quinta-feira, 14 de março de 2019

NÃO É O BOLSONARO


Sei, ele é uma pessoa horrível, e seus apoiadores políticos também, mas concentrar fogo nele, nos evangélicos neo-pentecostais e nos lunáticos discípulos do astrólogo que mora na Virgínia, é perder o foco na guerra que estão travando contra nós (trabalhadores formais, trabalhadores precários e cidadãos conscientes de fora do espectro da direita) e contra a própria ideia do país Brasil.

Essa guerra teve início em uma ocasião em que o Estado do Bem-Estar Social era uma ideia de ampla aceitação, na esquerda e direita. Na década de 1970, os EUA gastaram dinheiro demais com a guerra do Vietnam, e houve dois choques do petróleo decorrentes da atuação dos EUA e seus aliados no Oriente Médio: um em 1973 e outro em 1979.

As crises econômicas nesses anos vieram com inflação. Houve uma questionada geral nos pressupostos de política econômica, e nesse momento começaram a papaguear coisas que já haviam sido expostas logo depois da Segunda Guerra pelos gurus dos neoliberais  como Milton Friedman,  Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, que nem tinham presença notável na Academia dos países mais ricos até essa época.

No domínio político, a primeira aplicação foi quando do golpe, seguido de ditadura, do general Pinochet no Chile em 1973, instalada no dia 11 de setembro, com o apoio dos EUA.  Depois foi ser aplicada no Reino Unido de Margareth Thatcher a partir de 1979 e nos EUA de Ronald Reagan, a partir de 1981.

Crises econômicas deslegitimam governos junto à população. Os dirigentes da China, apesar de seu governo controlar e censurar opiniões, são atentos às repercussões das oscilações da economia, e sabem que não podem frustrar seu povo para além de um certo grau. Naquele fim da década de 1970, o Reino Unido estava sob o governo trabalhista de Harold Wilson, e os EUA, sob o governo democrata de Jimmy Carter. Era natural que os partidos dominantes tivessem sofrido perdas perante os eleitores.

No Brasil, além da crise, houve a colusão entre o império, com seus agentes estadunidenses e brasileiros, o judiciário e ministério público, a mídia e a grande imprensa, em uma campanha de desestabilização do governo e da democracia que acabou no golpe. Um dos líderes dessa revolta, que traz todas as características dos regimes fascistas foi o senhor Jair Bolsonaro, que nem mesmo foi figura proeminente no processo do golpe.

O neoliberalismo, primeiro com Temer, agora com o coiso, veio quase escondido no pacote do golpe, que começou com a conspirata entre o governo dos EUA e grupos de juízes, procuradores e policiais federais para atuar, em conjunto com a mídia e imprensa dominantes, lá no já distante ano de 2008. Seu mote era acabar com Lula e com o PT, “por causa da corrupção”. O neoliberalismo vem inexoravelmente, em capítulos de reforma  econômica.

A direita tem elevado figuras bisonhas, quase cômicas ao poder. Pode não ser uma forma de conspiração, mas isso tem sido útil para os conservadores, ou seja, defensores dos interesses dos ricos em todo o mundo. Na Itália, mais uma vez um país pioneiro (deu nome ao fascismo), houve Berlusconi, depois Beppe Grillo, este um humorista de TV que fundou o partido 5 Stelle, hoje em declínio. O sanguinário Rodrigo Duterte nas Filipinas elegeu-se bem antes de Donald Trump, um bilionário com muitos negócios nebulosos e apresentador de um programa reality show lá nos EUA. E agora o Bozo, no Brasil.

O caráter quase folclórico desses personagens é útil na medida em que atraem a atenção para as suas pessoas, que simultaneamente vão impondo suas políticas, sempre de defesa do grande capital e de supressão de direitos e de rendas à classe trabalhadora em todo o mundo.  Quando as políticas deles falham feio, ou nova crise econômica se instala em um país, pode-se sempre introduzir alguma novidade, algum indivíduo “contra o sistema”, e ele poderá ser eleito com a ajuda da mídia como já ocorreu no passado no Brasil com Jânio Quadros e mais recentemente com Fernando Collor, e agora Bolsonaro, este com a ajuda da nova arma "política", os exércitos da mentira das fake news. 

Na realidade, quem a esquerda enfrenta, quando enfrenta é o Capital, e seu Império, cujo centro de comando é o Grande Irmão do Norte, os EUA.

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