as substâncias genéticas que influem na conformação dos corpos dos seres vivos, fora das moléculas de DNA e RNA.

Existe a extrema, crescente degradação do meio ambiente, que em vez de se atenuar com os alertas feitos por cientistas sérios e independentes, acelera. Poluição e perda da fauna e flora dos rios, poluição do ar das grandes cidades, acidificação dos oceanos, criando zonas mortas que se expandem, e em cima de tudo o aquecimento global - com a elevação do nível dos oceanos, secas e inundações cada vez mais devastadoras, expansão dos desertos. Em particular, a região amazônica começou a experimentar secas inéditas, fazendo prever uma savanização e a alteração co clima também para as demais regiões do país, em particular a região sudeste. Nada, absolutamente nada está sendo feito em escala minimamente necessária contra a força dessas dinâmicas, que estão destruindo as bases em que se nutrem as sociedades humanas.

Existe a questão da desigualdade, e ligada a esta, a questão da coesão social e da segurança pública. Temos um país, mas não exatamente uma nação, que seria um conjunto suficientemente conectado e minimamente harmônico de cidadãos, indivíduos e famílias - capazes de identificar-se com projetos mais gerais, até mesmo um projeto nacional. Algumas políticas públicas tem reduzido, de maneira tímida os índices de desigualdade.

E existe a questão política. A questão de como problemas de natureza social podem ser enfrentados e eventualmente pela sociedade, considerada como o todo : homens, mulheres, crianças de todas as cores e extrações sociais e não somente a "alta" sociedade. Sabemos que a política privilegia, desde sempre, ricos poderosos, e no Brasil mais ainda.

A política é exercida sobretudo pelas grandes empresas, imprensa, rádio e televisão, por indivíduos ligados a partidos políticos, e por todo o resto, principalmente sindicatos, movimentos sociais e indivíduos avulsos. Mais ou menos nessa ordem. É aí que se situam os grandes executivos dos bancos e outras instituições financeiras, das concessionárias de serviços públicos, industriais, planos de saúde e hospitais, do Globo, Editora Abril, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Bandeirantes, SBT, Record. A esmagadora maioria desses atores defendem os interesses dos mais ricos contra os do resto, principalmente os mais pobres e desamparados. É também exercida por governos de países importantes: EUA, China, Rússia, por exemplo .

Existe a questão da ideologia, ou melhor, das ideologias. Ideologia pode ser uma coisa que tece uma rede integrando o pensamento partilhado pelas pessoas. Não existe uma ideologia capaz de fazer isso no mundo atual. Existe uma ideologia dominante na política (não na mente das pessoas) que é a ideologia do dinheiro, mas ela não une pessoas em torno de objetivos comuns, antes divide, porque a maximização dos ganhos de uns é feita às custas de perdas de outros.

Quais os procedimentos, quais as instituições, quais as ideias guia para recolher pelo menos algumas de tantas pontas soltas, ajudando a montar um processo efetivo de emancipação e melhoria generalizada?

Há um processo da direita. Cocorocas (obrigado, Stanislaw Ponte Preta) de todos os matizes tratam de "revoltar-se". Alimentam a onda de vergonha do Brasil, pela corrupção e pelo que (ainda) não está dando tanto certo. Concentram-se na visão do copo como meio vazio. Interessante que uma parcela dos jovens que realmente querem uma evolução da sociedade se juntem a essa onda. Existem as ações do grande irmão do norte, o império estadunidense, que tudo espiona, reativou a quarta frota, sonha em assassinar com drones todos os seus desafetos.

E existem alguns aspectos da alma brasileira: a busca e o cultivo da alegria, a desconfiança em relação a cocorocas, a generosidade básica no trato das pessoas, a miscigenação, as belezas já geradas pela sua cultura, a adaptabilidade do trabalhador brasileiro, a garra das mulheres, que podem superar os imensos desafios, entre eles a indecente desigualdade que ainda está aí, embora tenha diminuído nos últimos anos, mas que está muito além do nível em que uma democracia pode funcionar. Essas coisas juntas, mais outras de que não me lembro para mencionar aqui, podem fazer a diferença. A ver.









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