BLOG DO CLAUDIO SCARPINELLA

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

ARTIGO DE MIGUEL DO ROSARIO


No O Cafezinho. Este acesso tive como assinante.

Brasil pós-golpe: onde encontrar esperança?

29/11/2016 Miguel do Rosário
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(Na foto, Fidel e Che na prisão, poucos anos antes da revolução vitoriosa que lideraram)
Arpeggio - coluna política diária
Por Miguel do Rosário
Em quase todo debate que participo a questão sempre vem a tôna. Há esperança? Onde encontrá-la?
Um dos objetivos do golpe parece ter sido eliminar qualquer esperança. Entretanto, ele não oferece outra alternativa a não ser luta e resistência, na medida em que não se vê nenhuma ação que vise, ao menos, conter a crise econômica.
Até o golpe de 64, em alguns aspectos, parece melhor do que o golpe atual, porque os militares que assumiram o poder, ou pelo menos uma boa parte deles, tinham uma visão nacionalista, de defender o nosso petróleo, nossa indústria, manter o nível de emprego.
Os bandidos que assumiram o poder, e não falo apenas dos meliantes do Executivo, mas também da aliança entre fanáticos, picaretas e oportunistas que tomaram conta dos aparelhos jurídicos do Estado, não tem qualquer compromisso com nenhum instrumento de desenvolvimento social, econômico ou político.
Na parte econômica, é tudo muito estranho. Novamente interesses obscuros, provavelmente os mesmos que já denunciava Vargas há mais de sessenta anos, ganham evidência. Quem ganha com essa loucura que se tornou a Lava Jato?
Rodrigo Janot, em conversa com Eugênio Aragão, disse algumas palavras misteriosas sobre a Lava Jato, de que ela seria muito maior do que qualquer um poderia imaginar. Sim, ela parece uma operação de guerra, para dominar e conquistar um país e entregar-lhe a um controle estrangeiro.
A participação, agora praticamente confessa, de Sergio e Moro, procuradores e a própria PGR, na celebração de acordos de delação entre os réus da Lava Jato, alguns deles detentores de informações sensíveis do Estado brasileiro, e autoridades norte-americanas, certamente não ajuda a termos confiança nessa operação.
O BNDES anunciou hoje que não vai financiar mais "exportação de serviços de engenharia" das grandes empresas nacionais. Ao mesmo tempo, o mesmo banco aceitou entregar 100 bilhões de seu caixa para o governo Temer fazer evaporar em juros da dívida.
O governo não fala mais em obras de infra-estrutura. A grande mídia está satisfeita com os pixulecos em profusão que começaram a jorrar do governo, na forma de publicidade federal. Até mesmo as crises políticas, como esta última provocada pelas revelações do ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, se revelam lucrativas para a grande mídia.
Alguns analistas especulam sobre a perda da "blindagem" do governo Temer. Ora, isso não interessa mais à grande mídia. Tanto faz agora com Temer ou sem Temer. O importante é virar o ano, para evitar que haja eleições diretas, que, aí sim, poderia injetar um pouco de perigoso otimismo no coração das pessoas.
O que significaria eleições diretas hoje, no Brasil, para a presidente da república, conforme defendem importantes forças políticas?
Não sou otimista em relação ao resultado de qualquer eleição, mas sou otimista quanto à volta da política oferecida por um processo eleitoral. Eleições criam brechas de liberdade no debate político, porque o sistema de comunicação é inundado de novos atores. As ideias circulam em maior quantidade e em maior velocidade, num processo eleitoral.
E para vencer essa desesperança que passou a pesar sobre a conjuntura nacional como uma sombra terrível, só mesmo com novas ideias!
A profunda crise que atravessamos nos obriga a uma saudável radicalização. Por exemplo, até pouco tempo atrás, seria considerado radical, quase louco, um político que defendesse a cassação de todos os canais de TV. Hoje em dia, um político inteligente e progressista poderia defender isso tranquilamente. Seria massacrado pelos grandes meios de comunicação, mas ovacionado pelas redes sociais.
O sistema de comunicação brasileiro precisa ser inteiramente reformado. As concessões públicas precisam ser democratizadas, ou seja, entregues ao povo. Será que algum dia teremos um partido que promova seminários sobre mídia, nos quais especialistas do mundo inteiro venham ao Brasil para nos explicar como é a regulamentação da mídia nos Estados Unidos, na Europa, no Japão, na China?
O mundo hoje não vive uma boa fase. Os estragos provocados pela guerra no Iraque, pelos golpes "coloridos" na Lìbia, Síria, Egito, geraram um efeito dominó que destruiu lideranças populares em todo planeta.
Outro dia, li uma matéria no The Verge, um blog americano de tecnologia, sobre uma nova lei de vigilância a ser aprovada no Reino Unido, que legalizará tudo aquilo que Snowden denunciou como crimes da NSA. Os ingleses poderão ser vigiados de perto pelo governo.
A China tem anunciado medidas semelhantes. A sinistra e onipresente máquina de espionagem norte-americana, agora em mãos de um maluco de extrema-direita como Trump, também não indica que venham alguma boa notícia de lá.
Na França, há o risco das eleições presidenciais, e nem será a primeira vez em sua história, serem disputadas entre direita e extrema-direita.
Por outro lado, às vezes eu penso que existe uma dialética que esteja nos escapando. Por exemplo, mesmo com a vitória de Trump nos Estados Unidos, não se pode negar que a esquerda americana nunca cresceu tanto como nos últimos anos. A quase indicação de Bernie Sanders como o candidato do partido democrata demonstrou bem isso. A maconha está sendo liberada em inúmeros estados norte-americanos. Na Inglaterra, o novo presidente do partido trabalhista é Jeremy Corbyn, certamente a liderança mais progressista da legenda em muitos anos.
E no Brasil?
No Brasil, o quadro institucional é uma tragédia, tudo bem. Judiciário, Ministério Público, polícias federais e estaduais, mídia, todos parecem ter celebrado um pacto satânico para afundar o país, destruir direitos sociais. Nem mesmo as liberdades individuais são poupadas. As novas 10 medidas contra a corrupção concentram ainda mais poder em mãos das instituições mais perigosamente antidemocráticas do país, o MP e o Judiciário. Não vai acabar com a corrupção. Ao contrário, vai aumentar a corrupção, que possivelmente se concentrará ainda mais do que hoje justamente no MP e no Judiciário.
Os escritos federalistas já advertiam, nos primórdios da democracia americana, que o poder, qualquer poder, tem sempre ganas de crescer mais. Por isso é importante impor-lhes limites naturais, e o melhor limite são os freios e contrapesos impostos por outra instituição.
Os brasileiros precisam, um dia, experimentar uma democracia e construir o seu país com suas próprias mãos.
Eduardo Cunha fez uma contra-reforma política de encomenda para as elites, Globo e PSDB. O tempo de campanha foi reduzido, não se promoveu nenhuma mudança no sentido de ampliar a comunicação entre candidatos, partidos, lideranças políticas e a população.
