5 de
Janeiro de 2019
Mario Vitor Santos é jornalista. Foi ombudsman da Folha e do portal iG,
secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha. da Folha e do portal , secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.
Por
Mário Vitor Santos, dos Jornalistas pela Democracia- Neste momento, e de maneira avassaladora, só se tem
uma certeza em Brasília: o governo nem bem começou e já está à mais absoluta
deriva. O país tem um presidente que já não governa, não sabe do que fala e é a
toda hora desmentido por ministros, militares e civis, assessores e auxiliares,
além de tomar a iniciativa ele mesmo de comprar briga com outros tantos e os
mesmos ministros, auxiliares, assessores e incorporar a esta penca de desafetos
os governadores do nordeste, o seu próprio ministro da economia e o ministro
chefe da Casa Civil. Ou seja, um militar que não consegue fazer respeitar a
hierarquia. Os ministros tampouco se entendem entre si e nem até cada um
individualmente consegue entrar em acordo consigo mesmo. Ou seja, uma tropa em
completo caos por falta de comando.
Bolsonaro anuncia embaixada em Jerusalém. O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, diz que é só plano. Bolsonaro bate o pé. Bolsonaro anuncia aumento de imposto de operações financeiras e redução do Imposto de Renda. O secretário da Receita nega. Moro desdiz Moro. Damares desmente Damares.
Mais impressionante ainda do que esse esvaziamento tão prematuro pelo caos, porém, não é propriamente Bolsonaro não deter o poder, mas ele achar que ainda o detém. A ficha não caiu. O pior problema é Bolsonaro ainda não ter entendido que neste exato momento ele já não manda como presidente. O comando do governo pode estar em algum lugar, talvez não esteja em nenhum, talvez esteja em todos, mas se existe essa dúvida ela é sinal de que Bolsonaro já não manda.
Ele
tem a caneta, tem os microfones das emissoras de seu sistema coligado de
televisão, pode ter até o sinal de continência de William Bonner, mas pairam
dúvidas e reservas gerais sobre sua soberania, recebida das urnas, mas já
carente de unidade, racionalidade, coerência, adesão e respeito.
Em uma de suas primeiras entrevistas ele abriu a mais grave crise, tão grave que o "mercado" soluçou incrédulo antes de ele mesmo concluir que não valia. Desmontou anos de acúmulo de negociações no Congresso em torno de uma "reforma da Previdência" a qual, boa ou ruim, fora resultado de propostas que transitam no Congresso há anos.
Como sinalização de uma suposta
política de equilíbrio atuarial da Previdência, a proposta que Bolsonaro tirou
de seu quepe altera a idade mínima da aposentadoria para 62 os homens e 57 as
mulheres.
O anúncio, sôfrego, não foi ao que parece acertado com ninguém. Nem com o Congresso, cujo provável presidente já disse que as ideias de Bolsonaro anulam regras de transição do sistema atual para o novo.
O anúncio, sôfrego, não foi ao que parece acertado com ninguém. Nem com o Congresso, cujo provável presidente já disse que as ideias de Bolsonaro anulam regras de transição do sistema atual para o novo.
Pior de tudo, não combinou
nem mesmo com o superministro, o todo-poderoso, o posto Ipiranga Paulo Guedes,
que simplesmente soube da entrevista pela televisão. Bolsonaro deu agora para
entender de economia, e pelo jeito também já não confia em seu überministro.
Afinal, quem usa quem? Guedes e o empresariado usam o capitão
"ex-populista" ou é o oposto. Bolsonaro engabelou a tigrada?
Talvez
tenha se divertido o Messias do Realengo ao contemplar a rasteira de moleque no
Chicago Boy, falante de inglês, muito rico e brusco. A caserna tem seus porões,
a ociosidade do quartel tem dessas baixarias.
O
resultado é que a principal linha de justificação política dos próceres de
direita do capital para esse governo de direita foi abalada. Se não é para
Bolsonaro defender o ultraliberalismo e cumprir com seu enredo de maldades,
transferido renda da sociedade para os privilegiados, o que diabos levou a
elite de São Paulo, do Sul e do Centro-Oeste a esvaziar Alckmin em desespero de
causa e, por um acaso, ver Bolsonaro milagrosamente colocado lá? Para isso?
Mas
não, calma, reuniões vararam a noite, equipes e ministérios se reuniram ao
redor, contornando a novidade encalhada na praia. E silenciaram. Bolsonaro terá
apoio total e deixem-no falar o que quiser. Ele não manda mais nada. Ele não
governa. Só não sabe ainda. Quando souber, vai estrebuchar, corcovear, bufar,
mas vai se conformar. Transformou-se no perigoso herói de uma farsa, isolado na
caverna, aleijão espiritual a divertir-se arrancando cabeças de inimigos ao
léu. No gabinete, talvez contemple sua foto na parede, talvez sonhe então que
do trono maneja naves de fumaça e realiza pouso preciso no lado escuro da Lua,
junto do seu ministro astronauta.
Neste
momento, e de maneira avassaladora, só se tem uma certeza em Brasília: o
governo nem bem começou e já está à mais absoluta deriva. O país tem um
presidente que já não governa, não sabe do que fala e é a toda hora desmentido
por ministros, militares e civis, assessores e auxiliares, além de tomar a
iniciativa ele mesmo de comprar briga com outros tantos e os mesmos ministros,
auxiliares, assessores e incorporar a esta penca de desafetos os governadores
do nordeste, o seu próprio ministro da economia e o ministro chefe da Casa
Civil. Ou seja, um militar que não consegue fazer respeitar a hierarquia. Os
ministros tampouco se entendem entre si e nem até cada um individualmente
consegue entrar em acordo consigo mesmo. Ou seja, uma tropa em completo caos
por falta de comando.
Bolsonaro
anuncia embaixada em Jerusalém. O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete
de Segurança Institucional, diz que é só plano. Bolsonaro bate o pé. Bolsonaro
anuncia aumento de imposto de operações financeiras e redução do Imposto de
Renda. O secretário da Receita nega. Moro desdiz Moro. Damares desmente
Damares.
Mais
impressionante ainda do que esse esvaziamento tão prematuro pelo caos, porém,
não é propriamente Bolsonaro não deter o poder, mas ele achar que ainda o
detém. A ficha não caiu. O pior problema é Bolsonaro ainda não ter entendido
que neste exato momento ele já não manda como presidente. O comando do governo
pode estar em algum lugar, talvez não esteja em nenhum, talvez esteja em todos,
mas se existe essa dúvida ela é sinal de que Bolsonaro já não manda.
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