quarta-feira, 30 de setembro de 2015

EU, TRABALHADOR

Sou "um aposentado".

Aposentei-me aos cinquenta e poucos anos, por um programa de aposentadorias antecipadas incentivadas da CESP, então uma grande empresa de energia,estatal, orgulho de seus funcionários, que por iniciativa do governo de Mario Covas ia ser fatiada e ter seus pedaços vendidos. Já vou chegando aos vinte anos de aposentado.

Eu tinha uma alternativa para o choque da "ociosidade". Pouco tempo antes, fui um dos que ajudaram a dar início ao curso de pós-graduação em energia da USP. Eu e mais alguns colegas da CESP - Pessine, Arlindo, Tadeo, , ajudamos nas aulas e em pesquisas, inclusive ainda sem doutorado, de graça, para que o curso pudesse começar a funcionar. Quem me levou lá foi o professor Sinclair, meu amigo. Ministrei uma disciplina em nome de um dos professores oficiais. Fazer número não era novidade para mim.

No início da década de 1980, inscrevi-me no Partido dos Trabalhadores logo depois de sua fundação, justamente para ser mais um na lista e possibilitar a oficialização. Meu primo Dario, na ocasião, fez graça, dizendo que um partido com esse nome já cansava, que o que precisava mesmo é um partido que ajudasse a gente a trabalhar menos. Brincadeira com um sentido sobre o qual nos dias atuais sempre convém elaborar mais.

Porque a justificação tradicional do trabalho de cada cidadão, como sendo sua contribuição para a sociedade cada vez mais perde base, em todos os três setores da economia. O trabalho é feito mais e mais por equipamentos, liberando o tempo, a inteligência e a energia das pessoas. Naturalmente alguns são constrangidos a trabalhar mais: na China (que só recentemente começou a mudar nesse aspecto), e nas fronteiras do neoliberalismo: Índia,  as maquilas do México, El Salvador, Honduras, para onde migra o capital dos donos do mundo e seus compradores de trabalho barato. 

Agora, questiono novamente, nestes dias, minha condição de desempregado. É preciso também questionar essa palavra, desempregado. Ou melhor, separar os entendimentos relativos a emprego, ocupação e atividade. Eles são coisas diferentes, embora na vida da gente haja um período em que eles são fundidos num todo único.

Tenho um cargo, no condomínio onde vivo, e há alguns anos perdi a posição no Instituto da USP onde exercia várias atividades ligadas ao ensino. Não considero como trabalho minhas atividades atuais . Trato atualmente de retomar o acompanhamento das novidades na ciência e na tecnologia, das políticas brasileira e internacional. Trato também de manter minha posição política contra o conservadorismo do país.

Escritores, pelos critérios correntes da sociedade de classes, são vagabundos, mais ainda do que professores universitários. Tem aquela imagem de parte desses senhores sentados em uma mesa de bar o de um café, com papel e caneta, ou um notebook na mão. Por um certo tempo, acertei com meus botões que eu era um escritor, já que escrivo este blog, que é lido por algumas pessoas, além dos robozinhos de algumas grandes potências (principalmente os EEUU).

Na realidade, o que sempre quis fazer é me emancipar, mesmo não sabendo definir tudo o que isso signifique. Deixar de depender de um patrão para ganhar a vida faz parte. Viver livre de disciplinas que não sejam absolutamente necessárias, também. Isso implica em defender a emancipação também dos outros seres humanos. E mais alguma coisa que você imagine.



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