Minha intenção neste texto é mostrar algumas chaves do Poder
Sionista Mundial (PSM), enquanto personificação predominante do poder do
capital nas últimas fases do modo de produção capitalista, até à
atualidade.
A dimensão do seu poder é de tal âmbito, facetas e alcance que é
dificilmente concebível, estando muito para além do que a maioria das
pessoas está disposta a assumir ou a dar crédito. Grande parte deste
poder advém do próprio processo de centralização do capital (cada vez
mais em menos mãos, por absorção de capital já acumulado – através de
fusões ou aquisições) e de concentração do capital (de dimensão e
tamanho cada vez maiores – à medida que o capital se centraliza, também
se concentra), sob a forma de enormes conglomerados, o que faz com que o
capital se concentre cada vez mais), sob a forma de grandes
conglomerados empresariais transnacionais ou megacorporações. Na
realidade, instituições globais.
É por isso que penso que seria bom começar por analisar a
relação do PSM com o mercado capitalista. Depois, pouco a pouco,
entraremos nas esferas social, política e estratégica do poder, para ver
que estão todas ligadas.
Mas antes, uma introdução necessária para esclarecer mal-entendidos.
INTRODUÇÃO. Esclarecimentos preliminares
O sionismo é uma forma de supremacismo e de racismo, tal como
reconhecido pela resolução 3379 da Assembleia Geral das Nações Unidas,
de 10 de novembro de 1975, que equiparava o sionismo ao racismo em geral
e ao apartheid sul-africano em particular, apelando à sua eliminação
(de extrema importância, embora em 1991, com o desaparecimento da URSS e
sem contrapeso aos EUA na ONU, essa resolução tenha sido anulada pela
resolução 4686). O sionismo não só apoiou o regime do apartheid na
África do Sul, como desde o início, como veremos neste texto, esteve
ligado ao nazismo, ao imperialismo e aos regimes ditatoriais e
repressivos dos movimentos populares dos séculos XX e XXI, especialmente
ligados aos EUA e às suas políticas “anti-subversivas”. Neste sentido, é
proverbial como, num curto espaço de tempo, a extrema-direita mundial
transformou o seu “ódio” anti-judaico num apoio total ao regime
sionista.
Por outro lado, a maioria absoluta dos que se dizem judeus no
mundo não são semitas, mas de origem asquenazi, originários das terras
setentrionais do Cáucaso, e que gradualmente se espalharam para o
Ocidente, Ucrânia e Europa Central e Oriental. Apenas os poucos judeus
que permaneceram na Ásia Ocidental ao longo da história são semitas
(como os palestinos e muitos libaneses, sírios e jordanos). Os Falasha,
da África Oriental, também o são. Outra importante minoria judaica não
semita são os Sefarditas (ver Quadro 1).
Muitos dos que se consideram como judeus por etnia não são
judeus por religião e muitos outros não são sionistas. Em contrapartida,
grande parte do sionismo global é encarnado por cristãos protestantes,
muitos deles evangélicos, como se verá no texto.
Portanto, ser anti-sionista não tem nada a ver com ser
anti-judeu, e muito menos com ser “anti-semita”, mas sim com opor-se ao
domínio de uma potência mundial à custa dos povos, e muito
especificamente, no caso da entidade sionista que se chama “Israel”, do
povo palestino. Ser anti-sionista significa confrontar-se com esta
ideologia supremacista, bem como com os crimes, o apartheid, a
colonização e a exclusão que pratica. E também a sua agressão permanente
em todo o planeta contra qualquer iniciativa ou movimento de libertação
e emancipação coletiva.
PRIMEIRA PARTE
CENTRALIZAÇÃO EXTREMA DO CAPITAL E PODER MUNDIAL
Nesta primeira parte vou recorrer a alguns dados e mesmo a
passagens inteiras que aparecem em diferentes links, que me dei ao
trabalho de sintetizar para efeitos de ilustração e facilitação geral da
compreensão do fenómeno [1].
Embora aparentemente, e é assim que aparece ao público, existam
milhares e milhares de marcas a competir no mercado, na prática o
processo de centralização do capital conduziu a que algumas gigantescas
empresas-mãe sejam proprietárias de grandes empresas (marcas), que por
sua vez são proprietárias de médias empresas, que por sua vez são
proprietárias de muitas pequenas empresas, como num perverso jogo de
bonecas russas.
Todas as marcas de alimentos embalados, por exemplo, são
propriedade de uma dúzia de empresas-mãe: Pepsi Co, Coca-Cola, Nestlé,
General Mills, Kellogg's, Unilever, Mars, Kraft Heinz, Mondelez, Danone e
Associated British Foods.
Estas empresas-mãe monopolizam a indústria dos alimentos
embalados, uma vez que praticamente todas as marcas de alimentos
disponíveis são propriedade de uma delas (ver figura 1).
Estas 12 empresas estão cotadas na bolsa e são geridas por
conselhos de administração em que os maiores accionistas têm poder de
decisão. Quando olhamos para quem são estes grandes accionistas,
encontramos outro grande oligopólio para além do oligopólio anterior
(neste caso, um duopólio), uma vez que há duas empresas que estão
consistentemente entre os maiores accionistas institucionais destas
empresas-mãe: Vanguard Group Inc. e Blackrock Inc.
Por vezes, estas mega-empresas partilham o controlo da empresa
com uma terceira. Por exemplo, embora existam mais de 3.000 accionistas
na Pepsi Co, as participações da Vanguard e da Blackrock representam
quase um terço de todas as acções. Dos 10 principais accionistas da
Pepsi Co., os três primeiros, Vanguard, Blackrock e State Street
Corporation, possuem mais acções do que os restantes sete.
Vejamos agora a Coca-Cola Co, o principal concorrente da Pepsi.
Tal como no caso da Pepsi, a maioria das acções da empresa é detida por
investidores institucionais, que são 3.155.
Três dos quatro principais accionistas institucionais da
Coca-Cola são idênticos aos da Pepsi: Vanguard, Blackrock e State
Street Corporation. O acionista número um da Coca-Cola é a Berkshire
Hathaway Inc (propriedade de Warren Buffet). Estas quatro
mega-corporações – Vanguard, Blackrock, State Street e Berkshire
Hathaway – são as quatro maiores empresas de investimento do planeta.
