quinta-feira, 8 de agosto de 2013

BANCOS

Em uma passagem em seu livro de introdução à disciplina da economia, (a Wikipedia diz que é o livro de texto  de economia mais vendido de todos os tempos) Paul Samuelson expôs o mecanismo pelo qual os bancos podem reciclar o dinheiro poupado por correntistas, e multiplicá-lo através de empréstimos a pessoas e empresas, em troca de receitas de juros.

Quando comprei esse livro já me inclinava para uma rejeição do capitalismo, mas como todos os de esquerda interessados no assunto economia, eu queria conhecer o outro lado, o dos que aceitavam e defendiam essa forma de produção. O livro de Samuelson foi uma de minhas melhores escolhas. Abrangente, explicava os mecanismos da economia capitalista sem cair em banalidades ideológicas. Depois vim a saber que ele era keynesiano. 

Assim como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, que estão na ativa e publicam artigos inclusive publicados nos jornalões daqui, e ao contrario destes descem a lenha no poder financeiro desregulado, incluindo os grandes bancos. Criticam o estado estadunidense pela incapacidade de voltar a aplicar uma regulação dos bancos dos tempos de Roosevelt que garantiu mais de trinta anos de prosperidade àquele país, e que foi sendo desmontada a partir do governo de Ronald Reagan, começando em 1980, a captura dos reguladores pelos que deviam ser regulados. Igualzinho ao Brasil com os serviços públicos privatizados. 

No Brasil não houve desregulamentação dos bancos, e talvez por isso temos estado livres das bolhas e fraudes que iniciaram a grande recessão de 2008 até agora. Mas os bancos aqui também não se conformam em ser apenas bancos, no sentido que Samuelson celebrou.

Para começo de conversa, como todas as empresas sob o neoliberalismo, seu objetivo específico passou a ser dominado mais abertamente pelo objetivo básico de fazer dinheiro, muito dinheiro, em curto prazo. Houve uma invasão de bancos estrangeiros: ABN/AMRO,  Santander  HSBC compraram bancos brasileiros, entre eles um dos maiores do Brasil, o Banespa, mas todos seguiram as mesmas linhas de atuação: despediram funcionários, subiram taxas de serviços, e resistiram a leis municipais que procuravam reduzir o tamanho das filas na agências. 

Na função de emprestar dinheiro, pressionaram e pressionam o Banco Central a manter a taxa de juros bem alta, para assegurar rendas financeiras sem contrapartida de valor social, e só baixaram um pouco os juros de empréstimo depois que o governo, em lance de ousadia não muito comum, desafiou o "mercado", obrigando o Banco de Brasil e a Caixa Econômica a baixar os juros para seus clientes.

Cobram taxas de serviços praticamente sem controle, procuram estar fora dos direitos dos consumidores, dividem clientes entre os mais endinheirados e os outros. Designam gerentes de contas e atendentes das caixas que pressionam os clientes do banco a tomar empréstimos quando não precisam, a desviar parte de suas poupanças para negócios que são bons para os bancos mas não para os clientes. Para esses maus negócios conseguidos dos clientes, os funcionários ganham bônus. 

Apesar dos vacilos, entre os quais a recente rodada de aumento da taxa Selic depois de uma fanfarra terrorista sobre uma explosão inflacionária em tempos de crescimento econômico baixo, devemos agradecer ao governo por não ter promovido uma desregulamentada geral nos bancos. Menos mal.



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