Os debates entre candidatos deveriam ser regulamentados por lei. As concessões públicas de TV deveriam ser obrigadas a exibir debates entre os candidatos em horário nobre. E os debates deveriam ser organizados inteiramente pelos próprios partidos. Sem perguntas da emissora. Apenas perguntas de um candidato para outro e de populares, escolhidos pelos próprios partidos, para os candidatos.
O novo ministro da Cultura, Roberto Freire, já disse, por ocasião da extinção da pasta, que foi o primeiro ato do governo Temer (como que se vingando da classe artística), que o ministério não é necessário, porque alguns países não tem ministério da Cultura.
Ora, a desinformação faz um grande mal à saúde política de um povo, porque ele impede qualquer debate inteligente. Esses mesmos países que não tem ministério da Cultura tem uma quantidade enorme de leis que impedem a concentração da propriedade no campo da cultura e do entretenimento. Nos Estados Unidos, a poderosa FCC (Federal Communications Commission), Agência Federal de Comunicação, controla até mesmo o percentual de audiência dos canais de TV. Esses canais não podem ter uma audiência superior a um percentual, definido pela agência, a nível regional e federal. Por que nenhum partido político brasileiro, antes de fazer qualquer tipo de declaração sobre "lei de mídia', não promoveu um amplo estudo sobre as leis da mídia nos Estados Unidos?
Para que servem os "think tanks" do PT e do PCdoB, que não participam do debate político nacional? Não oferecem nenhum tipo de subsídio objetivo que nos ajude no debate mais importante no Brasil de hoje, que é o debate sobre a relação entre a imprensa, a mídia e o golpe?
Hoje, em Brasília, manifestantes que vieram de todo país foram atacados pela polícia militar do Distrito Federal. Segundo relatos que vem da própria grande imprensa, está sendo uma das maiores manifestações em Brasília desde 2013. Só que a gente sabe como as coisas funcionam: quando os protestos tem base popular minimamente organizada, a mídia corporativa usa todas as suas armas para fazer uma cobertura negativa, de maneira a blindar o governo e o legislativo.
Nesse ponto de nossa conjuntura, não é mais questão de acusar o governador do DF, porque as polícias de todos os estados vêm, há tempos, ganhando autonomia. Isso também é o golpe. O poder de violência do Estado, que é um monopólio consagrado pela Constituição, vem deixando de ser gerido pelos representantes políticos, que mal ou bem precisam prestar contas à população, até mesmo por cálculo eleitoral, e migrando para as mãos do Judiciário, que não tem compromisso nenhum com a sociedade.
Aliás, é uma situação irônica. Na hora de usar a violência, o Judiciário não se preocupa com popularidade. É o único momento em que ele assume o ônus de ser um poder contramajoritário. Mas quando se trata de arbitrar processos judiciais altamente politizados, com grande repercussão midiática, aí ele não só se curva à "opinião pública", como ainda tem com ela uma perigosa cumplicidade. O juiz e o MP, que no Brasil trabalham em parceria contra os cidadãos, usam a mídia, através de vazamentos seletivos, entrevistas, verdadeiros stand-ups acusatórios, para produzir uma imagem tão negativa do cidadão que a sociedade não apenas pressione o Estado a condená-lo, como chancele ou faça vista grossa a qualquer tipo de desvios usados para este fim.
Sugiro ao leitor que assistam com atenção ao vídeo completo (link aqui) do programa do jornalista Roberto Navarro, que traz uma longa entrevista com o ex-presidente Lula. Assim que começa a falar do Brasil, Navarro observa que, à diferença da Argentina e outros países latinos, não há, no Brasil, nenhum programa como o dele, Roberto Navarro, onde seja possível veicular ideias progressistas.
É incrível que tenhamos chegado a esse ponto no Brasil sem que nenhum quadro político importante progressista tenha feito nada contra isso, nem sequer uma denúncia. Esse foi um erro histórico, trágico, dos governos petistas. Por isso eu não concordo com o lugar comum de que o golpe ocorreu por causa dos acertos do PT e do governo. Não. O golpe aconteceu por causa também, quiçá principalmente, de seus erros, e o principal deles foi menosprezar a questão central do Brasil: um sistema de comunicação terrivelmente fechado, em que a extrema-direita é dona de tudo. Em todos os países democráticos, há jornais, canais de TV, rádios, tvs públicas, que externam visões progressistas do mundo. Ou então, como nos EUA, há um sistema de cultura muito forte e muito plural, como mostra a entrevista de Spike Lee com Bernie Sanders, feita pelo Guardian. Nos EUA, ou operando nos EUA, há ainda uma porção de bilionários com tendências progressistas, que apoiaram Bernie Sanders. Como Pierre Omidyar, fundador do Ebay, que financiou e criou o Intercept, onde escreve Glenn Greenwald, e que lançou há pouco uma versão em português.
Encerro o post com um humor um pouco melhor. No vídeo do Roberto Navarro que eu linkei algumas linhas acima, há um discurso de Fidel Castro em Buenos Aires, logo após a vitória dos Kirchner, na Argentina. É impressionante lembrar a onda de otimismo e esperança que varreu a América Latina naqueles anos!
Antes de falar em Fidel, uma rápida digressão sobre a Argentina. A vitória de Macri não produziu nenhum otimismo ou esperança. Ao contrário, as medidas de Macri são sempre no sentido de onerar o povo e a classe média, elevando tarifas, cortando programas sociais, concentrando riqueza em mãos de poucos. A mesma coisa acontece no Brasil. Uma das primeiras iniciativas de Temer foi cancelar o programa Ciência sem Fronteiras, que levava milhares de jovens brasileiros, todos os anos, a estudar no exterior. Recursos para cultura, ciência, infra-estrutura, são cortados, enquanto o governo apenas aumenta o percentual destinados ao pagamento de juros. À mídia cabe ludibriar a opinião pública, num processo de inacreditável cinismo, onde ela vende que as medidas tomadas pelo governo irão melhorar a economia e, em seguida, quando essas medidas não melhoram nada, dizendo que o aumento no desemprego ou ajuste para baixo nas esimativas do PIB surpreenderam o mercado.
Voltando à Fidel, nesse discurso histórico em Buenos Aires, para uma multidão de centenas de milhares de pessoas, o líder cubano celebrava a derrota do neoliberalismo, cujo canibalismo a América Latina conseguiu afastar, por vias democráticas, por quase uma geração inteira no continente. Ao final do discurso, ele repete a famosa frase de Che Guevara, que na verdade era a frase símbolo da revolução cubana: hasta la victoria, siempre!
É uma frase tão simples, mas que, à luz dos tempos sombrios que vivemos hoje no Brasil, me parece tão poderosa! Por que é uma frase que resume, em sua lacônica simplicidade, a ideia mais importante já inventada no mundo: a ideia de que o homem pode governar a si mesmo, e, portanto, pode mudar seu destino e melhorar o mundo a seu redor. É uma frase que não expressa, exatamente, uma esperança, que tem a ver com espera e expectativa, mas antes uma vontade, uma convicção, um estado de espírito!
Hasta la victoria, siempre, caros leitores e leitoras! E, se possível, assinem o Cafezinho!
Publicado em: Arpeggio, Assinante, Miguel do Rosário, Política
Postado por CASCARPI às 03:26 Nenhum comentário:
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A PARTE DA VIOLÊNCIA DO GOLPE AVANÇA

