Moro sumiu.
Ou melhor: foi sumido.
Como as pesquisas do Datafolha e do
Ibope, tão frequentes na desestabilização do segundo mandato de Dilma, Moro
saiu do ar.
Ou, de novo: foi saído.
Você tira duas conclusões daí:
1) Moro, sem o circo da mídia, não é
nada. A mesma coisa aconteceu com Joaquim Barbosa, hoje reduzido a um tuiteiro
que tenta ganhar a vida com palestras.
2) Para despertar interesse da
imprensa, a Lava Jato tem que mirar em Lula, Dilma e no PT em geral. Delações
como as de Sérgio Machado são tratadas como assunto de segunda ou terceira
classe pelos coroneis da mídia e seus fâmulos.
Moro e a Lava Jato têm apenas um
propósito, para a plutocracia e sua voz, a imprensa: minar o PT. Se possível,
exterminar.
Por circunstâncias que escaparam ao
controle dos golpistas, as delações — sobretudo as de Machado — fugiram dos
suspeitos de sempre, os petistas. Coisas infinitamente menos pueris que
pedalinhos apareceram no caminho, mas foram previsivelmente subestimadas ou
mesmo ignoradas por jornais e revistas.
Está claro que, fora do mundo de
fantasia criado pelos plutocratas, o partido menos corrupto entre os grandes
que estão aí é exatamente o PT.
Os demais, a começar pelo PSDB, puderam
roubar com a voluptuosidade típica dos ladrões que sabem que não sofrerão
castigo.
Mas não foi para demonstrar isso que a
imprensa inflou Moro e a Lava Jato.
A não ser que forneçam novos panelinhos
para os Marinhos e congêneres, Moro e os delegados da PF receberão o mesmo
tratamento dispensado a Joaquim Barbosa: o esquecimento glacial.
Roubação premiada”: a estranha “ética” de fazer do
delator o herói da Justiça
POR FERNANDO BRITO ·
21/06/2016
Reportagem
de Cristiane Lucchesi, Sabrina Valle e Blake Schmidt, da Bloomberg,
publicada ontem pela Exame traz uma indagação que deixaria
qualquer investigação séria interessadíssima.
É que
Sérgio Firmeza Machado, avalista de parte do pagamento da tal multa de R$ 70
milhões imposta ao pai, Sérgio Machado, pelas roubalheiras confessadas na
Petrobras, ganhou, ano passado como remuneração – legal e declarada – do Banco Credit Suisse, onde era diretor, R$ 48,4 milhões (US$ 14 milhões).
É quase o
dobro do mais bem pago executivo do banco em todo o mundo.
Não é a
única informação intrigante: em 2013, o Credit Suisse fez um empréstimo
ao Governo Antonio Anastasia, em Minas, no valor de US$ 1,27 bilhão e um mês
depois vendeu o crédito a investidores com um lucro de US$ 116 milhões.
“Serginho”,
claro, diz que seus negócio no banco nada tinham a ver com as falcatruas do
pai, que, inclusive, seriam o motivo do afastamento entre ambos.
Edificante,
não?
Hoje, na Folha, Bernardo de Mello Franco narra a vida
confortável do “Sérgio Pai” em sua mansão na Praia do Futuro e a de outros
“heróis da Lava Jato”, cujas delações são a base de todo o processo que
Curitiba, com alguns pedaços no STF:
Não passou um único
dia na cadeia e foi autorizado a se recolher ao conforto do lar, onde poderá
matar o tempo entre a piscina, a quadra poliesportiva e a churrasqueira. Ele
ainda terá autorização para sair de casa em ao menos oito datas até 2018,
quando se livrará da tornozeleira eletrônica.
(…)Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras, habita um condomínio exclusivo em Itaipava, na região serrana do Rio. É vizinho de altos executivos e de um ministro do Supremo, que acumulou patrimônio como advogado de renome.
Pedro Barusco, o ex-gerente da estatal que organizava planilhas de propina, aproveita o mar em Angra dos Reis. No ano passado, foi fotografado à vontade numa cadeira de praia, dando baforadas num charuto e tomando cerveja. Ele cumpre pena em regime aberto, que dispensa a companhia da tornozeleira.
(…)Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras, habita um condomínio exclusivo em Itaipava, na região serrana do Rio. É vizinho de altos executivos e de um ministro do Supremo, que acumulou patrimônio como advogado de renome.
Pedro Barusco, o ex-gerente da estatal que organizava planilhas de propina, aproveita o mar em Angra dos Reis. No ano passado, foi fotografado à vontade numa cadeira de praia, dando baforadas num charuto e tomando cerveja. Ele cumpre pena em regime aberto, que dispensa a companhia da tornozeleira.
Estranhos
valores morais da “moralização” em curso no Brasil.
Roubar é
pecado não apenas perdoado, mas premiado, quando seguido da “deduragem” dos
cúmplices, ou de supostos cúmplices.
Verdade
que os denunciados foram, em geral, cúmplices ou mandantes da
roubalheira. Em geral, mas todos são tratados como se fossem, exceto aqueles
que, a critério da Polícia Federal, do MP e do Judiciário, “não vêm ao caso”.
E o
corolário deste triunfo da moralização, que justifica jogar no lixo a
vontade eleitoral do povo brasileiro, será a imolação pública de uma
mulher contra a qual, nem mesmo com dezenas de delações e todos os prêmios
oferecidos, não se arranjou sequer um ato em benefício próprio.
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