domingo, 14 de julho de 2013

CONTRA O TINA

Tempos atrás, um jovem e esportivo professor venezuelano, convidado por não sei mais quem, proferiu uma palestra no Programa de Energia da USP, sediado no IEE. Entusiasta das privatizações, em certo ponto da palestra escreveu no quadro verde o lema de Margareth Thatcher: TINA, sigla para there is no alternative, não existe alternativa. Referia-se à minimização do poder de intervenção do Estado, e a entrega a corporações privadas dos serviços públicos em todo o mundo, particularmente a América Latina.

Irritou-me profundamente, e embora sua palestra fosse muito bem ilustrada por um powerpoint lindamente produzido, não trouxe qualquer justificativa para o arrogante lema do neoliberalismo então triunfante, nada dessa palestra me ficou na memória. Fora o tal de TINA, e a atitude alegremente imbecil do referido professor.

Os neoliberais pintaram e bordaram no Brasil, com o apoio da grande mídia e dos Estados Unidos, os quais inclusive reintroduziram-se no setor elétrico brasileiro, com a AES, empresa texana, com as empresas consultoras que formataram as novas legislações e com os seus bancos, participantes das empresas montadas aqui para colher os frutos da entrega. Apenas os sindicalistas dos serviços públicos e os partidos de esquerda, o PT à frente, opuseram-se à onda, mas foram derrotados.

Foram derrotados, depois de ter lutado contra a ditadura e obtido um começo de democracia formal.  Todos queríamos as liberdades democráticas sem restrições, inclusive o direito de lutar por uma sociedade mais igual e sem sofrimentos desnecessários. Continuamos querendo. Entretanto, a superação da desigualdade pressupõe ações anticapitalistas.  A serem efetuadas por pessoas atuando fora das práticas capitalistas, com apoio de um Estado não mais capturado pelos capitalistas e seus funcionários burocráticos, militares e ideológicos. Com outras práticas e outros valores. Essas pessoas existem e podem aumentar em número e influência.


Contra s sigla imbecilizante lançada pelo trio formado pelos falecidos Margareth Thatcher, Ronald Reagan e Karol Woitila, pode-se adotar algo como EAS, existe alternativa sim. A legião de pessoas que hoje apenas garantem que as sociedades não explodam em pedaços: as mães, os que fazem serviços voluntários, os que participam da pequena fração das ONGs que não servem empresas capitalistas, são uma prova da possibilidade de organização para além do mercadismo inerente à lógica capitalista. Os seres humanos sempre terão seu lado individualista e perverso, mas não é necessário nem inevitável nem admissível que seja este lado que estruture as relações sociais. 

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