Do Evaggelos Vallianatos, no Counterpunch. Para aprofundar no tema, veja e leia os relatórios do IPCC 2021
9 de agosto de 2021
Caos do clima: Biden está à altura do desafio?
por Evaggelos Vallianatos
Usina de energia e fábrica de celulose. Foto: Jeffrey St. Clair.
Estou desanimado porque Joe Biden pode não ter o conhecimento ou a coragem para cavalgar o centauro do clima, ou ao menos desacelerar sua força destrutiva.
No calor da eleição, ele fez promessas sensatas sobre o clima. No entanto, ele deve ter sabido que quebraria sua confiança pública se não cumprisse essas promessas. No entanto, o perigo do clima não vai ser varrido para debaixo do tapete.
O caos do clima muda tudo
Não é como fazer campanha para aumentar o salário mínimo, construir casas para os sem-teto ou aumentar os impostos para os super-ricos. Embora importantes, essas preocupações não têm o poder de virar a sociedade de cabeça para baixo.
Com o clima, a política de ignorar a ciência e as evidências de altas temperaturas globais e altas temperaturas iminentes para amanhã são potencialmente fatais. Eles tocam a vida em seu aspecto mais belo e vulnerável.
Isso me dói. Votei em Biden. Achei que ele levava a ciência a sério, como eu. Sua EPA (Agência Americana de Proteção do Meio Ambiente) está dizendo que “um mundo em aquecimento está tornando a vida mais difícil para os americanos, de maneiras que ameaçam sua saúde e segurança, lares e comunidades”.
Além disso, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, composto por dezenas de cientistas internacionais que estudam o clima mundial há décadas, não está exagerando em seus avisos aos formuladores de políticas.
Os cientistas do IPCC estão dizendo aos líderes mundiais que eles têm cerca de dez anos para colocar sua casa em ordem e se voltar, juntos, contra seu inimigo comum, que, delicadamente, eles chamam de mudança climática.
Esse verdadeiro inimigo são os próprios líderes mundiais que, impensadamente, permitiram a conquista da civilização por algumas empresas de petróleo, carvão e gás natural.
Essas empresas de combustíveis fósseis simplesmente têm extraído “recursos” de carvão, gás natural e petróleo da terra. Eles "queimam" esses combustíveis fósseis para a energia de fábricas que produzem eletricidade, produtos químicos, computadores, mísseis, produtos farmacêuticos, carros, trens, aviões, máquinas de todos os tipos, armas, navios, fertilizantes, pesticidas, tratores e incontáveis produtos de "consumo" e ainda mais gadgets. Eles tornam possível até mesmo o pesadelo de todas as fábricas, fazendas gigantes de animais para a alimentação mecânica e o abate de bilhões de animais doentes para a carne.
Essas fábricas de combustíveis fósseis fizeram o mundo. Elas empregam milhões de pessoas, anunciam seus produtos na TV, jornais e rádio, e aspirantes a políticos e acadêmicos. Eles também ganham a confiança de fomentadores de guerra, aproveitadores e políticos.
Esta é a razão básica pela qual Biden e outros líderes mundiais acham tão difícil desafiar, regulamentar e enfrentar as bases petrolíferas de nossa civilização.
As emissões de gases de efeito estufa são praticamente invisíveis. O grande número de pessoas que dirigem carros, caminhões, aviões, navios e outros milhares de dispositivos de combustível fóssil não tem a menor ideia sobre o impacto de suas máquinas no clima.
Os políticos, pelo menos aqueles com consciência, estão cientes dessa ignorância em massa, mas hesitam em abordar suas causas, incluindo suas relações com o caos climático. Eles estão apavorados com a perspectiva de abandonar o petróleo, o carvão e o gás natural. Eles têm pesadelos vendo multidões tentando vingar a perda de seus empregos.
Isso não significa que nada está sendo feito para nos afastar da droga viciante do petróleo. Sim, há mais carros elétricos e mais casas, como a minha, recebendo eletricidade do sol. Mas é difícil ter certeza de que há uma transição dos combustíveis fósseis para as tecnologias verdes.
Todos os dias, ano após ano, carros, muitos grandes e agressivos, dominam a paisagem. Sopradores de folhas e outros dispositivos inúteis estão mantendo os gramados limpos e convidativos. Pandêmicas ou não, essas máquinas de queima de petróleo estão aparando e cortando grama e árvores e removendo folhas de árvores.
Enquanto isso, ondas de calor antropogênicas e inundações e incêndios têm martelado e prejudicado vilas e cidades em todo o planeta, enfraquecendo ecossistemas, destruindo casas, florestas e matando pessoas. Em julho de 2021, o Incêndio Bootleg em Oregon queimou cerca de 1.675 km² de floresta.
