sábado, 22 de março de 2014

ESQUERDA E DIREITA

A diferença entre esquerda e direita é maior do que a diferença entre duas visões. Tem a ver com a capacidade de empatia. No mundo atual, também com a consciência de nação, no nosso caso a nação brasileira.

Quando a ditadura civil militar se esgotou, toda a esquerda, que a ela se opôs desde o início, decidiu que democracia era um valor em si. Errou ao confiar demasiado no processo eleitoral, mas no começo havia um contraponto no crescimento da influência de sindicatos e de movimentos sociais.

No começo do pós-ditadura, a direita prometeu respeitar as regras. Mas nunca renunciou a se financiar, e a servir, o poder econômico, e seu objetivo maior: lucros e acumulação. Esse poder econômico nunca se afastou do controle da máquina de estado, seja por seus contatos com a burocracia permanente, seja pelo controle da mídia, imprensa e do dinheiro gasto em eleições. 

Parte da esquerda, levando isso em conta, decidiu começar a pactuar com esses donos do poder. Conseguiu vencer eleições, mas desde o início de seus mandatos, seus políticos passaram a fazer todo tipo de concessões - colocando-se limites, como explicitado na carta aos brasileiros, e fazendo acordos pré-eleitorais tão espúrios como os dos partidos tradicionais dos donos do poder.

A esquerda do poder tornou-se parte do Estado. Não deixou de ser esquerda: Tocou políticas que permitiram a melhoria de vida de grandes partes da população mais pobre, dando muito mais do que migalhas, embora menos do que poderia, não fosse a resistência dos ricos em seu poder. Também resgatou o conceito de país que busca a soberania nas relações com outros países.

Mas a esquerda precisa de democracia, que não é apenas a representativa. Precisa de mobilização dos mais pobres, de mobilização dos trabalhadores, das associações de moradores, de trabalhadores da terra, sem o que os ricos continuarão a enquadrar o Estado e conseguirão, mais cedo ou mais tarde, reconquistar - na lei ou no golpe, as posições que cederam no jogo eleitoral.

Eleições não são panaceia. São ocasiões de discussão, de questionamento do poder, de renegociação de pactos. Ser político não é ser necessariamente de partido, muitas vezes, talvez a maior parte das vezes, é enxergar, criticar, analisar, juntar-se, discutir, agir em blocos, por cima e independentemente da estrutura política oficial. E depois falar com o poder.


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