Quem viveu o golpe de 1964 reconhece muitos aspectos, inclusive a presença dos provocadores fascistas, hoje, como então, com incitação e financiamento também dos EUA. É preciso firmeza e cabeça fria. A luta é difícil e longa, a repressão violenta não vai se civilizar depois da saída do traíra.

Pimenta: Ordem era “atacar sem negociação”; violência assemelha-se à da PM paulista quando Alexandre de Moraes era secretário; veja o vídeo

29 de novembro de 2016 às 21h43

  
PRAÇA DE GUERRA: ESTUDANTES CONTRA A PEC 55 SÃO MASSACRADOS EM BRASÍLIA; ORDEM ERA “ATACAR SEM NEGOCIAÇÃO”, DISSERAM POLICIAIS
PALÁCIO DO PLANALTO PODE ESTAR POR TRÁS DOS ATAQUES
da página deputado Paulo Pimenta
Com extrema violência, gás e bombas, a Polícia Militar do DF massacrou estudantes que realizavam manifestação, em frente ao Congresso Nacional, contra a Pec 55. Militantes de extrema-direita estavam infiltrados na manifestação provocando quebra-quebra para causar tumulto e ação da Polícia contra os estudantes.
Uma mulher que protestava contra a Pec 55 foi agredida. Já no chão, teve a cabeça chutada por um policial, gerando indignação dos manifestantes.
Parlamentares do PT chegaram ao local para negociar o fim do massacre, mas as autoridades policiais não aceitaram qualquer acordo, e continuaram avançado sobre a população. Os deputados e deputadas por diversas vezes tentaram fazer um cordão em frente aos policiais, em uma tentativa de proteger os manifestantes.
O deputado Paulo Pimenta tentou intervir de maneira reiterada, pedindo à Polícia o fim dos ataques, do gás e do lançamento de bombas, para que os parlamentares pudessem conversar com os estudantes. Mas, como afirmou um policial, a ordem era “atacar”.
Acredita-se que a ordem de ataque possa ter vindo do Palácio do Planalto, por meio do Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, já que a operação que ocorreu nesta tarde em Brasília conteve muita violência, semelhante as ações da Polícia Militar do Estado de São Paulo, quando Alexandre de Morais era secretário de Segurança de Geraldo Alckmin.
Postado por CASCARPI às 03:03 Nenhum comentário:
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terça-feira, 29 de novembro de 2016

