O presidente do Paraguai, Horacio Cartes, reconheceu nesta terça-feira que teve duas contas na filial do banco HSBC na Suíça, depois que seu nome apareceu na "Lista Falciani", que inclui os titulares de contas "obscuras" na entidade, 82 deles vinculados ao Paraguai, por depósitos que chegam a US$ 45,9 milhões.
Cartes, um rico empresário que chegou ao poder em agosto de 2013 como líder do Partido Colorado, abriu duas contas na unidade do HSBC na Suíça em 1989 e as fechou em 1991, conforme ele mesmo explicou em comunicado divulgado através das redes sociais.
Horacio Cartes admite contas no banco HSBC. EFE/Andrés Cristaldo
Horacio Cartes admite contas no banco HSBC. EFE/Andrés Cristaldo
"Cabe ressaltar que a abertura de contas em bancos no exterior é, e sempre foi, uma atividade legal em nosso país", declarou o chefe de Estado do Paraguai.
Horacio Manuel Cartes Jara foi registrado no HSBC como "agente de turismo" sete dias depois da constituição da sociedade Cambios Amambay, agora Banco Amambay, instituição mencionada em um documento confidencial da embaixada dos Estados Unidos em Buenos Aires encaminhado ao Departamento do Tesouro em Washington e vazado pelo Wikileaks.
A carta afirma que o ex-diretor da Secretaria Antidrogas do Paraguai, Hugo Ibarra, disse a um interlocutor americano que "80% da lavagem de dinheiro no Paraguai se movimenta através dessa instituição bancária".
O presidente criticou, através de seu comunicado oficial, as reportagens do jornal local "ABC Color", que participou da investigação jornalística que revelou seu nome, promovida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, sigla em inglês).
"O artigo também tenta vincular as contas com um processo jurídico que se encerrou há décadas e não tem qualquer relação. São casos julgados, notícias desgastadas, que foram suficientemente esclarecidas por vários anos", diz o texto do presidente.
Segundo Cartes, suas atividades como empresário foram "questionadas" em ocasiões anteriores, mas "se demonstrou várias vezes que tudo foi feito de maneira transparente e de acordo com a lei".
Segundo a pesquisa do ICIJ, Cartes criou as contas na Suíça dois meses antes de ser enviado para a prisão, após ser acusado de participar de um suposto escândalo de evasão de divisas pelo qual passou cinco meses detido. A Justiça confiscou na época 800 milhões de guaranis (cerca de US$ 200 mil em 1989) do atual presidente.
O chefe de Estado é dono do Grupo Cartes, um conglomerado de 25 empresas que abrangem ramos como tabaco, bebidas e refrigerantes, pecuária e bancos.
O governante também destacou em seu comunicado que o Grupo Cartes, cuja administração está delegada desde que assumiu a presidência, "é um dos principais contribuintes do Estado e gerador de mais de 3 mil postos de trabalho".
Ao longo da década passada, o político foi investigado no Brasil e nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro e contrabando de cigarros, e no Paraguai pela descoberta de carregamentos de drogas em alguma de suas propriedades, mas como ressaltam seus advogados, ele nunca foi processado.
Na chamada "Lista Falciani" figuram "milhares de clientes do HSBC de Genebra", como o falecido presidente do Banco Santander Emilio Botín; o rei do Marrocos, Muhammad VI, e o rei da Jordânia, Abdullah II.
A lista foi elaborada com dados da unidade em Genebra do banco britânico HSBC, que o técnico em informática Hervé Falciani gravou em um CD e entregou à Fazenda francesa em 2009.
Segundo as informações vazadas pela lista e publicadas por vários jornais do mundo todo, passaram pelo HSBC US$ 180 bilhões que teriam servido para fraude fiscal, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo internacional.