Portanto, a Pepsi e a Coca-Cola são tudo menos concorrentes. E o
mesmo acontece com as outras empresas de alimentos embalados. Todas
elas são propriedade do mesmo pequeno grupo de accionistas corporativos.
O oligopólio das mega-empresas de investimento acima referidas
domina todos os outros sectores. Por exemplo, entre as 10 maiores
empresas de tecnologia, encontramos: Apple, Samsung, Alphabet
(empresa-mãe do Google), Microsoft, Huawei, Dell, IBM e Sony.
Com elas temos a mesma configuração de boneca russa. Por
exemplo, o Facebook é dono do Whatsapp e do Instagram. A Alphabet detém a
Google e todas as empresas relacionadas com a Google, incluindo o
YouTube e o Gmail. É também o maior criador do Android, o principal
concorrente da Apple (ver figura 2).
A Microsoft detém o Windows e a Xbox. No total, quatro
empresas-mãe produzem o software utilizado por praticamente todos os
computadores, tablets e os chamados “smartphones” do mundo.
Mas quem é o dono destas macro-empresas?
Mais de 80% das acções do Facebook são detidas por investidores
empresariais e (no final de 2021) os principais detentores
institucionais são os mesmos da indústria alimentar: Vanguard e
Blackrock. A State Street Corporation é o quinto maior acionista.
Os quatro principais investidores institucionais da Apple são a
Vanguard, a Blackrock, a Berkshire Hathaway e a State Street
Corporation.
Os três principais accionistas institucionais da Microsoft são a Vanguard, a Blackrock e a State Street Corporation.
Se continuarmos a examinar a lista das marcas tecnológicas –
empresas que fabricam computadores, smartphones, eletrónica e
electrodomésticos – encontramos repetidamente a Vanguard, a Blackrock, a
Berkshire Hathaway e a State Street Corporation entre os maiores
accionistas.
Quanto à “pluralidade” dos media em geral, a centralização do capital não deixa dúvidas: é quase inexistente.
Seis grandes conglomerados transnacionais – ainda que todos
sediados nos Estados Unidos – controlam 70% do “negócio global dos
media”. São eles a Time Warner, a Disney, a NewsCorp (recentemente
fundida com a 21st Century Fox), a NBC Universal, a Viacom e a CBS (as
duas últimas poderão voltar a fundir-se em breve).
“Um relatório dos Repórteres sem Fronteiras denunciava que,
enquanto nos anos 80 havia cinquenta grandes empresas nos Estados Unidos
que controlavam 90% do sector, hoje esse número está reduzido a seis” .
Mapa (opcions.org)
O que é ainda mais inquietante é que, por trás destes
conglomerados, encontramos também os antigos mega-grupos de investimento
como principais accionistas.
As empresas deste seleto clube, que inclui bancos e fundos de
investimento, são também os maiores acionistas das indústrias extrativas
e de fornecimento de matérias-primas em geral.
O mesmo se passa com a agroindústria de que depende a
“indústria alimentar” mundial. Estes investidores institucionais detêm a
Bayer, o maior produtor mundial de sementes; detêm também os maiores
fabricantes de têxteis e muitas das maiores empresas de vestuário do
mundo.
São donos das refinarias de petróleo, dos maiores produtores de
painéis solares (pelo que controlam tanto a “economia fóssil” como a
que nos querem fazer crer que será “sustentável”) e das indústrias
automóvel, aeronáutica e de armamento.
São donos de todas as grandes empresas de tabaco e também de todas as grandes empresas farmacêuticas e institutos científicos.
São também donos dos grandes armazéns e dos mercados online, como o eBay, a Amazon e o AliExpress.
"A companhia aérea em que voamos é, na maioria dos casos, um
Boeing ou um Airbus. E por detrás delas vemos novamente os mesmos
mega-accionistas empresariais. Se quisermos procurar um hotel ou um
apartamento através do Bookings.com ou do AirBnB.com, é a mesma coisa:
são em grande parte propriedade dessas megacorporações.
Se formos jantar fora e escrevermos uma crítica no Trip
Advisor, é a mesma coisa. Os mesmos investidores estão no centro de
todos os aspectos das nossas viagens. E o seu poder vai muito para além
disso, porque até o querozene que alimenta o avião provém de uma das
suas muitas empresas petrolíferas e refinarias. Tal como o aço com que o
avião é fabricado provém de uma das suas muitas empresas mineiras”.
Quem é o dono do mundo? Blackrock e Vanguard (climaterra.org)
Outro exemplo pode ser encontrado no sector bancário (quadro 2).
Curiosamente, estes são dois dos bancos “espanhóis” que mais
investem em armas e em projectos ambientais e extractivos altamente
prejudiciais para numerosas populações em todo o mundo, violando todas
as normas de responsabilidade social e “sustentabilidade”. Estão também
entre os que têm laços mais estreitos com a entidade sionista sediada na
Palestina.
E quem são os maiores accionistas da Reserva Federal dos EUA?
- Em 2018, o Citibank era a instituição número 1 da lista,
com 87,9 milhões de acções do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque,
ou seja, 42,8% do total.
- O acionista número 2 era o JP Morgan Chase Bank, com 60,6 milhões de acções, o equivalente a 29,5% do total (tabela 3).
Em suma, os dois bancos controlavam em conjunto quase três
quartos do capital social do maior banco regional do Sistema da Reserva
Federal. Atrás deles já se regista uma queda acentuada das
participações. O Morgan Stanley Bank possui 4,8 milhões de acções e a
sua filial Morgan Stanley Private Bank 2,8 milhões de acções, o que
representa uma participação conjunta de 3,7% no New York Fed.
Podemos resumir dizendo que três mega-corporações – “Fundos de
Investimento” – detêm ações maioritárias em 60% de todas as empresas do
mundo: BLACKROCK, VANGUARD e STREET CAPITAL.
Mas quem é que detém estas entidades monstruosas?
Estas sociedades de investimento são, evidentemente,
propriedade do seu próprio grupo de acionistas, que, o que é importante,
são também proprietários uns dos outros. Todos eles são acionistas das
empresas uns dos outros. Juntos, formam uma cúspide de propriedade muito
pequena.