MAIS FIDEL, MAIS CUBA

Veja este vídeo, lembre a ajuda que Cuba deu a muitas das vítimas do desastre de Chernobyl. Aqui.
Postado por CASCARPI às 03:15 Nenhum comentário:
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A QUEM INTERESSA ENFRAQUECER E VENDER A PETROBRAS

Como bom físico, Pinguelli avança uma hipótese sobre o que motiva mídia e judiciário na guerra para entregar a Petrobras e os recursos naturais desta triste nação. Bem diferente de outro físico, o tucano Goldemberg, que ontem ouvi na rádio USP defendendo a traição contra o Brasil de seus companheiros. Do Viomundo

Pinguelli: Algum agente estrangeiro plantou o escândalo da Petrobras?

28 de novembro de 2016 às 23h24

  
Ele começa a palestra falando sobre as especulações relativas ao fim da era do petróleo
Da Redação
O professor Luiz Pinguelli Rosa é ex-presidente do COPPE, o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, no Rio de Janeiro.
Em seminário no Clube de Engenharia, ele estranhou alguns acontecimentos recentes, dentre os quais:
1. a Petrobras vender o controle acionário da BR Distribuidora, que é lucrativa e trabalha com “cash puro”;
2. desistir dos investimentos em biocombustível, no momento em que a Shell, a BP e mesmo a conservadora Exxon fazem o contrário;
3. o discurso sofre o fim da era do petróleo de alguns setores intelectuais e da mídia, discurso que segundo ele mascara a tentativa de fazer a Petrobras produzir muito e rápido, o que beneficia os grandes consumidores (EUA e China).
Diante de decisões “irracionais” tomadas pela direção da estatal sob Michel Temer, Pinguelli especula que a maior empresa brasileira tenha sido vítima de um complô movido por agentes externos em conluio com brasileiros.
Ele não descarta, por exemplo, que a roubalheira na estatal tenha sido estimulada por intermediários interessados em, mais tarde, produzir o escândalo que abalou a Petrobras.
Pinguelli lembra que há mais que o pré-sal em disputa: a estatal, através de convênios com universidades, é formadora de mão-de-obra especializada que replica tecnologia nacional desenvolvida ao longo de muitos anos de exploração.
Enfraquecida a Petrobras, este conhecimento poderá simplesmente ser transferido para fora do Brasil e o país corre o risco de, lá na frente, acabar importando tecnologias derivadas daquelas que desenvolveu com seus próprios recursos.
Ou seja, a engenharia brasileira geraria lucros fora do Brasil.
Um verdadeiro desastre econômico, político e estratégico.
Vale a pena ver a íntegra da palestra!
Postado por CASCARPI às 03:04 Nenhum comentário:
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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

TRUMP, MUNDO, BRASIL

Artigo trazido pelo Outras Palavras. De vez em quando é bom ler um francês que escreve com clareza, no meio deste mundo caótico. Coloquei as notas do texto, ausentes na versão do Outras Palavras, para quem quiser aprofundar um pouco além.


Por que uma nova esquerda é necessária

POR 
CHRISTOPHE VENTURA
– ON 21/11/2016CATEGORIAS: ALTERNATIVAS, CAPA, MUNDO, PÓS-CAPITALISMO

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Vitória de Trump abala projeto neoliberal, mas leva ao poder direita autoritária. Quem lutará, agora, por justiça, igualdade e soberania popular?
Por Christophe Ventura | Tradução: Inês Castilho | Imagem: arte de rua no Cairo (2011)
A eleição de Donald Trump – cuja primeira explicação é a rejeição, no seio das classes populares, de Hillary Clinton, a encarnação do pior conluio entre dinheiro e política – confirma o “momento populista” mundial [1].
O que se percebe por trás desse “momento” intensamente político?
O deslocamento de nossas democracias. Em direção a quê? A regimes tipo “autoritários identitários” [2], se a esquerda não trabalhar, pelo menos nas lutas que a caracterizam, em favor de uma “radicalização da democracia” [3], que esteja a serviço de três ideias: soberania, igualdade e justiça. Três marcadores progressivamente abandonados pela esquerda realmente existente, em especial nos Estados Unidos e na Europa.

