Aragão, procurador e ex-ministro: falar mal dos
abusos da Lava Jato é sacrilégio?
POR FERNANDO BRITO ·
16/06/2016
Marcelo Auler gravou e transcreveu trechos da
palestra feita por Eugênio Aragão, procurador da república e
ministro da Justiça por breves dias antes da interrupção do mandato de Dilma
Rousseff, a alunos e professores da Faculdade Nacional de Direito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, esta semana.
E as
palavras são inteiras, corajosas, simples, como para nos mostrar que a
instituição a que ele pertence, sem as deformações que a ela impuseram, é de
enorme valor para a democracia.
Um trecho
basta para que se avalie como isso é verdadeiro:
Aí vem aquela coisa
de publicarem escutas que não têm sequer pertinência com o processo: Dona
Marisa (mulher de Lula) falando palavrões com seu filho…Pelo amor de
Deus, o que isso tem a ver? Isso é pura estratégia de desconstrução de
reputação. Não tem nada… As pessoas falam, dentro das suas quatro paredes
o que quiserem. Se ela falar palavrão, é um direito dela, falar palavrão…
Se ela está debochando de coxinha, ela tem o direito de debochar de coxinha.
Qual é o problema, é a liberdade dela. Não, isso é colocado a público, quando a
lei é muito clara: ela diz que as gravações que não dizem respeito ao processo
devem ser destruídas, não divulgadas….
Mas está ali:
divulgam aquilo que devia ser destruído. Isso é criminoso. Isso é para
destruir reputações. Cadê o procurador-geral da República? Cadê o Supremo
Tribunal Federal? Cadê os órgãos jurisdicionais se opondo a este abuso? Não,
todo mundo fica paradinho. Do Moro não se pode falar mal. Se você falar mal da
Lava Jato será um sacrilégio. E aí, pronto, você está sujeito a levar uma
chapuletada.
O que diz
este procurador da República deveria ser a voz de toda a Procuradoria. os
fiscais da lei jamais deveriam se esquecer que direitos também são leis e, como
tal, merecem a sua guarda.
Lei a toda a
reportagem e veja alguns trechos da palestra de Aragão em vídeo no Blog do Marcelo Auler.
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