Os investidores institucionais mais pequenos, como o Citibank, o
ING e a T. Rowe Price, são propriedade de empresas de investimento
maiores, como a Northern Trust, o Capital Group, a 3G Capital e a KKR.
Estes investidores, por sua vez, são propriedade de empresas de
investimento ainda maiores, como a Goldman Sachs e a Wellington Market,
que por sua vez são propriedade de empresas ainda maiores, como a
Berkshire Hathaway e a State Street.
No topo da pirâmide – a maior boneca russa de todas – estão a Vanguard e a Blackrock.
O poder destas duas empresas é difícil de imaginar. Não só são
os maiores investidores institucionais em todas as grandes empresas do
planeta, como também detêm os outros investidores institucionais nessas
empresas, o que lhes confere um duopólio total.
De acordo com a Bloomberg, até 2028, a Vanguard e a BlackRock
deverão gerir coletivamente 20 milhões de milhões de dólares em
investimentos. Nesse processo, serão donos de grande parte do planeta
Terra (figura 3).
Sabendo isto, será que podemos realmente manter a mesma noção
ingénua da tão proclamada “democracia”, “pluralismo”, “transparência”,
“soberania do consumidor” ou “livre escolha” dentro do modo de produção
capitalista; não será altura de perguntar realmente o que está por
detrás de toda a série de slogans em que se baseia a sua superestrutura
ideológica? Voltarei a estas questões no final do texto, depois de ter
visto a segunda parte do mesmo.
Para já, e na ordem de informação que se segue, vale a pena
considerar que a Bloomberg se referiu à BlackRock como o “quarto ramo do
governo”, devido à sua estreita relação com os Bancos Centrais. De
facto, a BlackRock empresta dinheiro à Reserva Federal dos EUA e é o seu
principal conselheiro. Dezenas de funcionários da BlackRock ocuparam
altos cargos na Casa Branca durante as administrações Bush, Obama e
Biden.
A BlackRock também desenvolveu o sistema informático utilizado pelos bancos centrais.
Vamos então dar o passo seguinte: quem é o dono da BlackRock?
Eis algumas figuras proeminentes (o seu curriculum vitae é
público, retirado da wikipedia)
– o carácter sionista destas personagens, acrescento, é algo que
espero que o texto torne claro devido às implicações das suas empresas):
- Larry Fink. Judeu sionista. É membro do Conselho de
Administração da Universidade de Nova York (NYU) e do Fórum Económico
Mundial, e copresidente do Conselho de Administração do NYU Langone
Medical Center. Também faz parte dos conselhos de administração do
Museu de Arte Moderna e do Council on Foreign Relations.
- Robert S. Kapito. Judeu sionista. Em 1988, fundou a
BlackRock com Laurence D. Fink. Em 1992, a BlackRock separou-se da
Blackstone e tornou-se uma empresa independente com interesses na gestão
de investimentos em ações, participações privadas, imobiliário,
liquidez e estratégias alternativas. Através da BlackRock Solutions, por
exemplo, a empresa fornece serviços de gestão de riscos e de
investimento empresarial a milhares de fundos e empresas bancárias.
Robert Kapito é o seu Presidente e CEO, bem como Presidente do Comité
Operacional Global. Além disso, é responsável pelas principais unidades
operacionais, incluindo gestão e consultoria de acções, investimentos
alternativos, análise quantitativa e de risco e BlaclRock Solutions. É
também diretor da iShares Inc.
- Susan Wagner. Judia sionista. Depois da universidade,
Wagner entrou para o banco de investimento Lehman Brothers, em Nova
Iorque. Em 1988, Wagner e Ralph Schlosstein deixaram a Lehman para se
juntarem ao Blackstone Financial Group, mais tarde BlackRock.
Wagner ocupou vários cargos de topo na empresa que fundou:
agente operacional, diretora de fusões e aquisições, diretora de
investimentos e o segunda diretora executiva da BlackRock. Entre as
empresas com que lidou contam-se a Quellos, a Merrill Lynch Investment
Management e a Barclays Global Investors. Expandiu a empresa para a
Ásia, o Médio Oriente e o Brasil. E depois de se ter afastado da linha
da frente da BlackRock, continua a fazer parte do conselho consultivo da
empresa. Em julho de 2014, foi nomeada directora da Apple Inc.
Mas não são os únicos decisores, pois a BlackRock é detida por
alguns accionistas gigantes. "Curiosamente, o maior deles é a Vanguard.
E é aqui que a questão se torna mais obscura.
"A Vanguard tem uma estrutura única que nos impede de ver quem
são os verdadeiros accionistas. A elite que detém a Vanguard não quer
que ninguém saiba que é proprietária da empresa mais poderosa do
planeta. No entanto, se formos suficientemente fundo, podemos encontrar
pistas sobre quem são esses proprietários” Quem é o dono do mundo?
Blackrock e Vanguard (climaterra.org).
Os seus principais accionistas só poderiam estar entre esses 0,001% da população mundial [2].
As famílias mais ricas do planeta. Sim, de facto, dentre elas
os Rothschilds, a família DuPont, os Rockefellers, os Waltons, os Murdochs, a família Oppenheimer e a família Morgan.
Chegou o momento de analisar o envolvimento de algumas destas
famílias sionistas nos centros nevrálgicos do poder norte-americano e,
com isso, a sua preponderância nas redes de poder mundiais.
SEGUNDA PARTE
A PENETRAÇÃO DE PODEROSAS FAMÍLIAS JUDAICO-SIONISTAS NOS CENTROS DE PODER DOS EUA
Hadwa e Domenech (2023)3, em quem me baseio principalmente para
esta segunda parte (e a quem recomendo vivamente que siga a fim de
aprofundar a informação aqui selecionada), falam da estreita
interligação entre o papel histórico do “verdadeiro judeu”, a criação do
poder imperial ocidental e a ascensão do sionismo. Este último como um
“produto da fase imperial do capitalismo”, mas ainda mais protagonista
da sua atual decadência e corrupção. Um produto cujo fabrico foi
estimulado e apoiado pelas potências imperialistas que encontraram nesta
ideologia o terreno fértil para os seus interesses hegemónicos,
“apoiando incondicional e permanentemente a conversão da entidade no
símbolo mais representativo de uma potência mundial, para além da sua
incidência como nação” (2023: 83).
