quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

CONDENAÇÃO, ELEIÇÕES, OUTRAS COISAS

Em 2014, o povo grego elegeu a Coalização de Esquerda Radical conhecida pela sigla Syriza (Συνασπισμός Ριζοσπαστικής Αριστεράς), porque não aguentava mais os programas de austeridade impostos pela troika - grupo formado pelo Banco Central Europeu, o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Europeia. Esses programas incluíam medidas para baixar salários dos pobres, venda de patrimônio público e corte de serviços e benefícios sociais.

Em troca, rolavam a dívida da Grécia, que havia levado a breca a partir da quebradeira financeira mundial de 2008. Mas a dívida não diminuía, só aumentava, num mecanismo parecido com o sistema de barracão praticado em países como o Brasil. Em inglês, debt peonage. A dívida não diminuía porque tinha passado do ponto em que o país podia pagar, mesmo arrasando com as despesas de governo, e porque com a austeridade a economia mergulhou em profunda recessão, sem perspectiva de reverter o quadro com crescimento, já que as pessoas que não foram lançadas à miséria não tinham dinheiro para comprar nada.

O Syriza se elegeu  no fim de 2014 com a promessa de negociar duro com a troika e sair desse buraco da debt peonage. O Ministro das Finanças escolhido, um professor de economia de esquerda com relações com outros importantes economistas inclusive conservadores, assumiu no começo de 2015, Yanis Varoufakis. Ele tinha uma estratégia de ficar na zona do Euro mas conseguir uma restruturação da dívida (eliminação ou obtenção de prazos bem longos para uma parcela, já que era impossível pagar tudo) e manter um mínimo de serviços públicos e benefícios e combate à miséria extrema.Ele era o negociador, adotou uma estratégia de "desobediência construtiva", que consistia em recusar uma nova rolagem e em troca  apresentar propostas que não negassem os propósitos do governo eleito enquanto satisfazia as formalidades dos compromissos financeiros herdados. 

Quando o resto do governo, inclusive o primeiro ministro Alexis Tsipras, acabou cedendo, traindo o mandato que havia sido dado nas eleições, Varoufakis renunciou. Ele desde o início havia combinado com os colegas de gabinete que a pior coisa seria continuar com a prisão da dívida, e que se não conseguissem um acordo com a troika se preparariam para sair da zona do Euro. Esta é a situação que vige até hoje. História de um fracasso perante a banca internacional, capitaneada pela Alemanha. Varoufakis iniciou com outros europeus de esquerda um movimento DIEM25, pela democratização da União Europeia. O governo do Syriza permanece no poder, e deve ter obtido algumas concessões simbólicas da troika.

Pula rápido para o Brasil de hoje, 25 de janeiro de 2018. Um governo proveniente de golpe em 2016 aplica a cartilha neoliberal: austeridade nos gastos público e desmonte do país e do Estado brasileiros. Aqui, como no Grécia, permanece  a corrupção real, além da corrupção dos tolos que serviu pretexto para depor o governo do PT e cassar na prática os direitos políticos da esquerda.

Esta corrupção real, ou corrupção grande, que já transferiu para grupos privados e para os estadunidenses muitas das antigas estatais brasileiras nos governos Coollor, FHC e agora Temer, trata de usar o desmonte e a austeridade para enriquecer mais ainda Lehman e seus companheiros dos um por cento mais rico. Assim, eliminando benefícios e serviços públicos e entregando-os a empresas regidas pelo lucro, e financiadoras do golpe e de eleições de lobistas. Ajudados, de dentro do Estado pela máquina auxiliar:


  • Ministério Público e Judiciário, com seus salários abusivos que os tornam sócios dos donos do dinheiro, livres de qualquer controle externo.
  • Agências reguladoras dos serviços públicos, todas sem exceção ocupadas de fato pelas empresas que elas deveriam regular.
  • As quadrilhas do executivo - de alto e baixo escalão, que servem como estafetas e office-bois dos ricos.
O circo da mídia com os desembargadinhos do TRF4 que confirmaram e ampliaram a condenação de Lula no dia 24 de janeiro faz parte do processo de desmonte, privatização e aplicação sádica da austeridade sobre os menos favorecidos. 

A eleição de 2018 é parte do processo de luta. Parte.








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