Domingo próximo acontecerá no país uma piada histórica: um
conjunto de deputados sabidamente corrupto pretende promover o impeachment de
uma presidenta da República que não cometeu qualquer crime. O teatro está
patrocinado pelo grande capital e seus associados estadunidenses, em particular
as quatro grandes do petróleo. A embaixadora norte-americana do golpe
paraguaio, deslocada para o Brasil, já executou as articulações necessárias.
Das que ficamos sabendo estão a retirada de Paulo Maluf da lista da Interpol,
os dados confidenciais enviados pelas agências norte americanas ao pupilo
Sergio Moro, o treinamento dos rapazes de Curitiba, além das medidas
internacionais visando quebrar a economia nacional. O objetivo efetivo dessas
ações é desmontar os BRICS, romper a aliança progressista na América Latina,
liberar o pré-sal, retomar o comércio, os investimentos associados e derrubar o
"custo Brasil". O povo trabalhador no Brasil está sob ataque.
Mas a verdadeira piada
estará na suprema vergonha que todos teremos que passar por ver os magistrados
mais honrados do Supremo Tribunal Federal de quatro sob suas togas pretas,
escondidos em seus gabinetes porque – afinal – têm uma postura republicana e não
interferem nos demais poderes. Fechados entre as quatro paredes de suas salas
acompanharão pelas telas de suas TVs os comentários sagazes de jornalistas bem
pagos para atuarem como animadores de auditório. E saberão como um deputado
acusado de corrupção e lavagem de dinheiro irá presidir o espetáculo midiático
do julgamento do Impeachment do alto de sua esperteza política e ética, em
íntima articulação com o Vice Presidente da República, o notável deputado
conhecido como grande constitucionalista entre políticos e como perspicaz
articulador político entre juristas.
A postura republicana
dos nossos honrados magistrados contrasta com as ações ousadas da troupe
golpista: há, entre seus colegas, aqueles que não têm qualquer prurido em atuar
como lideranças partidárias e assumem ações de franco interesse político. Assim
como uma enorme gama de colegas de instâncias inferiores da Justiça seguem seu
exemplo, buscando sempre intervir no poder Executivo que está sob ataque, para
ver quem conquista maior notoriedade na mídia.
A pergunta que não
quer calar busca saber que motivos conduzem V. Exas a não entenderem que uma
postura republicana, neste momento agudo da história nacional, não demanda a
prisão de um ou outro senador ou deputado, mas a desconstituição da farsa
comandada por Eduardo Cunha e seus aliados históricos. O Presidente da Câmara
dos Deputados é um compulsivo articulador de ações protelatórias que visam
impedir a discussão de uma possível cassação de seu mandato, acusado de
corrupção e lavagem de dinheiro pelo Procurador Geral da República, pedido que
está sob a análise de V. Exas. Não faltam relatos de ameaças a desafetos. Como
pode um político nessa condição presidir um dos poderes nacionais?
Além disso, permitir
que a sessão da Câmara dos Deputados aconteça em um domingo não trata
simplesmente da liberdade de ação da instituição, mas à descarada articulação
entre essa troupe e as redes de TV que pretendem conduzir o espetáculo
midiático sob a batuta dos seus animadores de auditório. V. Exas estão avaliando
se a nomeação do ex-presidente Lula foi movida por um interesse em afastá-lo
das mãos do juiz Sergio Moro: essa avaliação de alcance subjetivo não deveria
também conduzi-los a avaliar a intenção do Sr. Eduardo Cunha e da Rede Globo de
Comunicação? Onde está a postura republicana do Supremo Tribunal Federal?
Quantos pesos e quantas medidas serão usadas para conduzir o momento grave que
o país vive?
O terrível futuro que
se avizinha é a consumação de uma suprema piada, em que corruptos cassarão uma
presidente honesta enquanto magistrados honrados ficarão calados diante de seus
pares que – em diferentes instâncias – participam das articulações golpistas. E
anti-nacionais. As dimensões políticas das ações que estamos prestes a assistir
transcendem a realidade nacional e têm alcance geo-político transnacional. Ou
alguém ainda acredita que estamos vendo um grande combate à corrupção no
Brasil?
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