Desde há séculos, a inserção da burguesia judaica nas redes
financeiras e comerciais do capitalismo nascente, sobretudo no que
respeita ao capital a juros usurários [4], proporcionou-lhe uma situação de relevância estrutural.
Na sua fase inicial, o sionismo ganhou força na Europa graças
às poderosas famílias judaicas que estiveram por detrás do movimento
desde o início, tendo depois dado um salto para uma aproximação às
potências territoriais mundiais. Assim se explica a tentativa frustrada
de ligação ao Império Otomano entre o final do século XIX e o início do
século XX. Ainda nessa primeira década do novo século, o movimento
sionista aproximou-se do império dos czares russos, e depois, na década
seguinte, tateou com sucesso o Império Britânico, ao qual em breve se
associaria, oferecendo os judeus sionistas como agentes da Inglaterra e o
futuro Estado de colonos judeus como Estado cliente do Império. A
importância estratégica decisiva do Canal do Suez e o desenvolvimento do
petróleo na região acabariam por inclinar a geoestratégia britânica a
favor do sionismo, o que ficou expresso na Declaração Balfour (2 de
novembro de 1917). Esta declaração anunciava o apoio britânico à criação
de um “lar nacional” para o povo judeu na Palestina, que então fazia
parte do Império Otomano. A Declaração foi incluída numa carta assinada
pelo ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Arthur James Balfour,
e dirigida a ninguém menos que o Barão Lionel Walter Rothschild, para
ser transmitida à Federação Sionista da Grã-Bretanha e Irlanda.
“Não é por acaso que, nos primeiros 15 anos do século XX, uma
grande potência colonial como a Grã-Bretanha, cuja economia colonial
era gerida pela família Rothschild, apoiou a criação de uma entidade
sionista no coração do Médio Oriente” (Hadwa e Domenech, pág. 58).
Naquela época, a Grã-Bretanha seguia a nova estratégia moderna
defendida pelo seu geógrafo Halford Mackinder, centrada na demonstração
da importância da geografia (território) no domínio do mundo, daí a
importância de estabelecer o controlo da Europa e da Ásia Central (além
dos territórios coloniais da Ásia e da África), a fim de enfrentar a
Rússia, a maior potência territorial do mundo, que tinha de ser quebrada
e fragmentada para se apropriar das suas riquezas. Esta doutrina
manteve-se válida até aos nossos dias, tendo sido sucessivamente
atualizada, sendo a primeira a do discípulo americano de Mackinder, John
Spykman, que propôs o estabelecimento de um cordão sanitário em torno
da Rússia, que se estendia desde o centro da Europa até toda a Ásia
limítrofe daquele imenso país, incluindo o seu extremo oriente. Este
objetivo geo-estratégico traduzia-se na sua máxima: “Quem dominar a
Europa de Leste comandará o Heartland. Quem governar o Heartland
comandará a Ilha do Centro do Mundo. Quem governar a Ilha doCentro do
Mundo comandará o Mundo”. A Ilha do Centro do Mundo não é outra senão a
Eurásia e o seu Heartland é a Rússia, o fulcro entre as duas partes
desse grande continente. Por isso, para o Eixo Anglo-Saxónico
(Inglaterra e depois os EUA) e o PSM, impedir a consolidação da Eurásia
como entidade política coordenada tem sido uma prioridade, um objetivo
incontornável. Isto significa, antes de mais, e por todos os meios,
incluindo várias guerras, separar a Europa da Rússia, e em particular os
povos germânicos e eslavos, e colocá-los permanentemente uns contra os
outros.
Não é de estranhar que o Movimento Sionista, cada vez mais
consolidado como Potência Sionista Internacional, tenha também
estabelecido uma aliança com a Alemanha nazi na quarta década do século
XX, que tomou a forma do ACORDO DE HAAVARA em 25 de agosto de 1933. Um
“Acordo de Relocalização” entre as autoridades nazis e a Organização
Sionista Mundial, mediado pela Federação Sionista da Alemanha, o Banco
Leumi e a Agência Judaica para Israel. Nos termos deste acordo, cerca de
60.000 judeus foram transferidos para a Palestina, dotados de cerca de
100 milhões de dólares, enquanto os que não concordavam com os
princípios de ocupação sionistas foram abandonados ao regime nazi [5].
Em compensação pelo seu reconhecimento oficial como únicos
representantes da comunidade judaica, os dirigentes sionistas
propuseram-se romper o boicote organizado por todas as organizações
judaicas do mundo, lideradas pelas poderosas associações
norte-americanas, e que afectava diretamente o Reich nascente. Também
eram muito activos no Judenrat, os comités que controlavam os guetos e
decidiam quem devia ser deportado. Todas as questões eram negociadas por
Adolf Eichmann (o mesmo homem que, em 1942, na chamada Conferência de
Wannsee, juntamente com Reinhard Heydrich, e após o início da derrota
nazi na frente soviética, iria propor a “solução final” para os judeus
não sionistas, ou seja, o seu extermínio), como viria a ser provado no
seu julgamento em Jerusalém.
O controverso “acordo de transferência” implicava que os nazis
organizassem as viagens para que os judeus alemães chegassem à Palestina
em navios com a bandeira da suástica. As SA organizam campos de treino
para preparar a juventude sionista para a sua emigração, imprimem a sua
propaganda e ajudam a divulgar o projeto e a organizar os
acontecimentos.
