quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A ATUAÇÃO POLÍTICA DA POLÍCIA FEDERAL

Por alguma razão, talvez o fato de serem instruídas pelo Estado dominado pelos ricos, as polícias sempre tiveram amplos setores, muitas vezes majoritários, ligados aos movimentos fascistas. Isto aconteceu na Itália de Mussolini, na Alemanha de Hitler, na Inglaterra antes da Segunda Guerra (nesta, um putsch fascista fracassou apesar desse apóio). Mais recentemente, tem havido apoio da polícia grega ao neofascista Aurora Dourada. No Brasil, além da PF, as polícias civil militar, principalmente esta última  têm uma doutrinação que não evoluiu depois do fim formal da ditadura. Encaram PT, sindicatos e movimentos sociais como "inimigo interno", igualzinho a quando vigia a Lei de Segurança Nacional dos militares, transpirada pelos patrões da grande república do norte.

Mais uma vez a pergunta: Onde está a ação do chefe da PF, o pequeno ministro Cardozo?


Cúpula da PF decide que “organograma” do grampo a Youssef “não vem ao caso”?

aulerorganograma

O repórter Marcelo Auler, com o zelo e a honradez que um bom profissional deve ter, desculpou-se ontem em seu blog por não ter registrado na matéria que publicou este final de semana na CartaCapital  a  resposta que pediu à  Polícia Federal sobre a investigação das 100 horas de gravação obtidas com a escuta instalada na cela do doleiro Alberto Youssef.

É que a resposta chegou após ele ter enviado a matéria à revista e como nós, trabalhadores solitários, por vezes conseguimos nos descolar por poucas horas do computador, só a viu quando a revista já estava impressa. Não teria maior significado, porque a PF não dá resposta alguma sobre as fitas, alegando que “a sindicância (…) encontra-se em andamento em segredo” e que, portanto, não pode informar nada.

Não pode informar nada? Ou só o que esteja de acordo com os interesses do grupo de delegados da Lava Jato acusados de produzir o “grampo” ilegal.

Como sou leitor atento do que Marcelo escreve, sempre com profusão de documentos, fui ler o e-mail que Auler enviou à PF  e a resposta da instituição, publicada em sua página oficial na internet.

E, incrível, a Polícia Federal  responde ao que o repórter não perguntou ou sequer mencionou em seu e-mail.

Explico: Auler não fez qualquer menção, em seu pedido, sobre o organograma feito pelo chefe da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado do Paraná, Igor Romário de Paula, que é mencionado no depoimento do delegado Mario Henrique Castanheira Fanton, que acusa os colegas de terem plantado a escuta na cela de Alberto Youssef.

No seu depoimento ao juiz Sérgio Moro, gravado em vídeo, Fanton diz que “o delegado Igor, um certo momento, depois que eu colhi o depoimento da Nelma ( Kodama, a doleira), ele fez um organograma criminoso de todas as pessoas que estariam por trás desta investigação do 737 para poder macular  a imagem da Operação Lava Jaro; E ali ele colocou várias pessoas que não fazia nenhum sentido para mim, porque não tinha nenhuma prova, nenhum indício material de prova contra aquelas pessoas. Ele começou a sugerir nomes ali  – e ele fez isso de maneira manuscrita  – e que comprometia as pessoas”.

E, em depoimento à CPI da Petrobras, ainda mais explicito, dizendo que organograma lhe foi entregue pelo Igor, com a recomendação: “Estas são as pessoas envolvidas  na possível confecção de um dossiê, as pessoas que você deve investigar”.

É de supor, portanto, que o organograma é prova – seja verdadeiro ou não – invocada em depoimento e entregue aos sindicantes da Polícia Federal.

Marcelo observa, cautelosamente, que “é curioso” que a “resposta da PF a uma pergunta que não fez” seja a de que “o hipotético organograma” em questão não “pertence a nenhum inquérito policial ou procedimento administrativo” . Mais ainda, que o “desenho” – sem definição da autoria – revela, na verdade “relacionamentos pessoais e profissionais existentes no Paraná”  e que  “não há nenhum indicativo de que esse quadro de relações caracterize uma organização criminosa”

De fato, duas perguntas saltam aos olhos.

Primeiro, de onde a direção da Polícia Federal tirou a “resposta” a pergunta que não foi feita senão no e-mail enviado por Auler ao próprio Delegado Igor de Paula, no mesmo dia.

É o que Auler, pacientemente, registra:

“Por imaginar que esta questão ainda está sendo investigada pela Corregedoria Geral em Brasília, o  questionamento sobre um  organograma de pessoas que supostamente estariam montando um dossiê contra a Lava Jato,  revelação que a matéria da revista apresenta, não foi dirigido à Comunicação Social do DPF. Foi feito, mais cedo, ao delegado Igor Romário de Paula, chefe da Delegacia  Regional de Combate ao Crime Organizado, por constar que o diagrama foi de sua autoria.”

Estamos diante de um fato gravíssimo, agora envolvendo a direção da PF, que  responde em nome de uma das partes da investigação que está realizando? Comunica-se com ela e dá a sua versão como sendo a da instituição? Decide que uma prova mencionada em depoimento oficial não deva fazer parte de “nenhum inquérito policial ou procedimento administrativo”? Suprime provas, portanto? Quem decidiu que o documento reproduzido na revista, sem perícia ou contestação de que tenha sido produzido por quem se diz que produziu “não vem ao caso” nos procedimentos apuratórios?

O que se extrai da matéria e, sobretudo, do post de Marcelo Auler sobre o caso da “resposta da PF” é que a operação-abafa sobre a escuta não apenas continua como está, deliberada ou involuntariamente que seja, contando com a cobertura da alta cúpula da instituição.

A possibilidade – a esta altura já uma certeza – de que se instalou um grampo ilegal em plena carceragem de uma unidade da Polícia Federal não é um detalhe, é um crime.

E se a polícia é leniente com os crimes que acontecem dentro de suas dependências, praticados, em tese, por seus servidores, vai-se esperar que ela seja rigorosa, isenta e imparcial em relação aos outros?


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