Populismo de direita: “entre nós, e todos contra nós”
Não há esperança, mas uma nova gestão social e política do desespero.Esta é, no fundo, a magia obscura proposta pelo populismo de direita. Compreendamos que o sujeito político chamado Donald Trump cristaliza e condensa a energia incandescente e negativa de numerosas cóleras populares – especialmente a das categorias socioeconômicas devastadas pelos efeitos do livre mercado e da desregulação financeira durante o ciclo Reagan-Bush-Clinton-Obama/Hillary. Bruto, revoltado e violento, o levante Trump ocorre quando as populações dominadas e abandonadas à tirania dos donos do mundo não veem alternativas a sua condição. Elas assumem, em resposta, uma relação de desconfiança legítima, não somente diante da representação política, mas do próprio sistema político. Donald Trump é o produto negativo de suas exigências democráticas e sociais desprezadas e massacradas por muito tempo, especialmente pelos partidos – os democratas, neste caso – que supostamente as representariam. Essas populações encontraram, na falta de uma esperança, o meio passageiro de assustar o sistema introduzindo, no coração de seu quartel-general, uma granada de mão pronta para ser detonada. E isso, por meio dos próprios mecanismos eleitorais desse sistema que permite que se possa tornar presidente sem haver ganho a maioria dos votos.
Donald Trump é um objeto político sofisticado e bem sucedido. Ele conseguiu incendiar as paixões populares, construir um “povo” no meio da população, isto é, uma nova aliança sociopolítica formada além das filiações partidárias tradicionais, que funcionavam até então em favor do equilíbrio de uma ordem política e social com a qual a maioria da sociedade ainda consentia.
A vitória de Donald Trump indica a ruptura desses equilíbrios e uma recomposição. O populismo – ainda que de direita – indica e encarna uma transição entre um desequilíbrio e um novo equilíbrio, uma nova ordem da sociedade. O alcance e a natureza do que se desenhará no decorrer desse processo depende das orientações desse populismo, de sua capacidade de mudar a economia, manter a coesão de seus apoiadores, produzir instituições que acabarão por superar e mudar as relações de força na sociedade.
No caso de Donald Trump, a aliança forjada encontrou seu cimento eleitoral no ressentimento contra todas as elites – especialmente a esquerda intelectual empoleirada em seu conforto universitário e midiático – e uma classe política “Coca-Cola – Pepsi-Cola” que pratica as mesmas políticas e defende os mesmos interesses. Uma classe política incapaz de resolver os problemas concretos das pessoas, pela simples e boa razão de que esses problemas não podem ser solucionados aceitando o quadro e as estruturas da globalização econômica e financeira – especialmente o livre mercado, que desindustrializa os países do Norte, proletariza os do Sul, devasta o ambiente e oferece liberdade sem restrições ao capital e às finanças. Tudo isso impossibilita qualquer controle democrático do poder econômico e mina toda possibilidade de políticas de redistribuição social.
Brexit, fracasso dos acordos comerciais, vitória de Trump: as revoltas cegas [orig. “jacqueries”] contra a globalização e seus poderes mundiais e nacionais propagam-se e se sistematizam. As sociedades gritam, de modo cada vez mais violento, “não” à globalização, território econômico e financeiro sem equivalente político e democrático possível.
Donald Trump foi quem – cúmulo da ironia – colocou no coração da campanha (assim como Bernie Sanders) as questões econômicas e sociais e conseguiu encarnar a vontade de um poder público que volte a controlar a economia – posição oposta ao consenso entre os dois partidos de governo.
Trump venceu sobre as cinzas do “establishment” de seu próprio campo e dos anos Obama, que desembocaram em promessas não mantidas – especialmente junto às classes populares –, guerras intermináveis, agravamento das desigualdades sociais e pauperização crescente de dezenas de milhões de pessoas nos Estados Unidos.
Trump não é, ele próprio, um ganhador da mundialização? Sem dúvida alguma. Mas ganhou as eleições afirmando que, no seio do reino em perigo, desafiava a política do rei e de seus principais vassalos. Afirma que é preciso ajustar as leis fundamentais da globalização aos interesses de seu país – separado aqui do “business” americano – mal conduzidos desde 2008 (e desde o início dos anos 2000, com o crescente poder da China e de outros novos atores mundiais). Como? Refreando o ritmo e o avanço da globalização financeira e econômica – para não mais sofrer suas consequências e desordens. Posicionando os Estados Unidos, a tempo, no coração da competitividade fiscal mundial (reduzir os impostos das empresas para atrai-las e fixá-las no país). Criando as condições para um novo ciclo geopolítico de retirada e reequilíbrio estratégico.
Deste ponto de vista, há forte ressonância com as orientações lançadas pelos discursos da nova primeira ministra britânica Theresa May. Trinta e cinco anos depois de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, um novo pulso anglo-saxão de dimensão mundial parece estar sendo preparado. Desta vez,visa conduzir a globalização a um rumo cujos marcos são perceptíveis. Maior controle estatal sobre o poder financeiro e bancário. Criação de mastodontes capitalistas em todos os setores estratégicos da economia e das indústrias por meio da multiplicação de processos de fusão/aquisição.Protecionismo (em plano nacional mas igualmente no quadro dos clubes de afinidades do país diante dos outros). Fechamento das fronteiras nacionais para gerir os fluxos migratórios mundiais. Em outras palavras, uma reorganização da sociedade – não um recuo, mas uma reorganização – para reposicionar os Estados Unidos (e o aliado britânico) aos postos avançados da concorrência capitalista mundial… que coloca o mundo inteiro contra a parede.
Se confirmado, esse projeto beneficiaria os eleitores de Trump? Ou os que, na França e em outros países europeus, votam ou são tentados a votar nos candidatos populistas de direita? Não, porque o novo presidente americano – ou Marine Le Pen na França – não têm como projeto a emancipação do “povo” que eles criam e mobilizam. O que pretendem é estabelecer controles e promessas de um alívio cosmético, obtido graças à repressão interna de outras partes da população (especialmente os imigrantes).
