quarta-feira, 30 de maio de 2018

INTERVENÇÃO MILITAR

Aparentemente, a ação dos caminhoneiros está, muito lentamente, perdendo alguma força. O que está esticando a cabeça para fora é a pedido pela ditadura militar, sob o nome não muito disfarçado, de intervenção militar. 

Um esclarecimento, sempre necessário porque é preciso estar atento às palavras. O que houve entre 1964 e 1985 não foi uma ditadura militar ou regime militar. Foi uma ditadura. Instalada pelos donos do poder de sempre: latifundiários, banqueiros, donos de industrias, a grande imprensa, a "embajada", e operada pelos militares, polícias e judiciário. 

A que estão propagando hoje tem mais ou menos os mesmos. Substitua-se grande imprensa por mídia e redes sociais manipuladas, coloque-se o judiciário e outros atuando mesmo antes da "mudança de regime", mas não muda muito. Só não dá para pensar que "eles" só vão "fazer uma limpeza" e sair. 



O latifúndio está na pista. “Ilegalidade” é só para os petroleiros.

interestrada
Patrick Camporez, em O Globo, joga um balde de água lúcida e fria sobre quem se ilude com as história do “espontaneísmo” do dos bloqueios que paralisaram o país. E em seguida (veja ao final do texto), vem outra decisão para mostrar que o que vale para o patronato não vale para os trabalhadores, embora alguns se iludam e achem que o clima de simpatia com que os caminhoneiros foi tratado valha para os petroleiros.
Camporez nos conta:
Fazendeiros e associações rurais de pelos menos três estados do país colocaram seus funcionários para “trabalhar e servir” à greve dos caminhoneiros. O GLOBO conversou, sob a condição de manter o anonimato, com produtores e lideranças dissidentes da Confederação da Agricultura e Pecuária que têm atuado no apoio à greve nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Todos admitem que fazendeiros desses três estados “liberaram” os funcionários para servir churrasco e levar comida para os caminhoneiros, além de terem retirado os trabalhadores do campo e os colocado para conduzir tratores e maquinários em direção a pontos de bloqueio de rodovias, com o objetivo de engrossar o tamanho dos engarrafamentos e fortalecer o “movimento”.
Ouvindo produtores que, assustados com os prejuízos, abandonaram a aventura, o repórter conta que eles admitem que “quem permanece apoiando é quem quer a intervenção (militar)”
Ontem, Maria Cristina Fernandes, do Valor,  mostrou o caso do megatransportador Emílio Dalçochio, dono de nada menos de 600 caminhões dizendo a caminhoneiros que, se um dos motoristas de sua imensa frota furasse os bloqueios, estavam autorizados a atear fogo no veículo.
Todos os dias, dúzias de fotos de faixas e pichações no asfalto pedindo intervenção militar estão sendo mostrados e percebe-se claramente que, embora o estopim do movimento fossem os 16 aumentos decretados em um mês pela desastrosa política de preços de Pedro Parente na Petrobras, o foco sempre esteve nos impostos, afinal sangrados pela “gambiarra” tributária a que apelou o Governo Temer para resolver tanto a sua falta de capacidade em gerir a política energética do país quanto a falta de autoridade em restabelecer o mínimo de fluxo de carga nas rodovias.
Tudo correu frouxo, bem diferente do que está acontecendo com a anunciada greve dos petroleiros, que acaba de ser declarada ilegal pelo Tribunal Superior do Trabalho, mesmo antes de ser deflagrada. E já ameaçados por multas de R$ 500 mil por dia, caso não obedeçam.
Será que o agronegócio vai mandar tratores e carne para churrasco para os petroleiros?
Locaute pode, greve, não.

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