Mas voltando à aliança definitiva, consolidada até hoje, entre o
sionismo e o eixo anglo-saxónico, e sendo a Ásia Ocidental o lugar de
convergência entre a Europa, a Ásia e a África, é fácil compreender
porque é que a Inglaterra decidiu estabelecer aí a entidade sionista,
Não se tratava de razões históricas, étnicas ou bíblicas, mas de uma
questão puramente geoestratégica, para criar um enclave que permitisse
conter qualquer ameaça vinda da Ásia, sobretudo no caso de as revoluções
soviéticas e chinesas, bem sucedidas, se estenderem ao chamado “mundo
árabe”. A ideia era estabelecer uma base militar (sem constituição nem
fronteiras definidas) para controlar o território e os seus recursos e,
ao mesmo tempo, servir de fortaleza de vigilância e de barragem contra
eventuais revoltas e/ou ameaças contra o Império. Uma entidade política,
em suma, de ocupação e apartheid territorial, que se tornaria
gradualmente o bastião ou torre de vigia avançada do Sistema Capitalista
e do seu Império Ocidental na Ásia, permitindo também o controlo de
África e, no interstício entre três continentes e dois mares, de uma boa
parte dos fluxos mundiais.
"As rivalidades e disputas inter-europeias sobre as colónias
precipitaram as guerras mundiais e as revoluções, e transformaram-se na
‘questão colonial’. A primeira questão levou as principais figuras
imperialistas a propor a ideia da criação de um Estado de colonos e de
clientes judeus na Palestina, com o objetivo principal de bloquear a
realização da unidade e da independência nessa importante região do
mundo e de servir os interesses dos seus patrocinadores. Os
acontecimentos da última parte do século foram propícios à criação de um
consenso de opinião entre os imperialistas e políticos ocidentais, com a
cooperação de milionários judeus ocidentais e de anti-semitas de todo o
lado, a favor do sionismo e da emigração judaica para um Estado judeu
na Palestina, bem como a favor da criação desse Estado. A interação de
desafios e a persistência de problemas e questões alimentaram os planos
imperialistas e levaram os acontecimentos a encontrar soluções à custa
dos povos do Terceiro Mundo (...) [este conceito] respondeu às
necessidades ocidentais emergentes na região após a abertura do Canal do
Suez, a ocupação britânica do Egipto e a Primeira Guerra Mundial. A
essência do pensamento estratégico britânico foi formulada num memorando
do Estado-Maior do Departamento de Guerra: “A criação na Palestina de
um Estado judeu para atuar como tampão, embora em si mesmo um Estado
fraco, é estrategicamente desejável para a Grã-Bretanha”. Abdul Wahhab
Al Kayyali, em The Historical Roots of the Imperialist-Zionist Alliance -
Rebelion
O mesmo autor, um pouco mais adiante, relata os pressupostos de um dos campeões do sionismo.
"Discurso de Herzl no Primeiro Congresso Sionista: ”O
interesse das nações civilizadas e da civilização em geral no
estabelecimento de uma estação cultural no caminho mais curto para a
Ásia está a crescer. A Palestina é essa estação e nós, os judeus, somos
os portadores da cultura que estamos prontos a dar os nossos bens e as
nossas vidas para realizar esta criação“ (...) Herzl estava confiante de
que as potências imperiais europeias utilizariam a influência judaica
organizada para combater os movimentos revolucionários e outros factores
internos”.
É por isso que o Império Ocidental no seu conjunto acabaria por
apoiar esses objectivos, até aos dias de hoje. Daí o entrelaçamento
inseparável do sionismo e do imperialismo (que inclui, sempre que
necessário, o fascismo global, uma vez que o sionismo é apenas uma forma
de fascismo). Tudo isso levou a questão judaica a uma dimensão
imprópria, que pouco tem a ver com o próprio povo judeu. Tanto mais que
se inseriu no novelo de poder daquela que viria a ser a primeira
potência mundial após a Segunda Grande Guerra: os Estados Unidos.
Este último passo foi precedido pelo intenso trabalho das
famílias judeu-sionistas desde o século XVIII. Mas foi só em 1845 que o
Movimento Sionista Mundial iniciou uma política de inserção nas redes de
poder dos Estados Unidos. Desta forma, o seu poder tornar-se-ia também
global.
Nas décadas de 1940 e 1950, financeiros e comerciantes judeus
imigrantes da Europa começaram a estabelecer um importante grupo de
casas bancárias nos Estados Unidos, principalmente com capital alemão.
Todas elas tinham em comum o facto de estarem associadas, de uma forma
ou de outra, à família Rothschild, e acabariam por tecer “uma densa rede
de relações” (Hadwa e Domenech, 2023: 88), não só económicas mas também
familiares.
Foi a figura de August Belmont, agente da família Rothschild,
que acabaria por dar coesão a esta rede, através da firma August Belmont
& Co. que se dedicaria a operações cambiais, empréstimos comerciais
e privados, transacções empresariais, ferroviárias e imobiliárias e,
mais importante ainda, contribuindo para a criação do império económico
Morgan. Inicialmente associada aos Rothschild na banca britânica,
começou a sua atividade nos Estados Unidos com a venda de armas
(aparentemente em mau estado) ao Norte durante a Guerra Civil.
Os Rothschild também apoiaram os banqueiros judeus alemães
Kuhn, Loeb e Seligman, que, ao emigrarem para os EUA, criaram o banco J.
& W. Seligman & Co., que participou no financiamento de
caminhos-de-ferro, na construção do Canal do Panamá, bem como na
formação da Standard Oil e da General Motors.
Outra família bancária judaico-alemã, os Warburgs, tornou-se-ia
sócia da Kuhn, Loeb & Co. e veio a dirigir a Wells Fargo & Co. e
o Bank of the Manhattan Company.
A Kuhn, Loeb & Co. assumiru o controlo da Western Union e da Westinghouse, bem como de vários caminhos-de-ferro.
A família Lehman, por seu lado, criou o seu Lehman Brothers
Bank, que no início do século XX se associou à Goldman, Sachs & Co. e
que teve a reputação de escolher para si os cargos de secretário do
Tesouro dos Estados Unidos.
Já em 1913, cinco famílias judeu-sionistas assumiram o controlo
da Reserva Federal. São elas as famílias ROTHSCHILD, ROCKEFELLER,
KUHN-LOEBS, GOLDMAN SACHS e LEHMAN.
