terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

PODER POLÍTICO DOS SUPER RICOS II – A VIOLÊNCIA



 Por que chamar de partido o que não tem estrutura formal de partido? Porque parece útil, primeiro para facilitar comparações históricas com outras ocasiões de ofensivas bem sucedidas das forças da direita. Segundo, para melhor caracterizar o inimigo, dividido hoje em muitas frentes e diferentes formas de atuação, mas com os mesmos propósitos e uma mesma classe social por trás de tudo.

Para o Brasil como para outros países da América, pode-se postular que tudo começou com o fim da escravidão, uma iniciativa de libertação que resultou muito limitada para a melhoria de condições de vida dos antigos escravos. E no modo como as classes dominantes, e seus intermediários na gestão de seus negócios e na atuação do Estado - as classes médias, viam e tratavam os antigos escravos e os trabalhadores manuais em geral. Desprezo, grosseria, paternalismo, desrespeito.

A imprensa, depois a mídia desde sempre ocupadas pelas ideologias das classes dominantes,   sempre favoreceram e fortaleceram essas atitudes dos setores majoritários das classes médias em relação a pessoas mais escuras e mais pobres.

A violência escravista conviveu com, e reforçou a violência contra trabalhadores rurais e pela violência fundiária que perduram hoje, pelos grandes proprietários de terras, estes ligados, como desde o início da colonização do Brasil, ao grande capital. No tempo do Brasil Colônia até o século 20 o Capital Mercantil, e atualmente o Capital Financeiro. Sempre “modernos”.

O liberalismo econômico do século 19 foi revivido em novas formas no neoliberalismo que estreou no Chile em 1973. A ditadura brasileira do período 1964 – 1985, que se instalou com o mesmo apoio dos setores reacionários e dos Estados Unidos, só perdeu apoio externo quando começou a trilhar caminhos que não eram aprovados pelos estadunidenses. 

Como Jessé Souza mostra em seu livro A Elite do Atraso da Escravidão à Lava-jato, há uma continuidade de violência privada e estatal em toda a história do Brasil. Em grande parte apoiada e incorporada por setores majoritários da classe média.

Essa violência – midiática, verbal, digital, policial, judiciária, política, intensificou-se e generalizou-se a partir do processo do mensalão do PT, em que casos de caixa dois de campanha foram usados seletivamente contra o partido e seus líderes. A condenação e prisão de políticos como José Genoíno, José Dirceu e Henrique Pizzolato iniciaram a fase judicial dessa onda.

Golpe

Como não foi efetiva em impedir a reeleição de Lula em 2006 e as duas eleições de Dilma, a ofensiva mudou de patamar durante o primeiro governo Dilma, em 2013, quando manifestações localizadas contra o aumento das passagens de ônibus municipais foram tomadas por grupos organizados “não-partidários”, que derem início a uma exclusão dessas manifestações de agrupamentos de esquerda, mediante ações violentas.

Logo teve início a operação Lava-Jato, centrada em um juiz federal de Curitiba que tinha recebido treinamento, e certamente informações do Departamento de Justiça (ministério) dos Estados Unidos. Nessa época as revelações do analista estadunidense Edward Snowden incluíram a espionagem e grampeamento sobre a presidenta Dilma e sobre a Petrobras.

É quando o PNL começa seu trabalho acelerado de desmontagem das instituições democráticas no Brasil. Neste trabalho, teve a participação de forças nominalmente de esquerda, por inação ou por inépcia. É necessário lembrar o papel decisivo do segundo governo Dilma

Por inação, basta lembrar a permanência de José Eduardo Martins Cardozo no ministério da justiça. Não só permitiu a quebra de comando na Polícia Federal como se omitiu vergonhosamente perante o seletivo justiçamento de seus companheiros de partido Dirceu, Genoíno, Vaccari e Pizzolato. Dilma só mudou o ministério para alguém capaz, e disposto ao enfrentamento, quando era tarde demais para uma reação efetiva. Por inépcia, a traição de Dilma ao convocar um banqueiro para comandar uma agenda neoliberal no governo, logo depois de ser reeleita exatamente para combater essa agenda.

Enquanto isso a ala minitar do PNL começou a flexionar os músculos. Nos panelaços destinados a impedir que as pessoas ouvissem os pronunciamentos da presidenta ou os programas eleitorais do PT, nas manifestações com camisetas da seleção brasileira de futebol que arrastaram milhões “contra a corrupção”. Desta vez uma ala minitar, formada basicamente das parcelas protofascista e liberal da classe média (nomenclatura adotada por Jessé Souza), substituía uma ala militar, como a acionada em 1964 ou as alas de ação terrorista de alguns movimentos independentistas mais ou menos recentes da Europa (Irlanda, País Basco). O nome minitar é também uma homenagem aos componentes entusiastas de Jair Bolsonaro, conhecidos na esquerda como bolsomínions.

Minitares e a conjuntura

A ala minitar padece de falta de racionalidade democrática.

Mesmo assim tem um conjunto de inimigos a combater, que herdou de ondas conservadoras anteriores: comunismo, a “orgia LGTB”, a liberdade feminina, os objetos da ciência que possam ser atacados a partir de grupos religiosos fundamentalistas. A agenda oculta, que a própria ala minitar em grande escala desconhece, é a defesa do verdadeiro núcleo do programa do PNL:

Expansão do alcance da dominação, pelo capital financeiro, de todas as instâncias do mercado de bens e serviços, com a destruição das prerrogativas sociais que limitem essa dominação, inclusive dos aparelhos de estado nacionais, com a exceção do governo dos Estados Unidos.

A ala minitar é complementada na ação, em todo o mundo, pelas empresas de mercenários, contratadas tanto pelos governos dos Estados Unidos e seus aliados, e também, parece, da Rússia, como pelas corporações, diretamente. Essas empresas estão em franca ascensão.

Atualmente a ala minitar encontra-se desmobilizada, possivelmente em função da contradição de ter contribuído decisivamente, em suas mobilizações coordenadas pela mídia e pelos exércitos de “ativistas” reais e virtuais das redes sociais, para a instalação no poder político de grupos notoriamente corruptos.

Por outro lado, os minitares não abandonam a mobilização contra as universidades públicas, e manifestações culturais várias, através de seus corpos permanentes – MBL, Vem pra Rua, Escola sem Partido e outros,. Por trás desses ataques está a estratégia de minar o estado democrático e a livre manifestação e debate de conceitos, opiniões e notícias gerados fora da mídia dominante, dos grupos acadêmicos e dos think tanks do capital financeiro coordenados no PNL. 

Os think tanks na realidade não geram pensamento novo, mas basicamente ocupam-se em elaborar discursos para o PNL. Possuem intelectuais que são intelectuais de aluguel, que são parte dos “especialistas” que são chamados para deitar sabedoria pela mídia.

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