Seu projeto é, ao fim das contas, a radicalização do sistema que eles pretendem desafiar. As forças “populistas” de direita – a Frente Nacional francesa, de Marine Le Pen, oferece a matriz mais avançada da Europa – conseguiram reconstruir um povo mobilizando um discurso do tipo “eles querem o pouco que temos; eles não vão ficar”. Esse discurso procura, com sucesso, mobilizar alguns setores da sociedade contra outros (notadamente os imigrantes e os pobres) em período de escassez de trabalho e de recursos do Estado para financiar o sistema social — porque esses Estados tornaram-se prisoneiros de seu endividamento nos mercados financeiros, de suas escolhas fiscais e de suas políticas de austeridade.
Redistribuir a riqueza e conceder benefícios sociais, sim, mas em pequenas quantidades e para os nacionais. Como? Reposicionando o país a seu favor na competição internacional. Mantendo a exploração econômica dos trabalhadores que vivem ali (mas praticada por um patronato nacional revitalizado). Reduzindo os direitos dos grupos mais desprotegidos da população (estrangeiros, pobres, mulheres etc). Eis, em resumo, o projeto de sociedade proposto por cada um dos “populismos” de direita.
De qualquer modo, cada um entre si todos contra todos. Agindo assim, o populismo de direita elabora um discurso mobilizador da defesa das identidades tradicionais (a cristandade, a região, a comunidade étnica etc.) — que ele ajuda a manter – para unificar os setores aos quais ele se dirige contra a “elitocracia”.
Esse projeto é vão pois não modifica as causas das dificuldades das populações e contribui com a sobrevivência de um sistema em perigo que, in fine, recorre aos populistas de direita para que sejam mais um dos tantos corta-fogos que o defendem – especialmente diante dos riscos de desordem social. Hoje os migrantes, os estrangeiros instalados. Amanhã as mulheres, os sindicatos, as associações. Cada um de nós monitorado por sua tela, seu telefone, seu computador.
De qualquer forma, o triunfo de Donald Trump nos Estados Unidos não deixa de ser um novo golpe contra a esquerda em todo o mundo. Tragicamente, o magnata novaiorquino toca exatamente em seu oposto: justiça, igualdade e soberania não são possíveis nos limites da globalização financeira e econômica. Todos os meios que permitiram à esquerda, antes da globalização, lutar por seus objetivos no quadro de um capitalismo industrial submetido a controle nacional estão ultrapassados, no cenário de um capitalismo altamente financeirizado e pós-industrial
Populismo de esquerda: (re)construir um “povo pela emancipação”
Que políticas a esquerda atual propõe para enfrentar a despossessão global das sociedades? Por meio de que estratégias e mediações ela concebe reconstruir seu “povo” – ou seja, uma nova aliança formada a partir de sujeitos políticos e sociais heterogêneos e com múltiplas aspirações? Estas questões constituem desafios e concentram diversas dificuldades.
Mas é preciso ter em mente que a energia da cólera captada pelos populista de direita é líquida. Ela pode produzir outros efeitos. Outro “populismo” e outras identidades coletivas são possíveis Abandonar o medo imposto por aqueles que determinam as regras do jogo e ditam os termos da batalha intelectual permite enxergar que a noção de “populismo” é, antes de tudo, expressão de uma nova disponibilidade para a política. O “populismo” não é, em si, nem de esquerda, nem de direita; nem reacionário, nem progressista. Ele torna-se uma coisa ou outra, ao redefinir e reorganizar as fronteiras e as clivagens políticas anteriores, apagadas (élimés) e desviadas(dévoyés) pelo consenso e a prática dos partidos instalados no centro do dispositivo de poder.
Para citar a frase famosa do geógrafo anarquista Elisée Reclus (1830-1905) – “o homem é a natureza que toma consciência de si mesma” –, poderíamos afirmar que “o populismo é a política (re)tomando consciência de si mesma”. O “populismo” traduz um estado de tensão na organização da sociedade. É expressão dos “murmúrios” das populações subalternas. Revela uma situação de difusão (diffusion”) em toda a extensão da sociedade, de descontentamento diante do bloqueio dos canais tradicionais por onde transitavam normalmente 
as demandas e exigências lançadas às instituições (partidos, imprensa, sindicatos, empresas etc). O “populismo” não é um projeto político em si e não pode sê-lo. É um processo de mobilização por meio do qual se reconstroem, na ordem política, uma cidadania de intervenção refratária ao mundo como ele é e uma estratégia de conquista do poder.
É por esta razão que cabe à “esquerda” a responsabilidade de não renunciar à construção de um povo pela emancipação, e de fecundar com suas melhores tradições o “populismo” que está em formação.
Nesse processo, a defesa e promoção da soberania popular será o núcleo de uma batalha singular. Tal ideia de soberania foi literalmente desvertebrada devido ao fato de que a maior parte das questões econômicas e monetárias que determinam a vida concreta e quotidiana dos indivíduos é tratada fora do campo da deliberação coletiva.
No quadro da economia globalizada, defender a soberania popular pode servir a dois projetos antagônicos. A serviço das forças da ordem estabelecida – e de seu cão de guarda de extrema direita – esta defesa constitui uma técnica de desumanização [4] da sociedade, para favorecer a eclosão de um projeto autoritário que estimulará múltiplas competições no interior dos povos. Significará dividi-los e discipliná-los, num cenário de luta global contra as outras “unidades-países” do sistema.
Mas esta mesma ideia de soberania popular pode tornar-se chave para a humanização da sociedade, da economia e do mundo. Para isso, é preciso um projeto e um discurso voltados à construção política de um país melhor– e não à mera administração daquele em que vivemos sob as lógicas atuais. Para isso, é preciso retomar os princípios de justiça social e de inclusão dos setores hoje subalternos, por meio de políticas que promovam a redistribuição efetiva de riquezas.
Relocalizar a economia na esfera da soberania política [5], a serviço da justiça e da distribuição de riquezas é o mapa do caminho para um “populismo” de esquerda. A perspectiva de um populismo de esquerda induz a construção de um discurso capaz de unir vários setores em torno dos paradigmas do comum, da justiça e da redistribuição como motores de prosperidade coletiva e individual. A estes paradigmas deve se remeter uma estratégia de ações pacientes, capaz de articular a esquerda politica, social e intelectual em torno das demandas múltiplas e específicas que partem da sociedade.
Trata-se da agir a favor do desenvolvimento de solidariedades concretas com as populações e de pensar, a partir daí, as mediações (daí o papel da liderança) e os instrumentos que permitam aumentar os níveis de organização popular, tendo em vista a (re)construção progressiva do povo da emancipação
O povo é uma aliança. Cabe a nós construí-la.


