segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Desastre eficiente 7 - O que é possível


A esta altura, poucos são os que acompanham a evolução do clima da Terra e das alterações na capacidade de suporte à vida em geral e dos seres humanos em particular, que duvidam da iminência de catástrofes de proporções inéditas na história, já nas próximas décadas.

As propostas de aumento de eficiência, em vez de retardar, na realidade aceleraram o aumento de consumo de energia e de emissões dos gases de efeito estufa. Limitações de uso de energia, inclusive por meio de taxas sobre o carbono dos combustíveis fósseis, foram derrotadas principalmente pela oposição das empresas de energia em todo o mundo, e pela incapacidade do Estado de propor um projeto de futuro frente às pressões de mercado. A entrada de formas mais “limpas” de energia se faz limitada por essas mesmas pressões dos detentores do status quo, e pelas limitações econômicas e inclusive ambientais dessas alternativas. O resultado, exposto nos relatórios mais recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC na sigla inglesa, é que as previsões mais pessimistas sobre a evolução da composição de gases de efeito estufa, e do mais confiável marcador de aquecimento - a elevação do nível dos oceanos, têm sido superadas pela realidade observada.

A última linha de atuação proposta pelos cientistas – a mitigação dos efeitos da mudança de clima, como perda de terras da agricultura, redução drástica da biodiversidade em todo o mundo, particularmente onde ela é ainda a mais rica, como florestas tropicais e recifes de corais, prevalência de secas e inundações mais e mais catastróficas, e as migrações de grandes massas de refugiados ambientais resultantes desses flagelos, também vem sendo virtualmente ignorada por governos e pelas mídias de comunicação.

A perda de esperança por uma saída aceitável para a vida na Terra não pode ser mais reprimida. Não abre, em si, novos caminhos, mas é um pressuposto para poder começar a conhecer o inevitável novo futuro.

As mudanças ocorrerão não gradualmente, mas, como apontado acima, através de uma série de eventos catastróficos, ou seja, de maneira imprevisível e incontrolável. Os recursos de que as sociedades hoje dispõem serão em grande parte enfraquecidos, ou mesmo destruídos no processo. Que novos instrumentos as sociedades poderão criar?
Ao colonizar os afetos humanos, com as indústrias culturais e a indução da compulsão de compra e de consumo, o sistema de produção capitalista passa a ocupar e a intensificar a ocupação, para além dos espaços naturais e urbanos, daquela parcela das mentes das pessoas comuns, que poderia estar exercendo as funções de percepção e de preparação para o futuro complexo e adverso. È certo que os pobres serão os mais afetados pelos efeitos da mudança de clima, surpreendidos enquanto perdem, pelo avanço do sistema econômico sobre seu acesso à terra, e sobre sua cultura, a capacidade de conseguir enfrentar por si mesmos os problemas que já estão aumentando.

Os ricos vêm se preparando já há algum tempo. Erguendo muros, criando ilhas de conforto e segurança nas cidades e entre nações, recolonizando, para assegurar seu abastecimento no futuro, países da África, América Latina e Ásia mais fracos economicamente e menos conscientes sobre as ameaças vindouras, mas com terras agricultáveis.

O Stockholm Environment Institute publicou, anos atrás, um estudo de cenários para a crise ambiental global que está a caminho . Os caminhos previstos no estudo permanecem válidos até hoje. Diferente da maior parte dos estudos prospectivos, incluindo os do IPCC, os cenários do S.E.I. delineiam profundas rupturas, assim como prevê a emergência de novos atores sociais, em escala planetária, que acabariam por articular-se para a transição em direção a uma forma de vida humana coerente com o mundo finito em que ela habita. Faltou nesse exercício de imaginação a admissão de que as opções disponíveis para a humanidade estarão extremamente reduzidas depois que se efetivarem todos os desdobramentos da mudança climática, e explorar as condições remanescentes. Os dois mais recentes livros de James Lovelock procuram alertar para as verdadeiras dimensões das perdas ambientais esperadas e sua conseqüências sobre a humanidade e sobre a civilização.






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