Todos os dias em julho de 2021, a temperatura da minha cidade, Claremont, na Califórnia, foi de 38 graus Celsius. Agosto começou com uma temperatura diária de 41 graus.
Rego minhas árvores com bastante frequência, mas suspeito que o estresse causado pelo calor seja enorme. Uma das minhas figueiras começou a perder as folhas. As abelhas e borboletas monarca quase desapareceram.
Assim como as religiões monoteístas, o perigo climático não tão invisível está embutido na estrutura das sociedades industrializadas. Desfazer essa vacinação com o petróleo exige iluminação, paixão pela vida e ações e responsabilidades pessoais e coletivas.
Da guerra à reconciliação, amizade e paz
Os líderes mundiais devem fazer o trabalho pesado. Os Estados Unidos deveriam abandonar sua Guerra Fria contra a China. Em maio de 2021, cerca de 65 organizações escreveram para Biden e o Congresso, pedindo-lhes que ficassem longe das aventuras estreitas e auto fracassadas no exterior. Eles disseram aos democratas e republicanos para evitar "uma visão de mundo perigosamente míope que apresenta a China como a principal ameaça existencial para a prosperidade e segurança dos EUA".
Há pouca dúvida de que, sem uma política nacional e internacional responsável e ética, o caos climático destruirá o mundo.
Essa transformação política é difícil. Muito está em jogo, especialmente em nome dos super-ricos que possuem sua riqueza precisamente dos combustíveis fósseis e da cultura que criaram ao seu redor.
Além disso, precisamos restringir as ambições nacionais e imperiais. Os Estados Unidos devem cair em si e proteger sua própria sobrevivência e a do mundo contra as atrações temporárias da ganância de classe e das Guerras Frias.
Oportunidade de Biden
Biden deve convidar a China, a União Europeia, a Rússia e a Índia a repensar suas relações políticas em nome da salvação do mundo. Eles precisariam agir juntos, representando cerca de quatro bilhões de pessoas, compartilhar conhecimento, tecnologias e experiência. Livrar-se dos combustíveis fósseis e ilumine o planeta com alternativas verdes.
Começar a discussão e colocar as disputas convencionais e as políticas geoestratégicas e as Guerras Frias no congelador.
Na verdade, o caos climático deve convencê-los a desmontar suas armas nucleares. Essa decisão encorajaria ou forçaria outros estados nucleares a abandonar o monte Aquiles da sobrevivência humana e da civilização.
Com esse espírito, uma nova civilização se estabeleceria. Nada estaria além do reparo. Sabemos construir “boas” tecnologias a partir da energia livre do Sol, vento, água e culturas tradicionais.
Transporte democrático
Se reconstruirmos nosso transporte público elétrico para acomodar nossas necessidades diárias, não será necessário fabricar tantos carros elétricos como os carros a petróleo que reciclaríamos. Além disso, não devemos permitir que aeronaves privadas poluam o céu.
Comida de verdade
Sabemos como cultivar alimentos sem fertilizantes sintéticos, pesticidas e engenharia genética de plantações. Sem esses “insumos” sintéticos e sem petróleo, os agricultores familiares fundiriam a agroecologia, inventada na América, e o conhecimento agrícola tradicional da China e da Índia, para produzir alimentos saudáveis e curar ecossistemas. Essa transformação benéfica reduziria significativamente as emissões de gases de efeito estufa, quase até 50 por cento.
O paradigma de Sólon
Existe um precedente para esta emergência. No final do sétimo século, início do século VI A.C., Atenas enfrentou uma guerra civil. Os fazendeiros ricos escravizaram os fazendeiros pequenos e pobres que não podiam pagar suas dívidas. A sabedoria prevaleceu e os políticos atenienses chamaram de volta Sólon, um alto funcionário anterior com grande reputação de ser justo. Eles deram a ele amplos poderes por um ano.
Sólon aboliu a escravidão e promulgou leis que estabeleceram as bases para a democracia em Atenas. Essa foi a política radical que serviu bem a Atenas e à Grécia por vários séculos.
De forma semelhante, o planeta Terra enfrenta uma situação pior do que uma guerra civil planetária. Não temos Sólon para legislar uma nova civilização. Mas temos o conhecimento de como reconstruir essa civilização, se ao menos Biden aproveitar a oportunidade de uma vida inteira para imitar Sólon e se tornar um verdadeiro herói para esta e as gerações seguintes.
Evaggelos Vallianatos é historiador e estrategista ambiental, que trabalhou na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos por 25 anos. Ele é autor de 6 livros, incluindo Poison Spring com Mckay Jenkings.
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