sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O CAPITAL FINAL DA BANDIDAGEM

Há um filósofo alemão do século dezenove que falou muito de acumulação primitiva. Referia-se a atividades econômicas exercidas com alguma forma de violência sobre pessoas, populações e instituições que permitiam a seus detentores acumularem dinheiro e poder para mudar de ramo. Na nova atividade, eles procurariam a legitimidade, junto ao estado e às populações.

Um exemplo histórico de acumulação primitiva foi a invasão e ocupação das Américas pelos europeus. Só o ouro e a prata da América Latina enriqueceu e deu fausto às cortes de Portugal e Espanha, devidamente embolsados  um pouco adiante pela Inglaterra, o que foi base para o estabelecimento de seu império mundial, este já com bases capitalistas. O ciclo mercantil do comércio de açúcar, tráfico de escravos e rum, ajudou a construção naval, produção de canhões e pólvora e o estabelecimento de várias indústrias nas colônias americanas, futuros Estados Unidos. Antes deles, no norte da Itália e na Alemanha, grandes salteadores de estradas ou de mares na Idade Média tornaram-se nobres, iniciando distintas linhagens: os Condotieri e os Raubritter ou Robber Barons (barões ladrões).

Hoje várias formas de acumulação primitiva vão de vento em popa. As fraudes ilegais e legais dos bancos, os lucros extraordinários de grandes empresas com influência em governos e legislativos, lucros do tráfico de drogas e de pessoas, de grandes sonegações de impostos são alguns dos exemplos mais flagrantes. Em vez de entesourar nos países objetos da exploração, onde essas rendas poderiam ser mais facilmente encontradas, elas vão para os paraísos fiscais, multiplicados sob o patrocínio de governos conservadores, principalmente dos EUA e do Reino Unido . Das ilhas do Caribe e de outros locais podem voltar, lavadinhos, para usufruto nos países de origem e em outros em que haja oportunidades de negócios, que nem precisam ser muito lucrativos. O capital abandona assim as atividades sujeitas à repressão da lei para iniciar as novas atividades de seus detentores. O capital final da bandidagem torna-se capital inicial de lojas, indústrias, agronegócios, hotéis, Resorts, redes de pizzarias e tantos outros. É o que fazem as máfias italianas e estadunidenses entre outras.

Pensando bem, talvez não seja capital final da bandidagem, porque sabemos que a exploração destruidora do meio ambiente, a retirada de riqueza dos trabalhadores mediante a apropriação privada de bens e equipamentos públicos e do rebaixamento de salários continuam nesses outros negócios. 

As estripulias dos grandes bancos, que em 2008 só não foram à falência porque foram salvos com dinheiro público nos EUA e Europa, e que agora exigem (e obtêm) o arrocho monetário em todo o mundo, inclusive o Brasil são outro exemplo de acumulação primitiva. Nessas condições, o processo seria apenas uma mudança de ramo, de uma forma para outra de bandidagem. Pode ser final se o novo uso passar a ser, não livre como os piratas do Caribe, mas subordinado a objetivos sociais de sustentabilidade de fato (não a das etiquetas verdes), de garantia de acesso a um padrão mínimo de vida decente para todos. 




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