sexta-feira, 16 de outubro de 2015

VAGABUNDAGEM COMO ALGO BOM

Não é bom, para os patrões da atualidade ou os que podem vir a sê-lo.

Mas o desemprego tecnológico existe e tende a se ampliar, muito e muito. A menos que a sociedade consiga negociar a redução das jornadas de trabalho, permitindo que os trabalhadores recebem uma parte razoável dos ganhos de produtividade.

Essa redução hoje ainda hipotética poderia também ser feita, não para assegurar o sacrifício das pessoas, mas para permitir que os que trabalham passem a conquistar algo mais em suas vidas.

Supondo (adotando um otimismo  no fundo, no fundo, injustificado) que a tacanhice dos donos do poder - bancos, corporações, empresas em geral (inclusive seu aparelho ideológico - imprensa e mídia comerciais), não coloque obstáculos intransponíveis no caminho, a vida das pessoas em geral pode melhorar, e muito. Como seria a transição para uma vida mais rica das coisas que trazem satisfação real para cada um? Não seria muito simples.

As pessoas vivem em ambientes mais ou menos previsíveis. A criança, ao ser criada, aprende a falar, a entender, e a obter coisas e satisfação antes de tudo com a mãe, e no coletivo familiar, em casa. Essas formas de ser são herdadas de tradições mais ou menos antigas. Quando suficientemente antigas, tendem a ser estáveis. A criança quer, precisa de um ambiente estável para bem crescer. 

Mas precisa ir para fora: para a rua, para a escola, para o quartel (depois, no futuro, para trabalhar). Aí, você entra em ambientes em que é submetido a mais restrições, em que é levado a competir com outros sob novas regras. Acostuma-se, ou seja, cede. Adota restrições e obrigações como modo de vida. São como as proibições e orientações recebidas de mãe e pai, dão uma sensação de segurança, até de conforto. Com o tempo, esse cenário, que se consolida no emprego e nas rotinas de consumo, torna-se uma necessidade vital.

Daí que a ameaça de perder tudo isso aparece como algo catastrófico para a vida do cidadão, ou melhor, trabalhador-consumidor. Ele nem se lembra dos sonhos que eventualmente teve, de ser o patrão, tão livre quanto possível, de si mesmo. Tem medo de perder os tais grilhões, e por isso, submete-se às ordens, vontade e ideologia dos patrões.  Tem medo até de conhecer o conceito de ócio criativo. 

Acho que muito do ódio ao Bolsa Família vem de que o odiento precisa que as pessoas tenham medo de ser lançadas na miséria caso perca o emprego, para que se sinta suficientemente superior, e não ter falta de mão de obra barata, caso seja patrão. 

Em todo caso, um personagem muito popular do começo do século 20, o Carlitos, era um vagabundo, que se divertia à beça.







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