quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

BRASILEIROS SÃO INEFICIENTES, OS ALEMÃES, NÃO. OU NÃO É BEM ASSIM?

Do Opera Mundi


Atraso em obras e custos em alta arranham imagem de Alemanha ‘eficiente’


Aeroporto de Berlim, Filarmônica de Hamburgo e túnel de Leipzig: alemães se veem às voltas com projetos gigantescos que apresentam falhas de planejamento e gestão
“Vamos reforçar Hamburgo como metrópole, dentro e fora do país”, disse um efusivo Ole von Beust, então prefeito da cidade, na cerimônia que deu início oficial à construção da Elbphilharmonie (Filarmônica do Elba), casa de concertos às margens do rio Elba. O ano era 2007. A ideia era que, em 2010, o “lugar da música clássica e popular” estivesse pronto, inaugurado, funcionando e recebendo um festival de verão.
No dia 12 de janeiro de 2015, o atual prefeito, Olaf Scholz, entre constrangimento e certa resignação, fez o anúncio: “O plano é que em 11 de janeiro do ano de dois mil e...” Scholz olha para representantes da construtora do prédio, balança a cabeça e ri. “Dezessete [o prédio] esteja inaugurado.”
A imagem que se tem da Alemanha é de que coisas assim – atrasos em obras com extrapolação de custos – não acontecem. Porém, a filarmônica de Hamburgo, o novo aeroporto de Berlim e o túnel ferroviário que corta Leipzig mostram que, às vezes, o país precisa lidar com a imagem de eficiência e modernidade que projeta.
Filarmônica de Hamburgo
O prédio da Elbphilharmonie faz parte de um projeto chamado HafenCity (“cidade do porto”, em tradução livre), que é a maior obra de desenvolvimento urbano intramunicipal na Europa. O edifício, construído em cima de um armazém desativado, terá, além da sala de concertos, um hotel e um bloco de apartamentos e foi planejado pelo escritório de arquitetura suíço Herzog & de Meuron.
Wikimedia Commons

Foto de junho de 2014 da Elbphilharmonie, em Hamburgo; previsão de conclusão do prédio é, agora, 2017
No ano do lançamento, a previsão de gastos rondava os € 77 milhões (na época, o equivalente a R$ 210,7 milhões). Mudanças no projeto, especialmente na parte acústica, começaram a elevar os custos. Em 2013 – três anos após o prazo inicial de entrega –, a obra já estava custando € 575 milhões (quase R$ 1,5 bilhão). Agora, a Prefeitura de Hamburgo (que cofinancia a obra) estima o valor final em € 789 milhões (R$ 2,4 bilhões). Esse valor coloca a Elbphilharmonie entre os dez arranha-céus mais caros do mundo.
Em 2010, com a constatação óbvia de que o prédio não iria ficar pronto e que os gastos estavam atingindo a estratosfera, o Parlamento local resolveu fazer uma investigação e abriu uma espécie de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), finalizada em 2014. Entre as conclusões do grupo, está a de que o atraso, entre outros motivos, se deveu à relação complicada entre os arquitetos e a empresa Hochtief, responsável pela construção. Por contrato, toda a comunicação entre os dois não era feita diretamente e precisava passar pela mediação da prefeitura, o que levou a erros de execução e a necessidade de refazer coisas já prontas.
O relatório da CPI apontou, também, que o então prefeito von Beust e a chefe do Conselho da Cidade (um órgão consultivo municipal), Volkmar Schön, tinham uma “responsabilidade concreta pelos erros”, por não prestarem atenção a detalhes e não terem acompanhado o trabalho de Hartmut Wegener, presidente do órgão criado para supervisionar a construção.
Flickr/BlogChefBau

Externamente, prédio da Filarmônica parece quase pronto; dentro, ainda há andaimes e obras
“Há naturalmente um mito 'Made in Germany', que acaba sofrendo com esses incidentes. Quem propaga o mito são vozes na indústria, e a arquitetura e o planejamento urbano ratificam essa ideia”, afirma o professor de estudos culturais da Universidade Humboldt de Berlim Wolfgang Kaschuba, que é pesquisador de temas relacionados a metrópoles e cidades.
Aeroporto de Berlim
Quando a Alemanha foi reunificada, em 1990, Berlim se viu com três aeroportos: Tegel e Tempelhof, nas zonas ocidentais, e Schönefeld, que era o principal da então Alemanha Oriental. Depois de mais de uma década de planejamento, decidiu-se que eles seriam fechados e dariam lugar a somente um, a ser construído.
O local escolhido para o novo aeroporto foi onde atualmente está Schönefeld. As obras do novo edifício começaram em setembro de 2006 e a previsão era que, em novembro de 2011, ele fosse inaugurado e passasse a competir com os de Munique e Frankfurt, os dois maiores da Alemanha. Até lá, os outros três da cidade seriam fechados.

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