segunda-feira, 19 de maio de 2014

DEFINEM-SE OS BLOCOS DE ELEITORES

Esta análise de Maurício Dias na Carta Capital levanta um ponto interessante: parece que o núcleo da oposição de direita está em processo de consolidação. Mas será que vai ser possível deslanchar um verdadeiro debate político na eleições deste ano? Debater projetos para o Brasil sobre Meio Ambiente, política industrial, política agrícola, metas para a saúde e para a educação, enfrentar a questão da segurança pública e das polícias militares? Será que algum dos três maiores contendores está disposto a arregaçar as mangas sobre essas questões? 

Não sou otimista, mas sempre posso exprimir a esperança.


O antipetismo alavanca Aécio

Ao adotar um discurso mais contundente, o tucano conquistou uma porção do eleitorado que desconfiava de seu ímpeto oposicionista
por Mauricio Dias — publicado 17/05/2014 06:07
Marcelo Camargo / ABr
Aécio Neves
De cara nova. O mineiro abandonou a amabilidade
Vistas de agora, parecem óbvias as razões pelas quais Dilma Rousseff (PT) perdia pontos nas pesquisas de intenções de voto e os dois principais adversários dela, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), não herdavam nada. Quem falava que a explicação era a falta de projetos, de programas e de propostas da oposição acertou. Mas não é só. Faltava outra coisa, independentemente dos erros da administração Dilma, que catalisasse eleitores em cima do muro. Neste caso, não se trata de uma referência explícita aos tucanos.
Finalmente, a razão foi encontrada: alguém precisava encarnar o antipetismo, que tem um estoque de votos de aproximadamente 30% do total. No Brasil, é muito difícil alguém, com razoável senso de equilíbrio, assumir a liderança do conservadorismo ou, para ser mais preciso, líder da direita.
Aécio Neves aceitou o desafio. A virada foi dada a partir da polêmica compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras. Ele iniciou com o bê-á-bá: o caminho amplo da denúncia. Botou fim ao pudor político do PSDB de se assumir como partido conservador, embora oculto atrás da sigla social-democrata. Muito além de se autodenominar presidente do agronegócio, o candidato tucano assumiu o papel de principal opositor do governo e também de adversário implacável do PT. Passou a atacar firme a presidenta Dilma, a administração dela e os petistas.
Uma grande parcela do eleitorado, do contingente de “brancos e nulos”, não estava indecisa ou desiludida. Estava sim sem porta-voz, como se observa agora.
Aécio “matou” Aécio e deu outra personalidade ao candidato. Saiu de cena o mineiro cuja imagem sempre foi a de bonzinho, cordial e sobretudo conciliador. O tucano não precisou nem ensaiar expressões faciais agressivas inexistentes no vocabulário que sempre o caracterizou como bom moço. A cirurgia plástica feita em 2013 tirou de sua face os traços de amabilidade. Além da aparência, para acompanhar o novo discurso, emergiu um opositor mais duro e menos amável. Temporariamente, ao menos, Aécio acertou ao adotar um discurso figurativo.
Esse acerto foi a alavanca de seu crescimento eleitoral. Subiu 4 pontos, de 16% para 20%, conforme registro do Datafolha. Marcou também distância em relação a Eduardo Campos, este ainda preso ao constrangimento de presidir um partido que foi da base do governo e, principalmente, por ele próprio ter sido ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula.
O ex-governador pernambucano articulou um sistema tradicional de administrar. Aliou-se a 11 partidos e a todos ofereceu um cantinho confortável no governo. Na fase eleitoral, propõe, no entanto, um socialismo disposto a aposentar “velhas figuras de Brasília”, como ele diz. Um discurso abstrato assim deixa Marina Silva, a vice, próxima ao êxtase eleitoral. Mas deixa entrever também a distância entre a palavra e a realidade.

Nenhum comentário: