quarta-feira, 15 de maio de 2019

ALGUMAS REFLEXÕES

Construir, lutar

Creio que uma vida humana é feita de lutas e de criações (combates e construções). 


Quando teve início o golpe de 2016? Cada vez que eu olho para trás identifico mais alguma ação que sucedeu antes. A rigor, pode-se dizer que começou desde sempre, porque a ditadura nunca foi superada. Ficaram atuando sempre, a esmagadora maioria das polícias, principalmente militares, doutrinadas num processo incessante, para a repressão às organizações de trabalhadores e dos movimentos sociais mesmo depois da Constituição de 1988 ter estabelecido o direito de organizar e de atuar para essas formações. Todo ano os comandantes das forças armadas vão comemorando o golpe de 1964, fora uma interrupção pela presidenta Dilma, que durou só até a sua deposição.

Sempre grassou um ódio, da (maioria da) classe média, aos pobres e aos escuros. Esse ódio evolui para se transformar em doença social, parecido com o consumo de drogas ilícitas. Encontrou terreno fértil para crescer nas redes sociais, onde ele encontrou berçários adequados, muitas vezes com a ajuda do anonimato para os ataques mais agressivos a raças, classes, fatos, conhecimento.

A crença de que estávamos em uma democracia depois de promulgada a Constituição de 1988 foi um fator de desmobilização desastroso. O PT, ou ao menos parte importante dele, passou a menosprezar sindicatos e movimentos sociais, que por sua vez se subordinaram a lógicas de políticas de conciliação de interesses de seus políticos que iam sendo eleitos.

Resistir é muito pouco, tem que evoluir para uma postura ativa dupla, em que estejam presentes, sempre, Construção e Combate.

Tem as construções locais solidárias. Tem o combate a fundamentos do capitalismo, através da denúncia e coordenação de ações contra a cultura do consumismo. Tem a necessidade de estabelecer a narração da crise ambiental e da crise do império, ausente tanto desses meios das redes sociais como dos espaços públicos do saber (Academia) e da informação (Mídia e Imprensa Corporativas).

Tem as construções no aparelho do Estado, este em grande parte sob a ocupação de tropas bolsonaristas, além da direita tradicional e das já instaladas pelo partido do judiciário.

Mesmo as ofensivas do bozo podem ser provisoriamente contrastadas. Por exemplo, tendo sido retirado o apoio da Caixa para o cine Belas Artes, em 28 de fevereiro de 2019, o curador conseguiu o patrocínio da cervejaria Petrópolis para manter o cinema em funcionamento. Buscar sempre os caminhos alternativos.

Cooperação, solidariedade devem procurar se estruturar e “institucionalizar-se” em seus grupos. Buscar semelhantes e formas de montar sinergias. Socialismo utópico não tanto como célula constituinte de uma nova sociedade, mas como espaço livre e de criação de novas formas de economia. No MST e assemelhados, tem muito disso, cooperativas, escolas. O bolsonismo deve atacar os movimentos sociais, e vai ser preciso eles resistirem e nós os apoiarmos de todas as formas.

Não existe burguesia nacional, fora talvez o agronegócio. Os donos do poder econômico: banqueiros, executivos das corporações se mantém invisíveis, de propósito. Mas podem ser combatidos mesmo sem aparecerem, nas intersecções de seus negócios com as vidas das pessoas. Boicote é uma possível arma, que pode ser acionada pela internet. As lutas dos trabalhadores pejotizados e uberizados mal tem começado. Esses trabalhadores não têm, como os remanescentes de períodos anteriores, as condições de aglutinação pela presença física, por exemplo no chão das fábricas. Mas tem por exemplo a greve do Uber iniciada nos EUA dias atrás, para a qual havia sido anunciada a adesão de motoristas brasileiros. Os donos do poder têm a dianteira do uso da internet: no controle, na produção e distribuição de fake news em eleições, mas as pessoas começam a reagir.

Nisso tudo, é essencial não deixar de lado uma atividade que deve ser permanente, em toda parte. A produção e busca da solidariedade (bondade), e da beleza. Relações entre os seres humanos – e com o ambiente em que vivemos -  governadas pelo princípio do respeito, que tem que ser pressuposto, e ao mesmo tempo meta a ser sempre lembrada. Suavidade contra brutalidade, sutileza dominando a grossura, espaço livre contra dominação, música contra barulho, erotismo contra pornografia.

Temos que lembrar o que a literatura, o humor, a música, o samba, pinturas e grafites, as danças, que herdamos e continuamos a receber, têm trazido a nossas vidas, como pessoas povos. Tem que os artistas façam, continuem a fazer, para fazer nos sentirmos mais confiantes, melhor.

Assim, enquanto é necessário cuidar e cultivar de si, é importante combater sempre que for possível e valer a pena. E aproveitar todas as oportunidades para criar, construir. Mas é necessário também estar com quem é próximo, sem fronteiras demasiado marcadas. Uma lista que eu que posso oferecer para distinguir quem ou o que:

Pode-se sempre escolher entre ser:

·         Atento ou apressado
·         Civilizado ou violento
·         Responsável ou ávido
·         Protetor ou aproveitador
·         Sutil ou tosco
·         Forte ou medroso
·         Consciente ou impulsivo
·         Ator ou espectador
·         Crítico ou passivo
·         Preparado ou desprevenido
·         Sensível ou distraído
·         Alguém que encara ameaças ou prefere disfarçar
·         Brasileiro ou agente da dominação pelo império americano
·         Quem quer trabalhar pelo Brasil ou “Fazer a América Grande de Novo”

No fim o Brasil, traído pelas elites dominantes, incluídos aí os estamentos burocráticos da administração, da justiça e os armados, é hoje uma entidade fantasma.  Morta? Prefiro dizer que é um país sob ocupação. Que começou na vinda dos portugueses com o capitalismo mercantil e escravagista. Onde mesmo assim se fez muita coisa bonita, e pode fazer muito mais. 

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