Do The Saker
Carta aberta de Faina Savenkova a Oliver Stone
11 de agosto de 2022
Olá, Sr. Stone!
Meu nome é Faina Savenkova e tenho 13 anos. Não sou uma estrela de cinema e meu nome não aparece regularmente nas páginas de revistas populares, sou apenas uma das milhares de crianças de guerra que você conheceu em sua vida: no Vietnã e em todo o mundo. E, no entanto, apesar do medo, apesar do fato de viver um dia de cada vez, esperando o início dos bombardeios a qualquer momento, há três anos estou lutando pelo direito das crianças do Donbass viverem em paz. O governo ucraniano me ameaça, eles simplesmente não gostam que eu esteja dizendo a verdade sobre a Ucrânia, mas continuo fazendo isso, porque a verdade é tudo o que uma criança deixou na guerra. Não pode ser tirado.
Eu sei que você esteve na guerra e sei também que você sempre diz a verdade. Esta guerra realmente começou não em fevereiro, mas oito anos atrás, quando os nacionalistas, com o apoio dos Estados Unidos, decidiram não ouvir a voz do Donbass e da Crimeia e começaram a nos matar. Eu era uma garotinha, tinha apenas cinco anos, mas lembro da confusão dos meus pais, da minha avó rezando no canto e do barulho das bombas. Com o tempo percebi por que meus pais estavam confusos: eles não podiam acreditar que seu próprio exército estava matando pessoas e destruindo cidades pacíficas de seu país natal.
Agora não tenho mais a confusão que eles tiveram no início, porque vejo como a Ucrânia vem fazendo o mesmo há 8 anos. Todos os dias morrem pessoas no Donbass, incluindo crianças, cujo futuro foi roubado. Acabamos apenas com flores e brinquedos no local do bombardeio. E mesmo assim não tenho ódio. Apenas tristeza e arrependimento por causa do como as pessoas podem se transformar, em quem elas podem se tornar. Com que facilidade eles cruzam a linha da humanidade para matar crianças e destruir cidades inteiras, transformando-se em feras.
Infelizmente, essa antiga Ucrânia pacífica não existe mais. Mas não vou desistir, Sr. Stone! Continuo escrevendo para presidentes e organizações, a ONU, batendo em todas as portas, tentando parar esta guerra. Recentemente, juntamente com a Fundação Russa para Combater a Injustiça, entregamos ao secretário-geral da ONU, António Guterres, informações sobre crianças cujos dados pessoais foram disponibilizados publicamente. Eles ainda não me ouvem, mas mesmo uma voz calma ainda rompe essa parede de mentiras e ódio. E que seja perigoso, recebo ameaças porque meus dados foram postados no site criminoso nacionalista ucraniano “Myrotvorets”, mas olho para você, para Julian Assange, e continuo seguindo esse caminho, assim como você. Sem a verdade, o caos se instala. Infelizmente, isso não está claro para todos os adultos, mas está claro para os filhos da guerra.
Boa sorte!
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