NOTES

[1] Ce texte s’appuie sur les développements de l’article intitulé « Un autre « populisme » est possible » dont il reprend plusieurs passages, Mémoire des luttes, juin 2015.
[2] Selon la formule d’Ignacio Ramonet. Lire Les 7 propositions de Donald Trump que les grands médias nous cachent. Mémoire des luttes, octobre 2016.
[3] Selon la formule de Chantal Mouffe, professeure de théorie politique au Centre for the Study of Democracy de l’Université de Westminster à Londres. Lire notamment Le moment populiste sur le site de Mémoire des luttes et voir la vidéo du dialogue organisé entre Jean-Luc Mélenchon et Chantal Mouffe le 21 octobre 2016 à Paris intitulé « L’heure du peuple ».
[4] Nous empruntons ce terme au juriste Alain Supiot. Professeur au Collège de France, titulaire de la chaire « Etat social et mondialisation. Analyse juridique des solidarités », il est l’auteur, entre autres, de L’esprit de Philadelphie, la justice sociale face au marché total, Seuil, 2010. Cet ouvrage expose pourquoi la justice et la solidarité sociales fondent la prospérité de la société.

[5] Sur cette question de la souveraineté politique et de la démocratie économique, lire Serge Halimi, « Comment échapper à la confusion politique ? », Le Monde diplomatique, mai 2015.
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MAIS FIDEL

