A AVAAZ, sigla cujo significado
desconheço, entrou em meu circuito de cliques da internet através de um amigo
de quem recebo muitos e-mails, que aprecio.
Tem uma fachada simpática, e
dedica-se em geral a causas ambientais e humanitárias. Uma vez que você se
inscreva junto a eles, receberá sempre uma nova causa, com petições para que
você assine dando apoio, tudo através da internet. É estadunidense, no começo
assinavam nomes de lá, mas depois de um tempo passaram a assinar nomes
brasileiros.
Algumas causas diziam respeito ao
Brasil, com ênfase para causas ambientais e os direitos dos povos indígenas que
são afetados pelas obras de hidroelétricas na Amazônia. Assinei várias delas,
porque o governo, embora sem a truculência dos militares, tem mostrado uma
tendência de ignorar ou subestimar os efeitos desagregadores das obras sobre a
vida desses povos. Que órgãos de imprensa e parlamentares estadunidenses também
se interessem pelo meio ambiente no Brasil, tendo chegado a propor que a
Amazônia é um patrimônio de toda a humanidade (incluindo, é claro, as
corporações de lá), não me chamou a atenção na época.
Até que veio a Líbia. O ditador
de lá Muhamar Khadafi, era um ditador: reprimia a oposição com violência,
roubava dinheiro do estado, vivia uma vida extravagante. Mas até aí tudo bem. O
“mundo livre” sempre conviveu muito bem com as monarquias do Golfo Pérsico, com
o antigo Xá da Pérsia, com os ditadores latino-americanos militares ou não, com
os militares da Indonésia. Mas Kadhafi não se limitou a isso. Desviou
criminosamente parte das rendas do petróleo para educação e saúde, o que acabou
dando aos líbios o melhor IDH da África. Não contente, passou a meter sua colherzinha
torta nas relações internacionais. Sanguíneo, quando o presidente dos EUA
mandou derrubar um avião civil na Líbia naturalmente matando todos a bordo,
vingou-se fazendo o mesmo com um avião na Escócia, em Lockerbie. Khadafi virou
pária por certo tempo (Reagan, nunca), mas comprou boas relações com alguns
países da Europa.
Quando veio a primavera árabe, parte da
população da Líbia começou a demonstrar contra o governo, pedindo mais
liberdade. Foi reprimida com violência, o que de repente despertou nos Estados
Unidos e seus aliados o mesmo interesse humanitário anteriormente voltado para
o Iran e o Iraque. Um interesse negro e viscoso. Foi aí que a AVAAZ mandou uma
petição solicitando uma zona de proibição aérea, “no-fly zone” na versão
original. O idiota aqui assinou, ajudando os representantes europeus dos EUA a
destruir o país e entregá-lo à guerra civil permanente, com direito à liberação
dos grupos extremistas islâmicos que agora infernizam a vida dos líbios e dos
países africanos próximos.
Estou certo que minha
contribuição à destruição da sociedade líbia foi marginal. Mas não me perdoei
pela ingenuidade. Coloquei uma etiqueta na AVAAZ como spam, e não tive mais contato, até
dois dias atrás, quando soube que estava correndo uma petição pelo impeachment
da presidenta do Brasil, Dilma Roussef. Lembram os impeachments de Zelaya em
Honduras, e Lugo, no Paraguai? . Parece que eles tentaram consertar, com uma
petição de apoio. Mas a AVAAZ não é um site de petições, neutro. Todos os
e-mails que eles mandaram para mim eram assinados por eles. Mas quem são, realmente, eles? Creio que eles
não mandariam uma petição para canonizar Pablo Escobar. Porque mandaram uma
para derrubar um governo legal, que não cometeu nenhuma ilegalidade e tem
defendido a Constituição? Talvez seja o caso de perguntar aos nossos grandes
irmãos do norte.
Por falar no brothers, é curiosa uma
observação de matéria do New York Times, devidamente repercutida pelo jornal
nacional da Globo, sobre as manifestações no Brasil, que fala da aparição de
uma “maioria silenciosa”. Essa maioria deve ter sido descoberta pela mesma
fonte que informou o jornalão estadunidense sobre as armas de destruição em
massa de Saddam Hussein.
Nenhum comentário:
Postar um comentário