terça-feira, 4 de outubro de 2016

MENTE COLETIVA E NOÇÃO DE PROGRESSO

Vamos partir de um conceito virtual. O da mente humana existe, é de uso corrente. A partir daí, pode-se postular mentes coletivas, abarcando pensamentos e ações de um conjunto pequeno de indivíduos, tal como o formigueiro é um animal composto de formigas e a sua toca. Pode-se ver aí uma mente social, uma mente de classe social, uma mente regional, nacional, planetária.

Essa mente hoje está mais aberta? Mais fechada? As pessoas têm condições de captar a (uma) realidade objetiva?

A mente individual é sujeita a fechamento voluntário (FVM), por vários mecanismos, como as restrições sobre o que é moralmente aceitável, ou racismo, antipetismo, distanciamento dos pobres e de outros "deficientes".

Ainda estamos chocados com o andamento do golpe, primeiro na pregação da mídia e dos políticos, depois no caradurismo da polícia federal e do judiciário, refletidos ainda em grande parte do público, que apoia e aderiu ao golpe e ao mesmo tempo parece incapaz de perceber o nível de corrupção inédito a que chegou o parlamento brasileiro.  Não houve uma discussão sobre o golpe, não uma discussão verdadeira.

Não basta, aliás, nunca bastou, nas sociedades humanas ter razão e possivelmente nunca bastará. A mente humana lhe dá atenção bem pequena, comparada com seus preconceitos e medos originais ou adquiridos.

Existe a ciência. Acima das paixões, livre de controvérsias? Nunca foi e assim permanece! O fundamento da ciência, que é o empirismo, a verificação, permite o enunciado de “fatos” e de “leis” no mundo material e no mundo do pensamento. O iluminismo postulou a hegemonia da ciência e da razão. Mais de duzentos anos depois de sua aparição, verifica-se que não é assim que funciona.

Na “ciência” econômica, em que é difícil separar teoria de normas de conduta prescritas para seu bom funcionamento (para as classes dominantes) é praticamente impossível permitir que teorias que favorecem poderosos sejam desmentidas nas mentes individuais dos seres “pensantes”, por mais que os fatos as contradigam. É o caso da economia das migalhas que caem da mesa, (trickle down economics, no inglês original). Na realidade, isto é parte da ideologia através da qual os 1 por cento procuram justificar as políticas do estado neoliberal, vigentes no Brasil antes e durante o governo do golpe, que promovem a desigualdade e a concentração da riqueza.

Além de problemas como contradições entre visões diferentes, entre visões e fatos, o domínio da ciência é limitado pelos domínios dos afetos – sistemas de crenças como religião, valores e práticas familiares e de classe, inclusive preconceitos de toda natureza.  O que nos leva a questionar a noção de progresso, o mesmo que figura na bandeira brasileira, logo depois de ordem (ordem para quem mesmo?).

Somos alimentados desde crianças com a expectativa de que as coisas estão destinadas a melhorar ou crescer, ou aumentar. Mais. Afinal, ciência e tecnologia estão permanentemente mudando ou aperfeiçoando instrumentos e condições para consumirmos coisas “desejáveis” e “melhores”. Que até a política pode melhorar, desde que nos livremos dos políticos “corruptos”.

Vale a pena continuar com noções como esta de progresso? Mas será que temos a oportunidade de avaliar o que é progresso de verdade para nós e para nossas famílias e amigos e pessoas com quem gostamos de desfrutar o tempo e dividir o espaço que ocupamos?

Muitas oportunidades existem hoje. Apesar dos espasmos imperialistas, os índices de homicídios têm caído progressivamente na história da humanidade, desde as hordas primitivas, passando pelas tribos de coletores e caçadores, antiguidade, idade média, moderna, contemporânea. Apesar dos golpes políticos e retrocessos sociais, um grande número de pessoas continua a preferir a palavra ao homicídio para resolver conflitos.

Por outro lado, nunca como agora estivemos tão próximos de duas catástrofes terminais para a civilização humana: o aquecimento global e a guerra nuclear, ambos impulsionados pelas formas atuais de dominação econômica, o capitalismo desregulamentado e os complexos industriais militares. Há um império que não aceita o declínio que está sofrendo em sua dominância econômica do planeta, lembra os nazistas que queriam arrasar a Europa ocupada antes de serem derrotados.


Existe gente em atividade capaz de formular e propor caminhos melhores. E há máquinas ultrapoderosas de propaganda e de negação dos fatos que defendem o interesse do crescimento econômico indiscriminado, em favor da minoria dos donos do dinheiro. Será que a mente coletiva da humanidade vai ser capaz de escolher as rotas de emancipação para fora da lógica do poder dos de sempre e da destruição das condições de vida para os demais?

Quem tem consciência, tem que agir, do melhor modo possível. Começando por ajudar a abrir as mentes.

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