Agora, Rodrigo Martins, no Viomundo


Rodrigo Vianna: Um sorriso para o líder da independência da América Latina

26 de novembro de 2016 às 14h52

  
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Foto: Ismael Francisco/ CubaDebate, via Fotos Públicas
Um sorriso para Fidel Castro, líder da independência na América Latina
por Rodrigo Vianna, em seu blog na Fórum, 26/11/2016 
A hora de Fidel Castro chegou. A hora de entrar para a História.
Hum… Essas duas frases fariam sentido se fosse ele um líder político comum. Mas não! Fidel Castro não precisou sair da vida pra entrar na História. Ele já a havia escrito: com os fuzis e a caneta. Com balas e palavras.
Ninguém teve tanta influência na América Latina do pós-Segunda Guerra. Tudo o que se fez, pela esquerda ou pela direita em nosso continente, ao longo de quase 60 anos, foi para apoiar ou derrotar o exemplo de Fidel.
As ditaduras militares, a propaganda anticomunista: eram ferramentas para deixar claro que outras cubas não seriam toleradas por aqui.
As guerrilhas de esquerda, a resistência de trabalhadores e estudantes: eram as ferramentas para deixar claro que (pelas armas ou pelo voto) uma parte deste continente seguia a linha de Fidel.
Qual a linha?
Ninguém pense que a lanterna de Fidel iluminava um caminho que apontava para o socialismo apenas. O legado de Fidel, a meu ver, é outro. É o legado de que podemos ser independentes, de que não nascemos para ser colônias agrícolas dos Estados Unidos.
Foi o brasileiro Moniz Bandeira (um gigante da História e das Ciências Humanas) quem melhor compreendeu a Revolução Cubana, comandada por Fidel e Che Guevara. Escrevi sobre isso (aqui o link – De Martí a Fidel: a Revolução Cubana e a América Latina), há seis anos:
o livro de Moniz Bandeira narra o percurso das lutas nacionalistas na América Latina. E mostra como a Revolução Cubana foi o desdobramento (um deles apenas, ao lado de tantos outros movimentos ocorridos na Guatemala, Peru, Bolívia, Argentina, Brasil…) dessa luta de dois séculos contra o Imperialismo.
Esse é o grande legado de Fidel.
Che Guevara e Raul Castro talvez fossem socialistas já em 1959, quando derrubaram Batista e entraram aclamados em Havana.
Fidel, não. Era um nacionalista de esquerda, era antes de tudo um herdeiro da luta nacionalista de Martí. Caminhou para o marxismo para sobreviver. E também porque intuiu que, sem radicalizar as conquistas alcançadas, ficaria pelo caminho.
Passados quase 60 anos da Revolução que significou a verdadeira independência cubana, é impossível ser de esquerda na América Latina sem ser nacionalista.
Não estou entre os que fazem a defesa unilateral do governo cubano. Mas é preciso compreender a história de Cuba, plantada a menos de cem milhas do Império, para entender a façanha da Revolução de 1959.
Fidel não foi santo. Não deve ser tratado como um semi-deus. Foi apenas um (grandioso) líder que soube ler a realidade e lutar para modificá-la. Sem concessões. Esse o legado do gigante morto aos 90 anos.
Independência e nacionalismo. Um Brasil e uma América Latina mais justos passam pela defesa desses valores – que não saíram de moda. E nem vão sair. Gostem ou não jornalistas e intelectuais entregues a devaneios colonizados.
No início do século XXI, Fidel já se afastava da liderança do processo cubano quando começaram a surgir governos nacionalistas e de esquerda na América Latina: Chávez, Kirchner (Néstor/Cristina), Tabaré/Mujica, Lula, Evo, Correa, Lugo. Todos chegaram ao poder pelo voto. As armas de Fidel pareciam já não ser necessárias.
No entanto, todos esses governos participaram da mesma construção iniciada por Fidel: a de uma América Latina independente.
Não à toa, organizou-se nesse período a CELAC (comunidade de Estados de todo continente americano, excetuando-se EUA e Canadá). Foi um grito de independência.
Ao lado de Fidel e Raul nessa construção estavam personagens como Lula (que jamais foi nem de longe socialista) e Mujica (que já foi guerrilheiro tupamaro no Uruguay, e virou um pacifista sem abrir mão dos mesmos princípios).
Nos últimos anos, a onda conservadora voltou a varrer a América do Sul. Macri na Argentina e o inacreditável Michel Temer no Brasil são símbolos de um continente que quer voltar a ser colônia.
A entrega do Pré-Sal aos EUA, pelo governo golpista no Brasil, mostra que a questão nacional segue a estar no centro do debate político em nossa região. Quem não entendeu isso não entendeu quase nada.
Os governos de centro-esquerda dos últimos anos mostraram seus limites ao não aprofundar as mudanças sociais. Foram incapazes de resistir aos novos ventos da economia mundial quando a onda das commoditties se alterou. Foram governos que mudaram a forma de distribuir riqueza, mas não mexeram quase nada na forma de produzi-los. Chávez queria aprofundar esse debate, mas sofreu uma derrota (a única, num plebiscito) quando tentou aprovar Constituição socialista na Venezuela.
O legado de Fidel de um lado mostra que não é possível ser de esquerda na América Latina sem ser nacionalista. Mas de outro indica que não adianta ser nacionalista sem enfrentar as grandes disputas e sem mudar os regimes de propriedade.
Não se pode chorar de tristeza quando morre um homem de 90 anos. Viveu muito, viveu bem. Não se pode chorar. É preciso sorrir. E sorrio ao lembrar que em 1994 eu era um jovem repórter da TV Cultura quando fui enviado para fazer a transmissão ao vivo de um evento internacional no Memorial da América Latina em São Paulo.
Havia líderes de vários países, entre eles Fidel.
Lá pelas tantas, eu estava ao vivo em frente ao prédio, quando uma pequena comitiva começa a caminhar até o estacionamento. Um deles era mais alto e cheguei a duvidar: não pode ser o Fidel dando sopa assim… Saí gritando: “comandante, comandante”. A segurança correu, furiosa, contra mim. Mas Fidel sorriu, e caminhou em minha direção.
Fidel castro entrou ao vivo na TV Cultura naquele começo de tarde, para alegria do jovem repórter. Não sei onde foram parar aquelas imagens. Nem lembro o que disse Fidel. Mas o sorriso dele ficou gravado na memória.
Três anos depois, fui a Cuba de férias. E ao descer no aeroporto vi o gigantesco cartaz direcionado aos visitantes: “senores imperialistas, no tenemos absolutamente ningun miedo”.
senores_imperialistas
Aí fui eu que sorri. Como era possível ser altivo a esse ponto? Eu vinha de um Brasil que, sob FHC em 1997, tirava os sapatos para os Estados Unidos. E os cubanos, em crise gravíssima depois da queda da União Soviética, seguiam de pé.
Fidel está morto nesse 2016 tenebroso de golpes e regressões. Como disse minha irmã Heloisa: nem Fidel aguentou 2016. Foi demais pra ele.
Fidel está morto?
Algo de Fidel sobreviverá na luta contra as desigualdades, contra a injustiça e contra o projeto neocolonial de temers, macris e seus subalternos na mídia.
Vamos sorrir, com a ponta dos lábios. De forma discreta. Fidel se foi. Mas Fidel não morre.
“No tenemos absolutamente ningun miedo!”
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