quinta-feira, 12 de setembro de 2019

PINGUELLI MOSTRA ALGUNS ASPECTOS DA TRAGÉDIA DO GOVERNO BOLSONARO

Publicado no site da Carta Capital

Uma nova advertência a Bolsonaro sobre Amazônia, ciência e militares

FOTO: EVARISTO SÁ/AFP

Lamentavelmente os oficiais generais que participam do governo Bolsonaro não são nacionalistas

Na véspera da posse do presidente Bolsonaro publiquei na Folha de S.Paulo um artigo denominado “Advertência ao Presidente Eleito”, a propósito de sua crítica às mudanças climáticas decorrentes do efeito estufa agravado pelas emissões de gases para a atmosfera. O uso de combustíveis fósseis e as queimadas de florestas, onde se inclui grande parte das emissões do Brasil, contribuem para a emissão desses gases e, portanto, para o aquecimento global. É um fato!
Infelizmente a advertência não surtiu o efeito desejado. A queimada na Amazônia, que preocupa o mundo, pode ter um componente do azar associado à seca na Região Norte, mas é inegável que o número de focos em 2019 cresceu. Isto motivou a represália do presidente da República ao INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) por ter mostrado esta situação com base em dados obtidos por imagens de satélite. Daí resultou a demissão do diretor do INPE, o cientista Ricardo Galvão, fato que recebeu o repúdio da ABC (Academia Brasileira de Ciências) e da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
No debate que se seguiu o presidente Bolsonaro chegou a admitir a hipótese absurda de que as ONGs ambientalistas teriam posto fogo na floresta para culpá-lo, o que lembra o episódio do incêndio do Reichstag em Berlim, em 1933, quando Hitler acusou os comunistas de terem causado o fogo. A repressão ao Inpe evidencia o pouco apreço do atual governo à ciência e também à tecnologia, bem como à liberdade de expressão que permite informar a opinião pública sobre o desmatamento.
Há na comunidade científica a preocupação com o comentário que circula em Brasília, segundo o qual o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pode ser extinto, em breve, à revelia do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Uma possibilidade aventada é a fusão do CNPq com a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), no âmbito do MEC. Ora, a Capes é destinada ao ensino superior em geral. Embora grande parte da pesquisa científica no Brasil ocorra no âmbito das universidades, dominantemente nas públicas, há desenvolvimento de ciência e de tecnologia em instituições de pesquisa que não pertencem às universidades. O Inpe é um exemplo.
Houve um corte na verba de custeio das universidades pela política ultraneoliberal do ministro Paulo Guedes. Não basta a esquerda fazer críticas concentradas em Sergio Moro e Deltan Dallagnol, enquanto Paulo Guedes destrói o parque industrial do país, privatiza a BR e o sistema de gasodutos da Petrobras. O objetivo declarado é limitar a Petrobras à produção de óleo e gás, reduzindo sua participação pela expansão das empresas estrangeiras como está acontecendo no pré-sal, descoberto pela Petrobras com seu esforço próprio na área de geologia e investimento, em grande parte, da sociedade brasileira.
A Petrobras é uma empresa tecnológica e deve ser uma empresa integrada com o upstream (exploração e produção) e o downstream (refino, distribuição e áreas correlatas). Se ficar apenas com o upstream, quando o preço do óleo e do gás cair muito ela não se sustenta sem ter a compensação do downstream. A Petrobras tem um caráter nacional e sua criação teve o apoio de importantes militares.
Na criação da Petrobras, o Clube Militar, no Rio, então capital da República, teve um papel importante. Ficaram contra cria-la os generais Juarez Távora e Canrobert e a favor os generais Horta Barbosa e Estillac Leal. Estas posições se confrontaram ao longo da história, passando pelo suicídio de Vargas, pelo general Lott afastando o presidente Carlos Luz para garantir a posse de Juscelino, e pelo golpe de 1964 que eliminou os militares nacionalistas.
Lamentavelmente os oficiais generais que participam do governo Bolsonaro não são nacionalistas. O general Mourão, vice-presidente, chamou o Trump de nosso presidente!

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