A Reserva Federal (FED), o Banco dos Bancos, ao contrário dos
Bancos Centrais na Europa e noutras partes do mundo, é uma entidade
privada que empresta dinheiro a outros Bancos, controla as taxas de
juro, a cunhagem de moeda e tem o direito exclusivo de emitir notas de
banco. O controlo da Fed permite, portanto, controlar a economia dos
EUA, que é o verdadeiro poder do país (ver caixa 4). À medida que esta
formação sócio-estatal se tornou o hegemon mundial, estas famílias
passaram também a controlar a alta finança internacional, o que lhes deu
desde então uma enorme capacidade de controlar os destinos económicos
e, portanto, políticos do mundo, numa colossal concentração de poder sem
precedentes. A partir destas raízes floresce o Poder Sionista Mundial
(PSM).
"A criação da Reserva Federal fundiu o poder das famílias que
a dominavam com a força militar e diplomática do governo dos Estados
Unidos.
Se os seus empréstimos estrangeiros não fossem reembolsados, os
oligarcas podiam agora enviar fuzileiros navais americanos para cobrar
as dívidas” (Hadwa e Domenech, 2023: 93).
A expansão imperial dos Estados Unidos proporcionou a base de
engate a outros “impérios económicos”, como o dos Du Ponts (enquanto se
estima que os Rothschilds obtiveram mais de 100 mil milhões de dólares
de lucros na Primeira Guerra Mundial). A ampliação da esfera financeira
e a transformação do dinheiro convertível em ouro em mero papel, nos
anos 30, aumentaram ainda mais este poder.
A partir de então, estas famílias estão também por trás da
eleição dos principais responsáveis governamentais e mesmo dos
presidentes, bem como dos organismos que controlam a política monetária e
as instituições de crédito locais e mundiais (chefes do Tesouro,
secretário do Comércio, diretores do Banco Mundial e do FMI, da OCDE,
etc). O seu poder é decisivo nas megacorporações transnacionais mais
poderosas do mundo, no G7, no Fórum Económico Mundial ou no Fórum de
Davos, que moldam a política mundial e dão orientações à maioria dos
governos do mundo, bem como às instituições mundiais, públicas ou
privadas.
Outros pilares do seu poder, como dizem Hadwa e Domenech, são
os consórcios petrolíferos e tecnológicos, bem como as armas, “através
de infinitas redes e vasos comunicantes, cuja expressão máxima de
desenvolvimento se concentra no Complexo Industrial Militar dos EUA”
(pág. 98). Têm uma influência decisiva nos conglomerados dos media e do
entretenimento, pois estão no ápice da sua centralização como já vimos
na primeira parte, na indústria cultural e artística em geral, nas
organizações sociais, empresariais e profissionais, nas fundações e ONGs
(ver quadro 5), cuja influência, por sua vez, se expande por todo o
mundo.
Em suma, estas famílias constituem uma grande parte da força
militar, económica, sociocultural e diplomática dos EUA, são a potência
credora mundial e controlam em grande parte a circulação monetária
mundial.
“O poder sionista é, portanto, de facto, uma rede extensa e
complexa de indivíduos e organizações interligados e em interação, cujo
objetivo é influenciar direta e sistematicamente a política externa dos
principais países imperialistas para apoiar a entidade sionista, e
particularmente a dos Estados Unidos” (Hadwa e Domenech, 2023: 100).
Muitos dos grandes magnatas empresariais dos EUA estão por trás
desta potência mundial sionista, como doadores directos ou
financiadores. Também muitos no Congresso, no Senado e em posições
estratégicas chave, como os Departamentos do Tesouro e do Estado, o
Pentágono, o Conselho de Segurança Nacional e a própria Casa Branca.
Algumas das organizações sionistas nos EUA:
- B'nai B'rith (1843; apenas para a população judaica) B'nai B'rith Women (1909).
- B'nai B'rith Youth Organization (1944) Jewish Women International (1995)
- Liga Anti-Difamação contra o anti-sionismo (1914; que teve
sua réplica anos mais tarde – 1927 – na Liga Internacional contra o
Sionismo e o Anti-Semitismo em França).
- Organização Sionista da América (1897; filial da
Organização Sionista Mundial até 1993, quando foi oficialmente criado o
Movimento Sionista Americano).
- Movimento Sionista Americano (1993)
- Congresso Judaico Americano (1918)
- Conselho Sionista Americano
- American Israel Public Affairs Committee (1959; mantém
geralmente um apoio direto ao Likud. O seu comité executivo inclui todos
os membros da Conferência dos Presidentes).
Todos eles são constituídos como grupos de pressão, comités de
ação política, grupos de reflexão e grupos de observação dos meios de
comunicação social (uma lista mais completa pode ser encontrada no Anexo
II do Apêndice, enquanto o Quadro 6 apresenta algumas das interligações
sionistas dos EUA).
A tudo isto há que acrescentar o sionismo evangélico (cristão), como por exemplo:
- Moral Majority (1979)
- Embaixada Cristã Internacional de Jerusalém (1980)
- Fellowship of Christians and Jews (1983)
- Conselho de Investigação da Família
- Coligação da Unidade Nacional para Israel (1991)
- Christian Friends of Israeli Communities (1995) Especialmente posicionada contra os Acordos de Oslo
- Cristãos Unidos por Israel (2006)
Na Cimeira Judaico-Evangélica de Jerusalém (2003), os
principais líderes da extrema-direita israelense e da extrema-direita
religiosa e militar dos Estados Unidos foram mais uma vez associados ...
“para coordenar a sua política comum”.
Entre os principais “Think tanks” sionistas:
- Pilgrims Society (1903), ramo americano da sociedade
criada na Inglaterra um ano antes. Recebeu contribuições substanciais
dos trusts das famílias Morgan, Rockefeller, Carnegie e Lazard Brothers.
- Round Table (1909)
- Royal Institute of International Affaires (1920), Londres
- Council of Foreign Relations (1921)
- Aspen Institute (1949)
- Foreing Policy Research Institute (1955)
- Hudson Institute (1961)
- Washington Institute for Near East Policy (1985)
- Center for Security Policy (1988)
- Gatestone Institute (2008)
Com todos estes antecedentes, voltamos agora à questão com que
terminámos a primeira parte deste texto: de que “democracia”,
“direitos” e “mercado livre” estamos a falar no mundo capitalista? E,
ligado a isto, indo à especificidade da questão em causa, poderá alguém
surpreender-se com o facto de a política dos EUA, e portanto do Império
Ocidental no seu conjunto, estar diretamente envolvida na manutenção da
sua entidade sionista-colonial na Ásia, a sua delegação imperial?
