Ciro bate no PT porque quer atacar a Previdência
Para quem demonstrou
uma respeitável postura de lealdade e firmeza quando o governo Lula enfrentou
as denúncias covardes da AP 470, o mensalão, a atitude agressiva de Ciro Gomes
na campanha presidencial até surpreende.
Os
ataques fazem sentido, porém, diante da entrevista do economista Mauro
Benevides Filho, chefe do programa de governo de Ciro, publicada no Estado de
S. Paulo deste domingo. O palavreado agressivo, mal-educado, de Ciro Gomes
contra Lula, Gleisi e o PT, tem a utilidade de encobrir uma política econômica
abertamente conservadora, prejudicial a maioria da população.
São
propostas que projetam um país sem estímulos ao crescimento, no qual os
compromissos destinados a agradar ao setor financeiro permanecem como
prioridade. Benevides explica que o candidato defende uma reforma da
Previdência, com mudanças típicas em linha de continuidade com as ideias de
Temer-Meirelles que o Congresso preferiu arquivar no início de 2018, pelo
receio da fúria do eleitorado.
"Se
não alterar o regime de repartição, todo governo será molestado com isso",
argumenta o economista de Ciro. A idéia é assim. Mantem-se o atual
sistema de repartição, pelo qual todos contribuem com uma porcentagem mensal de
seus ganhos, para receber, na aposentadoria, um pensão que hoje tem um teto
máximo de R$ 5,6 mil reais. A partir dessa faixa, de R$ 5,6 mil, cria-se um
sistema de capitalização individual, pelo qual cada um abre uma caderneta
poupança e vai depositando seu dinheiro até o momento de pegar o boné.
Resultado:
enquanto aqueles que tem maior renda reservam os ganhos mais altos para si, em
contas individuais, a aposentadoria dos mais pobres ficará esvaziada. O
problema é que é justamente nessa redistribuição, que retira das faixas mais
altas para alimentar as mais baixas, que se encontra um dos pontos de
equilíbrio de um sistema vigor há várias gerações. Pela proposta-Ciro,
começará a faltar recursos para o conjunto da Previdência e, obviamente, a
carga mais pesada irá para os mais pobres. Não se trata de uma proposta
original. A transformação da Previdência pública numa somatória de contas
individuais foi lançada por Augusto Pinochet, o ditador chileno que derrubou
Salvador Allende no sangrento golpe de 1973, deixando uma herança maligna que sobrevive
até hoje. A favor do projeto Ciro-Benevides, pode-se argumentar que a projeto
Pinochet entregou todas as aposentadorias para o setor privado. A proposta do
candidato do PDT reserva uma parte para o setor financeiro. É um
meio-Pinochet.
Não
é só. O economista de Ciro anuncia a recriação da CPMF, aquele imposto criado
pelo doutor Adib Jatene para garantir o financiamento do SUS. Seria uma ótima
ideia, que defendo neste espaço desde que o Senado, numa decisão criminosa, em
2009, decidiu não renovar o chamado imposto do cheque. O problema é finalidade.
Em
vez de garantir a saúde pública, como na versão original, o projeto
Benevides-Ciro quer usar a CPMF "com a finalidade exclusiva para o
pagamento da dívida pública". Tradução: enquanto a população seguirá
enfrentando as carências estruturais de recursos de um sistema público que é
uma conquista inegável, o sistema financeiro pode dormir o sono dos justos
porque os pagamentos da dívida serão feitos em dia.
Falando
sobre estatais, Benevides é impiedoso: "o Brasil tem 144 estatais. O
grosso poderá ser privatizado." Num país com 13 milhões de desempregados,
sem a menor perspectiva de crescimento com a manutenção da atual política
econômica, os repórteres Renata Agostini e Douglas Gavras perguntam se a melhor
saída não é promover o crescimento da economia, mencionando o economista do PT,
Márcio Pochmann. "Discordo. O primeiro passo é fazer o ajuste. Disso
não abrimos mão", diz Henrique Meirelles, quer dizer Mauro Benevides
Filho.
Parece
a reprise de muitos filmes, não é mesmo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário