segunda-feira, 26 de março de 2018

UM OU VÁRIOS GOLPES NO BRASIL?

Para lembrar apenas as instituições e processos violentos que influem decisivamente sobre nossa realidade atual, aqui vai uma enumeração do que está aí a desestruturar os processos democráticos desde antes da promulgação da pobre Constituição de 1988.

São o que é incompatível com a prática democrática, em que todos têm uma chance, mesmo que desigual, de influir sobre as coisas que os afetam. Convido quem me lê a refletir se a enumeração que vem a seguir não é incompleta, ou não está sendo formulada de forma inadequada. Coloco aqui o que me parece importante hoje, independente de ter sido importante também durante a ditadura de 1964-1985 ou anteriormente.

Acima de tudo existe um sistema não explicitado de hierarquias e crenças, o Mercado, que em suas ações políticas emerge como o Partido Neoliberal, e que atua para monopolizar o poder desde os anos 1970. 

Em primeiro lugar, existe um país, que é o império que há muito tempo condiciona tudo o que ocorre neste "quintal" deles. Esse mesmo, os Estados Unidos. A grande potência que deixou de ser hegemônica na medida em que perde gradualmente a anteriormente esmagadora predominância econômica, e que vem substituindo a persuasão cada vez mais com a ameaça militar e as ações de guerra em todo o mundo.

Quando os EUA participaram como sócio e mentor maior do golpe de 1964, eles já estavam bastante envolvidos no Vietnam. Muitos de nós na esquerda torcíamos pelo Vietcong, por Cuba contra eles. Tínhamos uma crença de que, se derrotados, eles poderiam se sentir menos propensos a intervir nos outros países, mesmo sabendo que na divisão do mundo com a União Soviético a América Latina era considerada território privativo deles.

Não sabíamos da profundidade de envolvimento de pseudo brasileiros como agentes pagos do império. Os ativos, "assets" deles. Acreditem, eles sempre estiveram em todas as partes. Nasceram de famílias brasileiras. Muitos foram recrutados nas universidades estadunidenses.

Eles não trabalham só para o governo do império. Agem a favor de seus interesses como operadores dos bancos e de outras grandes corporações internacionais. Como tal, pressionam, montam e mantêm "think tanks" dedicados tanto a propagar o credo neoliberal como a desmoralizar toda a ideia de um Brasil nação independente. Cultivar o viralatismo. 

Não haveria possibilidade de o país ser sabotado tão profundamente sem a ajuda dessas legiões de agentes brasileiros, dos EUA e de suas corporações. Se você ama este país, cuidado com o que você ouve e com o que você passa. Amigos das redes sociais ou pessoais podem estar trazendo, não reflexões próprias ou informações confiáveis, mas coisas do interesse deles lá. No passado, eu mesmo fui enrolado por um amigo, e até hoje me irrito ao lembrar de minha ingenuidade.

Outros componentes do golpe, que já abordei lá atrás: a mídia, os grandes jornais e revistas, o judiciário. É preciso, entretanto, destacar o papel que as Polícias Militares vêm desempenhando sem parar, durante todo o intervalo semi democrático que vivemos a partir de 1985.

Elas participaram ativamente da ditadura de 1964. Foram inclusive reorganizadas e de alguma forma integradas às forças armadas no período. Doutrinadas dentro dos parâmetros da Segurança Nacional, que o império estadunidense estava passando na época para os países clientes.

A postura violenta, repressiva, radicalmente anticomunista das PMs, cristalizada durante o período militar eventualmente atenuou-se em algumas ocasiões. Mas a doutrinação nos quarteis e as práticas permaneceram quase as mesmas. Mantiveram-se os esquadrões da morte, agora voltados contra os negros e pobres, grande parte deles integrados por policiais militares. Que ajudaram na fase subversiva do golpe,  desde 2013, dando cobertura e confraternizando com as manifestações pela deposição de Dilma. 

Sob esse arcabouço institucional: EUA e aliados, Mídia, Judiciário, Financiadores estrangeiros e nacionais atuando a mando dos 1 % mais ricos, o Povo do Golpe. Setores reacionários e proto fascistas da classe média, e parte dos trabalhadores, que reagiram contra a ascensão relativa dos mais pobres voltando-se contra o governo que elas consideravam responsável por essa quebra da hierarquia social. Como uma tal reação é politicamente incorreta, foi invocada uma antiga arma contra a democracia, já aplicada em várias ocasiões históricas no Brasil, o ataque à corrupção. 

Grupos da PM e da ala fascista da classe média, no momento, realizam ataques terroristas. Mataram Marielle Franco, têm atacado componentes da caravana de Lula no Rio Grande do Sul, contando com a cumplicidade da Brigada Militar daquele estado.

É aqui que é necessário voltar a abordar as questões da prática democrática, tema de minha estada no IEE como pesquisador autônomo voluntário. 

Temos as entidades que articulam os interesses difusos dos objetos dos grandes projetos: entidades de trabalhadores sem terra e sem teto, associações ad hoc de populações afetadas, ONGs dos pobres e ONGs das grandes empresas. Sua situação institucional permanece nominalmente a mesma. No entanto, os componentes institucionais do golpe passaram a atuar ainda mais intensamente contra as parcelas mais vulneráveis da população, aquelas que mais necessitariam de uma intervenção do Estado em seu favor.

Ações judiciais pelos interesses difusos têm perdido cobertura pela mídia e atenção pelo judiciário. Do outro lado, interesses concentrados do capital financeiro têm conseguido garantir uma situação progressivamente mais predominante.





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