Poderemos agora compreender claramente por que razão goza de absoluta
impunidade para, entre outras coisas, não cumprir uma única resolução da
ONU (ver quadro 8), ocupar territórios, praticar o apartheid, cometer
assassínios em massa, cometer crimes de guerra (neste momento três
reconhecidos pela ONU: genocídio, limpeza étnica e punição colectiva)?
Este posto avançado do Império na Ásia tem licença para tudo
isto, porque as instituições mundiais, sejam elas económicas,
diplomáticas ou jurídicas, estão sob o controlo do Império, e dentro
dele, do Poder Sionista Mundial.
Caixa 8: Algumas das mais importantes resoluções da ONU nunca cumpridas pela entidade sionista
- 1948: Resolução 194 da Assembleia Geral, que reconhece o direito de regresso dos refugiados árabes e das pessoas deslocadas.
- 1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança. Apela à retirada israelita dos territórios ocupados.
- 1967: Resolução 253 da Assembleia Geral, que exige
que Israel se abstenha de “tomar qualquer medida que possa alterar o
estatuto de Jerusalém”.
- 1974: Resolução 3.236 da Assembleia Geral, que
reconhece os direitos inalienáveis do povo palestino e apela ao regresso
dos refugiados às suas casas.
- 1975: A Resolução 3379 da Assembleia Geral da ONU descreve o sionismo como uma forma de racismo.
- 1978: A ONU declara o dia 29 de outubro como dia internacional de solidariedade com o povo palestino.
- 1979: A Resolução 446 do Conselho de Segurança da ONU exige que Israel desmantele os seus colonatos nos Territórios Ocupados.
- 1980: A Resolução 478 do Conselho de Segurança da
ONU declara que qualquer tentativa de Israel de alterar o estatuto de
Jerusalém será considerada “nula e sem efeito”.
- 1992: Resolução 726 do Conselho de Segurança, que
condena Israel por deportar 12 palestinos dos territórios ocupados
(embora esta medida também viole a Convenção de Genebra).
- O direito de regresso dos refugiados e das pessoas
deslocadas (70% da população palestina) é igualmente reconhecido pelas
resoluções 2.252, 2.452, 2.535, 2.672, 2.792, 2.963, 3089, 3.331 e 3.419
da Assembleia Geral. Enquanto as resoluções 242, 338 e 425 do Conselho
de Segurança exigem a retirada israelense dos Territórios Ocupados.
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Fonte: elaboração própria
Já em 1918, o Presidente dos EUA, Woodrow Wilson, apresentara
ao Congresso 12 pontos para a criação da entidade sionista na Palestina,
aceitando mais tarde a Declaração de Balfour. Em 1922, ambas as câmaras
do Congresso aprovaram a Resolução Lodge-Fish, que apelava à criação de
um “Lar Nacional Judaico” na Palestina. Esta resolução levou à
assinatura com a Grã-Bretanha, em 1925, de um Tratado que visava
“considerar qualquer tentativa de negar o direito do povo judeu à
Palestina (Eretz Israel) e de lhe negar o acesso e o controlo sobre a
área designada para o povo judeu pela Liga das Nações como uma violação
acionável tanto do direito internacional como da Cláusula de Supremacia
[dos Estados Unidos]...” (Hadwa e Domenech, 2023:119).
Em 1924, o Johnson-Reed Act ou National Origins Act foi
aprovado nos EUA para limitar a entrada de pessoas oriundas do sul e do
leste da Europa, de onde provinha a maior parte da população judaica
proletária, por um lado, para assegurar e “clarificar” a predominância
da componente anglo-saxónica na população dos EUA (europeus
transplantados) e, por outro, para incentivar a emigração judaica para a
Palestina em ricochete. Hoover, em 1931, restringiria ainda mais estas
entradas (o que mostra, aliás, que o interesse da maioria dos judeus,
como mais tarde se tornaria evidente com o Acordo de Haavara na Alemanha
nazi, não era ir para a Palestina, mas, em todo o caso, para o novo
centro do mundo capitalista).
Em 1948, Truman foi o primeiro presidente a reconhecer, apenas
11 minutos após a sua proclamação como entidade estatal independente, a
entidade sionista. Entre 1949 e 1965, recebeu 7 mil milhões de dólares
do Império. De 1966 a 1970, recebeu 63 milhões de dólares por ano. Em
1971, essa soma subiu para 634,5 milhões de dólares (85% para
assistência militar), aumentando mais de cinco vezes após a guerra do
Yom Kippur, em 1973. O regime sionista é o maior beneficiário cumulativo
da ajuda externa dos EUA desde a Segunda Guerra Mundial. Na década de
1990, a entidade sionista recebeu cerca de 92 mil milhões de dólares,
mais de 2/3 dos quais provenientes dos EUA, e depois da Alemanha e do
Poder Sionista Mundial. Tem também o privilégio de receber empréstimos
dos bancos comerciais mundiais a taxas de juro mais baixas do que no
resto do mundo.
Assessoramento, tecnologia militar, acesso aos segredos da
NATO, proteção diplomática contra tudo o que ela faz, são algumas das
“transferências” ou “apoios” que a primeira potência imperial também
fornece à entidade sionista.
Esta é, de facto, uma entidade assistida de facto, inviável por
si só, uma verdadeira base militar para a qual o Império Ocidental
gasta enormes recursos económicos, energéticos e diplomáticos, para que
possa continuar a existir apesar de todas as suas atrocidades.
Contudo, a narrativa da vitimização judaica para perpetrar todo
o tipo de crimes, o “capital moral” que foi utilizado para tentar
justificar esta monstruosidade, à custa dos milhões de judeus não
sionistas que foram sacrificados pelo nazismo (e pelo próprio sionismo),
está a esgotar-se, está a esgotar-se rapidamente, à medida que o horror
do que esta entidade autodenominada “Israel” está a fazer ultrapassa
todos os limites e cruza todas as linhas vermelhas da decência,
degradando cada vez mais toda a humanidade para o poço da ignomínia e da
barbárie.
