segunda-feira, 28 de outubro de 2013

CONCORRÊNCIA E CLASSE MÉDIA

O que vou comentar passa-se com as classes médias latino americanas em geral, e certamente com outras classes médias em todo o mundo. As famílias querem que seus filhos "sejam bem sucedidos na vida" e para essa luta devem ser armados com a melhor instrução possível.

Perto de minha casa, na região de Alto de Pinheiros, há uma proliferação de escolinhas infantis bilíngues, o que quer dizer, português e inglês. De cinco escolinhas, só uma não tem School no nome, o que permitiria oferecer um cardápio de estímulos mais diversificados. Parece que essa solitária escolinha ainda não está ameaçada de fechar por falta de demanda, o que me dá um certo conforto. 

Não que aprender cedo uma língua estrangeira principalmente a língua franca do império, seja ruim em si. O inglês dá acesso ao maior acervo, mais acessível, de cultura escrita que se possa imaginar. Sem contar que EUA e Inglaterra abrigam o maior número de grandes romancistas, poetas, publicações periódicas, quase tudo o que é valioso nas ciências e nas artes em todo o mundo já foi traduzido para o inglês. Tenho grande satisfação por saber o inglês, embora goste também de ter familiaridade com algumas outras línguas, o que me dá também muita satisfação.

Mas a ansiedade em ensinar o inglês às criancinhas tem muita relação com o propósito de conferir a elas uma vantagem inicial em relação às demais. E essa vantagem, desconfio muito, não seria tanto a de acesso à cultura, mas aos códigos e atores do império. A proximidade com as poderosas corporações, com fontes especiais de financiamento, e distância do "resto", aqueles que não têm um acesso privilegiado à língua inglesa. Isso remete às estratégias que a classe média busca implementar para encaminhar o seu próprio futuro e o de seus rebentos, e pode explicar muita coisa.

A admiração pelo primeiro mundo, mesmo que seja apenas Orlando, exprime o desejo de limitar sonhos de realização plena, a partir do que somos como brasileiros, para um encaixe dentro das estruturas capitalistas globais, naturalmente encabeçadas pelos Estados Unidos da América. 

O mundo atual é injusto, dominado por forças estranhas e estrangeiras. Mas há espaço para ser livre. Há espaço fora do Mercado, Global, outro nome do império. Fora da, ou apesar da vigilância do grande irmão, atualmente atendendo ao nome de NSA.  A classe média brasileira deveria considerar cooperação no lugar de competição. Cooperação começa por entender os outros, os diferentes, cuja condição econômica e social tem melhorado a partir de suas mobilizações e de políticas públicas realizadas sob as regras do jogo democrático. Tem muita coisa boa para surgir e crescer a partir de uma radicalização da democracia e dos valores extra-mercado, dos calores que não se trocam por dinheiro.

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