A censura bate à porta….
8 de June de 2016
Um golpe não é, ele vai sendo. Tenho batido nesta
tecla há algum tempo porque num certo ponto do processo político,
diferentes grupos se alinharam para derrubar a presidenta eleita Dilma
Rousseff.
E aos poucos foram construindo as condições
políticas para derrubá-la, sem que houvesse motivos legais para isso. Ou seja,
esse golpe foi ganhando formas no processo.
E não foi em 2013 que isso aconteceu, como insistem
alguns. Pode-se até concordar que algumas tecnologias de mobilização foram
criadas lá. Isso é um fato. Mas o golpe começou a ganhar forma no
primeiro semestre de 2014, quando a Lava Jato já estava mostrando boa parte dos
seus dentes e as ruas passaram a pedir o impeachment.
Muito disso tudo não aconteceu apenas pela dadivosa
generosidade do espírito santo e nem tão somente pela capacidade organizativa
dos golpistas. Mas também por muitos erros do governo Dilma.
Dito isto, o golpe hoje já tem
asas e começa a fazer um voo onde nem todos que embarcaram nessa
viagem vão sobreviver.
E para que um golpe consiga se concretizar ele
precisa ter o controle da informação. Ele precisa criar formas de controlar
aqueles que informam.
E este golpe que não é, mas vem sendo, já começa a
dar seus primeiros sinais nesta área.
Após publicarem uma reportagem sobre supersalários
de juízes e promotores do Paraná, jornalistas do Gazeta do
Povo foram processadospor mais de 30 deles em diferentes
cidades do estado.
Em um dos processos, eles já foram condenados a
pagar 20 mil reais. Ou seja, se todos resultarem na mesma quantia, os
supersalários do judiciário vão levar quase 1 milhão de reais do Gazeta do
Povo.
A justificativa do juiz que os condenou na primeira
instância é a de que teriam sido “descuidados” ao publicar a reportagem.
Não que eles publicaram informação falsa.
Ao mesmo tempo, também do Paraná vem
o processo contra o jornalista e blogueiro Marcelo Auler.
Ele foi proibido pela Justiça (vejam bem, pela
Justiça) de fazer matérias que citem os delegados Igor de Paula, Erika Mialik
Marena e Mauricio Moscardi Grillo, da Superintendência Regional do Departamento
de Polícia Federal no Paraná.
Ou seja, Auler está sofrendo censura prévia. E
quando tiver alguma denúncia contra os delegados terá de publicar receitas de
bolo, já que não pode citá-los.
Mas a censura nunca foi e não se dará dessa vez tão
somente por processos judiciais.
Quando um presidente da República, mesmo que
interino, como Michel Temer, ordena, é assim que o ANTAgonista disse que ele
fez, a Secom do governo federal e as suas agências a cancelarem contratos de
publicidades com sites e blogues de opinião, o que ele está fazendo é censura.
Afinal, opinião é o exercício da própria liberdade
de imprensa. E todos os veículos de comunicação exercem esse sagrado
direto de opinar.
E a censura fica ainda mais clara quando se percebe
que a ordem de Temer não se aplica à Revista Veja, mas sim à Revista Fórum. E
nem ao jornal O Estado de S. Paulo, mas sim ao GGN.
Ou seja, não terá publicidade do governo quem não
tiver a opinião do presidente interino.
Essa é a modalidade mais coronelista de censura e
já funciona em praticamente todas as cidades e estados brasileiros. Ou o
veículo se curva ao governo ou não recebe o mesadão do governante.
Não se deve, por este motivo, tratar essa prática
de forma menos corrosiva e agressiva à liberdade de imprensa.
Ao ordenar que se suprima o direito de um veículo
que reúne condições de buscar publicidade governamental simplesmente porque ele
tem opinião, Temer dá a letra do cale-se para boa parte da mídia nativa.
Com as raríssimas exceções de sempre, os veículos
médios e pequenos que não lhe disserem amém não serão programados pelas
agências do governo.
Essa censura escandalosa está sendo comemorada por
parte mídia tradicional. Tolinhos. Os veículos independentes
vão continuar tocando a vida mesmo sendo judicializados, condenados e
sufocados economicamente. Eles não vão se curvar a Temer. E nem
fechar as portas. Porque se um sair do ar, serão abertos dois ou três com as
mesmas mensagens e objetivos no dia seguinte.
Mas essa regra não vale para a mídia tradicional,
com exceção talvez da Globo, da Folha-UOL e de mais um ou dois grandes grupos.
No caso deles, o fim será triste. De joelhos, eles vão dizer muito mais do que
amém.
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