E isto não começou no passado dia 7 de outubro, quando a
resistência palestina atacou os invasores do seu próprio território (os
seus ataques centraram-se no território considerado palestino pela ONU,
em 1948), ilegalmente ocupado pela entidade sionista e pelos seus
colonos armados.
A entidade sionista e os seus colonos armados. A expropriação, o
massacre e a exploração do povo palestino têm séculos de preparação e
de perpetração de agressões e pilhagens, que se têm intensificado pelo
menos desde 1948, uma vez que a população palestina sofre desde então a
ocupação ilegal de cada vez mais partes do seu território, a demolição
de casas, a remoção ou destruição de terras agrícolas, assassinatos de
dezenas de milhares de pessoas e prisões arbitrárias de outros milhares,
incluindo muitos menores (sim, menores presos sem culpa formada – que
os nossos media, convenientemente guiados pelo PSM, não consideram
“reféns”), confinamento à vontade do invasor, muros nas suas próprias
localidades, separação forçada de famílias, impedimento de acesso à
água, etc., etc. ... e um longo etcétera.
Eis um mapa do processo de invasão-ocupação levado a cabo pela entidade sionista.
Ações que não podem ser justificadas em caso algum, a não ser
pelo pensamento mais aberrante, alegando um suposto “direito de defesa
de Israel”, uma vez que a ONU não reconhece esse direito à potência
invasora que ocupa ilegalmente um território, como é o caso do sionismo,
enquanto a resolução 3070 da ONU reconhece o direito da população
ocupada a defender-se por todos os meios.
Anexo 2: Conferência de presidentes das principais organizações judías dos EUA.
Organizações membro
1. Ameinu
2. American Friends of Likud
3. American Gathering/Federation of Jewish Holocaust Survivors
4. America-Israel Friendship League
5. American Israel Public Affairs Committee
6. American Jewish Committee
7. American Jewish Congress
8. American Jewish Joint Distribution Committee
9. American Sephardi Federation
10. American Zionist Movement
11. Americans for Peace Now
12. AMIT
13. Anti-Defamation League
14. Association of Reform Zionists of America
15. B’nai B’rith International
16. Bnai Zion
17. Central Conference of American Rabbis
18. Committee for Accuracy in Middle East Reporting in America
19. Development Corporation for Israel/State of Israel Bonds
20. Emunah of America
21. Friends of Israel Defense Forces
22. Hadassah, Women’s Zionist Organization of America
23. Hebrew Immigrant Aid Society
24. Hillel: The Foundation for Jewish Campus Life
25. Jewish Community Centers Association
26. Jewish Council for Public Affairs
27. The Jewish Federations of North America
28. Jewish Institute for National Security Affairs
29. Jewish Labor Committee
30. Jewish National Fund
31. Jewish Reconstructionist Federation
32. Jewish War Veterans of the USA
33. Jewish Women International
34. MERCAZ USA, Zionist Organization of the Conservative Movement
35. NA’AMAT USA
36. MCSK» Advocates on behalf of Jews in Russia, Ukraine, the Baltic States & Eurasia
37. National Council of Jewish Women
38. National Council of Young Israel
39. ORT America
40. Rabbinical Assembly
41. Rabbinical Council of America
42. Religious Zionists of America
43. Union for Reform Judaism
44. Union of Orthodox Jewish Congregations of America
45. United Synagogue of Conservative Judaism
46. WIZO
47. Women’s League for Conservative Judaism
48. Women of Reform Judaism
49. Workmen’s Circle
50. World ORT
51. World Zionist Executive, US
52. Zionist Organization of America
Esta informação pode ser encontrada em James Petras, Las bases locales y estatales del poder sionista en EE.UU., Rebelión.
[1] Elas podem ser encontradas nomeadamente
em ¿Quién es el dueño del mundo? Blackrock y Vanguard (climaterra.org)
[que, por sua vez, retira do MAGNÍFICO DOCUMENTÁRIO “MONOPOLY - WHO
OWNS THE WORLD?” - Tim Gielen 29 (2021) - legendado em inglês por
Vari3dad3S (odysee.com), que pode ser recomendável seguir por alguns dos
dados que fornece, mas não pelas suas conclusões conspiratórias e,
claro, anticomunistas]. Outros links: Goldman Sachs, el banco que
gobierna el mundo | Economía | EL PAÍS (elpais.com); Los verdaderos amos
del mundo según Germán Vega Lombardía (youtube. com); A EMPRESA que
CONTROLA O MUNDO em segredo graças à sua colaboração (youtube.com);
ELES CONTROLAM O MUNDO (com o seu dinheiro) - BlackRock e Vanguard
(youtube.com); (1049) As 10 empresas que controlam tudo o que você
consome. - YouTube; As 7 empresas que controlam 70% dos media do mundo
(youtube.com)
[2] Em 2016, a Oxfam informou que a riqueza combinada do 1% mais
rico do mundo era igual à riqueza dos restantes 99%. Em 2018, foi
relatado que as pessoas mais ricas do mundo ganharam 82% de todo o
dinheiro ganho em todo o mundo em 2017. Ver também: As sete famílias que
controlam o mundo - MENzig
[3] Nicola Hadwa e Silvia Domenech (2023).
El proceso de penetración, ocupación y destrucción de Palestina,
620 p., 2023. Agradeço a Adrián Ramírez, presidente da Liga Mexicana de
Direitos Humanos, por me ter motivado a escrever este texto. Agradeço a
Fermín Santxez por todas as informações que me forneceu.
[4] Na poderosa Coroa de Castela, desde muito cedo se ocuparam do
empréstimo de dinheiro (algo que mais tarde aplicariam noutras Coroas e
Impérios europeus), bem como da cobrança de rendas reais, para além do
elevado pagamento de impostos.
[5] De interesse é o livro
The Other Side: The Secret Relationship between Nazism and Zionism,
de M. Abbas. Nele se relata o assassínio de judeus, ou a cumplicidade
com ele, pelo sionismo, a fim de encorajar a emigração judaica para a
Palestina. Tese concluída na Universidade Patrice Lumumba, URSS, em
1982.