quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

ESPANHÓIS NO BRASIL

Minha avó nasceu em Granada, terra de Federico Garcia Lorca. Veio pequena para o Brasil, mas manteve algum sotaque, se não falha a memória de seu neto. Foram operários espanhóis e italianos que fundaram o glorioso Esporte Clube Corinthians Paulista. 

Torci pelo fim do franquismo. Um poema de Manuel Bandeira, No vosso e em meu coração (A Espanha de Franco, não!) escrito durante a Guerra Civil espanhola, impressionou-me, inclusive por vir de alguém que nada tinha de esquerdista, ao alinhar coisas e figuras humanas daquele país valiosas para toda a humanidade, na cultura e na ação: 


Espanha no coração
No coração de Neruda,
No vosso e em meu coração.
Espanha da liberdade,
Não a Espanha da opressão.
Espanha republicana:
A Espanha de Franco, não!
Velha Espanha de Pelaio,
Do Cid, do Grã-Capitão!
Espanha de honra e verdade,
Não a Espanha da traição!
Espanha de Dom Rodrigo,
Não a do Conde Julião!
Espanha republicana:
A Espanha de Franco, não!

Espanha dos grandes místicos,
Dos santos poetas, de João
Da Cruz, de Teresa de Ávila
E de Frei Luís de Leão!
Espanha da livre crença,
Jamais a da Inquisição!
Espanha de Lope e Góngora,
De Góia e Cervantes, não
A de Felipe II
Nem Fernando, o balandrão!
Espanha que se batia
Contra o corso Napoleão!

Espanha da liberdade:
A Espanha de Franco, não!
Espanha republicana,
Noiva da Revolução!
Espanha atual de Picasso,
De Casals, de Lorca, irmão
assassinado em Granada!
Espanha no coração
De Pablo Neruda, Espanha
No vosso e em meu coração

O fim do franquismo veio torto. Depois de uma lenta agonia, prolongada cruelmente pelos seus auxiliares apavorados, Franco morreu depois de assegurar que seu sucessor na chefia do estado fosse não o herdeiro legítimo do trono espanhol, mas o seu filho, que ele doutrinara desde pequeno. Este filho surpreendeu ao iniciar um processo de abertura política que desembocaria em uma democracia parlamentar, e mais ao desistir de um golpe militar franquista que pretendeu abortar esse processo. Não surpreendeu ao usar de arrogância para tentar cercear a palavra de um presidente sul americano eleito, Hugo Chávez, no país deste.

Depois de um início sob o partido socialista, com alguns avanços sociais e muita conciliação, o estado espanhol foi se afastando de seu povo. Hoje a Espanha, sob um governo de direita, é um fiel praticante da austeridade prescrita sob o pretexto de combater a crise da grande recessão, que assegura taxas de desemprego altíssimas para seu povo. 

Antes dessa crise, com a ajuda de dinheiro da União Europeia fornecido para facilitar a entrada da Espanha no grupo, empresas espanholas lançaram-se, sob a égide do neoliberalismo triunfante a comprar empresas fora do país, principalmente as privatizadas por governos, inclusive o do Brasil. Aqui, as maiores aquisições foram o Banespa e os ativos de telefonia fixa e móvel, respectivamente pelo Banco Santander e pela Telefónica. Alegavam - eles e os privatizadores nativos - estar trazendo tecnologia e capacidade de investir. Compraram baratinho, prestam serviços ruins e são lucrativos para seus acionistas para os quais remetem os dividendos de sua "atuação" aqui.

Na telefonia, foi desativado um centro de tecnologia que estava instalado na região de Campinas. Os serviços de telefonia fixa da Telefoníca, de tão ruins, tiveram que ser rebatizados com o nome da de telefonia móvel, a Vivo, que ela adquiriu da Portugal Telecom, outro portento tecnológico e financeiro. Quanto ao Santander, trata de, junto com os outros bancos privados e mesmo os públicos quando estes não recebem ordens diretas do governo, tratam de assegurar que os juros sejam altos, que as tarifas sejam extorsivas, e que os clientes com alguma reserva de dinheiro sejam persuadidos a fazer maus negócios.

Hoje, temos novamente imigrantes espanhóis no Brasil. Em geral são jovens profissionais que fogem do desemprego na Espanha. Eles são uma coisa positiva para nós. Os brasileiros em geral sempre acolheram bem os espanhóis, e a discriminação de que foram vítimas brasileiros que para lá tentaram imigrar quando aqui esteve ruim e lá bom, não deve mudar isso. Sejam todos bem vindos desde que sem arrogância, sem posturas neocolonialistas e sem cara de pau das corporações e do governo espanhóis. 

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